Fanfics Brasil - Capítulo 3 A promessa da rosa

Fanfic: A promessa da rosa | Tema: Herroni


Capítulo: Capítulo 3

465 visualizações Denunciar


  — Está me machucando! — Gritou Maite.    



Alfonso a soltou imediatamente e permitiu que a jovem se afastasse dele.    



— De verdade acreditava que poderia me fazer prisioneira sem que lutasse? — Perguntou enquanto esfregava o braço.    



O normando se arrependia de tê-la machucado, mas suas palavras provocaram desejos de voltar a sacudi-la.    



— Desde quando? — Inquiriu, assombrado por sua inteligência e valentia.  



  — Desde esta manhã.    



— Julguei-a mal — Disse com brutalidade. Logo gritou: — Neale!    



O homem mais velho apareceu a seu lado imediatamente.    



— Milorde?    



Alfonso não afastou seu furioso olhar da prisioneira.    



— Ao que parece nossa jovem encontrada ontem é muito inteligente. Enganou a todos e esteve deixando pistas. Alerta aos homens, talvez estejam nos seguindo.    



Neale cravou as esporas em sua montaria e se dirigiu para os soldados.    



O normando a agarrou pelo braço e, ante sua resistência a segui-lo, teve que arrastá-la até sua montaria.    



— A quem queria alertar? A seu amante? A seu pai?    



— Sim! — Gritou ela. — Sim, sim e sim! E logo, muito em breve, meu pai o atravessará com sua espada, normando, porque é o melhor guerreiro de toda Escócia!



— Seriamente? Então seguro que o conheço. — Ela apertou os lábios com gesto obstinado. — Seu pai não é esse tal Sinclair de Dounreay, tal e como insiste, verdade? Um homem tão insignificante nunca me atacaria e ambos sabemos. Então, a quem está esperando, Mairi? E esse  seu nome?



 Sua pergunta só obteve silêncio.    



Furioso, Alfonso a subiu com brutalidade no cavalo. Ela cambaleou e teve que dar um pequeno salto para diante para permanecer fora de seu alcance. Ao normando isso não importou. Agarrou-a com dureza e a colocou sobre o arreio como se fosse um saco de grão. Logo subiu ao cavalo atrás dela e fez um sinal para seus homens. Imediatamente, a comitiva ficou a meio galope.    



Maite fechou os olhos e se deixou levar por um momento de desespero. Não devia angustiar-se. Em realidade, deveria estar eufórica. Tinha enganado ao normando. Mas não sentia nenhuma alegria a não ser um pouco parecido ao terror. O instinto de Maite dizia que o herdeiro bastardo a faria passar por um inferno. Angustiada, não podia evitar olhar de vez em quando para trás com a esperança de ver o exército escocês no horizonte. Mas não viu nada, e a cada milha que percorriam sentia como suas esperanças se afundavam um pouco mais. Onde estava seu pai?    



Quando chegaram ao topo de um penhasco, Alfonso parou bruscamente suas montarias, fazendo com que Maite chocasse contra seu poderoso corpo. As palavras do normando sufocaram qualquer protesto que pudesse ter feito. 



  — Perdeste, milady — assegurou. — Já chegamos. Olhe, aí está Alnwick.     O pavor a invadiu de tal maneira, que nem sequer percebeu que agarrava com força o antebraço de seu captor e que cravava as unhas na cota de malha. Tinham chegado... e ela estava perdida. Adiante se encontrava Alnwick, sua prisão.

 



O sol estava se pondo. Obscurecidos em parte pela penumbra, os muros de pedra de Alnwick pareciam negros e impenetráveis. A fortaleza estava situada sobre uma colina natural rodeada de um cerco inexpugnável cavado pelo homem. Os grossos muros exteriores da zona defensiva do castelo estavam intercalados com altas e imponentes torres de vigia, que resguardavam a torre principal da fortaleza iluminada nesse momento pela tênue luz do pôr-do-sol. 



