Fanfics Brasil - Capítulo 20 A promessa da rosa

Fanfic: A promessa da rosa | Tema: Herroni


Capítulo: Capítulo 20

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     Maite sabia que não devia ser covarde. O desdém público de Rufus a tinha surpreso, mas depois de ter tido tempo para pensar, supunha que tinha que ver com o desgosto que provocava seu pai e sua preferência pelos moços. Agora estava preparada, e esta vez não pareceria uma atrasada.


     Alfonso chegou bem a tempo para acompanhá-la para jantar e logo que intercambiaram umas frases de cortesia. Justo antes que chegassem ao piso debaixo, a escocesa sentiu que parte de seu valor se evaporava. Escutava vozes masculinas elevarem-se em conversações de bêbados e risadas ásperas, e todas as histórias que tinha ouvido sobre a decadência na corte de Rufus vieram à mente.


A bebida e a libertinagem eram as bases da rotina diária.


     De repente sentiu terrivelmente sozinha. Não percebeu que parou, e estremeceu quando Alfonso pôs a mão na cintura dela. Seus olhares cruzaram durante um instante, mas ela afastou rapidamente a vista, perguntando-se o que faria ele se conhecesse seu plano de fuga instigado por Anahi Portilla.


     No grande salão estavam presentes aproximadamente cem damas e cavalheiros jantando com o rei. A mesa estava repleta de comida e bebida, e atrás dos comensais havia bufões embriagando-se e trovadores cantando. Alfonso a guiou para o extremo da mesa, em direção ao estrado no qual estava sentado o rei.      Rufus estava rindo, mas ao vê-los, seu sorriso desvaneceu e ficou olhando fixamente Alfonso. Maite se sentiu forçada a observar o rosto de seu prometido.


Era inexpressivo, impossível de ler.


     — Vamos, sente-se comigo! — gritou Rufus com um sorriso. — Ainda não terminamos nossa conversação, querido Alfonso.


     O casal obedeceu e ocuparam seus assentos como convidados de honra no alto do estrado. O monarca estava à esquerda de Maite. Ela o odiava tanto que estava rígida pela tensão, embora sabia que devia dissimular seus sentimentos. O último que a convinha fazer era zangar ao rei da Inglaterra quando era virtualmente uma prisioneira em seu castelo.


     Alfonso sentou a sua direita. Não havia dito nada desde que a acompanhou à mesa, e agora começou a responder às amáveis pergunta do rei. Seus corpos roçavam e suas coxas a apertavam do joelho até o quadril. A escocesa não queria nada com ele, mas a mesa estava abarrotada e não poderia desembaraçar-se da proximidade de seu prometido até que tivesse terminado a comida.


     De repente foi consciente dos muitos olhares ávidos e curiosos que dirigiam para ela e suas bochechas arderam. Os cortesãos sentiam curiosidade por ela. Não era nenhuma convidada de honra e todo mundo sabia, pensou com amargura. Era uma prisioneira e uma pagã escocesa. Os senhores normandos e suas damas a olhavam como se tivesse escamas e cuspisse fogo pela boca.


     Então Maite fixou em Anahi Portilla. Estava sentada justo debaixo do estrado ignorando sua presença, embora com freqüência posava seu sensual olhar em Alfonso. Ao recordar seu plano, cujos detalhes ainda tinham que ajustar, a escocesa sentiu incômoda. Porque se tudo saía bem, Anahi converteria algum dia na esposa de Alfonso.


     A herdeira de Essex estava sentada entre dois homens que Maite recordava ter visto com antecedência, estavam presentes nos aposentos do rei quando ela sofreu aquela humilhante entrevista. Um deles era alto e de cabelo castanho claro, e por alguma razão, à escocesa era estranhamente familiar embora estava segura de não conhecê-lo.      Alfonso seguia sem falar com ela enquanto o rei falava sobre certas dificuldades que tinha em Kent. Maite não o escutava. Não importava a mínima. Enquanto ouvia atentamente o que Rufus dizia, Alfonso ofereceu seu vinho a ela.


Mas a jovem não podia beber. Só desejava estar em qualquer lugar que não fosse aquele e que terminasse aquela maldita comida.


     — Não a agrada a corte de meu irmão, princesa?


