Fanfics Brasil - Capítulo 24 A promessa da rosa

Fanfic: A promessa da rosa | Tema: Herroni


Capítulo: Capítulo 24

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Maite não cabia em si de assombro. O coração tinha dado um tombo de autêntica felicidade e foi incapaz de evitar sorrir. Em questão de dias estariam casados. Em questão de poucos dias seria sua esposa!


     Não foi até que seu prometido partiu que a jovem percebeu que sua resposta tinha sido muito diferente da dela. Alfonso não sorria quando deu aquela inesperada notícia. De fato, mostrou-se mal-humorado e incômodo, como se esperasse que um desastre os golpeasse em um futuro muito próximo.


     — Assim que possa pronunciar os votos?


     — Assim é, querido irmão. Assim que a princesa Maite esteja o suficientemente recuperada para se manter em pé na igreja, casarão. — Rufus sorriu sem nenhum indício de humor. — Há alguma razão para que tanta pressa o incomode, Henry?


     O príncipe estava furioso.


     — Sabe que estou contra essa união. Disse desde o começo. Ainda confio em que seja sensato e proíbas que se casem.      — Por que acredita que acessei a essa união em princípio?


     — Não tenho nem a mais remota idéia.


     — Para surpreender ao Malcolm quando nosso exército salte sobre ele — explicou Rufus com um sorriso. — Não esperará que o façamos depois das bodas.      — Irmão, te superaste — assinalou Henry, zangado. — Mas, o que fará se chegar o dia em que Northumberland volte para Escócia e contra você?


     — Esse dia nunca chegará.


     — Está louco! Entregaste a Herrera suficiente poder para acabar contigo, e tudo em troca de umas quantas colinas sem valor.


     Henry percorria de um lado a outro os aposentos do rei enquanto falava. Em momentos como aqueles era quando sabia com absoluta certeza que ele deveria ser o soberano da Inglaterra. Nunca entregaria tanto poder a um só nobre. Tendo em conta a estupidez de seu irmão, não pôde evitar lamentar que Maite não se afogou.      — Quem tentou matá-la?


     — Não sei. Foi você, Henry? — Perguntou Rufus com escasso interesse.


     — Se eu tivesse estado atrás da tentativa de assassinato, te asseguro que agora não estaria viva —replicou vermelho de ira.      Rufus ficou em pé, aproximou-se da janela e contemplou a vista que Londres oferecia.      — Acredito.


     — Então, foi uma tentativa de assassinato?


     — Ao contrário do que dizem alguns dos rumores que correm, assim é.


     Henry sorriu repentinamente.


     — De verdade estava fugindo de Alfonso?


     — Isso resulta divertido para você?


     — Muito divertido. Céus, arrumado que Herrera estará furioso. Essa pequena arrogante atrevendo-se a desafiá-lo... Como eu gostaria de ter a oportunidade de presenciar ao menos uma de suas conversações.      — Hmm... Imagino que preferiria ter a oportunidade de estar a sós com essa arrogante.


     Henry olhou seu irmão.


     — Se semelhante tentação ocorresse, não me negaria a cair nela. E suponho que se Herrera te desse o mínimo fôlego, também o colocaria sem duvidá-lo em sua cama, não é certo, majestade?


     Agora tocou ao Rufus o turno de estar furioso.


     — Talvez quando era menino, mas um homem assim não resulta atraente absolutamente. Absolutamente — repetiu o rei com brutalidade.      Mas estava mentindo. Não só a seu irmão, mas também a si mesmo. Os desejos não satisfeitos eram algo muito perigoso, sobre tudo depois de tantos anos.


     — Talvez Alfonso esteja tão agradecido que demonstre isso da forma em que você gostaria — disse Henry rindo enquanto se dirigia à porta. — Mas duvido muito, irmão. Duvido muito.


     Depois de fazer uma grotesca reverência, o príncipe partiu.


