CAPÍTULO 1 — Porto, lá vamos nós.

O relógio está marcando três horas da manhã e cá estou eu sentada na frente do notebook terminando de atualizar minha playlist para a viagem. Sim, Dulce Maria vai para Porto. Nem conto para ocês quão difícil foi convencer seu Fernando a me deixar ir para essa viagem, minha mãe tadinha brigou com ele duas vezes, fora as discussões matinais com o Derrick – que intrometido que só ele – ficava enchendo a cabeça do papai de coisa. Eu não sei o que ele aprontou nessa viagem ou o que ele viveu nessa viagem de tão perigoso que ele não quer que eu vá. Seu Fernando custoso que só ele, foi necessário que os organizadores, diretores, os pais da Anahí, da Maitê, da Angelique falassem com o meu pai para que ele me deixasse finalmente ir para Porto Seguro. Mas o que eu admirava em meu pai, é que quando ele tomava uma decisão firme mesmo, não tinha volta. E bom, quando ele disse sim. Menino eu quase tive um treco do coração. A felicidade não continha em mim.

Anahí e eu já havíamos feitos uma lista com o título: “Planos para Porto”. Tudo que não poderíamos esquecer de fazer em Porto. Porque tudo que acontece em Porto, fica em Porto. Não teríamos outra chance dessa, até que passássemos no vestibular. Terminei minha playlist às quatro horas, como boa Goiana que sou - só moda de viola e sertanejo universitário, ensinar aos baianos como dançar direitin.

O quarto do Derrick era ao lado do meu e da Nina, assim que ele entrou eu ouvi os passos largos dele no corredor. Cinco horas da matina, provavelmente bêbado e abusado e eu que não me atrevo a levantar dessa cama nem para beber um copo d’agua. Dei uma checada no grupo do WhatsApp. Sim, fizemos um grupo com toda galera do corredor 3B – para interação, conhecemos alguns de nossos monitores na última reunião da viagem. E pelo que posso ver, não sou a única acordada né. O grupo tinha vinte e duas pessoas, dentre monitores e alunos, metade de Goiânia e a outra metade de Campinas. E isso foi uma das coisas que mais animou a mim e a Annie, quando montamos nossos planos. O fato de misturar os estados, ajudará bastante.

“Lucas: Galera de Goiânia, todo mundo amanhã no aeroporto às 09:30”

O fato de ter que acordar daqui a três horas me faz imaginar o tamanho das minhas orelhas amanhã, mamãe diz que a minha sorte é que minha pele é morena e meus olhos são castanhos, por que se eu fosse uma branquela dos olhos claros – ia ficar igual uma panda, de tanto destaque que seria. Então galera, procurem sempre dormir bem ok?

~

O despertador vai tocar a qualquer momento. Mas tratei logo de cancelar, para não acordar a Nina tão cedo, afinal, ela está de férias – situando o mês que estamos ao leitor: Julho. Fiquei acordada quase a noite inteira, rolando na cama, cantarolando meu sertanejo. Assim que terminei de me arrumar, dei a última checada no espelho, passei um bocado de base no rosto para esconder a cara inchada de noite mal dormida.

— Ow, te falar. – a voz da Anahí, entrando no quarto, me assustou. — Só temos vinte minutos para chegar no aeroporto moça.

— To pronta uai, calma! – sorri, saindo do quarto.

As minhas bagagens já estavam lá em baixo, mesmo contra sua vontade Derrick as carregou até o carro. Anahí e eu somos vizinhas de casa, parede com parede e por isso somos tão unidas.

O percurso até o aeroporto de Goiânia, nunca foi tão longo quanto agora. O transito hoje parecia não ajudar, que que esse povo faz em plena quinta-feira de manhã uai. Angelique e Maitê ansiosas que só elas, já tinham ligado mais ou menos umas cinco vezes certificando de que eu e a Anahí estávamos acordada e principalmente a caminho. Inté parece que perderíamos essa viagem.

— Porque se não tivesse atraso, não seria a Dulce de sempre. – disse Maitê, assim que chegamos ao aeroporto.

— Fica quieta, e ajuda carregar esses trens. – disse abraçando-a rápido.

Papai e mamãe fizeram questão de nos acompanhar até a sala de embarque do aeroporto, conversaram rapidamente com os monitores presentes e em seguida nos despedimos. Dona Blanca não me engava, estava com cara de choro, parecia inté que eu estava indo para o outro lado do país passar seis meses – tipo um intercambio, que a Helena minha prima fez ano passado.

— Ow mãe, não te preocupas. Volto viva!

— Olha a brincadeira Dulce. – o vozeirão do papai me fez silenciar.

— Pode deixar tio, que eu cuido delas. – disse Angelique, despedindo-se dos meus pais.

Assim que os coroas saíram. Todo mundo começou a rir. A Angelique era a mais velha da turma, mas gente, ela é quem precisa de cuidados. Cês não tão entendendo o quanto essa maluca dá trabalho nas festas. Não sei nem como ela está indo para Porto agora, nem imagino o tanto de mentira que ela contou para os tios a deixarem vir. Seguimos até a fila do check-in. Christian e Zoraida, dois alunos do colégio Dinâmico aqui de Goiânia já estavam na fila.

— Menina, que moço bonito. – murmurou Anahí.

— Te aquieta Annie, nem chegamos ainda. – disse, aos risos.

Anahí sempre foi assim, boa de faro para homem bonito. E olhe que o tal Christian é bonito por demais, não me lembro de já tê-lo visto aqui em Goiânia. Olhos castanhos, cabelos pretos e curtinhos e uma pele bronzeada, alto – um galã – aquele tipo de cabra macho sabe?

