Fanfics Brasil - Capítulo 34 A promessa da rosa

Fanfic: A promessa da rosa | Tema: Herroni


Capítulo: Capítulo 34

352 visualizações Denunciar


     Aquele mesmo dia, enquanto o crepúsculo caía sobre a terra, Maite aproximava do acampamento do exército de seu pai circundando o exército inimigo..., o exército de seu marido.


     Ia escoltada por um único cavaleiro, um forte moço escocês que se mostrou desejoso de ajudá-la assim que revelou sua identidade, tanto a ele como a seus companheiros de uma pequena granja situada ao leste de Cheviot Hills. Não era nenhum segredo que o grande exército de Malcolm estava acampado nas planícies justo ao norte de Liddel, como tampouco era que as forças normandas tinham sua base nas suaves colinas do sul de Carlisle. Depois de deixar a granja, dirigiram-se diretamente para o oeste seguindo o caminho que tomavam os veados. Logo se desviaram para o sul. Tinham necessitado tomar algumas precauções. Os dois exércitos estavam firmemente assentados e a muitas milhas ao sul dali, normandos armados e cavalheiros ingleses, vassalos ou aliados de seu marido, cruzavam o território para unir suas forças. Não se atreveram a utilizar o velho caminho romano, mas sim seguiram os caminhos das colinas situadas justo em cima. Em duas ocasiões, Maite e Jamie tiveram que pôr a galope a seus velhos cavalos e sair do caminho para esconderem depois de um grupo de árvores ou um ravina. Agachavam-se atrás de suas montarias mortos de medo enquanto um perigoso e ameaçador exército de cavalheiros normandos montados em seus grandes corcéis avançavam com rapidez e os deixavam atrás. Se Maite não tinha sido consciente com antecedência de quão perigoso era seu plano, percebeu naquele instante. Se a apanhavam, nenhum daqueles homens acreditaria que era a esposa de Alfonso. Não queria nem pensar no destino que correriam Jamie e ela.      Que grande ironia. As tropas do marido ao que tanto queria se converteram em uma ameaça para ela.


     Quando o sol começou a cair e a luz desvaneceu voltando cinza, chegou o momento de deixar atrás o velho caminho romano. O rio Tyne bifurcou para o sul e os dois cavaleiros se dirigiram para o oeste, entrando nos bosques e procurando o acampamento de Malcolm. Não muitas milhas mais adiante se encontrava Carlisle.      Jamie tinha uma mente acordada que tinha utilizado ao longo de todo o dia para manter Maite distraída do perigo que corriam. Mas agora tinha desaparecido seu sorriso desdentado e, apesar do frio, o suor perolava a testa. Maite também suava enquanto o coração retumbava com força em seu peito. O exército escocês não estava longe, mas tampouco o normando, e sem dúvida haveria muitas patrulhas durante a noite. Tanto ela como o moço estavam aterrorizados ante a perspectiva de que os descobrisse uma patrulha normanda. Se a capturavam significaria que sua missão tinha fracassado... quando estava tão perto de triunfar.


     Dez minutos depois de ter abandonado o caminho uma patrulha os deteve. O marcado acento das Terras Altas deixou claro imediatamente que os exploradores eram escoceses. Jamie e Maite riram aliviados. Tinham-no conseguido! De algum jeito tinham deslizado entre centenas de soldados normandos, evadindo suas patrulhas e tinham conseguido alcançar território escocês.


     Assim que Maite tirou o capuz a reconheceram imediatamente apesar do disfarce, por isso não foi necessário revelar sua identidade. Aqueles altos e fornidos soldados, que foram a pé vestidos com mantos escoceses, pareciam incrédulos. Ninguém lhe perguntou o que estava fazendo ali, mas sua incredulidade tinha dado passo a sorrisos agradados. A jovem sabia o que estavam pensando: acreditavam que voltava para casa, que estava traindo seu marido.      A noite caía rapidamente, mas Maite via ainda o suficiente para ficar impressionada ante o tamanho do acampamento de seu pai. Jamie havia fanfarronando de sua amplitude, um alarde apoiado em rumores, e a jovem não o tinha acreditado.


