Fanfics Brasil - Capítulo 36 A promessa da rosa

Fanfic: A promessa da rosa | Tema: Herroni


Capítulo: Capítulo 36

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Parecia impossível. A rainha da Escócia estava morta! Margarida, sua querida mãe, estava morta, igual a seu pai e seu irmão. Aquilo era injusto! Não podia suportá-lo, não podia!


     Sem pensar, procurando um consolo que não encontraria, apoiou-se contra o áspero muro de pedra da parede e começou a chorar até ficar sem forças. Logo golpeou as pedras do muro até que as mãos sangraram, gritando sua dor. Naquele


momento odiava Alfonso por sua participação em suas mortes, em seus assassinatos. Todos estavam mortos, Malcolm, Margarida, Edward... Não voltaria a vê-los de novo.


     Finalmente já não pôde seguir chorando, seus joelhos cederam e ficou prostrada no chão. Deus, o quanto estava cansada! Mal podia sentar. Não podia continuar assim, não podia, estava tão exausta que duvidava que pudesse sequer caminhar.


     Mas inclusive em seu estado, pensou no perigo que se abatia sobre


Edimburgo, um perigo que a ameaçava não só a ela, mas também a seus irmãos, inclusive a Escócia. Secando as últimas lágrimas, disse-se que não havia tempo para chorar. Havia muitas coisas em jogo. Vidas. Um reino.


     Malcolm estava morto. A Escócia era um reino sem rei. A corte estava em


Edimburgo e os clãs, mais fortes do território chegariam logo com a esperança de ficar com o poder. Naqueles momentos devia haver ao menos uma dúzia de chefes importantes aproximando de Edimburgo esperando ficar com a coroa.


     Todos seus irmãos tinham direito legítimo a reclamar o trono. Edmund não importava. Poderia cuidar de si mesmo, como sem dúvida estava fazendo. E Ethelred estava a salvo ao ser um homem de Deus. Mas ela tinha a responsabilidade de cuidar de seus outros três irmãos. Todos e cada um deles supunham uma ameaça para o próximo rei da Escócia. A Maite não ocorreu pensar que a responsabilidade também deveria recair em Edgar.      Decidida, obrigou-se a ficar de pé sem sentir que seus movimentos eram os de uma anciã.


     De repente, ficou imóvel. Os sons que invadiam a habitação tinham mudado. O coração bateu com um medo instintivo enquanto tentava compreender o que estava escutando. Pensou que podia tratar de um trovão distante, mas no céu não havia nenhuma só nuvem. Maite afogou um grito. O que estava ouvindo por cima dos surdos lamentos do castelo não era um trovão longínquo, a não ser o rápido avanço de um grande exército invasor. Oh Deus, tão logo não! É que alguma vez ia ter uma pausa?


     Então Edgar irrompeu no quarto. Maite escutou lívida e chocada que Donald


Bane tinha sido nomeado sucessor de Malcolm e que Edmund tinha unido forças com seu tio para usurpar o trono. Enquanto isso, fora, o trovão ia se fazendo mais forte.


     Os irmãos se olharam em silencio durante um instante. A jovem não sentia nenhum alívio, Edmund seria tão cruel naquelas circunstâncias como qualquer estranho... ou inclusive mais.


     — Reúne a nossos irmãos! Faz-o agora! E traz uma carroça para... — Olhou a sua mãe. O controle que tanto havia custado conseguir esfumou e gemeu em silencio. — Para a rainha. Enterraremo-na na abadia de Dunfermline, onde podemos procurar refúgio. Depressa!


     Seu irmão saiu do quarto precipitadamente para cumprir suas ordens. Maite não podia deixar de tremer, não naqueles momentos, e se agarrou ao genuflexório para evitar desabar. A dor, o medo e um cansaço extremo a ultrapassavam, imobilizando-a.


     Fazendo um grande esforço, a jovem se aproximou de sua mãe e a tampou.


Edgar voltou em pouco tempo, olhou a sua irmã longamente e logo correu para a cama para levantar sua mãe em braços.      — Como pôde nos abandonar, Edmund? — Perguntou Maite, tratando de lhe seguir o passo.