 Maite sentiu que a invadia o abatimento. Se não conseguia escapar e não a libertavam ou ofereciam um resgate por ela, tinha poucas esperanças de voltar a ver seu lar e seus parentes, porque contra um lugar assim não poderia sustentar um ataque durante muito tempo. Nem sequer um ataque comandado por Malcolm. 



 Avançaram por uma ponte levadiça e atravessaram a porta de ferro em direção ao castelo, sendo recebidos pela saudação de uma dúzia de homens armados. Dentro havia ao menos doze construções: estábulos para os cavalos, tenda para os artesãos do castelo, quartéis para os excedentes de cavalheiros, despensas e armazéns de fornecimentos. Também havia gente por toda parte: mulheres levando galinhas debaixo do braço para fazer caldo, meninos tocando porcos, carpinteiros trabalhando com seus aprendizes, ferreiros e cavalariços, serventes e escravos. O ruído era ensurdecedor. Em meio da cacofonia humana escutavam os latidos dos cães de caça, o grasnido das galinhas, o relinchar dos cavalos, o repicar da bigorna do ferreiro e o estrondo de martelo do carpinteiro. Havia gritos, risadas, e ordens que se davam laconicamente. Maite nunca tinha estado no interior de uma fortificação tão grande, era maior que a maioria dos povoados escoceses e certamente muito mais grandiosa que sua própria casa, o forte real de Edimburgo. 



 Alcançaram os degraus da entrada do castelo e o normando a baixou ao chão com facilidade. Maite cambaleou um pouco, tinha as pernas rígidas por ter passado o dia a cavalo. Alfonso deslizou a seu lado e logo a guiou com firmeza para as escadas.    



— Não tenha medo — espetou a jovem ao tempo que liberava seu braço. — Está claro que não tenho para onde correr embora desejasse fazê-lo.    



— Alegra-me que tenha o bom julgamento de pensar assim.    



— Não estaria tão satisfeito se soubesse o que realmente penso.    



— Ao contrário, eu adoraria conhecer seus pensamentos mais íntimos.    



Aterrada, Maite afastou a vista. Temia que a tenacidade do normando fosse superior à sua.



 Chegaram ao segundo andar e entraram em um imenso salão. Duas grandes mesas de cavalete dominavam a sala formando um ângulo. Uma delas, a mais elevada, estava vazia. Ali seria sem dúvida onde tomariam assento o conde e sua família. Nas mesas baixas estavam sentados um grande número de cavalheiros e homens de armas, tomando o jantar que serviam as donzelas da cozinha, fiscalizadas pelo administrador do castelo, outros soldados jogavam os dados, bêbados.  



  Em todas as paredes estavam penduras belas tapeçarias de cores vívidas, o chão estava coberto de juncos frescos docemente aromatizados com ervas e havia um fogo aceso em uma imensa lareira de pedra. Maite percebeu surpreendida que não havia nem um só cão de caça no lugar. Frente ao fogo estavam colocadas duas cadeiras grandes e esculpidas com almofadas no assento, idênticas às que havia na cabeceira da mesa principal. A jovem ficou paralisada durante um instante ao pensar que o conde de Northumberland estava ali, quando viu uma cabeça dourada em uma daquelas cadeiras.    



Mas se tratava de um homem jovem, um ano ou dois mais velho que ela, que estava sentado sozinho. Ao vê-los entrar, ficou de pé com agilidade e aproximou deles. Tinha os olhos azuis e era muito arrumado. Sua pele parecia dourada pelo sol do verão. 



— Saudações, irmão — disse o desconhecido. Mas seu olhar azul escuro estava cravado em Maite, a quem dirigiu um sorriso irresistível.    



— Devo presumir que sua presença aqui é importante? — Perguntou Alfonso com secura. De repente, seu tom mudou tornando-o imperativo. — E Brand, ela é minha.    



O aludido olhou por fim a seu irmão e fez uma reverência zombadora.    



— É obvio. Inclino-me ante o herdeiro. E sim, envia-me o rei, como sem dúvida terá adivinhado.    



