-Bem-vindas! -Chris abriu a porta quando voltamos para casa, algumas horas depois.
-É, valeu. -murmurei, passando por ele, sem clima para jogar conversa fora.
-Vou tomar uma ducha, está bem, Dul? -perguntou Mai em tom suave, e assenti.
-Beleza, vou tomar água e ficar na cadeira de balanço lá no quintal. Subo daqui a pouco.
-Tudo bem. -disse ela, e observei Chris escoltá-la pelo corredor.
Depois de suspirar, fui até a cozinha procurar algo para comer na geladeira. Peguei uma garrafa d’água e um pedaço de queijo trançado e fui para o quintal me balançar até me livrar do mau humor. O céu estava lindo, quase majestoso em sua escuridão profunda de veludo. Observei as estrelas brilhantes e me recostei na cadeira, desfrutando a brisa que acariciava meu rosto.
-Então você voltou para casa em segurança. -a voz de Christopher interrompeu meus pensamentos.
-Você, de novo. -resmunguei, então me virei para olhá-lo e quase gemi. Ele estava com o peitoral nu, só de cueca boxer. -O que você quer?
-Eu queria me desculpar. -disse ele ao meu lado. -Sinto muito por esta noite.
-Tudo bem. -dei de ombros e desviei o olhar.
-Podemos nos sentar na grama? -perguntou ele em tom suave. -É estranho ficar de pé enquanto você está sentada.
-Não quero me sentar na grama. -retruquei, petulante.
-Gostaria de conversar com você, Dul, e eu preferiria se ambos estivéssemos em uma posição confortável.
-Está bem. -consenti, me levantando num pulo. -Então tenho que entrar para pegar um cobertor. Não vou me sentar na grama com este vestido.
-Trouxe um comigo. -disse ele, mostrando o cobertor nos braços. -Para o caso de você estar aqui fora.
-Você estava me esperando acordado?
-Sim. -confirmou. -Senti que precisávamos conversar.
-Tudo bem, então.
-Primeiro, queria me desculpar de novo por ter aparecido com Will na boate. Sei que foi uma coisa um pouco louca.
-É, um pouquinho. -comentei, sarcástica, e observei-o estender o cobertor na grama. Em seguida, nos sentamos confortavelmente.
-Foi um choque para mim, sabe, ver você aqui. -disse ele, mudando de assunto de repente, e eu olhei para minhas pernas.
Ele achou que ficou em choque? E eu?
-É, sabe como é, também fiquei muito surpresa em saber das novidades.
-É culpa sua estarmos nessa situação. -ele pegou minhas mãos. -Olhe para mim, Dul.
-Culpa minha? -perguntei em um tom mais alto. -Isso é uma piada?
-Você me deixou e, quando acordei você tinha ido embora, eu me senti vazio, solitário e triste. -suspirou ele, enquanto seus dedos brincavam com os meus. -Nunca havia me sentido assim antes.
-Como assim eu deixei você? Eu nunca abandonei você.
-No final de semana passado. -disse ele. -Nós fizemos amor a noite toda no hotel e quando acordei você tinha ido embora. Não deixou um recado, um número de telefone. Eu nem sabia seu nome. E eu fiquei chateado. Queria ter passado o dia com você. Queria ter conhecido você melhor.
-Então você pediu minha irmã em casamento porque ficou chateado porque comi e vazei? -mordi o lábio inferior para me impedir de rir. Não sei por que eu disse "comi e vazei", mas me deu vontade de rir.
-Você acabou de dizer "comi e vazei"? -perguntou Christopher, os olhos rindo de mim.
-Pois é. -assenti e sorri. -Não sei por que falei isso.
-Talvez porque seja verdade. -ele sorriu também. -Foi o que você fez. Bem, tecnicamente eu comi, mas foi você que vazou.
-Christopher. -levantei uma das sobrancelhas e me sentei direito. -Pode continuar o que estava dizendo.
