Fanfics Brasil - Capítulo 2 A promessa da rosa

Fanfic: A promessa da rosa | Tema: Herroni


Capítulo: Capítulo 2

522 visualizações Denunciar


 Alfonso Herreira viu como a jovem que tinham capturado afastava dele com um grito de terror. Mas não foi muito longe. Sujeitou-a com força de aço pelos pulsos e a atraiu sem dificuldade de novo para si até que suas testas quase se roçaram. Só havia duas mulheres às que queria no mundo. Mas não era imune às que considerava atraentes, e aquela se aproximava provavelmente à perfeição física mais que nenhuma. Apesar do fato de que se tratava sem dúvida de uma perita cortesã enviada por algum de seus numerosos inimigos para seduzi-lo e espiá-lo, não podia se mostrar indiferente diante sua elegante e torneada perna nua, que agora estava apanhada entre as suas, nem à suavidade de seus generosos seios, apertados contra seu peito, ou a beleza impactante de seu rosto. Achava-se terrivelmente excitado. Estava desejoso e impaciente por possuí-la. Tinham adotado uma postura tão íntima que ela podia sentir cada centímetro de seu corpo, mas, acaso não era a sedução seu propósito? Que outra razão haveria para que enviassem uma mulher com um disfarce tão bem elaborado? Atribuiu seu olhar assustado a que tinha adivinhado a verdade.    



Durante um instante, sentiu desejos de tomá-la selvagem e rapidamente, e terminar com aquilo. As respostas viriam mais tarde. Mas era filho de seu pai e seu herdeiro. Velar pelos interesses de Northumberland tinha sido sua única ambição desde que ganhou suas esporas à idade de treze anos. Não tinha a reputação de líder desumano à toa. As respostas não podiam esperar. Se seus inimigos sabiam que estava ali, os planos do rei estavam em perigo.    



— Co... como? — Conseguiu dizer por fim Maite.    



— Acredito que me ouvistes perfeitamente — disse ele com frieza. Estava tão furioso e excitado que a sentou na cama a seu lado sem soltar o pulso dela. Sua inerente educação o levava a se dirigir a ela como se fosse uma dama quando estava claro que se achava muito longe daquele status, apesar de que ao olhá-la nenhum homem poderia tê-lo adivinhado. Por alguma razão, Alfonso se sentiu desiludido ao saber que sua aparência angélica era só isso, aparência.   — Quem a enviou para me espionar? Montgomery? Roger Beaufort? O rei? Ou acaso se trata uma vez mais de algum truque do príncipe Henry?    



Ela o olhava como se estivesse hipnotizada. Alfonso era um homem duro e, entretanto, sentiu uma pontada de simpatia. Aquela mulher era muito jovem. As cortesãs que ele conhecia e estava acostumado a utilizar com freqüência, eram maiores e viúvas. Mas, como bem sabia, em ocasiões as aparências enganavam.    



— Não sou uma espiã — espetou.    



— Não me trate como a um idiota — respondeu ele com frieza.    



— Prometeu que me soltaria!    



— Ainda não estou curado! — Alfonso observou como tomava sua afirmação. Ela compreendeu imediatamente o que havia dito e a raiva tingiu suas feições. Não devia se surpreender com a inteligência dela. O normal era que tivessem enviado uma mulher ardilosa para que utilizasse suas mutretas com ele.    



— Enganaste-me! — gritou ela. — Me fez acreditar que libertaria-me quando atendesse sua ferida!    



— Acreditastes o que queria acreditar. — Sua paciência estava chegando ao limite. — Já é suficiente. Quero respostas e as quero agora. Quem é e quem a enviou?    



Ela negou com a cabeça. Os olhos encheram de lágrimas, umas lágrimas que, pensou Stephen, não podiam afetá-lo. A experiência ditava que, salvo estranhas exceções, não devia confiar nas mulheres. E aquela não era uma dessas exceções. De fato desconfiava dela mais que de nenhuma. Era jovem mas não inocente. Sem dúvida seu medo e suas lágrimas eram puro teatro.    



— Não sou uma espiã.    



A Alfonso ocorreu outra idéia.    



— A enviou talvez Malcom Perroni?    



— Não! Nem sequer o conheço! Não sou nenhuma espiã, juro isso! — Afirmou, sobressaltada.    



Estava mentindo. Disso estava seguro. Igual como estava que Malcolm Perroni era a pessoa por trás daquela traição. Uma raiva renovada o fez zangar-se de novo.    



— Advirto, milady, tenho meios para conseguir a informação. E quando me provocam sou implacável.    