Maite ficou tensa. O comentário possessivo de Alfonso se tornou irrelevante. Poderia ser de muito valor para seu pai enquanto se visse obrigada a permanecer ali, convertendo-se na espiã que seu seqüestrador acreditava que era e inteirando-se dos planos mais secretos do inimigo.    



— Tudo está bem, irmão, relaxe. — Alfonso colocou sua poderosa mão no ombro rígido de Maite. — Falaremos mais tarde. Quando tem que retornar?    



— Imediatamente. — Brand olhou a jovem e voltou a sorrir. Seus lábios esgrimiam um sorriso zombador que não aparecia em seus olhos. — Não vais fazer as apresentações? Tem medo de que me prefira? E acaso não temos aqui suficientes criadas, ou é que já provaste a todas?    



Alfonso ignorou a brincadeira.    



— Mairi, este insolente é meu irmão menor, Brand, capitão das tropas do castelo do rei. Ignore seus comentários. Além disso, ele é o sedutor, não eu.    



Maite duvidou das últimas palavras de Alfonso. Sem dúvida, os dois irmãos eram predadores no que se referia ao sexo oposto. Não se pareciam fisicamente, sendo um tão loiro e o outro tão moreno, mas ambos eram chamativos e nenhuma mulher seria imune a nenhum dos dois. A jovem não devolveu o sorriso ao irmão de seu captor e se limitou a olhá-lo com receio.    



O olhar de Brand se voltou interrogativo e olhou alternativamente a Maite e Alfonso.    



— É minha convidada — esclareceu seu irmão mais velho secamente com a clara intenção de economizar-se de mais perguntas.    



— Que afortunado é — murmurou Brand. Depois de dirigir a ambos um último olhar, afastou-se uns passos para contemplar o fogo.    



— Não sou sua convidada — espetou Maite furiosa, incapaz de se conter e lhe afastando a mão. — Aos convidados se trata bem e são livres de entrar e sair. Nem sequer a seu próprio irmão fala com sinceridade?    



— Você acusa de não falar com sinceridade? — Alfonso dedicou um olhar frio.    



— Sim. — Ruborizou-se, mas se negou a ceder.    



Ele levantou uma mão. Maite não pensou que tivesse intenção de golpeá-la, entretanto, não pôde evitar estremecer. Mas o normando se limitou a deslizar um dedo pela suavidade de sua bochecha, atrasando-se na comissura de sua boca.    



— É você quem está interpretando uma farsa.    



— Não — murmurou a jovem apartando-se. — Já expliquei por que vou vestida assim. Deve me soltar de uma vez.    



— Parece desesperada, milady. Confesse sua verdadeira identidade agora e falaremos de sua liberdade.    



— Depois que tenha me violado!    



Alfonso a olhou fixamente.



 — Tal e como a assegurei antes, não haverá nenhuma violação.    



Ela sustentou seu olhar. Como era possível que estivesse a ponto de acreditar nele?    



— Quando a levar para cama, desfrutará. — O normando dirigiu um sorriso lento e frio, e ela não pôde se mover nem responder. — Ontem teve sorte. Hoje... hoje me cansei deste jogo.    



A jovem encontrou por fim a voz, que resultou muito rouca para seu gosto.    



— Isto não é nenhum jogo.    



O sorriso de Alfonso era mais frio que antes, mas seus olhos brilhavam com mais força.    



— Se deseja perder a virgindade, faça-me saber imediatamente. — Ela ficou atônita. — Nunca fui capaz de resistir a dar o golpe final, milady. Refiro-me em uma batalha — acrescentou com suavidade. — Chegou o momento da rendição.    



— Não — sussurrou Maite ao mesmo tempo em que sentia como uma maré em ebulição percorria seu corpo gelado.    



— Sim — murmurou ele sedutoramente.  



  — Mas... — A jovem estava enjoada, era difícil pensar com coerência. — Pensei que ia enviar espiões a Liddel para averiguar se estava dizendo a verdade ou não! Isso sem dúvida leva seu tempo!    