     — Meu pai deve ter reunido ao menos quinhentos homens! — exclamou girando para ver quantos soldados caminhava ao lado de seu esgotado cavalo. — Posso distinguir a mais de uma dúzia de clãs! Vejo as cores dos Douglas, dos Macdonalds e também dos Ferguson. Nem sequer posso recordar o tempo que fazia que não nos apoiavam.


     O fornido escocês ao que se dirigiu sorriu e logo piscou um olho.


     — Esta vez o rei tem tudo a seu favor. Nesta ocasião ganhará, pode estar segura.


     Maite não estava segura, mas a derrota não parecia uma possibilidade.


Perguntou-se o que lhes teria prometido Malcolm a aqueles clãs em troca de seu apoio, e o que ocorreria quando o exército escocês encontrasse com o normando. Estava assustada. A destruição não conheceria limites, a perda de vidas humanas alcançaria umas cotas impossíveis de imaginar. Agora entendia por que Alnwick estava se preparando para um assédio. O exército escocês era o suficientemente grande e ameaçador para tentar acautelar um sucesso a princípio tão impensável.


     Não era momento para ser egoísta, mas Maite não pôde evitar sentir um repentino nó na garganta. Imaginou a si mesmo refugiada na sala de Alnwick com as demais mulheres enquanto assaltavam a fortaleza com pedras, metais, fogo grego, e investiam os muros com poderosos aríetes. Se não conseguia dissuadir ao rei para que não fosse à guerra, em que estado de espírito veria aquela situação? Tentaria seu pai destruir Alnwick, o lar de seu marido, embora ela permanecesse dentro de seus muros?


     Não devia pensar de forma tão negativa. A jovem piscou duas vezes para clarear a visão e olhou para a paisagem formada por uma enorme quantidade de tendas sujas por causa das inclemências do tempo, que estavam desdobradas pelos suaves e verdes campos que tinha diante. A tenda do rei, nem maior nem mais alta que as demais, estava colocada sobre uma pequena ondulação do terreno. Maite viu imediatamente. Seu pai estava apoiado sobre seus calcanhares diante do fogo, rodeado de poderosos latifundiários e de Edward, Edmund e Edgar.


     Maite esqueceu de sua escolta, Jamie e os exploradores, e urgiu seu cavalo para que avançasse mais depressa. Edgar, que foi o primeiro em vê-la, ficou olhando com assombro. Logo correu para ela enquanto gritava de alegria. Maite desmontou e se lançou em seus braços.


     Edgar não a abraçou. Limitou a sacudi-la.


     — Por todos os Santos! O que está fazendo aqui, Maite? Por que não está com seu marido?


     — Eu também me alegro em vê-lo! — Brincou ela lhe dando um abraço.


     Ele se soltou. Nunca tinha demonstrado seu afeto com gestos, porque o considerava algo pouco masculino.      — Espero que tenha uma boa razão para estar aqui e não em Alnwick, o lugar ao qual agora pertence — a repreendeu.


     Diante aquelas palavras, ela observou com atenção seu rosto jovem e sério. Edgar nunca tinha sido crítico com ela, tinham passado a vida desafiando juntos à autoridade e defendendo um ao outro. Entretanto, agora pensava que estava traindo Alfonso.      — Só vim para falar umas palavras com nosso pai. Tenho intenção de retornar a Alnwick esta noite.


     Seu irmão ficou boquiaberto. Tinha uma expressão tão infantil, tão própria do antigo Edgar, que Maite sorriu. Ele tentou dizer algo, mas seus outros irmãos já os tinham alcançado.      — Maite? — Edward tampouco dava crédito. — Como diabos chegaste até aqui?


     — E o que é mais importante, por que veio? — Interrogou-a Edmund.      Maite os observou e foi consciente da preocupação de Edward e da desconfiança de Edmund.


     — Tenho que falar com nosso pai.


     — Traz uma mensagem de seu marido? — Perguntou Edmund com ceticismo. — Esse bastardo se esconde agora atrás das saias de uma mulher?      — Ele nunca se esconderia de ninguém, e menos de gente como você! — Exclamou furiosa.


     — Então nos diga de uma vez por que vieste — grunhiu Edmund.


     Ela ruborizou. Tinha defendido Alfonso de forma instintiva, mas não diplomática.      — Não trago nenhuma mensagem de meu marido. Ele não sabe que estou aqui.


     Sua declaração fez que Edmund elevasse uma sobrancelha com gesto cético.