— Por favor! Posso explicar isso. Isto não é o que pensa.    



— Então sugiro que comece.    



— Sou... sou uma bastarda. Meu pai é Sinclair Ou'Dounreay e minha mãe uma leiteira — soltou sem pensar.    



Alfonso elevou uma sobrancelha. Aquela afirmação não se enquadrava, visto aquele absurdo disfarce. Embora possivelmente sim se tratasse de uma bastarda. Mas estava convencido de que mentia, e só teria motivos para fazê-lo se era uma espiã.     — Agora está disposta a soltar informação, milady? Onde está Dounreay?    



— A muitos quilômetros ao norte. — Posou as mãos sobre o regaço sem olhá-lo nos olhos e pensou que era uma mentira excelente.    



Alfonso pensou que era muito oportuno que não pudesse comprovar seu parentesco, embora não se esqueceria de confirmá-lo. Quase sentia certo respeito por ela. Para chegar até ele com semelhante missão tinha que ter muita coragem.    



— Perto das ilhas Orkney? — seguiu perguntando.    



— Quase. — Ela sorriu aliviada.    



Era a primeira vez que Maite sorria desde que Stephen a conhecia, e se antes tinha parecido bonita, agora era excepcionalmente bela. O interrogatório tinha o distraído do desejo que sentia por ela, mas agora sentia que se renovava com força.    



— Já vejo. E o que a traz tão ao sul, em Carlisle?    



Ela tinha ruborizado notavelmente, ao ser consciente da evidência de seu desejo. Alfonso quase podia ver como maquinava sua mente. Estava claro que procurava uma resposta acreditável, e isso o tirou do lugar. Se era tão inteligente como ele tinha pensado teria que ter memorizado uma história verossímil antes daquele encontro. E o que tampouco entendia eram seus rubores.    



— Sou de Liddel, como minha mãe.     



— Uma atuação memorável, milady. — Alfonso inclinou para trás e lhe deu duas palmadas.    



— Não acredita?    



— Não acredito em nenhuma só palavra de tudo o que disse. — Maite ficou petrificada e o olhou com os olhos muito abertos.



— Têm dez segundos para me contar a verdade. E se não me convence, asseguro que sofrerá as conseqüências.    



Ela abriu a boca e se separou dele, ficando em pé em um intento de escapar. Alfonso soube imediatamente qual era sua intenção. Embora não tinha outro lugar onde cair que não fosse aos braços de seus soldados, e apesar da dor que sentia, ele também ficou em pé e a agarrou sem vacilar, lhe arrancando um grito.    



Sem pensar duas vezes, Alfonso a fez girar, sujeitou-a com força e cobriu a boca dela com a sua.     T



inha a tocado intimamente, mas em realidade não a tinha beijado. Não do modo que tinha desejado do momento em que pôs os olhos em seu belo rosto. Beijou-a com ânsia, como se queria devorá-la e deslizou as mãos pelas costas, cobrindo as nádegas com as palmas.    



— Vamos tentar outra vez, pequena — sussurrou com voz rouca, movendo a boca sobre a sua e elevando seu frágil corpo sobre sua aguda ereção.    



— Não — protestou ela com energia.    



Mas foi interrompida. A boca de Alfonso a invadiu e provou seu sabor com a língua. Cada investida se fazia mais e mais vigorosa, mais voraz. Ela recebeu timidamente uma delas e as pontas de suas línguas se roçaram.    



Alfonso queria que se rendesse completamente e ao momento. Era o que esperava. Necessitava-o naquele instante. Mas para seu assombro, a jovem afastou de repente o rosto do dele.    



— Não devemos fazer isto.    



— Não jogue comigo agora — advertiu o normando apertando os dentes e a sujeitando pelo queixo com uma mão.    



Ela gritou e elevou seus pequenos punhos para golpeá-lo no peito, mas Alfonso estava muito concentrado em beijá-la para prestar atenção a seus golpes.    



Maite girou o rosto de novo e retorceu freneticamente sob seu abraço de ferro, mas com cada movimento roçava seu grosso e excitado membro de um modo tão hábil como o fariam as peritas carícias de uma prostituta, pensou Alfonso. Como atriz era magnífica. Aparentava não ser uma sedutora, a não ser uma jovem inocente verdadeiramente assustada ao saber qual era seu destino. Mas apesar daquele breve instante de confusão, Alfonso não podia parar agora. Intranqüilo, assegurou a si mesmo que ela tinha provocado deliberadamente aquela confusão para seduzi-lo por completo.    