     Rufus apertou os punhos enquanto via sair seu irmão. Se Henry não fosse um aliado militar tão valioso e não tivesse um número tão elevado de mercenários a suas ordens, jogaria-o nas masmorras e atiraria a chave fora. Às vezes o odiava tanto que se sentia realmente tentado a fazê-lo. Mas no momento, utilizaria-o e se aproveitaria dele tudo o que pudesse, tendo sempre cuidado de manter um passo na frente dele.


     Rufus conhecia Henry muito melhor do que seu irmão pensava. Se ao príncipe enfurecia tanto uma aliança que apenas o afetava, era porque desejava o trono da Inglaterra. Mas, é obvio, isso era algo que nunca poderia conseguir.


*******


     Anahi Portilla estava deitada de barriga para baixo na cama, destampada e com os braços rodeando o travesseiro. Levava posta unicamente uma regata fina e curta de algodão. Estava sozinha no quarto já que as demais damas se achavam compartilhando a última comida do dia. Tinha os olhos fechados, mas não dormia.


Respirava com irregularidade. A cena vivida dias antes com Geoffrey Herrera vinha uma e outra vez à mente, e cada vez era mais forte sua determinação. Nunca tinha experimentado por ninguém um desejo tão avassalador como o que sentia para ele. Durante os últimos dias, o arquidiácono a tinha ignorado fingindo que não existia e que a tarde que tinham compartilhado naquele abandono total não tinha nunca acontecido. Mas assim tinha sido. E ela logo voltaria a fazê-lo seu de novo. Devia fazê-lo.


     Anahi gemeu brandamente em voz baixa, apertando com mais força o travesseiro. Sentia o corpo em chamas. Geoffrey estava ali, na torre, naquele preciso instante estava abaixo jantando com todos os outros. A jovem subiu o joelho e se apertou contra a cama, o que provocou que seu traseiro ficasse descoberto.


     Recordava tudo o que Geoffrey tinha feito aquela tarde, e tudo o que tinha feito a ele, depois de semelhante encontro, não acreditava que nenhum outro homem pudesse satisfazê-la. Gemeu brandamente sentindo que o fogo crepitava entre as pernas, mas, de repente, escutou um som e ficou muito quieta. Eram uns passos firmes e decididos que pararam do outro lado da porta de seu aposento. Anahi não abriu os olhos e imaginou que Geoffrey entrava e acariciava as costas, agarrava as nádegas e a fazia sua sem preliminares.      A porta abriu sem que ninguém tivesse chamado. Anahi apertou com mais força o travesseiro, consciente de que o intruso a estava olhando fixamente.      Ele fechou a porta devagar.


     — Quem a tem assim tão quente, puta?


     Anahi gemeu. Foi o único que pôde fazer. Não podia seguir suportando muito mais aquela agonia.      — Quem? — Perguntou o intruso parando aos pés da cama. — Quem a deixa retorcendo na cama de desejo? Acaso é a mim quem necessita?      A jovem gemeu, foi a única resposta que pôde articular. Era impossível continuar mais tempo com aquela agonia.


     — Por favor — sussurrou odiando a si mesma ao mesmo tempo em que escutava o som de tecido ao cair enquanto o intruso se despia. — Por favor — voltou a gemer, suplicando agora.


     Ele riu. A cama rangeu sob seu peso quando ajoelhou entre suas coxas, acariciando-as e só parando quando agarrou o traseiro dela. Anahi estremeceu e abriu a boca para tomar ar.      — Quem a deixa assim? — Furioso, agarrou-a com força obrigando-a a gritar.


— Quem, maldita seja?


     — Geoffrey Herrera — gemeu, abrindo as pernas.


     Ele a penetrou com um rugido. Anahi mordeu o lábio para não gritar e se viu imediatamente perdida em um clímax violento. O intruso a seguiu pouco depois e derrubou-se, esgotado, sobre o corpo feminino. Imediatamente, Anahi o separou de si e ficou em pé. Em menos de um segundo alcançou a túnica e a pôs, antes de olhar ao homem que estava convexo em sua cama.      — Saia daqui!


     Roger Portilla levantou com indolência.


     — Tranquei a porta com o ferrolho. — Seu sorriso era zombador. — É assim como demonstra seu agradecimento, querida?


