CAPITULO 9 ― Tudo começou na micareta

O ruim de micareta é isso, as vezes a galera acha que é dona da por/ra toda e resolve arrumar confusões. Com poucas horas que havíamos chegamos na Arena Axé Moi, Zoraida arrumou uma tremenda confusão. Ficou com um menino que estava ficando com outra, e não deu certo, a corna avançou em cima da Zoraida e por pouco não mata. Eddy e Sebastian que estavam mais próximos, conseguiram separar a briga enquanto o outro mané achava graça de ver duas meninas brigando por ele.

― Vou buscar gelo, sua situação não está muito bonita. – disse Sebastian, afastando-se.

― Quero ir embora. – resmungou Zoraida.

― Não fala isso Zoraida, tu estás linda. – disse Eddy, com Zoraida deitada no colo.

Zoraida me deu aquela encarada desconfiada por perceber que eu estava próximo e eu sorri, entendi o recado. Digamos que ela estava me pedindo permissão para agradecer mais tarde ao Eddy por todo os cuidados dessa noite, e eu como não sou nenhuma Maitê ou Alessandra da vida, dei aquela piscadela afastando-me dos dois e não deu outra, ficaram e ficaram bonito com sangue e tudo.

― É melhor vocês tomarem cuidado. – aconselhou Christian. ― Não só pelas mulheres, mas a macharada aqui tá muito louca.

― Mas micareta é isso, a loucura. – gritei.

― Não estou sentindo-me confortável. – disse Maitê.

― May, relaxa e procure se divertir. – aconselhou Angelique.

― E você dona Angel, vê se não bebe muito uai.

― Não se preocupa Maitê, pode deixar que eu cuido dela. – disse Diego, e a galera vaiou bonito.

Depois de ficar toda vermelho igual pimentão, Angelique resolve fazer uma nova brincadeira ensinar Maitê e Alessandra as coisas boas da vida boemia. Mas o primeiro passo é entrar na vida boemia, não que eu seja uma má amiga, mas não sou obrigada a cuidar de amiga vomitando e com ressaca incurável, porque é isso que a primeira cachaça causa na gente.

(Horas depois)

― Dulce sumiu já tem horas e ainda não voltou. – disse Christian, preocupado.

― Será que a Dul sumiu porque fiquei com o Eddy? – questionou Zoraida, abraçado com o Eddy.

― Não, nada a ver. – tranquilizou Angelique. ― A Dulce não é dessas.

Sumi. Micareta não é para ficar ninguém em grupinho, o interessante é a perdição, o desencontro. Não tenho psicológico para beber sozinha não, olhei para o bolso e tinha pouco dinheiro, irritei-me. Pensei em ir atrás da galera somente nesse momento, mas quando começou a tocar o meu sertanejo, não suportei – bota o copo pro alto vamos beber – e foi exatamente isso que fiz, levantei o copo pro alto....

E depois me arrependi.

Um cara de uns três metros de altura tentou puxar minha cintura e eu o empurrei, mas isso não foi o suficiente, pelo o contrário, parece que o instigou ainda mais. Aumentei os passos, mas olhei para trás e me assustei com o cara que ainda permanecia ali, tentando me puxar. Não tive escolhe, dei um belo chute no saco e ele caiu ao chão. Tentei correr mais acabei tropeçando. “Va/dia” ouvi quando ele gritou. O desespero tomou de conta quando senti alguém puxando o meu braço, tentei me soltar, mas a pessoa era mais forte do que eu.

― Socorro! – gritei, mas iria acreditar em um pedido de socorro no meio da micareta.

― Shhh Dulce, sou eu po/rra! – gritou Christopher, e só então parei de me debater e prestar atenção que era Christopher que me puxava.

― Não tenho tempo para pedido de desculpas agora, tenho que correr. – disse ofegante.

Christopher começou a rir cabisbaixo e olhei para frente quando o homem se aproximava cada vez mais. Christopher parecia seguir o meu olhar, e quando voltei a encara-lo me beijou. Um beijo avassalador, parecia que iria me devorar ali mesmo, beijávamos enquanto caminhávamos no meio da micareta até a calçada mais próxima. Assim que senti a parede nas costas, soltei Christopher e disparei um tapa na maça do seu rosto por seu atrevimento.

― Ficou louca cara/lho? – gritou, passando a mão no rosto.

Sem camisa e suado, Christopher fechava o punho irritado com o tapa.

― Você quem tá maluco, o que deu para me beijar assim? Sou louca, mas não sou pu/ta não.

― Você deveria no mínimo me agradecer. – dizia, apontando o dedo próximo ao meu nariz.

― Agradecer pelo o que? Pelos os pitis e criança que dou? – ele começou a rir em deboche irritando-me ainda mais.

― Por pouco não foi estuprada...

― Eu sei me cuidar. – interrompi.

Christopher começou a rir passando a mão entre os cabelos e a barba. Revirei os olhos, e fiz menção para sair quando ele voltou a me puxar pelo o braço.

― O cara está bem atrás de mim olhando para você. – tentei procurar, mas não achei, antes que pudesse dizer que ele estava mentindo. ― Na outra calçada, é só você sair e ele seguir seus passos.

Não vou ser mentirosa e dizer que não estava com medo, é claro que estava, a micareta já estava prestes a acabar e nem sinal de nenhum dos meninos. Mas também não queria ficar sozinha com o Christopher, ele não ia muito com a minha cara e depois dos comentários não me parecia uma pessoa muito confiável.

― Cadê o Poncho? – perguntei, voltando a olhar para o Christopher que permanecia me encarando com aqueles olhos castanhos lindos.

― Não sei, me perdi dele quando resolvi te puxar.

― Ah conta outra.