Já tinha tido suficiente daquele jogo. Não era sua intenção derramar sua semente em cima de ambos, assim a pôs sobre a cama. Ela seguia negando-se e o golpeava com os punhos enquanto emitia uns sons assustados. Alfonso voltou a tomar sua boca e se colocou sobre ela.    



De repente, ambos ficaram imóveis enquanto se olhavam fixamente nos olhos.    



— Não posso esperar — murmurou ele, umas palavras que não tinha pronunciado jamais.    



Os olhos que estava contemplando enquanto falava refletiam umas emoções que não foi capaz de identificar. A jovem tinha o rosto ruborizado e não se movia, parecia paralisada. Tão somente agarrava com força os ombros dele com as palmas das mãos.    



Alfonso separou as pernas com os joelhos e começou a se mover com força. Subiu a larga túnica até a cintura e durante um breve instante esteve preparado em cima dela.    



Seus olhos se encontraram e mantiveram o olhar. Maite abriu a boca mas não disse nada. Ele contemplou seus seios, os duros e eretos mamilos que marcavam sob o vestido, e não pôde evitar roçar um com o polegar. A jovem fechou os olhos e soluçou com angústia.    



Alfonso começou a suspeitar que algo não ia bem. Deslizou uma mão entre as pernas e acariciou as úmidas dobras que protegiam sua intimidade. Aí estava a prova de que o desejava, fosse espiã ou não. Sua excitação não era nenhuma atuação.    



Afundou um dedo em seu interior com dificuldade apesar da umidade, e ficou paralisado. A barreira com a qual deparou-se era inconfundível. Alfonso não acreditava. Não podia ser virgem. Mas era. Isso era inegável.    



E em meio daquela confusão sentiu uma súbita reação de adulação. Aquela jovem não tinha estado nunca com nenhum homem. Ele seria o primeiro.    



Estava muito excitado, não podia negá-lo. Mas nunca antes tinha tomado uma virgem. Ao contrário de muitos homens que conhecia, a violação nunca o tinha excitado. E se era virgem, então não se tratava de nenhuma prostituta que tivessem enviado para espioná-lo.    



A mente de Alfonso alcançou aquela pasmosa conclusão em questão de segundos e, fazendo um tremendo esforço, retirou-se dela. Enjoado e confundido, ficou deitado de barriga para baixo a seu lado.    



Apesar de seu corpo clamar por ela, recuperou rapidamente a prudência. Não existiam as prostitutas virgens nem as espiãs virgens. Seria possível que a jovem houvesse dito a verdade? Seria seu pai algum senhor do norte e sua mãe uma leiteira? Era plausível, embora o duvidava.    



As mãos da jovem não tinham trabalhado nunca duro, mas ia vestida como se fosse uma serva. Se era bastarda, tinham-na criado como uma dama. Aquela indumentária era um disfarce. Mas, por quê? De repente, ela se moveu e saiu da cama com rapidez. Alfonso foi ainda mais rápido e a agarrou antes que pudesse dar um segundo passo. A perna começava a doer muito e não teve piedade dela. Agarrou-a com tal força que ela caiu ao chão.    



Temendo lhe ter feito mal, Alfonso sentou na cama e estendeu uma mão para ela.    



— Milady?    



Ela ofegava. Embora viu que estava furiosa, permitiu que agarrasse a mão e a levantou. Foi um engano. A jovem jogou rapidamente o punho para trás e o golpeou na mandíbula com todas suas forças.    



Alfonso não se moveu. Estava paralisado e sem fala.    



— Maldito normando! É um porco e um bruto! E um mentiroso! — Espetou antes de elevar o punho para voltar a golpeá-lo.     Esta vez Alfonso reagiu. Agarrou seu pulso e puxou-a para frente, provocando que caísse em seu regaço.    



— Não! — Gritou ela retorcendo para se livrar dele.    



Alfonso a manteve em seu lugar.    



— Enganaste-me, bateu e insultou — espetou com voz grave, sacudindo-a uma vez. Ela ficou quieta. — Pensei que fosse valente, mas estou começando a pensar que é uma estúpida... ou que está louca.    



Ela elevou o queixo num gesto desafiante apesar de que tinha os olhos cheios de lágrimas não derramadas.    



— Não estou louca. Só quero saber quando posso ir.    



— Faz uns instantes não tinha tantas vontades de me deixar... Nem tampouco de sair de minha cama.    



— Engana-se —disse ruborizando. — Estou desejando sair de sua cama e não voltar a vê-lo jamais.    