     — Já não faz parte desta família — afirmou Edgar enquanto corriam escada abaixo e saíam para fora do castelo. O sol brilhava com tanta força que durante um instante os cegou. Todos seus irmãos já estavam ali, exceto, é obvio, Edmund o traidor. Alexander estava tentando consolar ao pequeno Davie, que chorava enquanto Edgar depositava sua mãe em um carroça puxado por um cavalo.      Foi então quando Maite percebeu que no castelo reinava um silêncio aterrador. Todos os sons, inclusive os angustiantes lamentos, tinham cessado.


Tratava-se de um silêncio antinatural, aterrador. Então caiu na conta: o espantoso clamor do exército invasor tinha cessado. Maite gritou quando Edgar a obrigou a montar em um cavalo e subiu ele mesmo de um salto a seu próprio corcel. O exército parou... Para ficar em posição de ataque!      — É Donald Bane, verdade?


     — Não. — Edgar ficou a seu lado.


     — Então... Quem? — Aterrada, não pôde seguir falando.


     Seu irmão dirigiu um olhar largo e escuro, e então Maite soube. Chocada, sentiu que em seu peito se mesclavam todo tipo de sentimentos: amor, ódio, medo...      — É o bastardo de Northumberland — espetou Edgar. — Trouxe seu exército diretamente até Edimburgo. Acaso veio reclamar o trono para si mesmo?     


— Não — sussurrou Maite, sentindo que enjoava — veio reclamar a mim.


Quarta Parte


Exilada


     A abadia de Dunfermline estava situada sobre um montículo justo ao outro lado do estuário de Forth, em Edimburgo. Estava rodeada de grossos muros de pedra de meia altura que, apesar de que servissem de barreira para vagabundos e foragidos, não podiam impedir o passo de um exército invasor. E isso era exatamente ao que enfrentava agora a abadia, pensou o abade aterrorizado.


     Uma centena de soldados a cavalo, com as armaduras quase ocultas sob as grossas capas que todos e cada um levavam para proteger do intenso frio, formavam uma linha na ladeira da colina coberta de neve. O sol refletia sobre cem escudos, e cem cavalos fortes pisavam no solo nevado, convertendo-o em barro escuro. Uma bandeira negra, branca e dourada ondeava as filas dianteiras. No centro tinha uma rosa de caule curto, a rosa vermelha de Northumberland. Se aquilo não fosse suficiente para que ao abade tremessem os joelhos, naquele momento tinha na sua frente o líder daqueles normandos que o olhava da grande altura de seu magnífico cavalo de guerra. O abade supôs que tivesse resultado igual de imponente se estivesse de pé.


     Não tinha posto o elmo, assim pôde vê-lo claramente, e seus marcados rasgos, aterradores em sua frieza, assustaram-no inclusive mais que aquele grande desdobramento de poder diante da óbvia falta de defesas da abadia.


     O abade de Dunfermline tinha decidido receber seu visitante com valor, abrindo a estreita porta lateral que havia no muro e saindo ao exterior. Aquela entrada podia permitir o passo a um homem a pé, mas não a um com cota de malha e fortemente armado, e muito menos a uma tropa de cavalheiros. Para isso necessitariam que abrisse as duas portas dianteiras, algo que tinha decidido não fazer. Embora era muito consciente de que se o homem que tinha diante si decidia entrar na abadia contra sua vontade, não haveria nada que pudesse impedi-lo.      — O que deseja, milorde?


     — Estão dando refúgio à princesa Maite. Soltem-na imediatamente.


     O abade não tinha medo por si mesmo nem pela abadia, ou pelos monges e as monjas, mas sim pela jovem que tinha ido a ele em busca de abrigo para ela e seus irmãos em uma noite de inverno. Podia imaginar com facilidade o que o homem que tinha diante si poderia fazer a aquela princesa tão formosa e angustiada, e


não tinha nenhuma intenção de entregá-la. Em silêncio sussurrou uma prece a


Deus, sem dúvida necessitava de sua ajuda naquele momento.