     Maite fixou a atenção no príncipe Henry, que estava sentado do outro lado de Rufus, sorrindo-lhe. Recordou a um preguiçoso lobo que saltaria sem prévio aviso sobre sua desventurada vítima.


     — É obvio que me agrada, milorde — assegurou sorrindo forçada. — Como não ia ser assim? Estou aqui com meu prometido e sua majestade me honra. O certo é que me sinto afligida.


     Seu tom parecia quase sincero, mas seus olhos desmentiam suas palavras. O sorriso do príncipe Henry desvaneceu. Tinha captado seu sarcasmo, que era precisamente o que a escocesa pretendia. Por desgraça, Alfonso não estava tão entretido em sua conversação com o rei como ela pensava, e também o tinha ouvido. Para ele, sua ironia era evidente. Pôs uma mão cálida sobre a dela e, em troca, Maite o olhou com olhos inocentes e um doce sorriso.      — E o que acha de Londres? — perguntou Henry com um brilho inquisidor em seu olhar.


     — É uma cidade enorme, como não ia impressionar-me? O certo é que os normandos são surpreendentes. Suas façanhas maravilham. Todas elas. — Maite não pôde se conter. — Depois de tudo, necessita uma grande coragem para obrigar uma prisioneira escocesa a ir ao altar, verdade?


     Alfonso ficou paralisado, igual a Henry. Maite tremeu porque tinha conseguido enfurecer a seu prometido. Em troca, o príncipe parecia divertido.      — Suponho que a coragem tem pouco que ver com isto. — Henry baixou as pálpebras. Quando as elevou novamente, sorria de novo e Maite ficou tensa. — Não quer conhecer seu querido irmão, princesa? — Perguntou arrastando as palavras.      — Meu irmão? — Em um instante ele tinha feito pedacinhos sua compostura.


     — Desculpe, que confusão! Seu meio-irmão, o querido amigo de meu irmão,


Duncan. — Henry riu e assinalou para o cavalheiro de cabelo castanho claro que estava sentado ao lado de Anahi, o homem que tinha resultado de certo modo tão familiar.


     Maite estremeceu. É obvio, Duncan estava na corte! Tinha chegado ali como prisioneiro muitos anos atrás. Era o filho maior de seu pai, nascido de seu primeiro matrimônio. De fato, era quase da mesma idade que Rufus e sem dúvida teria crescido com ele, o que explicaria que seriam tão bons amigos e que tivesse sido um dos três cortesãos que estavam com o rei aquela tarde. Maite sentiu uma quebra de onda de emoção. Já não estava sozinha.      — Por fim nos conhecemos. — Duncan levantou e dirigiu uma leve reverencia.


— Estou afligido pela emoção, irmã.


     Então a jovem sim o reconheceu. Tinha os traços de seu pai e também os mesmos olhos. Embora suas palavras e seu tom resultaram em certo modo irônicos, seu sorriso parecia sincero. Maite sorriu a sua vez. Tinha um verdadeiro aliado na corte, um real em meio de tantos inimigos: seu quase esquecido meio-irmão.      — Vêem, irmã, e deixa que a beije — pediu estirando os braços e aproximando do estrado.


******


     Levava muito tempo observando-a. A Maite tinham atribuído um posto de honra


no estrado entre Alfonso Herrera e o rei. Horas antes, tinha parecido desalinhada pela comprida viagem, mas agora levava postos seus melhores ornamentos em um ostentoso desdobramento de realeza e poder. O vestido dourado com passamaria verde azulada e as mangas se ajustava à perfeição a sua figura, e o pesado cinto de ouro e jóias junto com as safiras da tiara proclamavam seu status e sua riqueza. Ninguém podia pôr em dúvida que era uma autêntica princesa.


     Entretanto, não acreditava que Alfonso Herrera estivesse precisamente agradado com ela. Parecia que o odiava tanto a ele como à torre. Não podia ocultar seu desgosto, e sua inteligência era evidente assim como sua temerária coragem. Sim, era digna filha de Malcolm em seu comportamento embora não em seu aspecto. Era a viva imagem da rainha Margarida.


     Rufus a tinha chamado masculina. Não era certo, uma mulher tão formosa não poderia nunca considerar masculina. E duvidava muito que seu prometido a visse daquele modo.