     — Saia — repetiu ela furiosa.


     Odiava-o, sempre o tinha odiado porque foi ele quem a introduziu nas profundezas de sua depravação, muito tempo atrás.      — Nunca mudará — disse ao ouvido. — Ele só está brincando contigo, é um homem honrado, correto, algo que você não pode compreender nem remotamente.      — E você sim? — Inquiriu Anahi com sarcasmo. — Diga-me, quando decidiu assassinar Maite? Não teria sido bom o bastante que ela escapasse?


     Roger empalideceu e logo agarrou o rosto dela com força.


     — Se me trair, querida irmã, implicarei a ti. Se eu cair, você cairá também.


     — Largue-me! — Ordenou Anahi apartando-se dele.


     — Talvez devesse falar com o bom arquidiácono. Não acredito que seu corpo o atraísse se soubesse que é capaz de assassinar — ameaçou, dirigindo um sorriso maligno.    


  — Saia!


Maite estava muito nervosa por que seus pais tinham chegado a Londres no dia anterior. Alfonso tinha sugerido que os visitasse e, como não podia recusar vêlos, naquele instante iam a caminho da torre do rei. A jovem tinha estado a ponto de negar já que não queria enfrentar a seu pai no dia anterior a suas bodas.


     Tinham transcorrido três dias desde que esteve a ponto de perder a vida.


Era muito pouco tempo, mas tinha sido feliz. Embora Alfonso passava muitas horas na corte, tinha ido vê-la todos os dias. Não haviam tornado a falar do ocorrido no dia em que consumaram sua união, mas Maite tinha a impressão de que tinham alcançado um novo e maravilhoso entendimento. Confiava nele. Como podia ser de outra maneira? Brand tinha ido visitá-la e tinha contado como Alfonso, desesperado, tinha arriscado sua vida por ela e havia devolvido-a à vida. Oh, sim, confiava completamente nele.


     E não tinha mentido quando prometeu que não voltaria a traí-lo. Recordou quanto comoveu Alfonso com sua promessa e estava convencida de que também confiava nela.


     Maite estava assustada de encontrar com sua família embora fosse só durante um instante. Tinha medo do que pudesse ocorrer, do que pudesse descobrir.


     À medida que se aproximavam da torre e ao temido encontro com seus pais, a escocesa percebeu que seu prometido pensava que estava fazendo um grande favor em levá-la. Maite não queria enfrentar seus próprios sentimentos, assim não compartilhou seus medos com ele. Mas a cada passo que a aproximava da torre, seu estômago encolhia e o coração pulsava com mais força.


     Soube que seu pai tinha chegado às portas de Londres com um exército considerável. Entretanto, só tinham permitido a entrada de umas poucas dúzias de homens desarmados. William Rufus não queria se arriscar o mínimo com seu pior inimigo.


     Enquanto cruzava Londres, a preocupação da jovem aumentou. Conhecia bem a seu pai. Sem dúvida, estaria furioso por ter sido obrigado a deixar para trás seu exército. Maite sabia quão rápido respondia quando estava cheio de ira. Romperia o rei escocês a aliança no último momento? Impediria inclusive as mesmas bodas? A jovem tinha medo. Como tinha mudado! Não queria que nada interferisse em suas bodas, nem sequer seu pai. Era muito cruel com seus inimigos, e sem dúvida ainda odiava Northumberland e a Alfonso.


     De repente, a torre do rei apareceu diante de seus olhos elevando sobre os muros do castelo e refletindo brandamente sobre a superfície do Tamisa. Maite tinha mantido abertas as cortinas da liteira. Alfonso partia na frente no lombo de seu corcel e, a suas costas, cavalgava seu porta-bandeira levando a rosa vermelha de Northumberland. Um grupo de cavalheiros fortemente armados os escoltavam.