     — Senhor, sabe que esta é a casa de Deus. Ela procurou refúgio aqui. Não posso permitir que viole o sagrado asilo que protege este lugar.      — Senhor abade, preferiria não violar a casa de Deus. Mas se tiver que fazê-lo, farei-o. — Seu frio e selvagem olhar fez que o abade estremecesse. Sabia que aquele homem falava a sério.


     — Não posso lhes permitir a entrada, senhor.


     — Está a par que a mulher que procuro é minha esposa?


     O abade engoliu saliva. É obvio que estava a par daquele fato.


     — Mesmo assim, devo me negar. É uma questão de meu dever para Deus.


     — Vou entrar pela força. — A determinação marcava os traços do normando.


     O abade elevou o queixo, apertou os lábios e não se moveu.


     Alfonso girou e elevou uma mão. Dois cavalheiros posicionaram imediatamente à frente das tropas.


     — Derrubem as portas — ordenou.


     Geoffrey ia montado ao lado de Alfonso. Sua tez mostrava uma palidez extrema, mas não protestou. Os dois cavalheiros avançaram com as grandes lanças em riste e avançaram contra as portas. A madeira rangeu e gemeu, mas os fechamentos de ferro não cederam. Uma nova carga teve êxito e as duas portas abriram com um bramido.


     O abade olhou ao senhor Herrera. Tinha o rosto gasto e macilento, como se não tivesse dormido durante dias. Entretanto os olhos brilhavam com uma intensa emoção... Uma emoção furiosa e cheia de ódio. Parecia uma besta mais que um homem.      Então, o normando voltou a fazer um gesto breve com a mão e esporeou seu cavalo para que avançasse. Uma dúzia de homens o seguiu para o claustro.


     Uma vez dentro, Alfonso desmontou e deslizou o olhar pela igreja da abadia, situada no fundo do recinto. Dentro dela, o sacrário# encontrava situado em direção ao oeste, olhando para Jerusalém. O normando não se incomodou em olhar nem um instante o resto das edificações, formadas pelo claustro retangular onde trabalhavam os monges entre os pilares e passeavam para fazer exercício, a capela, o refeitório e a zona destinada aos dormitórios.      — Não permita que ninguém saia — indicou a Geoffrey, dirigindo um único olhar.


     Alfonso cruzou a grandes pernadas o pátio gelado e se dirigiu diretamente à igreja. Abriu-a de um golpe e, uma vez dentro, parou um instante para que seus olhos acostumassem à penumbra.


     Edgar estava no centro da nave com a mão na espada. Atrás dele, em pose similar, achavam-se seus irmãos pequenos, Alexander e Davie. Ethelred surgiu de entre as sombras dos bancos, claramente desarmado e com hábito, e se colocou ao lado de Edgar, também em frente a Alfonso. Não havia nem rastro de Maite.      — Irá ao inferno, milorde — assegurou Ethelred em voz baixa. — Não vale a pena.      — Onde está? — Perguntou Alfonso com frieza.


     — Foi-se — espetou Edgar. — Nunca voltará para seu lado. Nunca.


     O normando respirou fundo. Sentia uma raiva imensa.


     — Onde foi, Edgar? Responda-me. Não me obrigue a lhe surrupiar isso.


     Ele também levou a mão à espada e cada palavra que pronunciava era como uma laje. O controle que exercia sobre si mesmo era tão precário que se não conseguia o que procurava o perderia e cortaria ao irmão de Maite em pedaços como forma de obter a informação que desejava e chegar até sua esposa.


     Ethelred deu um passo adiante.


     — Não permitirei que manche esta igreja com sangue e guerra! Ela não partiu. — Dirigiu a Edgar um olhar sombrio. — Está na zona destinada aos dormitórios. Negou-se a procurar refúgio neste lugar sagrado, milorde. Pensa nisso.


     O sorriso de Alfonso resultou aterrador. Não importava a razão pela qual não tinha querido refugiar-se com seus irmãos na igreja. Saiu dali dando grandes pernadas, cruzou o claustro e se dirigiu ao lugar indicado por Ethelred. Quando abriu a porta encontrou uma sala larga e estreita. Havia pequenas habitações em fila, cada uma com uma cama. Alfonso percorreu a sala olhando em cada habitação. Todas estavam vazias. Quando já tinha inspecionado ao menos duas dúzias daqueles cubículos, encontrou-a.      Estava na última habitação, contra a parede, olhando para a soleira, esperando-o.