— Quem está mentindo agora?    



— Falo a sério!    



— Duvido. De fato não disse nenhuma só palavra sincera. Volto a perguntar: Quem é e o que está fazendo aqui?    



Ela engoliu saliva, olhou-o nos olhos, e Alfonso sentiu como sua mente ficava em movimento.    



— Por favor, solte-me — pediu a jovem com voz rouca. — E contarei tudo. Depois de lhe dedicar um olhar cético, o normando fez o que pedia. Ela ficou em pé e afastou até o outro extremo da tenda, dando as costas à saída e se abraçando em gesto defensivo. Aquela postura a fazia parecer muito jovem, e ele sentiu de repente envergonhado por seu comportamento. A tinha tratado como uma prostituta, e aquela moça não podia ter mais de dezoito anos. Talvez a pergunta que terei que fazer não era de quem se tratava, a não ser o que era. Uma virgem, uma prostituta, uma aldeã, uma dama? Uma espiã ou alguém inocente?    



— Poderia começar me dizendo seu nome.    



— Mairi. Mairi Sinclair. Meu pai é Rob Sinclair. Minha mãe morreu. Era donzela em Liddel. — Estremeceu ao observar seu olhar e umedeceu os lábios. — E tinha razão. Estas roupas são um disfarce.    



— Eles enviaram para que me espionassem? — Perguntou Alfonso tenso.    



— Não! — Ela estava pálida. — Tinha me disfarçado porque ia encontrar com alguém. Com... com um homem.    



— Ahh. Agora o entendo. Um homem.    



— Não é o que pensa. Esse homem era, quero dizer, é meu prometido — disse voltando a elevar seu pequeno queixo.    



— Ainda têm que me explicar sobre o disfarce — exigiu, atravessando-a com olhos de gelo.    



— Não é correto que uma dama tenha um encontro secreto com um homem embora seja seu prometido, e você sabe muito bem.    



— E quem é esse homem que quer empurrá-la para uma queda inevitável?    



— O que importa isso? — Perguntou, mordendo o lábio.    



Não deveria importar, exceto pelo fato de que ele tentava verificar cada uma de suas palavras.    



— Sim que importa. — Não gostou de perceber que estava irritado, inclusive ciumento, pelo fato de que aquela mulher desejasse a outro homem.    



— Ama-o?     — Isso, normando, não é seu assunto — repôs, enfurecida.    



Em efeito, não o era. Alfonso ergueu e procurou sua bengala para se apoiar nela. Logo aproximou coxeando até que quase roçou a jovem. Não ficou mais remédio que admirá-la, porque permaneceu imóvel.    



— Está errada, agora você pertence a mim e tudo que é seu é meu assunto. Até que me tenha satisfeito continuará retida.    



— A que se refere? — Ela perdeu a pouca cor que ficava.    



— Refiro-me — esclareceu com tom grave — a que tenho a intenção de descobrir toda a verdade sobre você, e que até que a averigue será minha convidada. — Alfonso passou por diante dela e levantou a entrada da tenda.    



— Sua convidada! — Gritou a suas costas. — Quer dizer sua prisioneira. Mas, por quê? Não tenho feito nada, normando!     Alfonso parou e girou.    



— Ao contrário. Despertastes meu enfastiado apetite e minha ainda mais enfastiada curiosidade. Se de verdade for o que disse, acredito que poderíamos nos acomodar bem por um tempo.    



Maite ficou olhando as costas enquanto saía da tenda e a deixava sozinha. O que significava aquele último comentário? OH, Deus! Ele suspeitava o engano e tentaria averiguar a verdade, e tanto se a descobria como se não, Maite corria um grande perigo!    



Sem forças, deixou-se cair sobre o chão sujo e duro. Rolfe de Herrera, conde de Northumberland, era um dos senhores mais poderosos do reino. Primeiro tinha sido conselheiro do rei William o Conquistador e agora o era de seu filho, o terrível rei Cristian Chaves. O conde era além disso o pior inimigo de seu pai, e, por extensão, também o era aquele homem, seu filho bastardo e herdeiro. Escócia e Northumberland se enfrentaram em inumeráveis ocasiões. Rolfe não era mais que um cavalheiro sem terras e sem riqueza quando seguiu ao duque William até a Inglaterra, embora se dizia que era o filho menor de uma boa família de Poitevin. Pouco depois da invasão o tinham recompensado com um pequeno feudo em Northumberland, um que naquele momento limitava com Newcasde-on-Tyne ao sul e o rio Tweed ao norte. Embora o coração do reino de Malcolm estava situado entre o estuário de Moray e o de Forth, bem ao norte de Tweed, os reis da Escócia levavam muito tempo reclamando o direito de governar o território ao sul de Lothian até o Rere Crossing. Os Herrera eram uns intrusos. Malcolm tinha passado toda sua vida tentando recuperar os territórios perdidos de seu reino, e a fronteira que existia entre Escócia e Northumberland foi disputada de forma brutal e sangrenta durante muitos anos, Maite tinha ido parar diretamente nas mãos do pior inimigo de seu pai.    