     Assim que cruzaram a ponte e entraram no recinto cercado de muralhas, uma partida real os acompanhou até ao castelo. Alfonso a ajudou a sair da liteira, rodeado não só de seus homens, mas também dos do rei. Maite já tinha passado com antecedência por uma situação similar, e voltou a se sentir assustada e indefesa. Não soltou a mão de seu prometido e ele a apertou um pouco para tranqüilizá-la. Nem sequer o rei desbarataria seu matrimônio aquelas alturas.


Não se atreveria.


     Enquanto subiam as escadas para o castelo junto com a escolta, a jovem pensou se sempre sentiria incômoda na corte inglesa, se sempre consideraria uma estranha entre inimigos. Era outro pensamento negativo e tratou de afastá-lo de sua mente. Quão único ela queria era experimentar os nervos típicos das noivas e a autêntica felicidade na véspera de suas bodas.


     Quando por fim a comitiva entrou no grande salão, as conversações desvaneceram. Todas as damas e cavalheiros giraram para observar ao grupo com os olhos brilhantes de curiosidade. Maite lamentou ter tentado fugir. Seu prometido não teria gostado que seu desafio se espalhou de modo tão público. Estava convencida de que muitos daqueles invejosos cavalheiros tinham adorado a breve humilhação de um Herrera. Enquanto cruzavam o saguão, Maite o olhou. O herdeiro de Northumberland levava a cabeça alta, olhava à frente e sua expressão era inescrutável. A jovem pareceu escutar a alguém rir pelo baixo e mencionar o nome de Alfonso, mas quando olhou para a pequena multidão congregada não pôde distinguir ao culpado.      Em seu momento, pensou com convencimento, todo mundo se inteiraria de seu amor por Alfonso e de sua lealdade para ele.


     Subiram diretamente aos aposentos privados do monarca e, assim que entraram, Maite viu que seus pais e três de seus irmãos já estavam ali. Malcolm e Margarida conversavam tensos com os condes de Northumberland perto do estrado no qual Rufus estava sentado sobre seu trono. A jovem surpreendeu muito ver Doug Mackinnon de pé entre Edward e Edgar, e quando ele a olhou, ela afastou rapidamente a vista.


     Horrorizava-lhe que estivesse ali. Não entendia por que tinha acompanhado seus pais. Além disso, sobressaltou-a a certeza de que não tinha dedicado a ele nem um só pensamento desde o dia em que Alfonso a capturou. Como podia pensar antes que estava apaixonada por ele? Como poderia olhá-lo aos olhos agora? Maite observou a seu prometido, mas ele permanecia imutável. Caiu então na conta que não sabia quem era Doug e se sentiu estranhamente aliviada. Conhecia-o o suficiente aquelas alturas para estar convencida de que não gostaria de saber que seu antigo prometido estava ali.


     Ao ser consciente de que seus pais perceberam sua presença, Maite ficou aterrorizada. Tinha evitado olhar Malcolm depois de lhe dirigir uma primeira olhada, mas arrumou para sorrir a sua mãe, que parecia a ponto de chorar.


     Rufus os saudou quando Alfonso e ela aproximaram do estrado no qual estava sentado.


     — Alegra-me vê-la tão bem, princesa — assegurou com as bochechas vermelhas e cheirando a vinho. Tinha uma expressão maliciosa. — Não parece que tenha estado tão perto da morte.      — Recuperei-me, senhor.


     — Alegramo-nos muito.


     Mas Rufus não parecia absolutamente interessado por ela. Estava sorrindo para Alfonso, que não devolveu o sorriso.


     — Senhor — limitou a dizer ele.


     Maite olhou o homem que tanto amava e logo ao rei. A expressão de Alfonso era inescrutável, mas a do monarca era de alegria, inclusive brilhavam os olhos. A jovem congelou, não podia afastar os olhos do semblante de William Rufus.


Agora reconhecia aquela expressão. O rei estava apaixonado por Alfonso!


     Rufus a olhou finalmente e, ao surpreendê-la observando-o, apagou o sorriso e o olhar tornou frio.


     — Seu pai quer saudá-la, princesa.


     Maite girou rapidamente, ainda impactada pelo que acabava de descobrir. Não cabia a mínima dúvida de que era verdade.