     Alfonso tinha estado escutando ao rei durante toda a noite, falando quando era necessário e sem sorrir uma só vez. Mas Rufus não importava. Estava mais animado que nunca, jamais tinha estado de tão bom humor e mal tinha bebido.


     Quando seu olhar cruzou com o de seu futuro cunhado, Duncan desviou a vista ao sentir um calafrio de medo. Sempre o tinha odiado e, embora tivessem passados dez anos, conheciam muito bem o um ao outro. O escocês sempre tinha sentido ciúmes de sua coragem e valentia. Agora, ao vê-lo sentado no lugar que Duncan estava acostumado a ocupar no estrado, sentiu algo mais que ciúmes. Sentiu-se ameaçado. Disse a si mesmo que Alfonso Herrera não ficaria muito tempo na corte, mas isso não o tranqüilizou. Faltavam três semanas para os esponsais, e isso era muito tempo.


     Também o incomodava que Herrera nunca tivesse tentado ocultar o desprezo que sentia por ele. Até o momento, Duncan não sabia se aquele desprezo se devia ao fato que compartilhava as preferências sexuais de Rufus pelos meninos ou a suas maquinações políticas. Sempre tinha suspeitado que Alfonso sabia que ele sempre faria o que fosse necessário para conseguir seus ambiciosos objetivos. Agora, o medo que  Herrera causa nele aumentou sua ira. Mas não o odiava tanto como a sua prometida, porque Maite era de seu sangue.


     Duncan não pôde evitar voltar a observar a sua meio-irmã. Ela tinha crescido no calor de sua família, como deveria tê-lo feito ele. Não podia olhála sem pensar em seu pai, a quem desprezava mais que a ninguém. O ilustre Malcolm Perroni. O heróico rei escocês. O pai que tinha entregado seu filho mais velho como refém a William o Conquistador por seu próprio bem e que depois tinha procedido a violar uma e outra vez seu juramento sem importar que isso colocasse em perigo seu filho. Se Duncan tinha sobrevivido se devia só a sua própria sagacidade, da que deu mostra já de menino.


     Mas os dias de glória de Malcolm estavam contados. Tinha já muitos anos, e algum dia não muito longínquo, Duncan confiava em que subestimasse a algum de seus inimigos e sucumbisse ante um golpe fatal. Então o trono da Escócia estaria preparado para o assalto, e Duncan tinha a intenção de ser quem o assaltasse.


     Não permitiria a ninguém se interpor em seu caminho, e muito menos a irmã e


seu marido. Northumberland se mantinha sempre fiel à coroa, sua ajuda tinha sido decisiva para esmagar rebeliões, e nunca antes aliou com Escócia. Entretanto, Duncan era o suficientemente ardiloso para vislumbrar possibilidades que fossem contra suas ambições. Talvez Northumberland se mantivesse firme em seu apoio a William Rufus. Mas, e se não fosse assim? A tremenda ambição dos Herrera era bem conhecida. E se decidiam apoiar ao sucessor que tinha escolhido Malcolm, seu filho Edward, ou tentavam conseguir o trono para um dos seus? O filho ainda não nascido de Maite tinha tanto direito de reclamar a Escócia como qualquer parente de Malcolm.      Não cabia dúvida de que aquele matrimônio teria lugar em um prazo de três semanas, a menos, é obvio, que ocorresse um acidente.


Alfonso perambulou entre os postos e os vendedores de Cheapside tentando contornar os mercadores que o paravam continuamente. Todos eles sabiam reconhecer a um senhor poderoso e potencial comprador assim que o viam.


     Tinham transcorrido vários dias desde que sua prometida e ele chegaram a corte, mas poucas coisas tinham mudado. Ela não dissimulava a hostilidade que sentia por ele, para seu matrimônio e para o rei. A compaixão de Alfonso por sua angústia evaporou fazia tempo e seu aborrecimento ameaçava converter em uma explosão de raiva. Que mulher se negava a resistir a seu destino? Só Maite podia ser tão audaz e obstinada.


     Sua união seguia sendo objeto de curiosidade na torre. As especulações proliferavam. Alfonso sabia que os lordes e damas da corte esperavam que ensinasse a Maite uma lição o quanto antes, embora isso significasse dar uma surra nela. Inclusive estavam começando a rir pelo pouco manejável que era sua noiva.