     — Deus santo, Maite, por que está aqui? Não teria que ter vindo! Hoje houve várias escaramuças, já perdemos três homens e a luta não começou ainda. Poderia ter se envolvido em alguma delas! — Exclamou Edward preocupado.      — Tinha que vir — assegurou Maite com obstinação. — Devo falar com nosso pai.      — E o que é isso tão importante que a fez viajar até aqui para ver-me sem pedir permissão a seu marido? — Perguntou Malcolm em tom gélido.


     Maite se girou. O rei escocês estava atrás dela com o rosto cinzelado em pedra. Nunca antes se dirigiu a sua filha daquele modo. Seu frio comportamento fez que a jovem afogasse um grito de alegria e ficasse paralisada em vez de se lançar a seus braços.      — Pai?


     — Fiz-te uma pergunta!


     — Podemos falar a sós? — Perguntou erguendo-se. O que estava ocorrendo? O que acontecia?


     — Por quê? Tem algo que esconder de seus irmãos?


     — Por que me trata com tanta frieza? — Inquiriu Maite tremendo. — Falas como se estivesse cheio de ira... Como se me odiasse!


     — Acaso não tenho motivos? — Rugiu Malcolm. Sua voz profunda rasgou o ar da noite de tal forma que os homens das outras tendas giraram para olhá-los. Me desobedeceste gravemente! Acaso não te expliquei por que permiti que te casasse com esse bastardo? Poderia tê-la enviado para França! Poderia ter casado você com algum latifundiário velho e pobre do norte! Mas era a oportunidade perfeita.


Teria a minha própria filha casada com um de meus piores inimigos. — Maite estava petrificada. — Não me advertiu da invasão de Carlislee, a perdemos por culpa de sua traição. — A jovem não podia respirar. Sentia que ia desmaiar.


Queria morrer naquele momento, ali mesmo. — Diga o que tenha que dizer depressa


— seguiu Malcolm. — Agora não tenho tempo que perder. Mas se tiver vindo aqui como sugeriu Edmund, para pronunciar as palavras que seu marido deveria dizer, não te incomode. Já não haverá mais conversações entre nós. O tempo das palavras já passou. Agora é o momento de que falem as espadas.


     — Eu não te traí — conseguiu dizer finalmente Maite. A escuridão que se ia dando procuração da tarde nublava a visão. Ou eram lágrimas? — Jurei obedecer meu marido, pai. Não esteve bem por sua parte me pedir que rompesse meus votos. E esteve pior ainda que aceitasse este matrimônio pensando que me converteria em uma espiã desde o começo.


     Malcolm elevou a mão e Maite gritou. Imediatamente, Edward e Edgar saltaram sobre seu pai para impedir que a golpeasse. Depois de um momento, o rei se recuperou e, resfolegando, deixou cair o punho.      — Já não é minha filha — sentenciou com voz rouca.


     — Pai! — Gritou Maite.


     — Ouviste-me? — Explodiu ele. — Já não é minha filha!


     — Mas eu te quero!


     Malcolm a ignorou, furioso.


     — Minha filha é uma moça escocesa leal e valente, não alguém como você!


Você não é minha filha!


     Até aquele momento, a jovem tinha chorado em silêncio, entretanto, naquele instante, seus olhos ficaram secos e se ergueu orgulhosamente. Por dentro se sentia morta. Morta e maior... muito maior. Mas sua mente estava muito viva e agora seus pensamentos estavam centrados na poderosa imagem de seu marido. Seu pai se equivocava ao repudiá-la, mas agora não importava. Pertencia a outro homem, a Alfonso Herrera.


     — Pronunciei meus votos diante Deus — sussurrou.


     Maite escutou a si mesma e lhe surpreendeu falar com tanta calma e dignidade quando tinha o coração quebrado em mil pedaços.


     — Os votos que se jura diante do inimigo terá que rompê-los! Sobre tudo os que se pronunciam diante de Alfonso Herrera. — Malcolm fez um esforço por acalmar-se. Seu duro rosto estava ruborizado. Respirou fundo e se inclinou ameaçador sobre a filha a que acabava de repudiar. — E agora, milady, o que é o


que tem que dizer? Fala rápido e parte.      Maite elevou ligeiramente o queixo.


     — Vim suplicar que acabe com esta loucura. Por favor, se retire. Retire-se antes que morram centenas de homens, antes que esta fronteira se alague com sangue inocente.


