Fanfic: Não mereço você | Tema: Vondy

Fiquei no quarto o máximo que minha curiosidade permitiu. Arrumei as gavetas mas em um certo momento não consegui me controlar e desci as escadas para vigia-lo. O plano era para ser silenciosa como uma pluma mas o resultado foi um esbarrão na mesinha que fez um barulho digamos que alto. Ele provavelmente ouviu o barulho, endireitei as costas, ajeitei os cachos que cobriam meu rosto e caminhei até a cozinha com a cabeça erguida. Ele não se incomoda de usar esse avental rosa?? Fala sério.
-Fiz macarronada com almôndegas.- comunicou.
Não respondi apenas sentei de frente para o balcão. Sentia-me uma boba, olhei para o teto.
- prometo nunca mais reclamar quando uma amiga for feita de idiota, por favor. Já aprendi a lição.- supliquei.
-O que disse??- fechei os olhos e os abri alguns segundos depois desejando que tudo não passasse de um sonho. Infelizmente ele ainda estava parado comandando o meu fogão!
-Nada.- bufei.
Podia ter jogado o prato de comida que foi colocado na minha frente na cara dele?? Podia mas comida é comida. Peguei o garfo e comecei a enrolar o macarrão.
-Dulce.- o encarei com desdém.- notei que tem alguns quartos vazios lá encima.
Assenti com a cabeça como se tivesse confirmando algo quando na verdade sabia que ele já o confirmará com os próprios olhos.
-idai? Sua casa fica aqui do lado por qual motivo Ainda não foi embora??.- o fuzilei com os olhos.
-ficava.- corrigiu-me.- Belinda exige em ficar com a casa no divórcio.
-Divórcio??- endireitei a postura. Então existe um divórcio.
-Sim.- uma única palavra de confirmação. Bastou para dar a entender que não diria mais nada sobre a  vaca, olhei para o prato.
O que está acontecendo comigo?? Será que estou doente?? Ele está me tratando como uma qualquer e o pior, eu estou deixando. Não é possível.
A comida está tão maravilhosa que parece que vou morrer. Claro que não fiz nenhum comentário mas ter repetido a refeição deve ter indicado algo, não trocamos outras palavras. Seu celular tocou e ele saiu para atender, voltou segundos depois para avisar que iria embora, murmurei qualquer coisa apenas para que soubesse que ouvi,  terminei de comer e coloquei os pratos na pia e os lavei com uma lentidão extrema. O telefone tocou histericamente, normalmente ninguém liga para o fixo. 
-Alô.
-Papai e mamãe vão chegar amanhã.- Bianca é seus modos notáveis ao telefone.
-Já estava na hora.- reclamei. Acredito que eu não tenha ficado tanto tempo longe deles desde que me entendo por gente.
-Aposto que é apenas pelo casamento de May.- retrucou e logo soltou uma risada.-Para!! Depois nos falamos.
Desligou tão rápido que não pude dizer “tchau”. Podiam  pelo menos disfarçar que estava em um encontro amoroso. Totalmente frustrada sentei-me no sofá pensando em como minha vida se tornará um caos desde que sairá da casa de minha infância.

Parada no Porto esperei ansiosa o desembarque dos passageiros. Nunca fiquei longe um tempo tão longo dos meu pais, embora afirmasse que a ansiedade se baseava apenas na saudade, sabia que no fundo que tinha uma pitada haver com Christopher. Deveria ser firme com ele e expulsa-lo da MINHA casa.
-Olhe eles ali.- Bianca gritou apontando para um casal que reconheceria a milhares de quilômetros.
Pode parecer piegas mas corremos como três crianças para abraçá-los. Um dia gostaria de ter filhos e ser tão bons pais como mamãe e Papai.
-Também estávamos com saudades queridas.- Papai foi o primeiro a se pronunciar, devo admitir que sempre tive uma preferência pelo papai. Que mamãe nunca fique sabendo disso ou me mataria.
Lembro-me da vez que eu e Claudia demos  um soco num garoto por perseguir a Bianca chamando-a de magricela. Papai riu do assunto e se vangloriou para os amigos de como suas garotinhas eram corajosas, com a mamãe foi um discurso de como a violência não resolve nada. Acho que foi aí que comecei a ter uma preferência.
As malas, muitas malas. Como se a cada parada do navio, mamãe tivesse que comprar pelo menos mais duas malas não atrapalhou nosso almoço no Porto. Paramos em um restaurante com a vista virada para o mar.
-Trouxemos muitos presentes.- comentou Blanca adentrando em histórias completamente fascinantes sobre a viagem que os escondera de nós por quase dois meses mas simplesmente não conseguia prestar atenção, como se apenas meu corpo estivesse presente e a minha alma em outro lugar. 
-Dulce.- estalou os dedos.- está ouvindo??
-Sim mamãe.
-Como está Mayte ??
-Bem na medida do possível.
-Farei uma visita logo que der.- virou-se para falar com Claudia.
Não entendo o que está havendo comigo, nunca fui do tipo de distrair-se olhando para o nada a ponto de precisar ser chamada como uma criança. Quem fazia isso era Bianca!! Sempre distraída com o olhar perdido, apaixonada por qualquer garoto que se dispusesse dar um mínimo de atenção. E aqui estou eu mas não apaixonada, obviamente não. Não se apaixonara desde o .... bom nunca se apaixonara.