     Alfonso mal podia respirar, a fúria o afogava. Durante um comprido instante não se moveu. Com seus olhos lhe ordenou que guardasse silêncio, porque se oferecia uma só palavra de explicação, uma maldita mentira mais, sabia que perderia o controle e a mataria.


     Mas era esperar muito. Maite tremia e estava pálida como a neve que cobria os olmos nus. Entretanto, falou.


     — Milorde — disse com voz rouca. — Por favor, por favor, escuta...


     Como tinha imaginado, Alfonso perdeu o controle. Elevou a mão e a golpeou no rosto com a palma aberta. Maite afogou um grito quando bateu com força contra a parede e logo caiu no chão.      Alfonso girou para ela, ofegando, tremendo, odiando a si mesmo... Mas não tanto como a odiava.      — Não — disse finalmente, quando conseguiu falar. — Não me conte nenhuma mentira mais. Não há nada que possa dizer que me interesse escutar.


     Maite ergueu-se apoiando nas mãos e sentou no frio chão de pedra. O quarto girava, e com ela a poderosa e imensa figura de Alfonso. A dor apoderou dela feito ondas. Mas ainda conseguiu pensar se ele teria lhe quebrado a mandíbula e se teria tudo terminado definitivamente entre eles.      — Adverti-lhe isso. Não... Não te atreva a falar. Se disser que não quero ouvi-la, é que não quero. Vou enviá-la para Tetly.


     Maite piscou. A dor que sentia estava transformado, adquirindo uma natureza diferente. Ia mandá-la para o exílio. Ao menos não a mataria, não sabia muito bem o que esperar quando por fim se encontrassem. Tinha precisado de uma boa dose de coragem para ficar em seu quarto esperando-o, em lugar de se esconder na igreja. Alfonso não ia matá-la, mas não sentia alívio. O exílio era um destino que temia tanto como à morte. Porque, acaso não era a morte de seu matrimônio?      E ele não ia permitir que ela falasse em sua defesa. Maite queria falar, precisava falar... Mas agora seu marido a aterrorizava, tinha medo de que estivesse tão fora de controle que voltasse a golpeá-la e a matasse junto com a vida que levava em seu ventre. Ou talvez albergasse aquela sinistra e mortífera intenção dentro de seu peito e só necessitasse o leve fôlego que proporcionassem as palavras desesperadas de Maite.


     Ela começou a chorar outra vez, como fazia com tanta freqüência durante aqueles dias enquanto revivia em sua mente a imagem de Malcolm lhe dizendo que já não era sua filha, de Edward levando-a dali, abraçando-a, consolando-a, de sua mãe ajoelhada na capela de Edimburgo enquanto rezava.


     E todos estavam mortos. Era muito. Não podia suportá-lo.


     Seu marido, o pai de seu filho ainda não nascido, o homem ao que ela tinha odiado brevemente e deveria seguir odiando embora não pudesse, odiava-a. Odiavaa o suficiente para enviá-la para longe, sem dúvida para sempre. E se não era cuidadosa, seu ódio poderia levá-lo a matar sem pensar a ela e a seu filho.      — Suas lágrimas não me comovem — disse Alfonso com frieza. — Não voltará a me comover de novo.


     Maite queria lhe contar do menino. Talvez se falava da vida que florescia em seu interior se acalmasse, inclusive pode que voltasse a amá-la. Estava desesperada. Faria algo para que voltasse a amá-la.      Mas então ele disse:


     — Quando tiver me proporcionado um herdeiro, a exilarei na França.


     Chocada, a jovem ficou imóvel. Sabia que aquele fato resultaria irrevogável. Uma vez encerrada em um convento francês, não poderia voltar a aproximar dele, nunca conseguiria fazê-lo mudar de opinião... Porque não voltaria a vê-lo de novo. Durante um instante se sentiu tão doente que pensou que ia vomitar.      Alfonso aproximou da porta, mas antes de sair, girou ficando meio de lado para ela.


     — Estou muito furioso para pensar sequer em me deitar contigo em algum momento de um futuro próximo. Mas é jovem e minha ira acabará cedendo. Quando a necessidade me visitar, eu irei em busca de ti. Cedo ou tarde terei um filho — assegurou olhando-a com olhos cheios de ódio.      Maite gemeu. Quando lhe desse um herdeiro, Alfonso a enviaria para longe e tudo teria terminado definitivamente entre eles.      As seguintes palavras de seu marido confirmaram suas suspeitas:


     — E quando tiver a meu filho, já não haverá mais necessidade.


     Ao ver como girava e partia, Maite desabou no chão em meio soluçando. Mas já não era consciente de seu rosto marcado, só da dor que sentia no peito, da angústia. Tinha lhe destroçado o coração. O tinha quebrado em mil pedaços, deixando em seu lugar uma pena dilaceradora.


     Geoffrey foi em busca de sua cunhada e ela observou como empalidecia ao ver o rosto. Tinha um lado da mandíbula inchado, logo estaria púrpura.      — Está bem? — Perguntou aproximando-se e pegando pelo braço, relaxando um pouco sua atitude severa.      A jovem o olhou e os olhos voltaram a encher de lágrimas.


     — Nunca voltarei a estar bem.


     — Ele nunca esquecerá isto, Maite, mas com o tempo abrandará um pouco, com o tempo acredito que perdoará — assegurou muito sério.      Ela fechou os olhos um breve instante.


     — Como eu gostaria de acreditar. — Abriu-os. — Eu não fugi dele, milorde. Não o fiz. Eu só queria parar a guerra. Acreditei que meu pai escutaria minhas súplicas. — As lágrimas caíram. — Amo Alfonso. —Fazendo um grande esforço, conseguiu controlar sua emoção. — O amo desde que o vi pela primeira vez em Abernathy.


     Geoffrey se sentia incômodo e de uma vez desconcertado.


     — Talvez devesse dizer isso a ele, Maite.


     — Como poderia fazê-lo? Nega-se a acreditar. Sua fúria me aterra. E não só me dá medo lhe falar, mas também tenho medo de me aproximar dele.


     — Deve deixar que passe um pouco de tempo. A próxima vez que veja Alfonso certamente será capaz de conversar com ele sem medo de sua brutalidade. Não é própria dele.      — Possivelmente tenha razão — disse Maite com debilidade enquanto sentia como crescia em seu interior outra onda de angústia que ameaçava sufocá-la.      Poderia sobreviver aos seguintes minutos, ou mais difícil ainda, aos próximos dias?


     Se queria que Alfonso voltasse para ela, teria que fazê-lo. Não podia imaginar quando voltaria a vê-lo. Teria que fazer muito mais que sobreviver nos próximos dias. Teria que enfrentar muitos meses antes de ter a oportunidade de voltar a vê-lo, de se defender e recuperá-lo.


     Mas se transcorria mais de um mês ou dois desde aquele momento até que voltassem a se encontrarem, sua gravidez seria óbvia. Sem dúvida ficaria furioso com ela por não ter contado. Mas se o dizia agora, enviaria-a longe e não iria sequer “visitá-la” em seu exílio. Maite teve uma vez mais a certeza de que a única esperança de salvar sua relação residia no desejo que sentiam um pelo outro... se é que aquele desejo seguia existindo da parte de Alfonso. Não estava muito segura disso.


     Sentia-se exausta devido ao encontro com seu marido, a perda de seus pais e de seu irmão, os dias que tinha passado cuidando de sua mãe enquanto agonizava, a reunião com seu pai e sua louca fuga de Alnwick. Estava absolutamente segura de que era incapaz de suportar mais nada. Quando Geoffrey a levou para fora,


Maite teve que lutar para controlar suas selvagens emoções. Embora tinha muitos motivos para chorar, não queria mostrar sua debilidade diante de Alfonso, seu irmão e seus homens, os monges e o bom abade. O único que ficava era seu orgulho.      Então algo moveu na parte inferior de seu abdômen, obrigando-a a conter a respiração. Não estava sozinha, tinha a seu filho.      Quando aproximou de seu marido escoltada pelo arquidiácono, os cavalheiros afastaram a vista. Geoffrey a ajudou a subir no cavalo e logo montou atrás dela. Maite secou os olhos e seu olhar cruzou brevemente com o de Alfonso. Ambos afastaram o olhar rápido e friamente.


     Odiava-a.


     Então Maite viu seus três irmãos, Edgar, Alexander e Davie, montados a cavalo em meio dos cavalheiros normandos.      — O que vai fazer com eles? — Perguntou tensa.


     — Aqui não estão a salvo, Maite — respondeu Geoffrey.


     — É obvio que o estão!


     — Alfonso não entrou sem problemas para buscá-la?


     A jovem deslizou o olhar pelas largas costas de seu marido. Se ele era capaz de entrar em uma abadia e romper as leis de Deus, sabia que alguém como seu tio Donald ou seu irmão Edmund, poderiam fazê-lo também. Estremeceu. Aquela mesma noite souberam que os arrivistas já tinham tomado o poder. Maite nem sequer queria pensar na possibilidade de que seus irmãos caíssem em mãos de Donald Bane ou Edmund.


     — Onde Alfonso vai levá-los? — Perguntou em um sussurro.


     — Para Alnwick. Ao menos por agora.


     Maite se sentiu aliviada. Seus irmãos estariam a salvo em Northumberland durante todo o tempo que tivessem que permanecer ali. Ao menos não teria que preocupar com eles também. Já tinha bastante consigo mesma.


     As tropas, com Alfonso à cabeça, Maite montada atrás de Geoffrey e seus irmãos agora convertidos em prisioneiros situados no meio, saíram pelas portas da abadia. Apesar do cansaço, a jovem foi consciente de que, embora ia contra sua natureza, agora devia ser paciente. Fosse o que fosse seu destino ou o de seus irmãos, no momento não estava em suas mãos. Tinha chegado o momento de esperar. Não importava seu sofrimento na espera. Necessitava desesperadamente uma pausa. E ao que parecia Alfonso estava oferecendo isso sem dar conta ao exilá-la em Tedy.          


     Seu exílio começou sem aviso. Pouco depois de cruzar o rio Tweed e entrar nos domínios de Northumberland, as forças normandas dispersaram. Geoffrey e duas dúzias de soldados se dirigiram para o leste levando Maite com eles, e Alfonso e o resto de suas tropas continuaram para o sul, em direção a Alnwick com seus três irmãos.


     A Maite permitiram uma breve despedida de sua família e abraçou por turno a


Edgar, a Alexander e a Davie, pedindo-os que não se preocupassem com ela em nada.      — Tudo sairá bem ao final, lhes prometo — disse isso com o que confiava parecesse autêntica convicção.


     Sua segurança era tão somente uma fachada, já que em seu interior estava cheia de dúvidas e temores. E para piorar as coisas, não só seus irmãos pareciam tão pouco convencidos como ela, mas sim Maite não pôde evitar umas lágrimas carregadas de pesar ao vê-los partir.


     Não despediu de Alfonso. Não lhe deu a oportunidade. Seu marido separou do grupo que partia e permaneceu montado de costas para ela. Nenhum outro gesto poderia resultar mais eloqüente. Quando a jovem voltou a subir no cavalo, soube que Alfonso tinha utilizado sua vontade de ferro para arrancá-la de seu coração.      Horas mais tarde, cavalgaram na direção leste e chegaram a Tetly. O ânimo de Maite, que já estava muito baixo, caiu ao chão quando divisou pela primeira vez o solitário castelo. Estava construído sobre um longínquo e árido escarpado situado justo em cima do canal na costa que encontrava com o rio Tyne. Um caminho precário e sinuoso levava até suas portas oxidadas. Com tal localização, uma invasão e um cerco eram impraticáveis. Maite soube mais tarde que escolheu Tetly precisamente por esse motivo, e que por aquela mesma razão tinha caído fazia muito tempo em desuso e no esquecimento.


     Não havia necessidade de ponte levadiça. As porta abriam diretamente sobre o caminho íngreme e cheio de buracos. Parecia que Alfonso tinha enviado um grupo avançado com uns quantos serventes, um mordomo e um governanta, porque a grade de ferro, obstinada pela falta de uso, levantou-se imediatamente permitindo que atravessassem os sombrios muros de pedra que rodeavam o pátio do pequeno castelo. O barro estava congelado sob seus pés. Maite olhou ao seu redor com desespero. As poucas construções exteriores que ainda se mantinham em pé tinham caído no abandono e eram impraticáveis. Os muros derrubaram e os telhados vieram abaixo. Inclusive tinha que erigir um novo estábulo para albergar aos cavalos e a uns quantos porcos.


     Quando dirigiram para o castelo Maite pôde observar que consistia em uma única e solitária torre negra que dava as costas ao escarpado e à costa, exposta em três lados e constantemente assediada pelos fortes ventos do canal. Nos degraus da entrada estava seu pessoal: duas donzelas, um jovem servo, um mordomo mais velho, e um governanta roliça e com gesto de preocupação.


     A jovem se encolheu dentro da capa. Fazia muito frio. Mas seu gesto se devia mais a um profundo desgosto que ao tempo. Durante quanto tempo ia viver ali? E quanto tempo transcorreria até que Alfonso fosse “visitá-la”? Quando Geoffrey ajudou-a a descer do cavalo, Maite se sentiu invadida pelo pânico e agarrou a mão dele.      — Não vai, verdade?


     — Mandei um aviso ao arcebispo Anselm dizendo que me vou atrasar. Ficarei uns dias para fiscalizar umas quantas reparações e me assegurar de que te instala comodamente — a tranqüilizou com expressão sombria.


     — Comodamente? — perguntou ela com amargura.


     — É certo que Tetly conheceu dias melhores, mas não te faltará de nada, prometo-lhe isso.


     As palavras de Geoffrey demonstraram ser bastante acertadas. Tetly tinha sido bem abastecido antes de sua chegada. Obviamente Alfonso estava preparado quando emitiu seu veredicto contra ela. O mordomo era eficaz e estava desejando agradar, e governanta era amável embora também parecia lhe ter lástima. Nas habitações de Maite havia sempre um grande fogo aceso para combater o onipresente frio e lhe serviam o que desejasse comer ou beber. Ela estava muito doída para ter apetite, mas pensava no menino e comia mais do que o faria normalmente.


     Geoffrey ficou uma semana, algo que Maite agradeceu. Durante o dia ajudava à governanta. Não tinha nada mais que fazer, mas estava decidida a se manter ocupada para não pensar na tragédia que a tinha golpeado. Pelas noites conversava com o Geoffrey diante do fogo. Se tivesse podido ficar indefinidamente... Era alegre e considerado. Mas quando teve terminado a reparação do estábulo, partiu, e a jovem não ficou mais remédio que enfrentar sua solidão.


     Eram as noites as que punham em perigo sua saúde mental. O vento uivava dificultando o sono, e quando conseguia dormir, o fazia de modo intermitente e intranqüilo. Torturavam-na desejos que eram sonhos impossíveis. Sentia saudade desesperadora de Edward e sua mãe. Não podia acreditar que não fosse voltar a vê-los. E como desejava que nunca tivesse existido a última conversação que manteve com seu pai. De repente Malcolm era um desconhecido em sua memória, não o maravilhoso pai e rei que sempre tinha sido. Maite queria recordá-lo como o tinha conhecido durante toda sua vida, não como a última vez que o tinha visto.


Desejava poder estar segura de que a tinha querido apesar de suas cruéis palavras, apesar de tê-la utilizado e apesar de seu rechaço. Mas não podia. E agora... agora nunca saberia com certeza.


     E sobre tudo, sentia desesperadamente a falta de Alfonso e o queria. Não ao homem frio e cheio de ódio no que se tornou, e sim no amante ardente, o marido respeitoso, o homem justo e honrado que lhe tinha roubado o coração. Necessitava-o. Nunca o tinha necessitado tanto. Mas só viria quando lhe conviesse, não quando ela quisesse, e seria só para utilizá-la.


     Os dias transcorreram dentro de uma cômoda monotonia. Janeiro se transformou em fevereiro e uma tormenta de neve seguiu a outra sem que cessasse nunca o vento. Maite odiava Tetly. E em ocasiões também odiava Alfonso. Odiá-lo era muito melhor que amá-lo, e Deus sabia que tinha razões para odiá-lo. Mas a chama da ira não durava muito e sempre dava lugar a um pesar incontrolável.      Seu corpo tinha mudado. Com as túnicas só era óbvio que os seios tinham crescido. Mas quando estava nua, Maite adorava ver como crescia seu pequeno, mas firme ventre. Ao menos tinha a seu filho, pensava. Queria-o com todo seu coração e se tornou protetora e maternal. Não estava louca, mas ao encontrar-se tão só tinha começado a falar com ele, e inclusive, às vezes, cantava canções de ninar em escocês. Os serventes e a governanta a olhavam com uma mescla de medo e compaixão. Sabiam que estava esperando um filho porque Maite não fez nenhum intento de esconder sua condição, e quando a viam sussurrar estando sozinha, benziam-se ou faziam sinais pagãos antes de sair correndo. A jovem não importava o que pensassem. Se não tivesse estado esperando um filho certamente teria perdido toda esperança, a prudência inclusive.


     O tempo passou e Maite perdeu a conta dos dias. Mas ao menos a neve tinham cessado. Tinha sido um inverno particularmente frio, disse a governanta. Agora só ficava o vento. Mas uma tarde o sol apareceu timidamente por entre as nuvens baixas e grossas. E outro dia, quando a jovem estava tomando o ar na muralha do castelo, viu brotos verdes de erva aparecendo entre o barro. Olhou para o céu e sorriu. Não havia nuvens e o sol resplandecia. Já estavam em algum momento de março e podia cheirar a primavera no ar. Respirou profundamente, e naquele instante a angústia que tinha lhe atormentado durante tanto tempo abandonou-a. Tinha sobrevivido a um comprido e lúgubre inverno e de repente sentia cheia de esperança. A primavera significava renovação e renascimento. Ao fim podia confiar na chegada de dias mais agradáveis, e, com a entrada do verão, o nascimento de seu filho. O coração dava saltos de alegria ao pensá-lo.      Não podia faltar muito para que Alfonso chegasse.



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Autor(a): taynaraleal

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 11



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  • Beatriz Herroni Postado em 23/03/2018 - 15:37:22

    Pq postou tudo de vez?Fica um pouco ruim de ler assim

    • taynaraleal Postado em 24/03/2018 - 15:57:33

      Oi Beatriz, então eu postei tudo de uma vez, pois tenho novas adaptações vindo por ai, e como essa eu só estava repostando pq havia sido apagada eu resolvi finalizar toda de uma vez, sei que fica ruim de ler, mas foi a unica forma de me dedicar as outras, pois meu tempo é minimo. Espero que consiga ler essa, e as outras que estão por vir

  • maite_portilla Postado em 03/08/2017 - 17:24:36

    Agora sim a mai vai ter que dizer tudo pro poncho... Dulce melhor pessoa kkkk... Coninua logo <3<3<3

    • taynaraleal Postado em 08/02/2018 - 18:13:27

      Ainda está ai? vou continuar e com maratonaaaaa, espero que goste

  • Postado em 03/08/2017 - 17:22:18

    Ai Deus, acho que agora sim a mai vai revelar a vdd pro poncho... Adorei a Dulce kkkk... Continua logooo

  • maite_portilla Postado em 24/07/2017 - 17:56:39

    eita, agora a mai nao tem mais para onde fugir. coitada, ate eu fiquei com um pouco de medo desse alfonso. sera que ele vai descobrir quem ela é de vdd? continua... to amando

  • maite_portilla Postado em 22/07/2017 - 00:57:58

    Adorei a historia... Continua <3

  • lunnagomes Postado em 19/07/2017 - 21:04:10

    Estou apaixonada pela história... continua

    • taynaraleal Postado em 08/02/2018 - 18:14:06

      Desculpa pelo sumiço, vou continuar e com maratona, se ainda estiver por ai, e quiser voltar, os comentários me estimulam muito


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