Fanfic: A promessa da rosa | Tema: Herroni
Era o dia perfeito para uma excursão, pensou Maite emocionada. Fazia um dia muito agradável, o sol brilhava com força e as gralhas azuis grasnavam alegres das frondosas copas das árvores. A jovem tinha a suspeita de que a condessa tratava de distraí-la de seu crescente aborrecimento e de sua ansiedade com aquele breve passeio. A gravidez foi tornando eterna e tinham começado a crescer seus medos a respeito do parto. Desejava e temia ao mesmo tempo o momento de dar a luz.
Dulce e lady Ceidre montavam escarranchado em seus palafrens ao lado da liteira em que viajava Maite, acompanhadas por dois cavalheiros e duas donzelas que foram a pé. Chegaram ao povoado que estava justo debaixo de Alnwick em questão de minutos.
A jovem insistiu em caminhar, decidida a dar uma volta pelo concorrido mercado do verão. Queria comprar algumas bagatelas, e resultaria difícil mover com comodidade entre os vendedores e os postos com a liteira. Queria comprar algo para Alfonso, um presente que expressasse quanto tinha sentido sua falta, e quanto o amava. Mas não teve oportunidade.
Quando a jovem aproximou de um dos postos para olhar uns tecidos com a condessa a seu lado e Isabel correndo diante para comprar um doce, alguém golpeou a lady Ceidre.
Maite viu o incidente e ficou horrorizada, já que tinha percebido que sua sogra tinha sido empurrada deliberadamente. A condessa caiu sobre a mesa de um comerciante, atirando toda a mercadoria no chão e provocando um tumulto. Nesse instante, o agressor agarrou Maite, pôs-lhe uma mão na boca para evitar que gritasse e a separou daquela cena de confusão.
Ao tomar conta de suas intenções, a jovem começou a retorcer, mas um instante depois, o assaltante a tinha colocado sobre um cavalo que estava esperando e subiu atrás dela.
Maite começou a gritar. A condessa, consciente por fim do que estava ocorrendo, também gritou, e os dois cavalheiros que as acompanhavam tiraram as espadas.
Aterrorizada, não por ela, mas sim pelo bebê, Maite agarrou às crinas do cavalo quando o animal saiu galopando. De repente, outro cavaleiro que surgiu entre a multidão e se uniu a eles em desenfreado galope. Vendedores e compradores saiam de seu caminho enquanto fugiam com rapidez atravessando o mercado, atirando postos, carros e tudo o que encontravam em seu caminho. Maite, que seguia agarrando-se desesperadamente, olhou atrás sem dar crédito ao que estava ocorrendo e viu a condessa sair atrás dela a pé, sem esperança, e aos dois cavalheiros que a deviam ter protegido correndo em busca de seus corcéis. O estrondo era ensurdecedor, mas a jovem acreditou escutar alguém gritar:
— Raptaram à esposa do senhor!
Maite derrubou sobre o pescoço do cavalo e começou a tremer. Oh Deus!
Tinham-na seqüestrado de maneira fria e calculada! Aonde a levavam? Quem era o responsável? E como, Senhor, como iam sobreviver ela e seu bebê?
Alfonso estava lívido.
— A que se refere quando diz que não via nada mau em sair para dar um passeio? — Bramou. A condessa se afastou dele.
— Ela estava tão nervosa...
A incredulidade desfigurava as feições de Alfonso. Nem sequer podia falar.
Inquieto, Rolfe ficou entre seu filho e sua esposa.
— Sua mãe está completamente angustiada. O rapto não foi sua culpa — disse o conde com secura. — Se quer culpar a alguém é a Will e a Ranulph.
Alfonso apertou a mandíbula. O que seu pai estava dizendo o óbvio, mas era difícil perdoar a sua mãe já que tinha deixado ordens precisas de que sua esposa permanecesse no castelo. Girou para lady Ceidre com frieza, sem se importar com sua dor. Se algo ocorresse a Maite...
Um terror absoluto se apoderou dele. Nunca em sua vida havia sentido tão assustado. Agora Maite estaria em algum lugar com seus seqüestradores, talvez ferida e sofrendo. Ou algo pior. Alfonso se recompôs rapidamente. Não tinha tempo para pensar nas possibilidades. Devia atuar. Com determinação, desviou seu olhar acusador de volta aos dois cavalheiros que tinham fracassado em sua obrigação de proteger Maite.
— Contem-me outra vez o ocorrido.