     Obrigou-se a olhar Malcolm e viu que sorria como sempre tinha feito. O coração de Maite encolheu dolorosamente e os olhos encheram de lágrimas. O olhar de seu pai era cálido e afetuoso. Parecia como se aquele terrível momento da planície nunca tivesse tido lugar, como se não tivessem negociado com ela como se fosse gado, como se alegrasse de vê-la.      — P... pai — conseguiu dizer.


     — Filha... está tão bonita como sempre. Encontra-te bem?


     Maite assentiu com a cabeça, tremente. Ficou olhando seu pai, desejando desesperadamente que a estreitasse entre seus braços. Por desgraça, Malcolm não era um homem que mostrasse seu afeto de maneira tão óbvia e a jovem não esperava que o fizesse agora.


     Mas com aquele rápido olhar, Maite soube que queria a seu pai e que sempre o quereria. Também soube que ele queria a ela. Tinha entregado-a a Alfonso por uma questão política, mas aquele era o destino de todas as mulheres. Nunca tinha esperado casar por amor e, entretanto, graças a um incrível giro do destino, assim ia ser. Sua sensação de traição se gerou pelas meras aparências aquele dia na planície. Mas só se tratava disso, de aparências. Malcolm tinha parecido brusco e estranhamente despreocupado por seu bem-estar, embora talvez se mostrou tão duro porque estava negociando com o inimigo, com o homem que tinha raptado e desonrado a sua filha. Maite não tinha maneira de saber. Mas não importava. Seu pai a queria e o perdoava de coração. Com esse pensamento, girou-se para sua mãe, que abriu os braços. A jovem soltou um soluço contido e correu para aquele abraço amado e reconfortante.  A rainha da Escócia a embalou como se fosse um bebê e, quando o abraço terminou, Maite sorriu a sua mãe através das lágrimas e viu que esta também chorava.      — Vais casar — sussurrou a rainha. — Minha pequena arrogante vai casar.


     — Sou feliz, mãe.


     — Oh, graças a Deus!


     Voltaram a se abraçar, e então Edgar se lançou sobre ela reclamando uma saudação. Levavam muito pouco tempo e eram inseparáveis desde meninos. Era seu irmão mais querido. Edgar estava muito sério, provavelmente aborrecido com seu compromisso e preocupado por ela. Maite recordou então a realidade política daquela situação. Olhou Edward, seu irmão mais velho e o mais prático de todos, estava acostumada a procurar nele sabedoria e conselho. Edward a tinha resgatado muitas vezes de suas travessuras, tinha tranqüilizado-a quando estava desgostada e defendido quando a repreendiam. Ele também estava muito sério. Edmund se mostrava abertamente aborrecido.


     Sentiu-se muito incômoda, e de repente, foi consciente do tenso momento que estava tendo lugar a suas costas. Girou, e ao ver como Malcolm e Alfonso intercambiavam uma saudação rígida e meramente cortês, sentiu que o coração encolhia.      Desprezavam-se mutuamente, não havia nenhuma amabilidade entre seu pai e seu prometido. Como muito uma cortesia fria, dura e cheia de ódio.


     A lembrança de um dia de inverno branco e frio, as árvores ermas e nuas, o vento gelado, veio-lhe à mente. Stephen, firme e orgulhoso, estava atrás de Rufus em Abernathy enquanto o rei da Escócia, cujo rosto era uma mascara de ódio e fúria, jurava fidelidade ao rei da Inglaterra de joelhos.


     Nada tinha mudado exceto que seu prometido parecia detestar a seu pai com igual ardor. Maite disse a si mesmo que poderia conseguir unir Alfonso e


Malcolm. Antes não teria nem passado pela cabeça semelhante possibilidade, mas agora devia maturar a idéia, lutar pela paz. Sem dúvida todos veriam a lógica de uma aliança entre sua família e a de Alfonso. Durante as duas últimas gerações tinha havido um grande banho de sangue, já não era o momento de ter uma paz duradoura? Jurou-se a si mesma que conseguiria, porque, em caso contrário, seria seu matrimônio que pagaria o preço da guerra.      Margarida sorriu e acariciou a bochecha de sua filha, interrompendo seus pensamentos.