     — Seu marido a enviou! — Exclamou incrédulo. — É um covarde, depois de tudo? Tem medo de enfrentar a mim no campo de batalha? — Malcolm riu. — Sabe que esta vez não posso perder! Desta vez ganharei! Nunca antes tinha existido um exército escocês tão poderoso! A vitória será nossa!      — Mas, a que preço? — Murmurou Maite.


     — Nenhum preço é muito alto! — Declarou seu pai.


     A jovem girou, lágrimas de prata escorriam por suas ruborizadas bochechas. Alguém, Edward, passou-lhe o braço pelos ombros e a levou dali. Maite disse a si mesmo que não devia chorar. Tinha fracassado em seu intento de evitar a guerra.


Tinha cometido uma loucura ao pensar que poderia evitar que Malcolm lutasse.


     Quanto necessitava de Alfonso naquele momento! Devia retornar para casa imediatamente. Devia voltar para seu lar antes que ele chegasse a averiguar que partiu... antes que pensasse o pior.


     — Vou, Ed — disse Maite vacilante mais tarde. Tinha um sorriso tão triste que os olhos de Edward encheram de lágrimas. — Foi uma loucura acreditar que poderia apartá-lo de sua trajetória. Pode me proporcionar um cavalo e um escolta?


     Seu irmão lhe levantou o queixo e logo agarrou brandamente os braços.


     — Maite, não fala a sério. Não pode compreender nem aceitar que agora deva primeiro lealdade a Herrera, mas o superará com o passar do tempo.


     — Repudiou-me! — Exclamou olhando a seu irmão sem uma lágrima nos olhos.


     Edward suspirou. O olhar de Maite, muito brilhante, e seu tom de voz quase normal angustiavam-no mais do que o fariam os gritos e os prantos. Conhecia sua valente irmã pequena e sabia que nunca mostraria sua debilidade. Mas de repente, lhe ocorreu pensar que apenas a conhecia. Quando escapou de Liddel para encontrar com Doug Mackinnon não era mais que uma moça audaz. A valente mulher que agora o olhava com um coração quebrado que tratava de ocultar, era justo isso, uma mulher com uma coragem incomparável.


     — Mudará de opinião, estou seguro. — Edward se assegurou de que sua irmã não pudesse ver seus olhos, porque não estava absolutamente convencido do que acabava de dizer.      Maite mordeu os lábios e guardou silêncio durante uns instantes.


     — Já não sei quem é.


     Edward lhe acariciou o braço.


     — Sempre o viu como a um deus, mas o certo é que nosso pai não é mais que um homem. Não é um mau homem, Maite, mas tem seus defeitos, igual a todos.


     Ela o olhou sentindo que se afogava.


     — Se chorar se sentirá melhor — assegurou seu irmão estreitando-a entre seus braços.      — Não. Não chorarei. — Afastou-o e respirou fundo. — Não importa. Quão único importa é que falhei. A guerra seguirá seu curso e morrerão muitos homens. Talvez inclusive... — Sua voz rompeu. — Por favor, Deus — sussurrou. — Alfonso não.


     — É um grande soldado, Maite, não tema por ele.


     — Não posso evitá-lo. — Sua irmã o olhou, tremente. — E o que ocorrerá depois? Não há esperança de futuro nem de paz para nossas famílias quando esta guerra comece, Ed.


     O silêncio se impôs uns momentos, até que Edward falou.


     — Eu acredito no futuro, Maite. Acredito que está em nossas mãos, nas dos filhos, retificar os enganos dos pais e desafiar ao passado.      — A que refere? Acredita que algum dia, quando você for o rei, deterá esta sangrenta guerra de fronteiras?


     — Assim acredito.


     — Você sabe algo que eu não sei! Vejo-o em seus olhos! Do que se trata? — Perguntou aferrando-se a seu irmão.


     — Há esperança — respondeu ele depois de um instante de vacilação. — Mas só no caso de que Alfonso seja um homem de palavra. É?      — Sim.


     — Eu também acredito.


     — O que te prometeu, Ed? — O ar faltava a Maite.


     — Algum dia, quando chegar o momento, Alfonso me apoiará em minha luta pelo trono escocês. — Parou, e logo acrescentou: — Se Deus quiser.      A jovem não pôde articular palavra.