-Me desculpe, me distraí. -disse ele, e lambeu os lábios. -Eu estava lembrando que comi você tão forte e profundamente. Eu atingi todos os pontos certos, não foi?
-Christopher. -falei, corando, sem querer contar que ele havia atingido pontos que eu nem sabia que existiam.
-Me desculpe. -ele abafou um riso. -É difícil esquecer o melhor sexo da sua vida.
-O melhor sexo da sua vida foi comigo?
-Sim. -ele tinha um olhar malicioso no rosto enquanto seu polegar percorria meu punho e a palma da minha mão. -E acho que por isso foi tão duro não ter você lá aquela manhã, sem querer fazer um trocadilho. Eu... -ele hesitou e me olhou nos olhos. -Eu estava com raiva, Dul. Estava com raiva porque era a primeira vez que eu sentia alguma coisa na manhã seguinte a uma noite de paixão e era a primeira vez que uma mulher me magoava. Eu me precipitei. É difícil perceber que noites casuais nem sempre significam nada.
-O que você quer dizer?
-Quero dizer que com você foi diferente. O que fizemos... Aquela faísca na igreja e depois no hotel... Foi especial. Eu me senti diferente, estranho, e não sei nem como explicar. Não gostei dessa sensação. Ainda não gosto. Não gosto de ficar aqui com você e sentir que estou voando. Não gosto de tocar você e sentir que estamos conectados. Não gosto de olhar para você e ter vontade de sorrir. Não sou esse tipo de cara. Não quero ter esses sentimentos. Tratei você mal e, pela primeira vez na vida, estou envergonhado dos meus atos. Estou envergonhado por ter feito você se sentir um pedaço de carne. Porque, pela primeira vez na vida, percebo que sexo e mulheres não estão à disposição do meu prazer. Você me fez sentir essas coisas, e eu não sei lidar com isso.
-O que está dizendo, Christopher? -perguntei, expirando, com o coração acelerado.
Vou ser sincera e admitir que pensei que ele ia dizer que me amava. Eu sei, sou louca, ele mal me conhecia e, no entanto, eu queria que ele dissesse que me amava.
E, para ser ainda mais sincera, queria que ele me pedisse em casamento. Queria que ele dissesse que precisava tanto de mim que queria passar o resto da vida comigo. Até quase pensei que ele diria isso.
-Conheci Annie algumas semanas antes do casamento por meio de David. Um dia depois que ele me ligou, eu me encontrei com ela, David e Poncho.
-O David que acabou de se casar? -franzi o cenho. -David do casamento?
-Sim. -disse ele, torcendo os lábios.
-Ele não foi para a lua de mel com Angel?
-Adiaram.
-Eu não sabia que Annie e David se conheciam. -comentei, refletindo. -Quer dizer, ela deve tê-lo conhecido através de Mai, mas já faz tempo.
-Não é essa a questão, Dul. -suspirou ele. -Quando conheci Annie, ela estava chateada porque tinha acabado de descobrir que estava grávida e o pai não queria se casar, por isso ela tinha receio de que a família ficaria decepcionada, então comentou que queria muito ter um noivo para apresentar aos pais. E Poncho me lembrou que nosso avô estava controlando os negócios da família até nos casarmos e, bem, foi assim que tive a ideia. -terminou ele, dando de ombros.
-Você está noivo de Annie porque se sentiu mal por ela e porque queria controlar a empresa da família?
-Basicamente. -confirmou.
-E você não vai romper o noivado?
-Seria péssimo da minha parte deixar que uma noite com você me influenciasse a mudar os planos, Dul. Não estou tentando ser cruel, mas Annie e eu temos uma parceria de negócios. -contou. -Uma parceria que vai beneficiar a ambos.
-E eu? -perguntei em tom suave.
-Não sei o que dizer, Dul. -suspirou. -Sei que tenho sido um canalha e não posso mudar isso. Só posso pedir desculpas, mas não sei mais o que dizer.