— Está claro que se tiver algum valor me diria isso antes que arruíne sua virtude aos olhos de outro homem.    



Seguiam com os olhares cravados um no outro. Nela o coração pulsava com força, estava resultando difícil respirar ou pensar. Só sabia que não podia, não devia dizer quem era.    



— Está esgotando a minha paciência. Se for quem diz que é, será minha amante depois desta noite — afirmou Alfonso com firmeza.    



O silêncio interpôs entre eles como o golpe de uma espada. Maite estava pálida. Agarrou as mãos com força, tentando desesperadamente resolver o dilema no que ele a tinha colocado. Se insistia em que era Mairi Sinclair a faria sua amante, mas não podia revelar sua verdadeira identidade. Quando falou, sentiu os lábios secos e rígidos.



  — Sou Mairi Sinclair.    



Sua resposta foi imediata.    



— Meu quarto é o primeiro subindo as escadas. Vá e me espere ali. — Ela apertou a mandíbula. Não se moveu, mas tampouco afastou a vista. — Vá e me espere ali — Voltou a ordenar Alfonso em voz baixa.    



Seus olhares seguiam entrelaçados, fixos. A jovem ocorreu pensar que, já que tinha que enfrentar a aquela fatalidade, era uma loucura entrar em guerra com aquele homem. Não podia ganhar. Deveria render-se, tal e como ele tinha assegurado que terminaria por fazer, e revelar quem era. Tórridas e apaixonadas imagens invadiram sua mente, imagens de um casal fazendo amor, imagens dela com Alfonso Herrera... Não podia trair a seu pai, o rei, a quem amava e respeitava mais que a ninguém no mundo.    



Maite ergueu os ombros, elevou o queixo e se afastou dele. Durante um instante, o normando não se moveu e limitou a observar como subia pela escada de caracol. Logo, fez um gesto assinalando com o dedo, e um de seus soldados se materializou ao outro lado do vestíbulo para acompanhar a jovem a seus aposentos.    



O silêncio reinou no salão enquanto os irmãos a observavam partir. De repente alguém soltou uma gargalhada. Seguiram várias risadas e retomaram as conversações. Um dos cavalheiros deu uma palmada no traseiro de uma criada quando esta preencheu a taça de vinho, arrancando um chiado e um salto que fez com que derramasse o líquido da jarra. Atiravam os jogo de dados, faziam apostas.    



Brand girou para Alfonso arqueando uma sobrancelha.    



— O que é isto? Uma donzela reticente? — Sua curiosidade era evidente. — Por isso o fascina tanto? Meu irmão não se deixa levar pela luxúria normalmente.    



Alfonso se aproximou do estrado, subiu e sentou à mesa. O administrador se materializou a seu lado com um recipiente de vinho tinto de Borgonha, que serviu a seu senhor em uma taça.    



— O que me intriga é o mistério que guarda.    



Brand tomou assento a seu lado.    



— Seriamente? — Parecia cético. — Acaso não te agrada seu rosto?    



— Depois de tudo sou humano. Que diferença existe? Ela me revelará esta noite sua identidade e não terei que cumprir minha ameaça — explorou, exasperado.



 — Se for uma dama — disse Brand — se renderá antes. Nenhuma dama de alta linhagem daria de presente sua virgindade em troca de nada.    



— Sim. — Alfonso esperou que chegasse uma donzela com bandejas de carne, pão e queijo, e as pusesse sobre a mesa. Depois, ordenou: — Leve carne e vinho para a convidada que espera em meus aposentos.    



— E restará atenção apesar disso? — perguntou Brand duvidando.    



— Terei que fazê-lo, não? — Sua expressão era escura e impenetrável. Ela se renderia, confessaria sua identidade e ele a devolveria ao lugar de que procedia, depois de cobrar o resgate que exigiria.    



— Não faça nenhuma tolice — advertiu Brand, sério. — Recorda o que acaba de dizer.    



— Obrigado por sua confiança, irmãozinho.    