― Para de marra vai, vem comigo. – segurou no meu pulso. ― Vou ajudar a criança a encontrar os responsáveis.

― Me larga sei caminhar sozinha, deixa a criança caminhar sozinha. – soltei meu pulso, mas permaneci ao lado dele.

A micareta acabou para mim. Dentre as lições que aprendi, que nem sempre toda festa dá para fugir da legião de amigos, que é ficar sozinha em um lugar desconhecido é perigoso sim. Seguimos caminhando ainda pela a calçada, e já estava meio tonta. Funciono da seguinte maneira, parar de beber e seguir caminhando não é muito a minha praia, tenho que continuar beber até antes de chegar em casa e me jogar na cama.

― Vem, vamos cortar caminho por aqui. – puxou-me rápido pelo o braço, seguindo por um beco de rua no meio da micareta.

― Ai. – gritei alto e parei de caminhar. ― Droga, viu o que você fez? – olhei para o meu pé, que jorrava sangue sem parar.

― Cadê o teu chinelo?

― Quem usa calçado em micareta.

― Pessoa inteligentes, agora cala a boca que vou tentar estancar isso.

Christopher ajoelhou-se amarrando a blusa no meu pé mas continuava doendo, tenho certeza de que entrou um caco de vidro e não quero nem imaginar a dor que será para caminhar e tirar isso dá ai.

― Apoia aqui. – pediu.

― Não precisa, consigo chegar até lá.

― Por/ra, que teimosia. – resmungou, colocando-me no braço sem perceber e gritei aos risos. ― Nossa que cachaça foi essa.

― Pinga da boa, que um moço me ofereceu. Coisa de homem com “H”. – sussurrei no ouvido de Christopher, com os braços agarrados ao redor do seu pescoço. ― Me entende?

― Não quero ser acusado de pedofilia...

― Não será necessário, você é pouco macho mesmo, paulista. – disse, rindo alto.

O silencio permaneceu o resto do caminho e me aproveitando da gostosura desse paulista, deitei meu pescoço em seu ombro e senti ele arrepia-o, está vendo ai a criança mexendo com os hormônios do homemzão? Chegamos a Van e ninguém estava lá, a micareta parecia não ter fim por sinal. Talvez por termos cortado caminhos, chegamos mais rápido. Não demorou muito e logo o Caíque e a Debora, os fiscais do dia responsáveis pela a van chegaram. 

― Você não precisa ir Ucker. – comentou Debora, enquanto Caíque ligava o carro.

― Relaxe Deb, já me perdi da galera e falta pouco para acabar mesmo, sem estresse. – dizia Christopher, encarando-me com os braços cruzados e um sorriso encantador.

As meninas tinham razão, Christopher Uckermann era muitíssimo parecido com o Caio Castro, musculoso e aquele sorriso com dentões – mas como diz o velho ditado, para não julgar o livro pela a capa – esse apesar da capa bonita, o conteúdo é péssimo. Sentou-se ao meu lado, a van estava espaçosa já que a galera não estava no carro. Mas ele fez questão de sentar-se ao meu lado, e eu não curti. Fiquei nervosa, quase peguei um torcicolo até o hotel de tanto olhar para um lado só. O som ao fundo era um Jorge e Mateus, do modão antigo, o que não ajudou o clima. 

Finalmente chegamos ao hotel, antes que os fiscais e os médicos viessem cuidar de mim, Christophe ajudou-me a descer da van e aquela bondade não era muito do seu fetiche, ao menos não comigo.

― Não precisa mais me ajudar, obrigada, agradeço mesmo do fundo do meu coração por ter salvo a minha vida, mas...

Disparei em falar de nervosa, e ele ignorava, conversava com o médico em um quase cochicho e eu não estava gostando nada daquilo.

― Pronto. – disse, Caíque. ― Vê se não apronta outra dessa senhorita Dulce, e procure andar devagar.

― Pode deixar Caíque, prometo. – disse aos risos, levantando-me da cadeira que estava sentada. ― Bom, vou dormir.

― Acho melhor você tentar caminhar amanhã só, não é melhor doutor? – perguntou Christopher, dando uma piscadela.

― É, o pé ainda está inchado. – disse o médico ainda meio perdido. ― É melhor não forçar muito.

― Mas é rápido, o quarto é bem ai...

― Não, deixa que eu te carrego. – afirmou Christopher.

― Não. – disse rápido. ― Não precisa.

― Não seja mal educada Dulce, ele só quer ajudar. – disse Debora, rindo.

Minhas mãos começaram a suar frio e minha perna bambear, eu não sou de ficar nervosa assim. Mas é que a minha brabeza as vezes me abandona sabe? Como foi hoje na micareta e como está sendo agora; fiquei sem jeito de negar, e num piscar de olhos Christopher me pôs nos braços de novo, o silencio do percurso até o nosso corredor estava me deixando com sono, e estava dando boas cochiladas até chegarmos no elevador. Despertei e ai foi que assustei-me, não estava no meu quarto. Estava no quarto dos garotos, Christopher me encarava de pé ainda sem camisa.

― Tá nervosa Dulce? – perguntou, com aquele tom de voz rouca.

Muito lenta eu procurava me levantar.

― Não adianta, você não vai sair daqui. Tá mesmo com medo não é?

― Não, é claro que não estou, você não é nenhum monstro. – fiz-me firme, em tom irônico. ― Só quero saber o que significa isso.

― Mas nisso teremos que concordar, de monstro eu não tenho nadinha. – dizia, enquanto tirava o short.

― Mas-mas, o que você está fazendo uai? – perguntei, tentando desvair os olhos daquelas pernas.

― Uai, - imitou-me. ― Nunca viu um homem nu Dulce Maria?