     Seu irmão sorriu e lhe deu um tapinha na mão.


     — Assim não se sinta tão mal, irmãzinha. Nem tudo está perdido. Quando chegar o momento, seu marido e eu nos converteremos em aliados.      — Quando formou esta aliança? — Gritou Maite. — Como é possível que não tenha me informado?      — Esta é minha Maite! — Riu. — Irmã, por que deveríamos te dizer algo a respeito de um juramento formulado em segredo?


     — Sabe Malcolm?


     — Sabe, mas acredita que Alfonso não manterá sua palavra e está muito furioso por Carlisle para se preocupar com o futuro. — O tom de Edward era sombrio e triste. — Esse foi o preço que pagou por suas bodas, Maite.      — Oh, céus! — Gemeu, cobrindo o rosto com as mãos.


     — O que te ocorre? — Perguntou Edward preocupando-se imediatamente.


Normalmente Maite era indomável, mas aquela noite... Aquela noite tinha a impressão de que estava muito longe desse estado. Sua fragilidade o assustou.      — Sabia que eu era um sacrifício político — confessou finalmente em um sussurro triste. — Mas sendo por ti não teria importado. É só que gostaria de saber a verdade antes. Mas agora já não muda nada.


     Seu irmão não soube o que dizer. A aliança secreta não mudava o fato de que


Malcolm tivesse repudiado com tanta crueldade a sua filha aquele dia, um fato que Edward temia que fosse irrevogável. Seu pai não era precisamente um homem razoável quando guardava rancor de alguém.


     — Você ama a seu marido, e isso é quão único importa agora, Maite. — Ela elevou o olhar antes de voltar a se desfazer de novo em lágrimas. — O que é que tanto se preocupa? Não se trata só de nosso pai, verdade?      — Tenho que voltar para casa. — Sua voz adquiriu um tom agudo. — Devo fazêlo antes que seja muito tarde.      — Maite — começou a dizer ele sem saber muito bem por onde seguir.


     Ela o interrompeu agarrando suas mãos e as apertando com força.


     — Pode arrumar um cavalo e escolta, Ed? Tenho que ir agora mesmo!


     — Não posso, Maite.      — O que?


     — Escute-me — disse com urgência. Ela estava pálida pela apreensão. Se a tivesse esbofeteado não teria sido pior. — Arriscou muito vindo aqui como o fez, montada em um cavalo e escoltada por um granjeiro cuja única arma era uma faca oxidada. Reflete, Maite!      — Tinha que tentá-lo — replicou ela com voz débil.


     — É muito perigoso retornar agora. A batalha dará começo amanhã à alvorada. — Vacilou só um instante, mas Maite estava tão angustiada que não percebeu, por isso Edward decidiu não lhe contar nada em relação aos planos que Malcolm tinha para Alnwick. — Tem que confiar em mim. É muito perigoso e não te mandarei de volta.      — Já vejo. — A voz da jovem mal foi audível. Ao Edward preocupou que estivesse a ponto de desmaiar, uma façanha que nunca a tivesse imaginado capaz. Mas não desmaiou. Ficou de pé, vacilante. — O compreendo. — Tratou de sorrir, mas não o conseguiu. — É só um atraso. Quando tudo tenha terminado, voltarei para casa.


     — Sim — respondeu seu irmão olhando-a de maneira estranha, encolhia o coração embora soubesse que estava fazendo o que devia. — Quando tudo tenha terminado poderá voltar para casa. — Tremeu sem poder evitar sentir-se triste. Maite já não pertencia a Escócia.


     — De repente me sinto muito cansada. Posso dormir em sua tenda?


     — Claro que não! Temo que não vais dormir esta noite, Maite. Não permitirei que fique em nosso acampamento. Vou mandá-la para Edimburgo. Ali estará a salvo.      Para ouvir aquilo Maite empalideceu como uma morta.