O aludido encolheu os ombros.    



— O rei está desejando saber o que averiguaste.    



— Pode-se conquistar Carlisle. Mas acabaríamos com a paz — disse Alfonso em voz baixa.    



— Ele não está interessado na paz. Está interessado em assegurar o norte para poder centrar em outro lado. — O normando grunhiu. Seu irmão não estava dizendo nada que não soubesse. — Deveria me dar um relatório completo — sugeriu Brand.    



— Pela manhã — repôs Alfonso suspirando. Seu irmão assentiu com a cabeça, agarrou sua taça de hidromel, bebeu e reclinou na cadeira.    



— Trago notícias.    



— De nosso pai? — Perguntou ao mesmo tempo em que servia uma parte grande de pão.  



  — Não, de Anahi Portilla. — Alfonso manteve silêncio enquanto Brand passava o dedo por seu talher. — Manda suas mais carinhosas lembranças.    



— E eu as minhas.    



Seu irmão girou para olhá-lo diretamente sem nenhum pudor.    



— Mas não do modo que entregará seu carinho a sua cativa esta noite se descobrir quem é verdadeiramente a pequena Mairi.    



— Já é suficiente.    



— Não conhece lady Portilla. Mal falaste com ela. Eu, entretanto, tive muitas oportunidades de observá-la desde que chegou a corte. Não é uma mulher corrente. A dama com a qual vais casar dentro de três meses se sentiria muito desgraçada se soubesse que instalaste uma amante em seus aposentos.    



— Não tema — respondeu seu irmão com secura. — Não tenho nenhuma intenção de pôr em perigo minhas relações com Anahi Portilla.    



Dito aquilo, Alfonso saiu para os muros. Só havia uns quantos vigilantes nas torres, e encontrou a solidão que procurava. Dirigiu ao muro que estava mais ao norte e olhou por cima das ameias. Era um ritual noturno que fazia em Alnwick: observar seus domínios. 



 Toda a terra que se via, até onde alcançava a vista, pertencia a seu pai, Rolfe Herrera, e algum dia seria dele: A ancestral Sombra do Norte. Alfonso experimentou uma forte onda de orgulho e um sentimento de posse. Seu pai tinha chegado a Inglaterra com seu senhor, William, duque da Normandia, e tinha lutado a seu lado em Hastings vinte e sete anos atrás. Era o filho menor sem terras de um conde normando em busca das riquezas de uma nova terra. Tinha sido o comandante militar de maior confiança de William o Conquistador nas campanhas prévias do Maine e Anjou, e sua reputação tinha crescido depois de Hastings. Em seguida o recompensaram com Aelfgar por sua lealdade e seus progressos militares. E com a permissão e o apoio do Conquistador, Rolfe tinha empurrado suas fronteiras para o norte e o oeste até que rodearam todo o território que não era dele. Assim fez com todo seu poder.    



Alfonso era muito consciente de que algum dia todo o poder de Northumberland seria dele. Tinha nascido bastardo, já que seus pais não puderam se casar até que o conde ficou viúvo. Mas seu pai o tinha nomeado herdeiro. Era uma grande responsabilidade, uma carga pesada, carga que tinha assumido no mesmo dia em que o enviaram como protegido do rei à tenra idade de seis anos. Mas nunca questionou seu dever para com o pai e para Northumberland. Nem então, nem agora, nem durante os anos intermediários. Um homem tinha que fazer o que devia. Tinha aprendido aquela lição no mesmo dia que saiu a cavalo de sua casa escoltado pelos homens do rei para não retornar até uma década mais tarde. Casar com a herdeira de Essex, Anahi Portilla, não era mais que outra responsabilidade que devia assumir. 



Levavam dois anos e meio prometidos e por fim iriam se casar naquele Natal, agora que ela tinha completado a idade para casar. Rolfe teria querido que a união tivesse tido lugar dois anos atrás, mas o tutor de Anahi não quis nem ouvir falar disso. A jovem proporcionaria a Alfonso uma imensa propriedade em Essex, e o que era mais importante, muitas moedas de prata. Sua família sempre estava necessitada de dinheiro. Ao contrário do que ocorria com outros grandes condados ingleses, Northumberland levava a pesada carga de manter as defesas militares mais ao norte da Inglaterra, extremamente caro.    



Por outro lado, o matrimônio de Alfonso com Anahi Portilla converteria Northumberland em um lugar perigosamente independente, feito que não agradaria o rei. Mas Rufus precisava se auto-financiar, já que estava decidido a fazer sua própria guerra contra seu irmão maior, Robert, com o objetivo de reunificar a Normandia e a Inglaterra. Ao rei não convinha contar além com o gasto adicional de subvencionar Northumberland em suas guerras contra a Escócia, assim permitiu aquela união entre as poderosas casas de Essex e Northumberland.    



Alfonso percebeu que seus pensamentos tinham gerado uma grande tensão em seu interior. Seu dever era manter seguro o norte, e durante dois largos anos tinha caminhado pela corda frouxa para conservar uma frágil paz, respondendo a cada incitação que ocorria na fronteira uma por uma, consciente entretanto de que não devia contra-atacar com toda sua força para não fazer voar em pedaços a trégua. Não tinha sido tarefa fácil.    



Estava cansado.    



Tinha vontade de se casar, porque o dote de Anahi aliviaria a carga gerada pelas constantes guerras que sempre conduzia à costas.    



De repente, recordou as palavras de advertência de Brand e soltou uma maldição. Ele era um homem prudente, nem um pouco impulsivo nem precipitado, mas sua decisão de tomar aquela mulher que se fazia chamar Mairi como prisioneira não tinha sido nada de prudente. Sua beleza e seu engano o intrigavam, e a tinha seqüestrado. Esperava descobrir que não tinha um grande valor e assim poder levá-la à cama, embora duvidava muito. Nenhum homem em sua posição poria em perigo seu matrimônio com uma herdeira por outra mulher, por mais desejável que fosse. Uma breve aventura, se tinha a sorte de consegui-la, não poria em perigo sua aliança com os Beaufort. Mas a jovem não podia ficar em seus aposentos. Tinha atuado de novo com precipitação ao enviá-la ali, já que se tratava de uma perigosa falta de etiqueta. Sua prometida ficaria furiosa se inteirava de que tinha uma mulher em seu dormitório. Assim que tivesse dirigido sua seguinte confrontação a tiraria dali.     Tinha que resolver o mistério que ela supunha. Quando visse enfrentada com uma ruína iminente, não tinha nenhuma dúvida de que confessaria seu engano, revelaria que era uma dama de alto berço e ele a mandaria de retorno por onde tinha vindo, intacta, como tinha jurado que faria. Custava trabalho imaginar que ia deixá-la partir sem deitar com ela, mas o faria se tivesse que fazê-lo.    



Só ficavam três meses para se casar com a herdeira de Essex. Mas aquele pensamento já não proporcionava prazer.



  Alfonso se enfureceu ao descobrir que Mairi o tinha desobedecido uma vez mais. Não estava esperando-o em seus aposentos como ele havia dito que fizesse. Pensativo, despiu-se da cintura para acima. Os poderosos músculos de suas costas esticaram e definiram todos os tendões dos braços, marcando seus bíceps. Tinha o estômago plano e duro como uma rocha, seu corpo era o de um cavalheiro, esculpido por anos de prática com a espada, a lança e anos de combate.     Encontrava-se mais que irritado. Estava perplexo pela confusão que havia sentido de repente no que se referia a seu matrimônio com Anahi Portilla. Como era possível que sua prisioneira, fosse formosa ou não, despertasse aquelas emoções tão estranhas nele?    



Sua ira cresceu por momentos. Já ardia o sangue e a jovem ainda não tinha ntrado em seus aposentos. Pela primeira vez, Alfonso pensou se poderia ter o suficiente controle para negar a si mesmo aquele corpo desejável, algo que teria que fazer assim que ela confessasse. Mas recordou a si mesmo que não tinha escolha.    



De repente, sua irmã entrou em seus aposentos. Ele agradeceu aquela brusca interrupção a seus inquietantes pensamentos, embora não gostou que o surpreendesse meio nu.  



 — Deveria bater à porta Dulce — advertiu, girando para lhe dar as costas e colocar uma camisa.    



Era uma adolescente precoce e muito ardilosa. Alfonso temia que algum dia o encontrasse em algum passatempo inadequado aos olhos de qualquer dama, e mais aos de uma tão jovem. Ela mostrou a língua para ele.    



— Por quê?    



Seu irmão reprimiu um sorriso. Ainda não tinha visto Dulce desde sua volta. Sem dúvida, tinha estado fazendo alguma travessura pelo castelo.    



— Porque é de boa educação. — Alfonso tratou de fazer uma careta. — Que tipo de recebimento é este?    



Dulce se lançou a seus braços e ele a abraçou um instante, incapaz de conter uma de onda de orgulho. Todo mundo queria a sua irmã e, certamente, ele também. Era inteligente, muito formosa e ainda não tinha compromisso. Alfonso sabia que Rolfe estava esperando o momento oportuno, mas logo encontraria um marido e conseguiria outra poderosa aliança para os Herrera. Acreditava, embora não estivesse seguro, que seu pai pretendia casá-la com o irmão mais novo do rei, Henry Beauclerc. O príncipe tinha poucas terras mas muito dinheiro, porque seu pai, o Conquistador, tinha entregado a Normandia a seu filho mais velho, Robert, e a Inglaterra a William Rufus. Ao filho mais novo tinha deixado só uma grande fortuna. Alfonso o conhecia bem pelos largos anos que tinha passado na corte do Conquistador e não estava muito seguro de aprovar aquela possível união.    



— Onde estiveste esta tarde? — Perguntou olhando-a com afeto.    



— Oh, por aí — respondeu ela misteriosamente. Mas imediatamente esboçou um sorriso angélico. — Por que deveria bater? Está sozinho. Escutei através da porta para me assegurar.    



Ele abriu os olhos de par em par e Dulce deu um passo atrás, rindo.    



— Já não sou uma menina, Poncho — assegurou com arrogância. Ela era a única que atrevia a utilizar aquele diminutivo para se dirigir a ele. — Sei o que faz de noite com as criadas.    



Alfonso não podia acreditá-lo. Não sabia se ria ou repreendia.    



— O que é exatamente acredita que faço com as criadas?    



— Nosso pai diz que se nascer mais um bastardo em Alnwick o pegará com a vara como se tivesse doze anos! — Afirmou com alegria.    



— Ah, sim? — Teve que conter uma gargalhada. — Ainda não respondeste a minha pergunta, Dulce.    



— Acredita que sou idiota? Você faz bebês, Poncho, e às criadas gostam, sei por que as escutei falar de você.    



Desta vez ficou muito quieto.    



— Ouviste-as falar — repetiu. — E me diga, bisbilhoteira, o que diziam?    



— Bom... — Dulce pôs seus olhos azul escuro em branco — dizem que está muito bem dotado... que é forte...    



— Já basta! — Escandalizado, se lançou sobre ela, mas sua irmã se esquivou rindo. — Confio em que não tenha nem idéia do que está falando — grunhiu. — Penso em dizer a nossa mãe que anda bisbilhotando... E nada menos que com as servas!     Dulce parecia ferida. Ferida de verdade.    



— Nossa mãe me enviará com o padre Bertold! — Assegurou com voz tremente. Seus olhos grandes e luminosos cravaram nos de Alfonso, doces e inocentes como os de um cervo. — Te prometo que já não escutarei mais, de verdade. Não o conte a nossa mãe.    



Ele suspirou, desesperado. Dulce era muito adorável, sempre o tinha sido, e algum dia dominaria a seu marido sem que se inteirasse.    



