CAPITULO 8 ― TRANCOSO

Na manhã seguinte, os monitores vieram nos acordar antes mesmo do horário de despertador. Convocado todos para uma reunião no auditório daqui a cinco minutos. Viu que não compensa ajudar? Deveria ter deixado eles se matarem lá e ter pulado na piscina, me divertido, ao menos compensava acordar cedo hoje.

― Culpa daqueles manés. – resmunguei.

― O que aconteceu ontem? – perguntou Anahí.

Tentei contar para as meninas razoavelmente o que aconteceu e elas ficaram tão surpresa quanto eu.

― Esse Jack realmente não vale nada. – comentou Maitê. ― Vocês precisavam ver o quão mal estava a Alessandra ontem aqui. Chega deu dó.

― Não exagera May, ela sabe como funciona aqui em Porto. – disse Angelique terminando de se arrumar. ― Acho que o mais fofo é o Diego mesmo.

― Mas ontem foi um dia bem louco, já era esperado acontecer alguma coisa assim. – disse Anahí. ― Falando nisso, Dulce que loucura foi aquela de jogar o copo no moço?

― Ele mereceu, se vocês tivessem ouvido o comentário dele em relação a nos ontem.

― Ah e você anda ouvindo atrás da porta é? – brincou Anahí.

Saímos para a reunião, quase toda galera de Porto já estava comentando da confusão que teve no corredor do 3B. Durante a reunião os monitores deram uma verdade lição de moral no geral, falou sobre a importância da amizade, da parceria. E do que realmente significa liberdade. Maitê e Alessandra choraram feito criança, e eu já estava quase dormindo com aquele sermão todo.

― Bom, peço que fiquem apenas o Jack e o Christopher por favor. – disse Jean. ― E o resto pode seguir para o café, obrigada.

Todos aplaudiram e os dois se encararam. Na mesa do café da manhã o clima não era outro, Karla e Alessandra não se olhavam cada uma em uma ponta da mesa. Ninguém falava nada, silencio puro.

― Está chateada comigo? – perguntou Christian, próximo a Maitê.

― Não, não tenho motivos pra isso. – respondeu Maitê, enquanto fazia seu prato.

― Tem certeza?

Maitê o encarou.

― Uai, porque não teria?

Encarei Christian de longe e mandei sinal para que ele ficasse calado, mataria se ele comentasse ou deixasse transparecer alguma coisa. E depois Maitê me mataria também.

― Essa ressaca que eu to, está sendo a pior de todas. – resmungava Zoraida.

― É porque junta a ressaca moral com a física, ai dá nisso. – brincou Eddy.

Tentar descontrair aqui estava impossível, não abri a boca para mais nada. Só observava a conversa da galera. Sebastian tentava puxar assunto com a conterrânea, perguntando se estava tudo bem – como se tivesse morrido alguém – convenhamos que Alessandra está exagerando. E o clima de Porto parece que se quebrou.

― Obrigada pelos os cuidados de ontem. – quando ouvi Angelique falar isso, não me contive e comecei a rir.

― Nada pow, relaxe. – respondeu Diego, dando-lhe um beijo na bochecha.

― Está doente? – perguntei, entre risos.

― Poncho, relaxa. – dizia Anahí, sentada ao lado de Alfonso. ― Eles vão sair BFF’s de novo.

Anahí toda interessadinha no Poncho, deixa ela pensar que eu não percebi isso ainda. Anahí não é tão diferente da Maitê não, parece que tem sina por aqueles que não lhe dão bola, eu hein, meninas aprendam a gostar de quem gosta de você é bem mais emocionante e divertido. Depois de alguns minutos esperando, Jack e Christopher saíram agarrados de pescoço a pescoço, olhei de imediato para a expressão de Karla. Aquilo pareceu não agrada-la, imagina só ser desprezada assim dessa forma? Seja lá o que os monitores fizeram lá dentro, mas a van segue tranquila, todo mundo ansioso e tranquilo com destino a Trancoso, Beach Club.

― Esse é o meu lugar. – disse Angelique, tirando seus óculos escuros do rosto.

― Aquieta Angel. – disse Maitê.

Fly Club Trancoso – ou seria o paraíso? O som não me agrada por ser eletrônica, mas tem muito glamour e badalação aqui com tanta gente bonita.

― Galera, não esqueçam que voltaremos no final da tarde. – disse Jean, um dos monitores.

― Que tal tomarmos um sol? – sugeriu Zoraida.

As meninas concordaram, menos a Karla, que esperou que caminhássemos na frente para que ela pudesse perguntar ao Christopher se eles poderiam conversar. Não sei até onde vai a cara de pau dessa menina, mas já posso dizer que ela vai bem longe, no lugar dela já teria arrumado minha mala e voltado para Goiânia. Mas o mais engraçado foi a ignorada que o Ucker deu nela e seguiu caminhando com o Jack sem nem mesmo olha-la.

― Annie! – gritou Alfonso. ― Vem cá! – acenou Alfonso, que estava sentando em um quiosque com os meninos.

― Olha lá Annie, vai lá Annie.

― Não debocha Dulce, não debocha. – disse Anahí, levantando-se da espreguiçadeira.

**

― Ucker, mas você tem que pedir desculpas a Dulce cara. – dizia Alfonso, após pedir que Anahí ajudasse que Dulce falasse com o Christopher.