— Lembre-se das regras. – acrescentei, assim que chegamos na fila.

— Ocês vão mesmo seguir com aquela lista maluca? – perguntou Maitê.

— Pois é, não precisa de lista para cometer insanidade uai. – disse Angelique.

Dentre das proibições que eu e Anahí fizemos para essa viagem a Porto, era proibido pegar conterrâneo. E como o Christian, apesar de galã e charmoso, era goiano, ele já estava descartado. A Zoraida logo começou a puxar assunto e começou a contar tudo da vida dela, e confesso que a pessoa mais maluca que eu conhecia até então era a Angelique, mas depois da Zoraida....

— E seus pais ainda te deixaram vir essa viagem? – perguntou Maitê, depois de ouvir toda a história.

— As pessoas mudam guria. – brincou Zoraida, com um tom de cinismo na voz.

Zoraida acabou de contar que mora em Goiânia a menos de quatro anos, que veio morar com uns tios por causa que os pais queriam separa-la do namorado no qual ela quase engravidou da última vez. Ela é de Pelotas, Rio Grande do Sul.

— Todo mundo pronto? – perguntou Pamela, uma das monitoras.

Todo mundo assentiu que sim, eu segurando meu celular e um travesseiro na mão.

— Só preciso me certificar. – disse Lucas, pegando uma prancha. — Angelique Boyer? – Lucas começou a chamar, à medida que ele chamava as pessoas levantavam a mão. — Anahí Giovanna? Christian Chávez? Zoraida Gómez?

— Ow. – gritou Christian, exibido que só ele.

— Maitê Perroni? – continuou Lucas aos risos. — E Dulce Maria?

— Uai. – disse, sorrindo.

— Pronto, todo mundo aqui. – disse Lucas, olhando para Pamela e Raquel.

~

O avião completo com alunos vestidos com a camiseta amarela escrita “Eu vou para Porto”. Nunca imaginei que tivesse tanta gente de Goiânia afim de ir para Porto Seguro assim, obvio que tinha um pessoal do interior também. Muitos eu conhecia de vista, de algumas idas a Woods da vida – mas só isso.

— Então me diz o que é amor para você... – cantarolava, com os fones de ouvidos no máximo.

— Coloque um funk, Dulce. – pediu Christian que estava sentado a minha esquerda.

— Uai, que goiano é esse que prefere funk a bom sertanejo? – assustei-me.

— Acho bom cê baixar o volume desse fone, cê vai chegar em Porto surda. – comentou Angelique.

— To sabendo, que não para de chorar... – continuei a cantar.

— Esquece a carreira de cantora, que essa não dá conta do teu sustento. – disse Christian, fingindo tampar os ouvidos. — Vocês bebem?

Angelique e eu se entreolhamos. Com aquela cara de santinha que de santinha não tem nada.

— Nem precisam responder. – disse Christian aos risos, coçando a nuca.

— Menino tu não fazes isso, que eu dô conta não. – disse Angelique, suspirando.

Chegamos em Campinas em um piscar de olhos, aterrissamos exatamente às 13:05, cerca de uma hora e vinte de voo somente. Pelo o horário nem preciso dizer o quanto estou faminta, sai de casa comi somente uma maçã às oito da manhã. Pamela e Lucas nos conduziram até a área de alimentação do aeroporto Viracopos, obvio que não daria para almoçar, a quantidade de gente que tinha nesse aeroporto não estava escrito e o voo com destino à Porto Seguro sairia exatamente às 16:15, ou seja, sem chance para almoço.

— Gente, um biscoito não vai me sustentar até Porto. – disse Maitê. — Preciso comer um trem forte para aguentar.

— Daqui a Porto não é tão longe May, eles dão lanche no avião também. – disse Anahí.

— Ah neim acredito que vamos ficar esperando aqui quase quatro horas gente. – resmunguei, enquanto sentávamos em uma das mesas da praça de alimentação do aeroporto.

— Parem de reclamar, que tal uma pinga? – perguntou Christian.

— Tu não atiças o diabo não, que ele está quieto Christian. – disse Maitê, conhecendo a amiga que temos.

— Falem na cara bandidas, me queimando assim pros desconhecidos na cara dura? – perguntou Angelique, rindo.

— Uai, mas eu nem disse nome de ninguém. – disse Maitê.

— Pois é, ninguém deu nome aos bois aqui uai. – ri. — Ocê quem se entregou.

— Será que eles têm uma boa pinga em Porto? – perguntou Zoraida.

— Pelo visto Angel não é a única cacheira aqui né? – perguntei.

Se olhar para Zoraida vocês não dizem e nem sequer imaginam o tanto de coisa que ela já passou e muito menos que ela é cacheira do jeito que diz ser. Parece uma boneca de tão pequena, mas um diabinho por dentro. Depois de fazermos um lanche rápido, seguimos para a sala de embarque. Lucas informou que dois cariocas fariam parte do grupo 3B agora, e que por causa deles seriamos uma das últimas equipes a fazer o check-in. Isso me animou né? Quanto mais gente de longe fizesse parte do grupo, melhor para que eu e Anahí começássemos a colocar nosso plano em pratica. Derrick me ligou para saber como estavam as coisas, se estava dando tudo certo – com raiva na voz eu disse um eu te amo e pedi que ele não se preocupasse, que confiasse em mim ele me soltou um “É difícil né Dulce” e eu me dei o direito de desligar na cara dele. Não sou obrigada a aguentar esses desaforo a distância não.

— Os paulistas chegaram. – disse Pamela, uma das monitoras.