CAPÍTULO 0 - PRÓLOGO

Assim que cheguei ao colégio que entrei na classe não tinha ninguém.  Já estava esperando para a bronca que o professor de filosofia iria me dar por sempre perder a primeira aula dele na segunda-feira, mas é que dona Blanca, minha mãe, tem um tantinho de dificuldade de me acordar às seis horas da manhã para vir ao colégio. Sempre assim: atrasada. Fala sério né gente, estudar não é lá essas maravilhas tudo e filosofia então. Deixei a mochila em cima da carteira ao lado da Anahí, minha melhor amiga, e segui para onde vi alguns alunos do 3º indo também. A medida que caminhava no corredor percebi que as outras salas do 3º ano também estavam vazias.

― Onde tá esse povo uai. – murmurei enquanto caminhava.

Abri a porta do auditório, estavam todos ali. As meninas me olharam rindo negando com a cabeça, obvio que eu tinha esquecido, não sei como pude esquecer de uma data tão importante. Hoje era a apresentação da equipe da Forma Turismo, o slide ao fundo escrito “A melhor viagem da sua vida” me fez colocar as duas mãos na boca surpresa. Como o tempo passou tão rápido? Metade do colégio Olimpo, estava ansioso para o dia dessa reunião e eu moral que sou, me dou o direito de chegar atrasada.

― Perdi muita coisa? – perguntei, sentando-me ao lado da Angelique.

― Nada, só quase tudo. A reunião está terminando. – respondeu Angelique aos risos.

Chegar no final da reunião não estava nos meus planos. Precisaria de todos os detalhes para convencer seu Fernando, meu pai, a me deixar ir para essa viagem. Há dois anos atrás lembro-me bem quando o Derrick, meu irmão mais velho, foi pedir ao papai para ir para Porto Seguro, seu Fernando disse sim, sem nem perguntar detalhes. Mas tudo para o lado do Derrick é assim, se ele falar “pai vou me matar, volto já” seu Fernando nada diz, mas vai a Dulce pedir qualquer coisa. Pergunta até coisas impossíveis de dar respostas na maioria das vezes, isso quando não manda o Derrick se certificar de que estou falando a verdade. E bom, essa era a pior parte: a confirmação do Derrick.

― Uai, que cara é essa Dulce?

— Ora que cara é essa May, a cara de quem não vai para Porto Seguro por ter pais caretas demais. – resmunguei, saindo do auditório.

— Mas ocê nem pediu ainda, como tem certeza que não vai?

— Inté parece que não conhece meu pai Maitê, fora, que ainda tem o Derrick para encher o saco. – revirei os olhos, inconformada.

Seguimos até o pátio do colégio para o intervalo. Depois de tudo que conseguir entender sobre a viagem, nunca nessa vida que seu Fernando me deixará ir.  Custoso que só ele, não vai permitir que sua princesinha vá para uma viagem com essa liberdade toda.

— Num dô conta desses teus dramas. – disse Maitê, bagunçando meu cabelo. — Só a Annie pedir que eles deixam.

— D-ú-v-i-d-o.

— Só a Annie o que? – perguntou Anahí, aproximando-se. — Calma, que eu já sei. – interrompeu antes mesmo que eu e a Maitê pudéssemos responder. — Já tá fazendo drama porque achas que não vai para Porto né?

Assenti que sim.

— Dulce, Dulce. – balançou a cabeça sentando-se ao meu lado. — Quem fica velhinha dia vinte de julho?

Comecei a rir antes mesmo que ela pudesse continuar com o plano. Já tinha entendido o que Anahí Portilla, minha melhor amiga estava querendo dizer com “quem fica velhinha...”. Daqui a três meses faço dezoito anos e bom, não me custa nada pedir a viagem de presente já que a viagem cairá na mesma semana do meu aniversário. Fora que quando se completa dezoito anos já posso ser dona das minhas próprias decisões – pelo menos era isso que eu pensava né? Eu via a liberdade que os pais da Maitê tratavam ela, e ela nem sequer tinha completado dezoito anos ainda. E eu esperava isso dos meus pais também.

~

— Nada muda. - dizia meu pai, andando de um lado por outro dentro da cozinha. — Peça outra coisa, qualquer trem serve menos essa viagem.

Num disse. Eu sabia que ele não iria deixar, só que o Derrick acha que eu não vi ele negando com o dedo bem atrás de mim enquanto caminhava atrás do papai. A verdade é que quando você é do sexo masculino e completa dezoito anos – tudo muda. Mas quando você é do sexo feminino e completa dezoito anos – nada muda. Ou talvez só piore. Derrick, é mais velho que eu dois anos e assim que completou seus dezoito anos já sabia dirigir, já pegava o carro do papai passava a noitada fora e nem sequer dava satisfação de onde vinha e muito menos pra onde ia – a famosa liberdade dos dezoito.

— Derrick James. – chamei, abrindo a porta do quarto. — Você tem que convence-lo, eu imploro.

— Mas de jeito nenhum Dulce Maria, sem chance. – disse, levantando-se da cama sem nem olhar para minha cara.

— Você é um egoísta! – gritei, puxando o celular da mão dele. — Por favor Ricky.

— Ah, agora é Ricky? – perguntou aos risos. — A poucos minutos eu era o irmão chato, insuportável e egoísta.

— Você não tinha nada que falar aquelas barbaridades da viagem para o papai.

— Uai, só falei a verdade. – deu de ombros.

— Isso tudo é ciúmes da irmãzinha é? – provoquei, provoquei porque sabia que Derrick odiava confessar que morria de ciúmes das irmãs.

Derrick sempre foi o irmão ciumento e protetor demais, o papai é engenheiro civil vire e mexe ele está viajando, e adivinha quem se torna o homem da casa? exatamente: o Derrick. A Nina é a caçula, tem quatorze anos e sempre faz o que ele manda, mas eu não, e por isso essa birra toda comigo. Mas isso não o faz o pior irmão do mundo, Derrick me conhece do avesso até mais do que a mamãe. E por isso tudo que o que ele fala é lei para o papai, já que o Derrick convive bem mais conosco do que o próprio seu Fernando. Só que agora ele está exagerando, na época que ele estava no terceiro ele teve o direito de ir, porque eu não posso ir também? O silencio permaneceu, minha provocação não adiantou muita coisa.

— Você ainda vai precisar de mim. – gritei, jogando o celular em cima da cama.

— E você ainda vai me agradecer por não te deixar ir nessa viagem.

— Você não é meu pai Derrick! – gritei, batendo a porta em seguida.

Olá povo, boa noite. Espero que gostem, é uma Fanfic autoral.