― Olha só, a Dulce é super de boa, ela vai entender. – dizia Anahí.

― Não vou pedir por/ra de desculpa nenhuma, ela jogou bebida em mim, estão esquecidos? – Christopher bebericava do suco. ― Fora que não tenho paciência pra criança, é irrelevante pra mim.

― Não aceito que você fale...

Antes que Anahí pudesse terminar, Christopher levanta-se da cadeira e sai.

― Educado ele né. – ironizou Anahí.

― Foi mal Annie, vou lá falar com esse cara. – disse Alfonso, despedindo-se de Anahí com um beijo na bochecha.

**

Tentei decifrar o que Anahí tanto conversava com os paulistas mas foi uma missão impossível. Zoraida e Angelique estavam praticamente dormindo por causa da ressaca, Eddy e Sebastian namoravam a distância algumas garotas bolivianas. Todo se divertindo, menos, a Alessandra.

― Vai ficar observando eles a tarde inteira? – perguntei, sentando-me ao lado dela.

― Oi? – assustou-se ao me ver ali.

― Perguntei, se vai ficar olhando para eles o dia inteiro.

Alessandra observava Karla e Jack namorando a uma distância considerável e era nítida a tristeza nos olhos dela.

― Eles que são do mesmo estado que se entendam Alê, procura se divertir.

― Nossa, que brincadeira péssima Dulce. – intrometeu-se Christian.

Alessandra gargalhou e ao menos para alguma coisa serviu o comentou péssimo comentário.

― Vamos animar isso aqui galera. – gritou Zoraida, do outro lado.

― Vamos lá, ver o que a Zoraida está aprontando. – disse Alessandra, acompanhando a mim e ao Christian.

Competição de shots, essa era a brincadeira inventada por Zoraida e Eddy. Nunca participei, na verdade não sabia muito bem como funcionava, mas de uma coisa tinha certeza: que era impossível sair sóbrio.

― Quero entrar também. – pedi, depois da terceira partida, era instigante e animador.

Angelique já estava ficando grogue e a Zoraida nem se fala, mas nenhuma das duas queria sair.

― Se tu não és acostumada com misturas, é melhor não entrar Dul, capaz de tu ficar sem condições de ir para night hoje. – aconselhou Sebastian, que nem parecia que estava fazendo parte da competição.

― E você meu filho, que fígado é esse? – brinquei, e ele sorriu. ― Mas tudo certo, melhor não arriscar. Mas anota ai Annie, isso entrou para nossa lista.

― Maldita lista. – disse Maitê, revirando os olhos.

― Mas que lista é essa? Já ouvi falar dela, mas nunca conseguir lê-la. Alguém tem? – questionou Diego, as meninas se entreolham.

― É melhor você nem saber o que tem naquela lista, capaz de se assustar. – disse Angelique.

Do outro lado, enquanto gritava para um lado da competição de shots. Maitê e Alessandra conversavam.

― Não tenho condições de dormir no mesmo quarto que a Karla, ela é uma nojenta. – reclamava Alessandra. ― Só que não sei o que fazer, não queria trocar de corredor, nem saberia como explicar isso aos monitores.

― Se não fossem quádruplos, poderia te chamar para vir para o nosso quarto. – disse Maitê.

― Alê. – disse Sebastian, saindo da competição. ― Estamos em porto. – lembrou-lhe.

― Não suporto mais essa justificativa, tudo é porque estamos em Porto, isso não altera quem somos interiormente. - disse Maitê.

Levantei-me da cadeira e caminhei até Annie, senão explicaria a Maitê o que eu e Sebastian queremos dizer quando falamos que “estamos em Porto” é algo efêmero, que irá passar, que acontece apenas uma vez na vida. Que ela futuramente irá se arrepender caso deixe de aproveitar por causa de um cara que não está nem fode/ndo para ela, quer dizer, está fode/ndo com ela sem nem mesmo ter a intenção. Não julgo o Jack por suas atitudes não, talvez, ele tenha vacilado com o Christopher – que também foi outro sem noção – ele deveria compreender que ninguém é de ninguém aqui ao invés de ter ido arrumar confusão. Na vida é sempre necessário dar passos à frente e não para trás. E tenho dito.

― Achei que o paulista tinha te chamado para darem uma fugidinha.

― Não começa. – resmungou Anahí, de braços cruzados.

― Que que houve que não rolou?

― Não tenho saco para protetor de amigãozão se é que me entende, o cara me largou para tentar convencer o Ucker de vir te pedir desculpas por causa de ontem, não dô conta desses meninos pouco másculos não.

― Eu ouvi isso viu dona Annie. – disse Diego, aproximando-se. ― E não inventa, que você é igualzinha em relação a Dul, quase bateu em todo mundo da última vez.

Quanto Yasmin veio nos chamar para voltarmos para o hotel, pulei de alegria. Não que no Fly não estivesse bom, mas, eu estava verdadeiramente ansiosa para a festa de hoje à noite. Ela tinha mais a minha cara, amo as micaretas de Goiânia e espero não me decepcionar com as daqui também. O juízo deixei em Goiânia, o coração enterrei, a bebida me apresentei e o virote eu dei. E tenho dito, que venha o Axé Moi.