-Acho que não há mais nada a dizer. -inspirei fundo para impedir que lágrimas de desapontamento caíssem.
Qual era o sentido de expressar minhas emoções e me magoar? Ele pensaria apenas que eu era uma louca. A única que entenderia meus sentimentos era Mai.
-Eu queria explicar para você por que Annie e eu estamos noivos. Não queria que você pensasse que eu era algum tipo de imbecil por ficar perseguindo você e sua irmã. Não sinto nada por sua irmã a não ser amizade. Não tenho esse tipo de química com ela.
-Você me disse que queria fazer sexo com ela. -mordi o lábio inferior, com o ciúme lutando para sair.
-Não sei se eu disse isso, mas talvez eu tenha insinuado algo sobre consumar o casamento. Eu só disse isso para irritar você.
-Mas que legal.
-Eu me comporto como um idiota quando estou perto de você. Não sou eu mesmo.
-Quem é você, então? Um ET?
-É bem possível.
-Foi o que pensei. -assenti de um jeito pensativo. -Você é um alienígena do espaço sideral.
-E você é do espaço terreno.
-Tipo isso. -confirmei com um sorriso, e ele começou a me fazer cócegas. Tombei para trás, rindo, e tentei afastá-lo, mas ele continuava fazendo cócegas debaixo dos meus braços, na minha barriga e nos meus joelhos. -Christopher, pare. -pedi, ofegando, enquanto nos virávamos no cobertor.
-Não sabia que você era tão boa de fazer cócegas. -ele sorriu para mim com um olhar leve.
-Bem, agora você sabe.
-É, sei, sim. -ele se inclinou, me deu um rápido beijo na testa e depois se deitou no cobertor ao meu lado, de modo que nossos ombros se tocavam. -Não é só por dinheiro, sabe?
-O quê? -indaguei em tom suave, observando as estrelas no céu.
-Não quero ficar com a empresa para ganhar mais dinheiro. Já tenho muito dinheiro.
-Sei. -falei, na expectativa de que ele diria por que queria ficar com a empresa.
-Tenho uma entidade sem fins lucrativos na África. Nós ajudamos a purificar a água com máquinas de cloro e cavamos poços artesianos. -contou com a voz leve. -Hoje, eu só consigo doar um milhão de dólares por ano através da fundação da empresa, mas se eu assumisse a empresa poderia mudar as regras.
-Você não tem acionistas?
-Somos uma empresa de capital fechado. Temos um conselho, mas não é grande e eu posso controlar os membros. -contou com a voz apaixonada. -Quero poder fazer isso. Minha família tem muito dinheiro. Quero ser capaz de fazer algo bom com ele. É muito importante para mim.
-Entendo.
E eu entendia mesmo. Era uma causa importante. Muito importante. Uma causa que me surpreendeu, para ser sincera. E me senti culpada. Percebi que eu queria que aquele homem lindo e sexy me desejasse, dissesse que me amava, mas eu não sabia nada sobre ele. Tudo o que eu sabia era que ele era bom com a língua. Tive vergonha de mim mesma.
-E há quanto tempo você tem essa entidade? -perguntei com a voz suave, enquanto permanecíamos deitados olhando o céu noturno.
-Desde meus dezessete anos. -respondeu, e senti que ele olhava a lateral do meu rosto. -Comecei no último ano do ensino médio com algum dinheiro que meu pai me deu. Ele disse que eu poderia comprar um carro ou usar o dinheiro para alguma coisa boa.
-E você rejeitou o carro?
-Sim. -disse em voz baixa. -Eu tinha acabado de fazer um trabalho de ciências sobre cólera e doenças transmitidas pela água, e em diversos países da África tinha um monte de gente morrendo por ingerir água contaminada. -suspirou ele. -Não achava isso certo.
-Então você quis ajudar? -perguntei.