******


     Várias horas mais tarde, a só umas milhas dali, Alfonso estava convexo em sua cama, incapaz de dormir. Logo amanheceria, entretanto, acabava de deitar-se porque sua presença era necessária no conselho de guerra que tinha tido lugar aquela noite. Seu pai e irmãos eram parte dos doze líderes que guiariam às tropas normandas. Como de costume, a experiência militar de Rolfe resultou muito valiosa. Geoffrey estaria no comando das forças de Canterbury, e Brand seria o capitão das tropas reais. Também tinha acudido o príncipe Henry, tinham-no convencido para que se apresentasse com seus mercenários normandos em nome de seu irmão, o rei. E Rufus, que a sua vez era um general perspicaz, tinha ido até ali para comandar a todos naqueles tempos de guerra.      Todos estavam perfeitamente a par de que o exército ao que iriam enfrentar no dia seguinte era o mais poderoso que Malcolm jamais tinha conseguido reunir. A guerra seria a mais sangrenta de todas as levadas a cabo até aquele momento, e talvez, só talvez, não conseguissem a vitória.


     Alfonso pensou se a paz que tanto ansiava reinaria alguma vez na fronteira.


Naquele momento seu desejo só parecia um sonho. E o pior era que sua decepção estava tingida por um tom amargo, porque se a paz não chegava à fronteira, tampouco chegaria nunca a seu matrimônio.


     Maldição! Sua relação não deveria depender da guerra ou a paz. Sua esposa devia lealdade e amor tanto se lutava ou não, e independentemente de quem enfrentasse. Necessitava-a. Nunca antes em sua vida se permitiu sentir uma necessidade semelhante por ninguém. Era um simples mortal, absolutamente invencível. Necessitava que sua esposa estivesse a seu lado tanto nos assuntos cotidianos como nos importantes. Mas não estava a seu lado, a não ser atrás dele... com uma adaga apoiada em suas costas.


     Maite tinha tentado enviá-lo ao inimigo, a uma armadilha. Faria falta mais de uma vida para esquecê-lo. Realmente lamentava ter lhe dado a oportunidade de que o traísse. Deus, lamentava-o. Lamentava ter se apaixonado por ela. Lamentava amá-la naqueles instantes.


     Como tinha chegado sua vida aquele ponto? Não era um homem forte, e esse era seu mais oculto segredo. Era débil, estava apaixonado por uma mulher que tinha tentado enganá-lo e traí-lo. Como podia existir tanta dor quando havia amor? Como ia suportar aquela tortura durante o resto de sua vida?


     Se ao menos... Não era homem que esbanjasse seu tempo em sonhos vãos, mas aquela frase voltava para sua mente uma e outra vez. Se ao menos Maite fosse o que parecia... Poderia lhe perdoar tudo se pudesse ao menos confiar nela.


     Mas sabia que não podia.


     Alfonso riu em voz alta. Aquele som cheio de dor ressonou asperamente no silêncio sepulcral da noite. A noite anterior tinha estado a ponto de acreditar nela. Tinha desejado acreditar. E por isso Maite se tornou tão perigosa. Queria acreditar que era sincera. E durante um instante acreditou.


     O que era uma loucura.


     E ainda desejava poder confiar nela. O normando fechou os olhos. Talvez, só talvez, devesse considerar uma vez mais a remota possibilidade de que Maite tivesse falado com a verdade na noite anterior. Alfonso sabia que ela via Malcolm como devia fazê-lo uma filha, como um herói, não como o homem que realmente era. Ignorava que seu pai era um mentiroso desumano e um trapaceiro ambicioso. Não podia saber que quebrava sua palavra com a mesma facilidade com que o vento mudava de direção. Não podia saber que o rei escocês amava a guerra e a vingança muito mais do que nunca chegaria a apreciar a paz. Confiava de coração que Maite nunca chegasse a descobrir a verdade.


     E embora Alfonso conhecia muito bem como era Malcolm, respeitava-o. Era um adversário perigoso, porque era um homem inteligente e um líder forte. Se não tivesse sido desumano, desonesto e egoísta nunca teria unido aos eternamente rivais clãs escoceses sob o escudo de uma única nação, nem os teria mantido sob seu mando durante trinta e cinco largos anos. Malcolm era um excelente rei.      Mas um líder semelhante nunca escutaria os desejos de paz de sua filha, sobre tudo se saíam da boca de seu pior inimigo. Alfonso apertou os punhos. Ali estava o verdadeiro perigo que Maite supunha para ele. Sabia que sua intenção não tinha sido enviá-lo a Malcolm para convencê-lo de que procurasse a paz em lugar da guerra, sabia no mais profundo de sua alma, e entretanto estava acordado em plena noite, sucumbindo a seu encanto inclusive na distância. Estava a ponto de optar por pensar o melhor dela em lugar do pior.      Se continuava por aquele caminho, algum dia, sem dúvida, ela o destruiria.