As palavras de despedida do normando ressonaram em sua mente como um coro aterrador. Se tinha entendido bem, aquele homem pretendia saciar sua luxúria nela. Se não descobria a verdade a respeito de sua identidade, tomaria e a utilizaria até que se cansasse de seu corpo. Seria a ruína para Maite. Embora Doug, a seu pesar, casaria-se com ela de qualquer forma. Depois de tudo, era uma princesa com uma grande dote.     A jovem esteve a ponto de chorar. Só poderia ser pior se o normando descobrisse a verdade. Se soubesse que era filha de Malcolm Perroni, seria sua prisioneira até que seu pai pagasse a exorbitante quantidade que seu captor demandasse. Pediria ouro e moedas, reclamaria terras. Terras escocesas que não tinham preço. Terras sobre as quais se derramou o sangue do seu povo uma e outra vez.     E quando seu pai tivesse pagado o resgate, a fronteira voltaria a sumir em uma guerra sangrenta e descarnada. Os dois anos de frágil paz que tinham vivido,seriam só um sonho.    



Maite apertou seus pequenos punhos, tentando infundir coragem. Agora se alegrava de não ter revelado sua identidade.    



O normando não era mais que um selvagem, pensou com desalento, mas não era um estúpido. Disso não tinha dúvidas. Tinha visto rapidamente além de seu elaborado disfarce e tinha duvidado da história que inventou, uma história razoável que teria enganado a um homem menos inteligente. Maite teria que jogar mão de toda a coragem que possuía e de toda sua acuidade mental. Não podia permitir que ele suspeitasse sequer quem era. Se havia alguma maneira de descobrir a verdade de sua identidade, o normando a encontraria. E quando o fizesse, seu pai, a Escócia, e ela mesma, sofreriam as horríveis conseqüências.    



Do mesmo modo que seu pai utilizava espiões, sem dúvida aquele homem faria também uso deles. Aquela noite haveria uma crise em Liddel por seu desaparecimento e certamente um espião normando daria conta daquele fato. Herrera logo saberia quem era a suposta espiã!    



Maite fechou os olhos. Como ia seguir ocultando sua identidade e de uma vez mantê-lo a raia durante todo o tempo? Parecia uma tarefa impossível. A única solução era escapar, mas no momento aquilo era também impossível.  



  Secando os olhos, pensou que as lágrimas não solucionavam nada. O que devia fazer era preparar-se para sua próxima batalha de habilidades e vontades. Até o momento ela não o tinha feito muito bem. Não queria que se repetisse o que acabava de ocorrer entre eles sob nenhuma circunstância, apesar de que seu encontro a tinha deixado exausta e chocada. Em sua mente flutuavam as lembranças mais recentes. Para seu horror, ainda podia sentir seu tato, sua boca em seus lábios, seu corpo contra o seu. Estremecendo, cobriu o rosto com as mãos sem poder seguir ocultando sua vergonha.    



Finalmente, o cansaço se apoderou dela e girou para olhar com desejo a cama de pele. Não sabia se o normando retornaria para dormir ali ou não, e estava muito exausta para pensar com claridade. Mas não importava. Não podia deitar em sua cama apesar de sua ausência, a idéia era aterradora. Deitou no chão sujo e se encolheu sobre si mesma até que sua mente cansada começou a dormitar. Nervosa, escutou os sons da noite e do acampamento, os relinchos dos cavalos, o ulular de um mocho, e a conversa mantida pelos os homens lá fora até que cessou a última das vozes. Então, Maite ficou tensa, esperando os inevitáveis passos que sem dúvida chegariam.    



Mas ele não chegou.



 Quando Maite despertou, encontrou o rosto do normando pego ao dela. Durante um instante ficou quieta, aturdida pelo sono, olhando aqueles olhos brilhantes que não era negros mas sim de um marrom muito escuro. Então a realidade a assaltou com força e se afastou.    