— Não o direi desta vez — a tranqüilizou. — Mas Dulce, não me ponha a prova.    



Ela mordeu o lábio. Agora estava séria. Ambos sabiam que a partir daquele momento já não poderia seguir manipulando-o.



 — Por que Mairi é uma prisioneira?    



— Ah! Assim conheceste à misteriosa Mairi. Eu prefiro considerá-la minha convidada.    



— Ela diz que está prisioneira e que deve libertá-la.    



— Pediu que me diga isso?    



— Só sei o que ela me disse. — Sua irmã estava expectante.    



Alfonso voltou a se zangar com sua convidada. Acaso pensava manipulá-lo através de sua irmã? Tão ardilosa era?    



— Onde está?    



— Na sala das mulheres. Por que tem tanto medo de você?    



— Sua curiosidade pelos assuntos dos outros será sua perdição algum dia, Dulce. Se for preparada, recordará minhas palavras e lutará contra esse defeito.    



A jovem estava decepcionada, mas seguiu com suas perguntas.    



— Isso significa que não vai me dizer o que fez a ela?    



— Não fiz nada com ela — disse. E logo acrescentou: — Ainda. — Dulce piscou. — Vá procurá-la, traze-a aqui e logo se reúna com Brand.    



Não queria que sua irmã andasse bisbilhotando no outro lado da porta de seus aposentos. Ela assentiu com a cabeça, com os olhos ainda totalmente abertos, e partiu. Alfonso tirou a camisa. Tinha chegado o momento de que Mairi Sinclair revelasse a verdade sobre si mesma.

 




Compartilhe este capítulo:

Autor(a): taynaraleal

Este autor(a) escreve mais 12 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?

+ Fanfics do autor(a)
Prévia do próximo capítulo

 A grossa porta de madeira do castelo de Liddel abriu para dar passo a um grupo de homens. Estavam empapados pela chuva e cobertos de barro, porque no exterior se desencadeou uma tormenta feroz. O céu estava negro e o vento uivava. Ressonavam os trovões e os raios iluminavam o céu. A rainha Margarida estava sentada ao lado do fogo no salão ch ...


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 11



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • Beatriz Herroni Postado em 23/03/2018 - 15:37:22

    Pq postou tudo de vez?Fica um pouco ruim de ler assim

    • taynaraleal Postado em 24/03/2018 - 15:57:33

      Oi Beatriz, então eu postei tudo de uma vez, pois tenho novas adaptações vindo por ai, e como essa eu só estava repostando pq havia sido apagada eu resolvi finalizar toda de uma vez, sei que fica ruim de ler, mas foi a unica forma de me dedicar as outras, pois meu tempo é minimo. Espero que consiga ler essa, e as outras que estão por vir

  • maite_portilla Postado em 03/08/2017 - 17:24:36

    Agora sim a mai vai ter que dizer tudo pro poncho... Dulce melhor pessoa kkkk... Coninua logo <3<3<3

    • taynaraleal Postado em 08/02/2018 - 18:13:27

      Ainda está ai? vou continuar e com maratonaaaaa, espero que goste

  • Postado em 03/08/2017 - 17:22:18

    Ai Deus, acho que agora sim a mai vai revelar a vdd pro poncho... Adorei a Dulce kkkk... Continua logooo

  • maite_portilla Postado em 24/07/2017 - 17:56:39

    eita, agora a mai nao tem mais para onde fugir. coitada, ate eu fiquei com um pouco de medo desse alfonso. sera que ele vai descobrir quem ela é de vdd? continua... to amando

  • maite_portilla Postado em 22/07/2017 - 00:57:58

    Adorei a historia... Continua <3

  • lunnagomes Postado em 19/07/2017 - 21:04:10

    Estou apaixonada pela história... continua

    • taynaraleal Postado em 08/02/2018 - 18:14:06

      Desculpa pelo sumiço, vou continuar e com maratona, se ainda estiver por ai, e quiser voltar, os comentários me estimulam muito


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.




Nossas redes sociais