Tentando não seguir pensando em Maite, levantou-se e saiu ao exterior da tenda. Fazia uma noite muito fria, e ao respirar soltava baforadas. Agradeceu o frio. A escura massa de nuvens impedia de ver a lua e era provável que no dia seguinte em lugar de chover nevasse. Esfregou as mãos para esquentá-las. Já não pensaria mais em sua esposa. Era muito doloroso.


     De repente, ficou imóvel e escutou. Seu pai se aproximava entre as sombras.


Era muito cedo para que Rolfe estivesse levantado, já que o conde, guerreiro consumado, era capaz de dormir profundamente antes da batalha. Só podia trazer más notícias.      Ao parar ao seu lado Rolfe falou.


     — Acabo de receber uma mensagem de Alnwick. — Alfonso apertou a mandíbula.


Não podia ser nada relacionado com sua esposa, disse-se. Não. — Sua esposa partiu.


     — Partiu?


     O conde explicou que Maite se disfarçou de aldeão para escapar da fortaleza. Seu filho sofreu um baque tão grande que não quis escutar nada mais e inclusive cambaleou, obrigando a seu pai a sujeitá-lo para que não perdesse o equilíbrio. Mas Alfonso não era consciente da presença de Rolfe. Maite o tinha deixado. Tinha fugido para Escócia para se reunir com sua família. Tinha o deixado na véspera da guerra, demonstrando sua traição de maneira definitiva.      Sua esposa o tinha abandonado. Algo morreu dentro de seu coração, mas outra coisa, também poderosa e esmagadora, cobrou vida.


     — Alfonso? — Chamou-o Rolfe.


     Ele não respondeu. Não podia. Alfonso sentiu chegar a fúria e a recebeu com os braços abertos.



Compartilhe este capítulo:

Autor(a): taynaraleal

Este autor(a) escreve mais 12 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?

+ Fanfics do autor(a)
Prévia do próximo capítulo

     Maite se dirigia a toda velocidade para Edimburgo. Viajavam aproveitando a escura e gelada noite. Dava a impressão de que ia nevar. No ar formavam nuvens de vapor procedentes do fôlego de suas montarias. O passo da escolta da princesa escocesa era implacável. Mantinham aos esgotados cavalos ao galope como se os perseguisse o ex&ea ...


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 11



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • Beatriz Herroni Postado em 23/03/2018 - 15:37:22

    Pq postou tudo de vez?Fica um pouco ruim de ler assim

    • taynaraleal Postado em 24/03/2018 - 15:57:33

      Oi Beatriz, então eu postei tudo de uma vez, pois tenho novas adaptações vindo por ai, e como essa eu só estava repostando pq havia sido apagada eu resolvi finalizar toda de uma vez, sei que fica ruim de ler, mas foi a unica forma de me dedicar as outras, pois meu tempo é minimo. Espero que consiga ler essa, e as outras que estão por vir

  • maite_portilla Postado em 03/08/2017 - 17:24:36

    Agora sim a mai vai ter que dizer tudo pro poncho... Dulce melhor pessoa kkkk... Coninua logo <3<3<3

    • taynaraleal Postado em 08/02/2018 - 18:13:27

      Ainda está ai? vou continuar e com maratonaaaaa, espero que goste

  • Postado em 03/08/2017 - 17:22:18

    Ai Deus, acho que agora sim a mai vai revelar a vdd pro poncho... Adorei a Dulce kkkk... Continua logooo

  • maite_portilla Postado em 24/07/2017 - 17:56:39

    eita, agora a mai nao tem mais para onde fugir. coitada, ate eu fiquei com um pouco de medo desse alfonso. sera que ele vai descobrir quem ela é de vdd? continua... to amando

  • maite_portilla Postado em 22/07/2017 - 00:57:58

    Adorei a historia... Continua <3

  • lunnagomes Postado em 19/07/2017 - 21:04:10

    Estou apaixonada pela história... continua

    • taynaraleal Postado em 08/02/2018 - 18:14:06

      Desculpa pelo sumiço, vou continuar e com maratona, se ainda estiver por ai, e quiser voltar, os comentários me estimulam muito


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais