CAPITULO 14 ― Viva a solidariedade

A cabeça latejava como jamais senti antes, mal conseguia levantar da cama sem balançar tudo. E de fato, essa fora uma das piores ressacas que já senti em anos, meu estomago parecia está fechado e o gosto do vomito ainda estava na boca – o que não me fez vomitar por pouco. Olho ao redor e só agora percebo que estou sozinha, o celular no criado-mudo marca quase meio-dia e provavelmente estejam todos tomando café. Tentei levantar, mas voltei a sentar na cama.

― Droga! – murmurei.

― Bom dia dorminhoca. – disse Anahí, entrando com Maitê carregando uma bandeja linda com duas velas que marcavam dezoito. E sorri.

― Como está? – pergunta Maitê, dando-me um beijo na cabeça colocando a bandeja na cama.

― Acho que bem. – as duas me encararam aos risos. ― Nada bem, nada bem, não sei se consigo comer.

― Dulce não seja teimosa, você precisa comer, mudar esse clima, recuperar-se. – aconselhou Maitê.

― Acha que está em condições de ir ao Arraial? – perguntou Anahí, enquanto eu tentava comer, apenas neguei com a cabeça.

― Dulce, promete se controlar mais, assim não vai voltar viva para Goiânia. – pediu Maitê. ― Ah, e parabéns! – abraçou-me quase esmagando-me, ainda sentada na cama ao meu lado.

O café estava dos Deuses e talvez era de fato tudo que eu precisava, só frutas e nada de gordura. Depois do abraço de Maitê e Anahí ao mesmo tempo, foi impossível não chorar, chorava por esta arrependida pela ressaca e por passar metade dos meus dezoito anos deitada na merda de uma cama.

― Sem choro, vamos falar de coisas boas. – disse Anahí.

― Como por exemplo? – indaguei.

― Sobre ela ter ficado agarradinha com o Poncho o resto da festa. – disse Maitê.

― Ao menos alguém se deu bem essa noite.

Anahí não parava de falar sobre o quão bom e carinhoso era o Poncho e parecia aquelas alucinadas que acreditam em amor à primeira vista.

― Depois eu quem sou a apaixonadinha. – zombou Maitê.

― May, falando nisso, não fica triste com o Pollito. – falava ainda de boca cheia. ― Ele só tem medo por não ser parte do mundo dele essas coisas, mas procure ficar mais calma quando certas coisas acontecerem.

― Eu sei. – disse cabisbaixa. ― Angel me deu uns conselhos meio loucos, mas que fazem sentido.

― Como diz ela: sempre tem sentido, a gente que não acha.

Rimos juntas e depois elas foram conhecer o maior parque aquático da américa latina, enquanto Dulce ficou deitada a tarde inteira dormindo e acordando, dormindo e acordando na droga do hotel. Jean e Yasmin ficaram vindo me visitar de três em três horas e não existe melhor equipe de monitores do que a nossa, sem dúvidas. Mamãe ligou algumas vezes e estranhou eu atender tão rápido, já que nos últimos dias não fiz isso, sempre retornava horas depois. Finalmente a noite logo chegou e as meninas chegaram.

― Graças, achei que ia enlouquecer aqui.

― Desculpa amiga. – pediu Angelique. ― Tive culpa nisso.

― Não começa Angel, eu sou responsável por todos os meus atos, não sou criança.

Apesar de algumas pessoas discordarem.

― Sente-se melhor para ir ao luau? – perguntou Maitê.

Assenti que sim.

― Tem certeza Dulce? – perguntou Anahí. ― Se quiser, posso ficar com você.

― Mas de jeito nenhum, não me perdoaria nunca, se perdesse também essa festa. – disse levantando-me da cama. ― Yas, veio me deu uma medicação, sinto-me bem melhor, só não posso exagerar hoje.

― Espero que de fato, você se controle. – brincou Anahí.

O luau era algo mais light, todos estavam vestidos bem praianos e ansioso para as bandas e pessoas, na van Christopher deu-me uma encarada e logo desviou, ele parecia não querer contato comigo e estava sempre distante e perto ao mesmo tempo. Todos perguntavam se estava melhor deixando-me ainda mais envergonhada, menos ele, claro ele não daria o braço a torcer. Os monitores voltaram a frisar que eu pegue leve pois ainda estou recuperando-me.