— Espero que sua história resulte ser certa — disse Alfonso enquanto se erguia.    



A jovem não escapou o significado de suas palavras.    



— Afaste-se de mim!    



— O que é que a assusta tanto esta manhã, milady? É a mim a quem teme... ou a você mesma?    



— Temo aos cruéis normandos para os quais a violação é um esporte tão habitual como a falcoaria.    



— Asseguro-a de que eu nunca participei desse ato particular de violência e nunca o farei. — Riu e logo acrescentou em voz baixa: — Nunca o necessitei, e quando você reunir comigo em minha cama o fará com entusiasmo, igual a ontem à noite.    



— O que aconteceu ontem à noite nunca se repetirá! — Afirmou Maite, enfurecida.    



Ele elevou uma de suas escuras sobrancelhas.    



— Está me desafiando? — Seu sorriso era autêntico. — Eu gosto das provocações.    



— Não têm poder sobre mim — murmurou enquanto o coração pulsava com força.    



— Ao contrário. Estou seguro de que posso obter que me deseje. Isso é poder.     



— Eu não sou como as demais mulheres.    



— Não? — Seus dentes brilharam. — Ontem à noite parecia igual a qualquer outra quando gemia sob meu corpo, uma mulher sob meu poder e a minha mercê. Mas se isso a faz sentir melhor, reconheço que é muito mais interessante que qualquer mulher que tenha conhecido. Muito mais interessante, mais intrigante e... — voltou a sorrir e seus olhos resultaram de repente quentes — muito mais formosa.    



Maite tentou lutar contra a sedução que ardia na intensidade de seu olhar.    



— Eu não gemo, normando! E pode dizer e fazer o que desejar, mas isso não muda o que sinto. E, me acredite, o que sinto por você é melhor não dizer.    



— Sou da opinião de que sob a raiva há muito que explorar. Mas estamos perdendo não só palavras, mas também o tempo. Partimos em um quarto de hora. Sugiro que aproveite uns instantes a sós para fazer o que tiver que fazer — repôs, escrutinando-a com seu olhar. — Podemos concluir esta disputa em Alnwick.    



Dito aquilo, Alfonso girou e partiu coxeando ligeiramente, embora se movendo com uma agilidade imprópria de alguém que tinha sido ferido no dia anterior. Maite sentiu aliviada de vê-lo partir. Cada vez que saía intacta de um de seus encontros considerava uma vitória, e não pequena. Mas também se sentiu abatida. Alnwick era a nova sede de Northumberland. O conde, o pai do bastardo, tinha passado uns quinze anos terminando-a, e os rumores diziam que se tratava de um forte impenetrável. Se aquilo era verdade, significava que uma vez que estivesse prisioneira ali não teria esperanças de que a resgatassem. Mas talvez Malcolm e seu irmão estivessem inspecionando o campo procurando-a. Tinham que resgatá-la antes que a levassem para Alnwick! Era sua única esperança. Devia deixar um sinal a seu pai.    



Tremendo pelos nervos, jogou rapidamente a um lado a pele com a qual estava se cobrindo. Alguém tinha levado uma terrina com água, e Maite se lavou rapidamente, antes de sair correndo da tenda.    



O que viu a deteve, estavam selando os cavalos e levantando o acampamento. Todo mundo parecia absorto em suas tarefas. A jovem procurou entre a multidão e pôde ver seu captor de costas falando com outro cavalheiro.    



Respirou com força para tranqüilizar-se, rogando para que Alfonso Herrera não percebesse sua presença. Mas ele girou de repente para olhá-la. Maite o ignorou com a esperança de que não suspeitasse do seu nervosismo e caminhou para o bosque. Era consciente de que um cavalheiro a seguia, sem dúvida com instruções de vigiá-la. Seu ânimo decaiu, mas não retrocedeu em seu empenho. Desapareceu detrás de uns arbustos para atender suas necessidades, e no processo tirou a fina regata de seda que levava sob as túnicas de aldeã, um objeto branco e fino. As mãos tremiam tanto que teve que fazer vários intentos para atar a parte de tecido ao ramo de uma árvore. Quando o teve conseguido, rasgou algumas tiras e as atou nos pulsos. Depois se dirigiu ao lugar onde estava seu guardião, que a esperava lhe dando as costas. Suas esperanças cresceram. Esperava que algum escocês que a estivesse procurando encontraria a parte de tecido que tinha deixado!     O cavalheiro a acompanhou de retorno ao acampamento e a seu captor, que estava falando com o homem que a tinha feito prisioneira no dia anterior.    