     Entretanto, Alfonso não tinha nenhuma intenção de surrá-la. Por muito que o enervasse, era admirável seu incrível sentido de honra. Se alguma vez conseguia ganhar sua lealdade, seria certamente um homem afortunado. Mas não queria se enganar com vãs esperanças, duvidava muito que chegasse a ver semelhante dia. E durante um instante, sentiu uma grande amargura. Algo em seu coração disse que poderia chegar a amá-la, que possivelmente já a amasse. Por que continuava perseguindo-o a imagem de Maite com os braços estendidos e um sorriso nos lábios esperando-o à entrada de Alnwick?


     Sacudiu a cabeça e disse a si mesmo que estava se tornando estúpido. Era um cavalheiro curtido na batalha e algum dia seria conde, um dos grandes senhores do reino. Tinha sobrevivido sozinho desde que tinha seis anos e poderia seguir fazendo-o até que cumprisse os sessenta. Se sua esposa negava a apoiá-lo, nem sequer pararia a pensar nisso. Não queria ter nenhuma debilidade. Naquele mundo só sobreviviam os fortes. Não faria nenhum bem desejá-la daquele modo.


     Quando esteve prometido a Anahi Portilla, não tinha pensado nela de um modo tão ridículo nem tampouco havia sentido o desejo que agora o mortificava constantemente. De fato, só tinha pensado em seu dote. A mera presença de Maite fazia que a desejasse em sua cama. Não seria fácil, mas até que estivessem casados, seguiria ignorando aquele desejo. Pode que sua futura esposa lhe proporcionasse poucas alegrias fora da cama, mas dentro superava com acréscimo suas mais selvagens expectativas.


     Não, jamais a pegaria. Ganharia com suavidade, como amestraria a um falcão selvagem. Hoje compraria um presente para ela e faria uma oferta de paz. Aquela disputa já tinha durado muito.


     Enquanto aventurava entre os mercados, teve o impulso de comprar vários objetos para sua prometida, em especial uma delicada caixinha de madeira esculpida tão pequena que só serviria para olhá-la, um broche com uma granada que parecia ter forma de coração e vários metros de lã fina de Flandes de um brilhante vermelho escarlate.


     Venceu o senso pratico e escolheu a lã ao imaginar Maite vestida com ela.


Mas quando ia partir, em lugar de subir ao cavalo, girou voltou sobre seus passos e comprou também a caixa e o broche.


     Quando Alfonso retornou à torre já era muito tarde, tinha passado várias horas entre os mercadores tomando suas decisões. Subiu correndo as escadas em direção ao quarto que Maite compartilhava com outras damas, pensando na surpresa e a emoção que mostraria quando entregasse aqueles presentes tão cuidadosamente escolhidos.


     Rufus tinha apostado em um de seus sentinelas para que custodiasse à princesa dia e noite... e Alfonso fazia o mesmo. Saudou os dois soldados com uma inclinação de cabeça e golpeou com força a porta. A própria Maite abriu a porta. A Alfonso surpreendeu ver que estava com Anahi Portilla, que estava sentada em uma das três camas do quarto. Sua prometida ruborizou ao vê-lo. O que andaria maquinando agora? Ou era angustia o que refletiam seus olhos verdes?


     — Parece aborrecida de me ver.


     — É obvio que estou aborrecida — respondeu ela com a intenção de incomodálo, como fazia com freqüência aqueles dias. — Estava desfrutando de não tê-lo ao meu lado.


     Desde que tinham chegado a corte, Alfonso não a tinha perdido de vista. De fato, pelas noites dormia em um cama de palha no corredor, não muito longe de sua porta.


     — Imagino sua alegria. — Alfonso a pegou pelo braço e ela ficou tensa.


Aquele contato também sacudiu a ele, apesar de saber que seu desejo não se apaziguaria até a noite de bodas. — O que está ocultando, Maite?      — Nada. Eu... Estou cansada. Por favor... — rogou, negando-se a olhá-lo.


     Anahi aproximou deles, balançando seus sinuosos quadris provocativamente.


     — Bom dia, milorde — murmurou com voz sensual.


     Alfonso não devolveu o sorriso. Malditas fossem! Seria possível que estivessem conspirando contra ele? Seu instinto dizia que assim era.      Anahi o tocou audazmente no braço e deixou ali um instante a mão.


     — Estive explicando a sua prometida a ordem da cerimônia. Não está familiarizada com os costumes normandos.      Alfonso cravou a vista em Anahi, cujo olhar era decididamente sedutor.


     — Muito generoso por sua parte uma vez mais, lady Portilla.


     Anahi encolheu os ombros e girou para a Maite, apartando por fim os olhos dele.      — Acredito que seu prometido deseja estar um momento a sós contigo, princesa. Talvez possamos terminar a conversação em outro momento.      Maite olhou Anahi, logo Alfonso e outra vez a ela.


     — Sim, obrigada.


     Anahi saiu do quarto roçando em Stephen deliberadamente e este percebeu que Maite parecia muito infeliz. Inclusive furiosa.


     — Que interessante. Tem feito amigas muito depressa.


     A jovem empalideceu antes de encontrar as palavras para responder.


     — Mas não tão amigas como você e ela.


     Alfonso tomou a mão e a apertou com mais força que pretendia.


     — Ciumenta, querida?


     — É obvio que não! — Tratou de soltar a mão, mas não conseguiu.


     O normando estava a ponto de atraí-la para si para que pudesse compreender a envergadura de sua frustração, mas ela tinha o olhar cravado na evidente manifestação de seu desejo, que a túnica não conseguia ocultar, e isso o excitou ainda mais. Fazendo um esforço, soltou-a. Não sentia desejos de se torturar com o que não poderia ter até dentro de três semanas.      — O que está ocultando?


     Ela voltou a empalidecer.


     — Não estou ocultando nada! Anahi disse a verdade. Ofereceu amavelmente me ajudar a preparar as núpcias. — Os olhos de sua prometida encheram de lágrimas.      — Vivi quase dez anos na corte e reconheço a intriga com facilidade assim que a vejo. Anahi Portilla é como a maioria das damas que habitam a torre: banal, egoísta e ambiciosa em extremo. O que estão tramando, Maite?


     Ela apertou os lábios sem dizer nada, e Alfonso soube que estava tratando de procurar uma saída. Quando falou soube que mentia e, embora o tinha esperado, ficou um gosto amargo na boca.


     — Levo quase uma semana encerrada nesta tumba asfixiante! Sou a única mulher escocesa entre centenas de normandos e ainda se atreve a criticar que faça amizade com alguém. Não pode nos separar!


     — Ela não é de natureza generosa, Maite. Não é amiga de ninguém a não ser que a beneficie. Recorda minhas palavras. Se acredita que é sua amiga, equivocate. De fato, neste tipo de vida não existe a amizade. — Ela o olhou entre desafiante e tremente. — Seja o que for que planeja — advertiu Alfonso com brutalidade — sugiro que o dê por terminado.      — Tem uma imaginação prodigiosa — replicou ela apertando os lábios. — Te asseguro que não estamos planejando nada.      — Suspeito que o veremos muito em breve — assegurou categoricamente — vai descer e comer comigo?


     — Não — disse Maite. — Não posso. Tenho uma terrível dor de cabeça.


     Alfonso não aceitou a notícia com elegância e sentiu como a irritação e a ira foram endurecendo uma a uma suas feições. Maite baixou a cabeça e girou, mas ele a deteve sujeitando-a pelo ombro.


     — Espera.


     Fez um gesto, e um de seus homens, que o tinha seguido pelas escadas, adiantou-se com o pacote que continha a lã de Flandes, envolta em um linho barato e incolor. Alfonso tinha o gesto torcido. Não fazia nenhuma ilusão ao entregar aquilo. Nenhuma absolutamente.


     — O que é isto? — Perguntou Maite assombrada.


     — É um presente — respondeu ele com secura. — Espero que passe logo a enxaqueca.      Não estava com ânimo para dar o resto dos presentes. Pelo jeito, a guerra não tinha terminado ainda. ******


     Geoffrey avançou a grandes passos pelo grande salão com o rosto congestionado pela raiva, uma raiva que devia ocultar a todo custo. O rei o tinha mandado chamar pela terceira vez em três semanas e naquela ocasião não o tinha feito esperar. Esta vez o tinha ido procurar a escolta real, que o escoltou a toda pressa de volta a Londres e que inclusive o acompanhou ao ver o monarca.


     Os sentinelas que faziam guarda nos aposentos reais ficaram firmes e se afastaram a um lado. Geoffrey entrou a toda pressa e só então os dois cavalheiros que o acompanhavam separaram de sua beira. Atravessou a estadia e aproximou de Rufus, que estava sentado em uma réplica exata do trono que havia no grande salão. Quase parou ao ver que com ele havia três homens presentes: Duncan, Montgomery, e seu pai, Rolfe Herrera.


     Os olhos do conde de Northumberland brilharam a modo de advertência.


     — Como nos agrada ver que vieste a nosso lado com tanta urgência, querido arquidiácono — disse Rufus.


     Geoffrey começou pensar com rapidez. Não ocorria nenhuma razão para que o tivessem chamado que não fosse para colocá-lo a prova: o rei ia exigir os cavalheiros que a Ordem devia.      Ajoelhou um instante e ficou em pé quando o rei o ordenou.      — Senhor?


     — Chegou o momento de que tome partido — disse Rufus sorrindo, como se acabasse de perguntar sobre o tempo que fazia.      A Geoffrey acelerou grosseiramente o coração e logo voltou a pulsar com normalidade.      — Jurará fidelidade a seu rei, arquidiácono, frente a estes três homens e com Deus como testemunha?


     O interpelado empalideceu. Equivocou-se. O rei não estava reclamando só seus serviços a não ser muito mais. Estava exigindo que jurasse fidelidade diante de testemunhas. Recentemente, alguns homens da Igreja tinham assegurado que nenhum clérigo devia jurar lealdade a seu rei, que a deviam só a Deus, e portanto, ao Papa. Aqueles reformistas se negavam em sua investidura a jurar fidelidade ao soberano inglês e Roma apoiava sua negativa. Esses prelados também questionavam o poder do monarca para escolher e investir clérigos.


     Até o momento, Rufus seguia os passos de seu pai exigindo e exercendo seus direitos sobre a Igreja quando era necessário, como quando nomeou Anselm arcebispo de Canterbury. Agora exigia que ele pronunciasse uns votos que comprometeriam sua fidelidade.      — E quando terá lugar esse ato? — perguntou Geoffrey. Tinha a boca seca e suava.


     — Hoje. Aqui e agora.


     Geoffrey se obrigou a sair de seu assombro e a pensar. Não tinha tempo para manobrar e sair daquele dilema. O rei exigia fidelidade naquele instante.


Normalmente, o arquidiácono era um prelado de escassa importância. Entretanto, desde que Geoffrey assumiu o comando de Canterbury depois da morte de Lanfranc, tinha adquirido uma proeminência e um poder sem precedentes. Durante os últimos quatro anos, em ausência de um arcebispo, tinha combatido desde Canterbury a influência da coroa. Mas agora Rufus estava propiciando a batalha final, porque Geoffrey tinha tão somente duas opções: sim ou não. E não cabia dúvida de que uma negativa o levaria diretamente às masmorras. O monarca tinha feito coisas piores com aqueles que o tinham desafiado.      — Está vacilando — assinalou o rei. Seu sorriso já não era amável. — Então, é um fanático?


     Geoffrey apertou a mandíbula e esticou todo seu corpo.


     — Não sou nenhum fanático. — Fez um esforço por sorrir. — Como deseja, majestade.


     Ficou de joelhos e ouviu que alguém, talvez Montgomery, pigarreava. O arquidiácono não era nenhum fanático, mas sua causa era a Igreja. Apoiava a maioria das reformas sugeridas e os direitos do Papa contra as exigências reais e seguiria fazendo-o. Entretanto, os últimos quatro anos tinham demonstrado que não podia vencer ao rei em uma guerra aberta. Para que tinham servido todos seus esforços? O último relatório apresentado para o monarca tinha terminado com outra rapina aos recursos da sede de várias centenas de libras.


     Tinha chegado o momento de mudar de tática. Não poderia converter-se em aliado da coroa e continuar defendendo de forma sorrateira os interesses da


Igreja e de Deus?


     — Escolheste com sabedoria — murmurou Rufus. Logo sua voz tornou severa. — Terminemos com isto o quanto antes!


     Diante das testemunhas reunidas, Geoffrey jurou obediência e lealdade a seu senhor, o rei William da Inglaterra, em todos os sentidos e em todo momento. Em troca, Rufus o surpreendeu recompensando-o com uma pequena, mas extremamente rica propriedade situada ao sul. O arquidiácono beijou o joelho do rei e este permitiu que levantasse. Seus olhares cruzaram. Não cabia dúvida da satisfação do monarca.      — Demonstre-me que é digno da confiança que deposito em ti e chegará longe — assegurou o rei.


     A Geoffrey não escapou o que ele queria dizer. A prova não tinha terminado ainda. Se continuava submetendo-se à vontade real, obteria muitos mais benefícios. Mas ele só era arquidiácono e Rufus fazia referência claramente a um posto mais significativo. Geoffrey não se sentia precisamente eufórico. De fato, tinha um nó no estômago e experimentou um momento de pânico. A escolha que acabava de realizar não era nada comparada com a que teria que fazer se o rei declarava suas verdadeiras intenções.      Rolfe aproximou e o agarrou pelo braço. Seu sorriso era tranqüilizador, mas não de todo franco. Dispunha-se a partir, quando o rei o chamou.      — Espera, querido arquidiácono, espera.


     Geoffrey girou muito devagar.


     — Temo que seu trabalho não tem feito mais que começar — disse Rufus com um sorriso. — Esta mesma manhã Anselm renegou a mim, declarando que não reunirá os cavalheiros que me deve. Nega-se, diz, a utilizar o poder de Canterbury para contribuir a minha sangrenta ambição. — Suas seguintes palavras soaram como uma pergunta. — Você, entretanto, sim me proporcionará os vassalos que me deve.      Era a primeira prova. Geoffrey não vacilou, não queria pensar no que poderia acontecer à larga.      — Quando e onde?


     — Dentro de duas semanas avançaremos sobre Carlisle.


     Geoffrey cambaleou. A seu lado, o conde observava ao rei com assombro.


Então, pai e filho, que eram como duas gotas de água, intercambiaram um olhar em que refletia o mesmo alarme.


     Rufus sorriu e uniu as mãos em gesto contente.


     — Malcolm nunca suspeitará de nossos planos estando tão perto a união de sua amada filha com nosso querido Alfonso — alardeou Rufus. — Não podemos falhar! O escocês por fim está perdido!


                                                            



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Autor(a): taynaraleal

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 11



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  • Beatriz Herroni Postado em 23/03/2018 - 15:37:22

    Pq postou tudo de vez?Fica um pouco ruim de ler assim

    • taynaraleal Postado em 24/03/2018 - 15:57:33

      Oi Beatriz, então eu postei tudo de uma vez, pois tenho novas adaptações vindo por ai, e como essa eu só estava repostando pq havia sido apagada eu resolvi finalizar toda de uma vez, sei que fica ruim de ler, mas foi a unica forma de me dedicar as outras, pois meu tempo é minimo. Espero que consiga ler essa, e as outras que estão por vir

  • maite_portilla Postado em 03/08/2017 - 17:24:36

    Agora sim a mai vai ter que dizer tudo pro poncho... Dulce melhor pessoa kkkk... Coninua logo <3<3<3

    • taynaraleal Postado em 08/02/2018 - 18:13:27

      Ainda está ai? vou continuar e com maratonaaaaa, espero que goste

  • Postado em 03/08/2017 - 17:22:18

    Ai Deus, acho que agora sim a mai vai revelar a vdd pro poncho... Adorei a Dulce kkkk... Continua logooo

  • maite_portilla Postado em 24/07/2017 - 17:56:39

    eita, agora a mai nao tem mais para onde fugir. coitada, ate eu fiquei com um pouco de medo desse alfonso. sera que ele vai descobrir quem ela é de vdd? continua... to amando

  • maite_portilla Postado em 22/07/2017 - 00:57:58

    Adorei a historia... Continua <3

  • lunnagomes Postado em 19/07/2017 - 21:04:10

    Estou apaixonada pela história... continua

    • taynaraleal Postado em 08/02/2018 - 18:14:06

      Desculpa pelo sumiço, vou continuar e com maratona, se ainda estiver por ai, e quiser voltar, os comentários me estimulam muito


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