-Sim, eu sabia que precisava ajudar. -respondeu apaixonadamente. -Era algo que eu poderia ajudar a consertar. Mortes por doenças transmitidas pela água podem ser prevenidas. Não é como as disputas no Oriente Médio e as guerras. É algo tangível. Algo que pode ser consertado. E sabemos como fazê-lo. Eles sabem como fazê-lo. -ele revirou os olhos e olhou para mim. Seu olhar estava em chamas. -Quando entrei nos negócios da família, me assegurei de que meu pai investisse em alguns sistemas de purificação de água. Nós iríamos usá-los em... -a voz desvaneceu. -Me desculpe, estou te entediando.
-De jeito nenhum. -balancei a cabeça e toquei sua bochecha. -O que aconteceu?
-Meus pais morreram num acidente de carro e meu avô não tinha interesse em ajudar, pelo menos não sem uma lista de condições.
-Como você ter que se casar?
-Sim. -suspirou ele. -Resisti o quanto pude e tentei usar meu próprio dinheiro, mas meu fundo fiduciário está tão enrolado e há um monte de restrições sobre como posso usar o dinheiro. Só vou ter acesso total quando fizer 35 anos.
-Nossa!
-Até que eu finalmente disse, que se fo/da. Se eu precisar me casar para fazer o que preciso, então vou me casar. E sua irmã precisava de um marido. Por isso chegamos a um acordo. Parecia sensato. Prático. E era seguro. Não havia sentimentos para complicar tudo.
-Que bom. -olhei para baixo, sem querer demonstrar o quanto estava magoada e confusa.
-Eu gosto muito de você, Dul. -seus dedos pegaram meu queixo e ele me fez olhá-lo. -Mas eu nem te conheço, sabe? Não entendo por que ou como eu me sinto tão próximo de você. Ou por que senti saudades de você naquela manhã, depois que você foi embora. Sou um cara pragmático. Um cara habilidoso. Mas não sei lidar com relacionamentos ou emoções. Ou sentimentos. Não se pode confiar neles.
-Entendo.
-Entende mesmo? -perguntou, com os olhos procurando os meus.
-Sim. -eu me inclinei e lhe dei um beijo leve. -Eu entendo, Christopher.
-Não posso deixar que essa loucura entre nós mude tudo. Não posso deixar minhas emoções influenciarem essa decisão. -disse ele, como se tentasse convencer a nós dois.
-Você precisa fazer o que precisa fazer. -falei, me afastando um pouco, e pisquei rapidamente. Eu não me permitiria chorar na frente dele.
-Passe a noite comigo? -pediu ele com a voz suave. -Não precisamos fazer sexo. Só quero tê-la nos braços. Só quero sentir seu coração batendo perto do meu. Só quero acordar e ver você ainda ao meu lado.
-Não, me desculpe. -balancei a cabeça e me levantei devagar. -Me desculpe, Christopher, mas, como já falei, não sou esse tipo de garota. Obrigada por explicar por que você vai se casar com Annie, mas isso não muda nada. Você ainda é o noivo dela, ela ainda é minha irmã, e eu ainda sou eu. E não quero ser a outra em nenhum sentido da palavra.
Ajeitei o vestido e olhei para ele, tentando memorizar a expressão magoada no rosto dele. Eu tinha bastante certeza de que nunca mais veria aquele lado dele novamente.
-Você é um cara ótimo, Christopher, mas não é meu. Boa noite. -falei, assentindo, e caminhei pelo gramado até a casa.
Não tropece, não tropece era tudo o que eu pensava enquanto me afastava correndo dele, com o coração acelerado e lágrimas descendo pelo rosto.
Oiee!! Christopher tava sendo um babaca né, mas foi legal da parte dele explicar tudo pra Dul :)
Muito, muito, muito obrigada pelos comentarios *-*
Respondendo comentario do face:
Geovana Aparecida: Dulce jogou tudo na cara do Christopher, talves por isso ele contou tudo isso pra ela. Will é super protetor e acaba ficando chato, a Mai só ta apaixonada demais e ñ vê os defeitinhos dele kkk.
COMENTEM!!
Bjuu