— Liddel? — estava dizendo Will. — Não deveria supor nenhum problema, depois de tudo, esta noite estarão todos bêbados pelas bodas. Posso averiguar o que desejas saber — afirmou com sorriso auto-suficiente.    



— Boa sorte — desejou Alfonso dando um tapinha em seu ombro. Depois, girouse e dirigiu um sorriso a jovem. — Quer enviar uma mensagem a alguém? A seu amado, possivelmente?    



Maite estava paralisada, mas se recompôs em um instante.    



— Têm olhos nas costas, como um monstro disforme?    



— Acaso estavam bisbilhotando? Se quer saber minhas intenções não têm mais que perguntar, milady. — Alfonso estava divertindo.     — Por que vai esse homem a Liddel?    



— Têm algo que esconder?    



— É obvio que não.    



— Então não têm nada que temer. — Estava jogando com ela, provocando-a.    



— Por que está fazendo isto?    



— Porque não posso evitá-lo. — De repente, sua diversão pareceu desvanecer. Seus olhos pareceram atravessá-la, revelando o escuro desejo que sentia por ela e uma determinação ainda mais escura.     



O normando exercia um magnetismo sobre Maite contra o qual não tinha poder. Pensando nisso, a jovem estremeceu com uma súbita premonição que não se atreveu a analisar. Era muito mais seguro ignorar o que tinha ocorrido entre eles, fosse o que fosse. Fingir que não existia. Que nunca tinha existido.    



— Vamos, partimos, você cavalgará comigo — disse ele, rompendo o feitiço e estendendo a mão para ela. Quando a jovem não se moveu, Stephen deixou cair a mão. — Ocorre algo, Mairi?    



— Desejaria cavalgar com qualquer que não fosse você.    



Alfonso aproximou dela e a olhou fixamente.    



— Mas não estou dando a você a opção de escolher, milady. — Sorriu levemente. — Além disso, resultará entretido cavalgar comigo.    



— Não é mais que um caipira presunçoso — replicou a jovem captando a indireta e sentindo que o rubor invadia seu rosto.     — Como pode uma dama pronunciar essas palavras? — perguntou rindo.    



— Não me importa o que pense de mim. — Maite apertou os dentes. — Onde está seu maldito cavalo?    



Ele o assinalou rindo de novo e mostrando um brilho de dentes brancos.    



Enquanto Maite aproximava de um enorme cavalo de batalha de cor castanha, a risada masculina seguia ressonando em sua cabeça. Furiosa, decidiu que o venceria custasse o que custasse, e quando o fizesse jogaria seu triunfo à cara. Então seria ela a que riria.    



Alfonso a subiu sem esforço ao arreio e logo montou atrás dela com agilidade. A jovem tratou de ignorar o contato de seu corpo agarrando com força ao pomo arredondado do arreio. Ia ser um dia muito comprido, disso não cabia a menor duvida.     Viajaram para o nordeste a trote rápido, afastando de Carlisle através de colinas rochosas e onduladas. Parecia que a intenção de Alfonso era chegar a Alnwick aquele mesmo dia. Não cabia dúvida de que os normandos tinham completado a missão que os tinha levado até Escócia. Maite sopesou as possibilidades. Estava decidida a descobrir o que tinham estado fazendo nas proximidades de Carlisle e Liddel. E a cada hora que passava, a jovem deixava que um farrapo de sua regata deslizasse da manga e caísse ao chão.  



  Não diminuíram o passo até que pararam ao meio dia para dar de beber aos cavalos. Então estavam rodeados das ásperas estepes de sombras do Norte e de um infinito céu cinza que era atravessado em ocasiões por gaivotas.  



  Maite deslizou agradecida ao chão, esgotada por ter tido que suportar a intimidade de compartilhar o arreio com seu seqüestrador durante tantas e intermináveis horas. Sem dúvida, aquilo era o mais perto do inferno que estaria.    



Ninguém estava prestando atenção nela. Enquanto os cavalheiros falavam em voz baixa a seu redor à espera que suas montarias saciassem sua sede, Maite aproximou de uma árvore quase seca, sentou-se dando amostras de fadiga e deixou cair outro farrapo da camisa. Uns minutos mais tarde, quando os soldados voltaram a montar, ficou em pé e aproximou de novo do grupo. Imediatamente, Alfonso Herrera guiou seu enorme cavalo em sua direção.    



— Está desfrutando da vista?    



— O que há aqui para desfrutar? A paisagem é desoladora.    