     — Vamos. Temos permissão para nos reunir na sala do lado.


     Surpreendida, Maite olhou Alfonso, que assentiu. Então percebeu que só sua mãe e ela desfrutariam daquele momento privado, sem dúvida a rainha acreditava que devia dar a sua filha algum conselho maternal a véspera de suas bodas.


     Assegurou-se de não olhar Doug quando passou em frente a ele e seguiu a sua mãe através das portas de carvalho, mas teve a sensação de que ele estava ao mesmo tempo decidido e desesperado. Acaso não tinha já suficiente? Preocupar-se com seu antigo prometido era o último que necessitava aquele dia!      Margarida não perdeu o tempo.


     — Encontra-te bem, querida?


     — Estou perfeitamente, mãe.


     — Está grávida?


     — Ainda não sei, mãe. Me perdoe — murmurou envergonhada.


     Margarida sorriu com ternura e compaixão, mas disse:


     — Não posso, querida. Só Deus pode te perdoar. Deus e você mesma.


     — Amo-o, mãe — confessou quase com vergonha.


     A rainha rompeu a chorar e tomou a não de sua filha.


     — Que contente estou! É tão difícil casar e encontrar o amor...


     — Você o encontrou em seu matrimônio.


     — Sim, amo Malcolm. — Margarida a sujeitou pelo queixo. — Tenho que recordá-la as obrigações de uma boa esposa cristã?      — Prometo obedecer, mãe. A Alfonso e a Deus.


     — Não esqueça suas obrigações em relação às pessoas que dependam de ti,


Maite. Recorda que será responsável por todos aqueles que sirvam a seu senhor, tanto vassalos como aldeãos. E não se esqueça dos pobres e os doentes, querida.      — Não o farei, mãe.


     Margarida suavizou.


     — Por isso posso ver, Alfonso Herrera é um bom homem.


     Maite se sentiu aliviada.


     — É, Mãe! Se pudesse convencer meu pai que Alfonso não é o diabo e que nossas famílias são agora aliadas e não inimigas...


     — É difícil fazer mudar de opinião a Malcolm em assuntos de estado, querida — reconheceu Margarida com suavidade. — Sabe que eu não gosto de interferir, mas o tentarei.


     — Obrigada, mãe — disse com entusiasmo.


     Falaram uns minutos mais e depois retornaram juntas à outra sala. Alfonso não estava e Maite teve uma desilusão. Mas girou para seus irmãos, satisfeita de ter a oportunidade de conversar com eles. Entretanto, teve uma desagradável surpresa quando Edmund disse ao ouvido:      — Já está grávida de seu mucoso, irmãzinha? — Ela se afastou. — É uma pergunta importante. — Edmund seguia olhando-a fixamente.      — Vá ao diabo — murmurou ela furiosa lhe dando as costas.


     Edward agarrou a seu irmão, obrigando-o a girar.


     — É um caipira! Não pode ao menos perguntar se está bem?


     — Já vejo que está bem — respondeu o aludido.


     — Não comecem, agora não — sussurrou Maite zangada.


     Fazia de pacificadora muitas vezes com seus irmãos, quem sob seu implacável olhar finalmente tranqüilizaram.


     — Maite?


     A jovem ficou paralisada ao reconhecer aquela voz a suas costas, uma voz que falava com tom premente. Girou a contra gosto para ver seu antigo prometido, a quem teria gostado de evitar. Quando Doug agarrou seus braços como se estivessem sozinhos, Maite ficou tensa.      — Eu...


     — Temos que falar.


     Ela estava paralisada. A expressão do escocês era intensa e forçada, e seus olhos mostravam uma determinação selvagem.


     — O que acontece? Ocorre algo? — Enquanto falava, Maite olhou a seu redor para se assegurar que Alfonso não tinha retornado para ver como Doug a agarrava daquele modo. Aliviada, libertou-se de seus braços.      — Tive que suplicar a seu pai que me permitisse acompanhá-lo, Maite — disse seu antigo prometido em voz baixa.      — Não compreendo por que vieste.


     — Para que vim? Para vê-la, é obvio! — Parecia confuso.


     A jovem se surpreendeu. Seria possível que Doug ainda sentisse algo por ela?      — Maite... Está bem?


     — Estou muito bem.


     — Ele tem feito mal a você? — Inquiriu com voz seca.


     Maite pensou se o que queria saber era se Alfonso tinha abusado dela.


     — Não, não tem me feito mal.


     O escocês ruborizou, voltou a agarrar os braços dela e inclinou sobre ela.


     — Está esperando um filho dele?


     Ela, nervosa, umedeceu os lábios.


     — Não sei — respondeu, sentindo que ruborizava.


     Doug compôs uma careta. Maite esperava que a repreendesse, mas não o fez.      — Não me importa — disse finalmente. — Não me importa que esteja grávida dele. — Maite estava muito surpreendida para responder. — Ainda me ama? — perguntou precipitadamente.


     — Doug!


     — Maite... Podemos fugir esta noite a França. Ainda podemos nos casar. Eu farei cargo desse menino como se fosse meu. Não é muito tarde.


     A jovem não podia articular uma palavra.


     — Só me diga que sim — gritou Doug — eu jurarei esta noite meus votos para você. Tenho um plano, Maite, e pode que saímos bem.


     — Doug... — sussurrou horrorizada. Ainda a amava o suficiente para perdoála por ter perdido a honra e aceitar o filho de outro homem, o que já era bastante entristecedor, mas aquela sugestão era ainda mais descabelada. — Deve estar louco! Não posso fugir contigo, não posso!      — Maite... Pensa-o.


     — Não tenho que pensá-lo. Está tudo arrumado, vou casar com Alfonso.


     O escocês empalideceu, e a jovem, adivinhando o que ocorria, girou para ver o frio sorriso de seu prometido.



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Autor(a): taynaraleal

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Doug nem sequer se moveu apesar do olhar assassino de Alfonso.      — Pretende roubar a minha prometida, Mackinnon?      — Não seria sua prometida se não a tivesse raptado e violado, Herrera — repôs aludido erguendo os ombros.      Maite estremeceu. Estava tão p&aa ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 11



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  • Beatriz Herroni Postado em 23/03/2018 - 15:37:22

    Pq postou tudo de vez?Fica um pouco ruim de ler assim

    • taynaraleal Postado em 24/03/2018 - 15:57:33

      Oi Beatriz, então eu postei tudo de uma vez, pois tenho novas adaptações vindo por ai, e como essa eu só estava repostando pq havia sido apagada eu resolvi finalizar toda de uma vez, sei que fica ruim de ler, mas foi a unica forma de me dedicar as outras, pois meu tempo é minimo. Espero que consiga ler essa, e as outras que estão por vir

  • maite_portilla Postado em 03/08/2017 - 17:24:36

    Agora sim a mai vai ter que dizer tudo pro poncho... Dulce melhor pessoa kkkk... Coninua logo <3<3<3

    • taynaraleal Postado em 08/02/2018 - 18:13:27

      Ainda está ai? vou continuar e com maratonaaaaa, espero que goste

  • Postado em 03/08/2017 - 17:22:18

    Ai Deus, acho que agora sim a mai vai revelar a vdd pro poncho... Adorei a Dulce kkkk... Continua logooo

  • maite_portilla Postado em 24/07/2017 - 17:56:39

    eita, agora a mai nao tem mais para onde fugir. coitada, ate eu fiquei com um pouco de medo desse alfonso. sera que ele vai descobrir quem ela é de vdd? continua... to amando

  • maite_portilla Postado em 22/07/2017 - 00:57:58

    Adorei a historia... Continua <3

  • lunnagomes Postado em 19/07/2017 - 21:04:10

    Estou apaixonada pela história... continua

    • taynaraleal Postado em 08/02/2018 - 18:14:06

      Desculpa pelo sumiço, vou continuar e com maratona, se ainda estiver por ai, e quiser voltar, os comentários me estimulam muito


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