Tudo que queria era esquecer tudo que me recuso a sentir e não pensar mais em nada. Assim que chegamos no luau, estava tocando um reggaeton diferente que fez o meu quadril mexer sozinho, Zoraida logo colocou-se ao meu lado e começamos a dançar. Eddy a olhava babando-a, e engraçado o desejo que eles nutriam um pelo o outro. O tipo da música que você fecha os olhos, seu quadril se move sozinho e a sua barriga para uma barriga, o vento da beira mar balança seus cabelos e você sente-se em um clip de funk.

― Posso jurar que ela está te provocando. – disse Alfonso.

― Seja lá o que ela esteja tentando fazer não está dando certo. – disse Christopher, bebericando da cerveja, saindo no meio da multidão.

Vi quando Christopher passou por mim quase derrubando-me. Eddy logo não resistiu puxando Zoraida para um beijo, e puxei o primeiro carinha que apareceu na minha frente, e depois o segundo carinha. Difícil era ficar com esse pessoal sem beber, porque quando a gente bebe parece mais fácil. Mas até que estava divertido. Maitê resolveu ficar ao meu lado agora e soltar-se, dançando exatamente como eu fazia e quanto estávamos prestes a se aproximar de dois moços, Christian surpreendeu puxando pelo antebraço beijando-a finalmente.

 ― Eu ouvi um Amém! – gritei, e todos riram.

A pior parte do luau aproximou-se, sim, a parte dos casais românticos. A fogueira e a música já não eram tão sensuais como estava a poucos minutos e isso deixava-me com mais vontade de beber ainda. Porque estavam todos muito agarradinhos, Jack e Karla, Christian e Maitê agora, Sebastian e Alessandra, Diego e Angelique, Annie e Poncho, Eddy e Zoraida.

― Ah gente, vou pro hotel, não vou ficar aqui de vela, nem sonhando. – resmunguei.

― Por favor, eu fico com você amiga. – brincou Anahí, mas o Poncho logo tratou de puxa-la.

Christopher aproximava-se ao lado de uma moça loira dos olhos azuis, bem praiana, parecia do sul e lembra muito a Zoraida quando observada de longe. Minha garganta fechou, meus olhos estavam prestes a marejar, mas mordisquei a boca recusando a me incomodar com isso.

― Isso é uma palhaçada. – esbravejou Angelique, assustando a todos.

― O que que foi Angel? – perguntou Diego confuso, ainda abraçado com ela.

― Vocês dois. – apontava Angelique, já de pé, e lá vinha confusão. ― Estão caidinhos um pelo o outro, passaram a noite juntos, sabe Deus lá o que aconteceu aquele dia.

― Angelique ficar quieta. – pedi, interrompendo.

― Não Dulce, porque isso é uma palhaçada.

― Concordo plenamente. – acrescentou Poncho, e Christopher o encarou com raiva.

― Sim, porque ele te salva de tudo e todos e depois fica para cima e para baixo com qualquer vadiazinha daqui, não estou mandando ele te pedir em casamento, mas que pare de lhe machucar.

― Diego, acho melhor você controlar a bebida da sua mina, ela surtou completamente, não sabe diferencia solidariedade com o resto...

E aquilo foi o fim para mim. Não quis ouvir mais nada, era tudo que eu precisava ouvir, era que Christopher estava sendo apenas solidário comigo, não tinha nada mais humilhante. A menina sequer incomodou-se com o que Angelique disse a respeito dela. Precisava beber, uma gota seria o suficiente, segui em direção ao pub.

― Vou atrás dela. – disse Maitê, correndo em minha direção e logo atrás estava Christian.

― Dulce não! – disse Christian, puxando o copo que estava prestes a bebericar. ― Você precisa ficar 100%

― Angel enlouqueceu. – disse Maitê.

― Quero que ele morra, se exploda lá no inferno. – gritei, irritada. ― Eu preciso beber, vocês não podem me proibir disso.

― Então se incomodou com ele e não com o que Angel disse? – indagou Christian, confuso.