— Fala como uma autêntica escocesa. — Seu olhar a atravessou. — É escocesa de verdade, Mairi?    



Ela ficou paralisada. Era o diabo e sabia ler o pensamento? Ou tinha descoberto sua identidade? Sua mãe, a rainha Margarida, era inglesa. O irmão de Margarida era Edgar Aethling, sobrinho neto do rei saxão Edward o Confessor, que tinha sido herdeiro do trono da Inglaterra antes da conquista. Quando o duque William o Bastardo invadiu a Inglaterra, a mãe de Margarida, viúva, fugiu para a Escócia com seus filhos em busca de refúgio, temendo pela vida de seu primogênito. Malcolm se apaixonou loucamente por Margarida a primeira vista, e quando sua primeira esposa, Ingeborg, morreu, casou-se com ela.  



— Sou escocesa dos pés à cabeça — assegurou Maite com sinceridade.    



— Não fala como uma escocesa exceto quando quer. Seu inglês é perfeito, inclusive melhor que o meu.    



É obvio que seu inglês era perfeito, e não só porque sua mãe fosse inglesa. Ao longo dos anos, a corte de Malcolm tinha aderido a uns costumes anglo-saxões em honra a sua esposa.    



— Talvez os normandos sejam muito estúpidos para falar bem inglês.    



Ele apertou a mandíbula.



  — Talvez este normando tenha sido verdadeiramente pouco inteligente — afirmou ao tempo que descia do cavalo e dedicava um olhar enigmático.    



A jovem não gostou nem de suas palavras, nem de seu tom de voz. Ficou paralisada quando, em lugar de montar no cavalo, dirigiu-se diretamente à árvore seca na qual tinha estado sentada. O coração de Maite deu um tombo. Ele se agachou, recolheu o farrapo da regata e foi até ela com passos largos e apertando o tecido dentro do punho.    



— Você é muito inteligente.    



Maite deu um passo atrás, mas ele estirou a mão e a atraiu bruscamente para si.    



— Se tem tanta vontade e tirar a roupa, milady, só precisa dizê-lo. — A jovem não ocorreu nenhuma resposta adequada, e menos enfrentando sua fúria tão de perto. — Durante quanto tempo estivestes deixando estes sinais? 




Compartilhe este capítulo:

Autor(a): taynaraleal

Este autor(a) escreve mais 12 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?

+ Fanfics do autor(a)
Prévia do próximo capítulo

  — Está me machucando! — Gritou Maite.     Alfonso a soltou imediatamente e permitiu que a jovem se afastasse dele.     — De verdade acreditava que poderia me fazer prisioneira sem que lutasse? — Perguntou enquanto esfregava o braço.     O normando se arrependia de tê-la machucado, mas s ...


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 11



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • Beatriz Herroni Postado em 23/03/2018 - 15:37:22

    Pq postou tudo de vez?Fica um pouco ruim de ler assim

    • taynaraleal Postado em 24/03/2018 - 15:57:33

      Oi Beatriz, então eu postei tudo de uma vez, pois tenho novas adaptações vindo por ai, e como essa eu só estava repostando pq havia sido apagada eu resolvi finalizar toda de uma vez, sei que fica ruim de ler, mas foi a unica forma de me dedicar as outras, pois meu tempo é minimo. Espero que consiga ler essa, e as outras que estão por vir

  • maite_portilla Postado em 03/08/2017 - 17:24:36

    Agora sim a mai vai ter que dizer tudo pro poncho... Dulce melhor pessoa kkkk... Coninua logo <3<3<3

    • taynaraleal Postado em 08/02/2018 - 18:13:27

      Ainda está ai? vou continuar e com maratonaaaaa, espero que goste

  • Postado em 03/08/2017 - 17:22:18

    Ai Deus, acho que agora sim a mai vai revelar a vdd pro poncho... Adorei a Dulce kkkk... Continua logooo

  • maite_portilla Postado em 24/07/2017 - 17:56:39

    eita, agora a mai nao tem mais para onde fugir. coitada, ate eu fiquei com um pouco de medo desse alfonso. sera que ele vai descobrir quem ela é de vdd? continua... to amando

  • maite_portilla Postado em 22/07/2017 - 00:57:58

    Adorei a historia... Continua <3

  • lunnagomes Postado em 19/07/2017 - 21:04:10

    Estou apaixonada pela história... continua

    • taynaraleal Postado em 08/02/2018 - 18:14:06

      Desculpa pelo sumiço, vou continuar e com maratona, se ainda estiver por ai, e quiser voltar, os comentários me estimulam muito


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais