CAPITULO 3 — Bem-vindos a Porto

Chegamos em Porto já era noite, o moletom que eu usava no aeroporto tirei antes mesmo de descer as escadas do avião. O clima quente de Porto já estava dando o ar da graça, agora compreendo quando a Yasmin – uma das monitoras – disse para levar roupas leves e muitos biquínis, nesse calorão é impossível ficar de roupa mesmo. Tentei falar com o Derrick assim que chegamos no hotel, mas não consegui. Dentro da Van era impossível conseguir falar com alguém, depois eles falam que eu sou irresponsável e não dou sinal de vida. O hotel – Náutico Mar – era um sonho, nem parecia real de tão bonito e grande. Ao chegarmos no hotel, seguimos para o auditório onde recebemos as pulseiras codificadas e algumas instruções.

— A essa altura, vocês já sabem como irão dividir os quartos não é? – perguntou Debora e todos assentiram que sim. — Só preciso registrar a divisão e depois já podem se acomodar.

Quando mencionei que o hotel era enorme não estava brincando, sinto que vou me perder diversas vezes aqui com tanto corredor e tanta escada. Depois da divisão dos quartos, finalmente, joguei-me em uma cama. Fiquei confusa quando vi que eram duas camas de casal.

— Aviso logo, que não sou lésbica. – brincou Angelique.

— Ow, e quem é que dúvida disso? – perguntei.

— Será que não entramos no quarto errado? – questionou Maitê, também estranhando as duas camas.

— Não gente, estamos no corredor certo e no quarto certo também, achei que soubesse que o quarto era quadruplo assim. – disse Anahí.

— Mas isso não é problema, quem é vai ter tempo de dormir? – disse Angelique, levantando-se da cama que estava sentada. — E vejam pelo o lado bom, cama de casal serve para casais ok?

— Seguraaaaaaaa a periquita Angelique Boyer! – gritei, caminhando até o banheiro.

Do nosso grupo só a Angel que já não era mais virgem, a Maitê quase perdeu uma vez com o antigo namorado, mas por sorte ela não se entregou – o cara era um canalha, e não só por isso, mas ela era apaixonadinha nele e dizem as más línguas que amor de p*** é o amor que fica. Caro leitor, desculpem o linguajar de uma menina não muito descente, mas vai encontrar de tudo aqui menos frescurisse. Depois de uma hora esperando a princesa da Maitê sair do quarto para irmos jantar, saímos em direção ao corredor, no corredor os meninos comentavam sobre o que aprontariam nessa festa.

— Moços, não esqueçam da camisinha. – disse Angelique.

— Angel! – bati no ombro dela.

Uai, como ela fala um trem desses na frente dessa macharada toda gente?

— Coé Dulce, ninguém é inocente aqui. – disse Sebastian, com as mãos nos bolsos. — Ou será que vocês são inocentes? – perguntou Sebastian, colocando-me contra a parede.

— Sempre existe aquele 1% não é mesmo Dulce? – disse Christian.

— Uai, parem com isso! – disse, escondendo-me atrás da Angelique, Oh! sorte dela ser bem mais alta que eu.

— Man, ninguém veio pagar de santinha em Porto não é mesmo? – perguntou Karla, que estava ao lado do Christopher no corredor.

— Dá hora esse assunto, mas melhor seguirmos para o jantar. – disse Jack, quebrando o clima tenso que a conversa tomou.

Karla e Christopher começaram a rir juntos e saíram abraçados, ele agarrado no pescoço dela. Jack me puxa pelo o braço bagunçando meu cabelo.

— Relaxa mina! – disse sorrindo, com esses zoi brilhoso de tão esverdeado.

Obvio que eu poderia dá uma bela de uma resposta a Karla, mas eu não vim para Porto para arrumar inimiga não é? E mal sabe ela, que o meu lado santinha ficou em Goiânia, o meu e o da Anahí, sem esquecer da Angelique também né. Maitê passou o jantar inteiro calada, ela estava estranha desde cedo, quer dizer, desde de que Christian começou a tirar ousadia com todas as meninas. A May apesar de baixinha, tem o coração do tamanho do mundo. E seja lá o que Christian deixou transparecer durante o caminho de Goiânia até Campinas, afetou minha pequena. Mas essa noite, a essa noite tudo muda.

— Pode desmanchar essa cara. – disse Anahí, segurando a bandeja.

— Que cara uai? – perguntou Maitê, fazendo de desentendida.

— Essa cara de decepção. – comentou Zoraida.

— Tá vendo só? Até mesmo a Zôh percebeu. – comentei.

— Uai, como é que não percebe? Calada o tempo inteiro. – disse Zoraida.

— Falta de cana! – disse Angelique.

— Será que você pode pensar em outra coisa? – perguntou Maitê, jogando o talher no prato.

— Tanto moço bonito May, e logo um conterrâneo, ele é parente da Angel em outras vidas.

— Mar, tu me respeitas Dulce Maria, me respeita mesmo! – disse Angelique aos risos

— Mas quem disse que tem a ver com o Christian, Dulce? – disse Maitê. — Que insistência boba. – levantou-se da mesa, assustando a todos.

A mesa do jantar era enorme, estavam todos do corredor ali e a Maitê chamou atenção ao ser a primeira a levantar-se ainda com o prato cheio. Esse era o único defeito da May, quando éramos pequenas ela sabia se divertir mais – filávamos aulas para passar a tarde tomando coca e comendo algodão doce – mas agora, tá tornando-se a menininha politicamente responsável.

— Deixa que depois eu converso com ela. – disse Anahí.

A primeira noite em Porto já começou bem animada e esquentada. Os paulistas conversavam sobre futebol e mulheres – papo de homem – exceto Christian, marca registrada de goiano que tem, desde da hora que chegamos a mesa que ele conversa ao pé do ouvido com a Alessandra, fora o olhar fixo no decote da blusa da carioca. Depois do jantar, começamos a nos arrumar. Maitê conversou com a Anahí e que por sinal voltou mais animada, nada que um bom sertanejo não resolva. Sei que a aqui talvez eles não escutem muito sertanejo, mas nem que eu suba na mesa do Dj – ele vai tocar um Safadão – para animar a galera.

— Então, qual tópico da lista vamos colocar em pratica primeiro? – perguntei, enquanto delineava o olho esquerdo.

— Uai moça, não está pensando nem em um pré-aquecimento? – perguntou Anahí.

— Vocês estão ficando doidinhas! – disse Maitê. — Vejam só isso. – Maitê segurava a lista que estava sob a mesa de apoio. — Voltar sem a castidade, isso não deveria ser algo especial para vocês?

— Uai, para que May? Para depois ficarmos sofrendo quando o garoto nos deixar? – disse entre risos.

— Ow, que a Dul é das minhas. – gritou Angelique.

Ao contrário da maioria das meninas eu nunca pensei em perder a virgindade com alguém especial ou com um namorado, claro que a minha mãe passou uma ideia de que isso é a maior preciosidade que toda mulher tem - quando se tem a minha idade é claro – e todo aquele blablabá! Mas eu sempre pensei diferente, sempre quis que fosse com alguém desconhecido, com alguém que eu não fosse ver nunca mais na minha vida. Que poderia falar do que aconteceu para os amigos de qualquer forma, que não iria me afetar, porque eles não iam me conhecer. Lembro do que a Angel sofreu quando perdeu a virgindade, ela diz que não se arrepende, mas lembro como ontem o tanto que ela chorava quando soube que o ex falava dela por toda Goiânia.

— Amores vem e vão então bora beber, a gente gasta pouco, a gente sofre menos... – cantarolava, enquanto terminava de vestir a blusa.

— Dulce, ocê tá doida? – perguntou Maitê.

— Porque uai?

— Vai com essa blusa branca.

— Vai ficar nuinha. – disse Angelique. — Vai devagar Dulce, querendo matar os baianos, paulistas, cariocas... Todo mundo assim.

— Parem de exagerado, tá muito ruim? – perguntei, ao mesmo tempo que olhava no espelho. Vestia uma top cropped branco com franja, barriga a mostra eu sempre gostei.

Todas prontas para a primeira noite em Porto. Angelique já virou dois engov e junto com a Ludmila mandou avisa que “É hoje que vai ter PT”. Os monitores esperavam por nós no corredor para registrar a presença de todos com a pulseira.

 — Te cuida coração! – gritou Christian, ao ver as meninas saindo do quarto. — Muié bonita demais sô!

— Aôô Goiânia! – gritou Alfonso.

— Man, vai com calma. Tem mais lá fora. – disse Christopher, e ninguém deu corda, ofendeu né.

— Bonito mesmo são esses fiscais. – sussurrou Angelique. — Apostam o que como hoje eu agarro o Caíque?

— Isso não é uma boa ideia Angel. – disse Maitê. — Ele é nosso monitor, escolhe outro de outro corredor, imagina só o clima tenso que vai ficar.

— Ah neim vai ficar. – brincou Angelique.