A notícia do seqüestro tinha chegado cinco ou seis horas atrás a Edimburgo, onde estava agora a corte de Duncan. O mensageiro de sua mãe o tinha levantado de seu cama a meia-noite e Alfonso partiu imediatamente para Alnwick, detendo-se só para informar a seu pai de onde ia e por que. Rolfe tinha decidido imediatamente ir com ele. Ambos receberam os melhores desejos por parte do novo rei da Escócia. Aparentemente Duncan também havia despertado com a notícia.
Alfonso esgotou por completo seu cavalo e conseguiu chegar em seu lar quase ao amanhecer, em seguida lhe contaram que sua esposa tinha sido seqüestrada na tarde anterior. Dois homens a cavalo a tinham levado sem mais. Seus soldados tinham seguido aos cavaleiros pelo bosque, mas uma vez ali perderam a pista. — Milorde, estavam vestidos como aldeãos, mas montavam como cavalheiros experimentados — estava dizendo Will. — Está claro que tudo formava parte de um plano. Esses homens deviam estar esperando que apresentasse a menor oportunidade para apoderarem de sua esposa.
Ele já sabia que não se tratava de um rapto comum. Nenhum delinqüente se atreveria a raptar sua esposa nem seria capaz de realizar semelhante façanha diante de seus homens. O fato era que algum de seus inimigos tinha capturado Maite... e Alfonso só podia pensar que se tratava de um ato de vingança. O medo voltou a tomar conta dele.
Qualquer negação, todo protesto, era inútil agora. Amava a sua esposa até a loucura, faria qualquer coisa para recuperá-la. E quando a trouxesse de volta daria tudo o que quisesse e necessitasse. Não lhe negaria nada.
Entretanto, pouco podia fazer além de criar um atalho de sangue em sua busca. E isso faria. Quando soubesse que louco era o responsável pelo rapto de sua esposa não ficaria nem rastro de seus domínios. Não teria piedade. Alfonso repassou mentalmente os quais poderiam odiá-lo o suficiente para se atrever a algo semelhante. Contava ao menos com meia dúzia de inimigos, mas pensava que nenhum deles era o suficientemente estúpido para cometer uma atrocidade assim. — Vamos ao último lugar onde a viram — ordenou, tenso. — Will, Ranulph, nos guiem.
Alfonso e duas dúzias de cavalheiros completamente armados saíram da fortaleza justo depois do amanhecer. Mas ao finalizar o dia não tinham feito nenhum progresso. O rastro desapareceu quando os dois cavaleiros, junto com sua cativa, cruzaram um rio. O normando e seus homens não voltaram a encontrar nenhum sinal deles. A terra tinha tragado Maite sem deixar nem rastro.
*******
Maite sabia que viajavam para o norte da Escócia. Apesar de seu terror, conseguia pensar. A inteligência era a única coisa que ficava e sabia que devia conservar a cabeça fria. Aquilo não tinha sentido. Por que quereria seqüestrá-la um escocês? Ou se tratava de um ardil? Levariam-na para a Escócia porque a
Alfonso não ocorreria procurá-la ali?
Alfonso. O coração encolheu dolorosamente ao pensar no que deveria estar sofrendo e em que não voltaria a vê-lo jamais. — Alfonso — sussurrou sem sentir que estava falando em voz alta. — Te necessito. Necessito-te tanto... Por favor, me ajude.
Não utilizaram a rota normanda, mas sim seguiram um caminho de cervos atrás de outro no mais profundo das colinas, passando por territórios que nenhum homem que não fosse escocês conheceria. Os cavaleiros pararam em duas ocasiões, primeiro para dar de beber aos cavalos e mudar Maite de uma montaria a outra, e logo para mudar seus corcéis por dois cavalos que encontraram atados em uma pequena cabana de palha que parecia deserta. Ao ver os novos animais a jovem reconheceu o fato de que seu rapto tinha sido preparado cuidadosamente. Armandose de coragem, tentou conversar com seus seqüestradores com a esperança de saber quem os tinha enviado e o lugar para onde a levavam, mas se negaram a falar com ela. Chegou a noite e seguiram viajando sem trégua. Maite ficou adormecida. Foi um descanso inquieto no que sonhou que rogava a Alfonso que fosse resgatá-la. Também sonhou que o filho que ia ter seria um varão. Era um menino pequeno e
indefeso. Mas não era um sonho feliz, porque ela tentava protegê-lo de uma ameaça invisível. Quando despertou estava mais assustada que antes e não pôde precisar onde estavam nem para onde se dirigiam. Os dois cavaleiros mantinham agora um passo ligeiro.
— Onde estamos? — Perguntou com a boca seca.
O homem que a levava em sua montaria lhe deu um gole de cerveja aguada, do que a jovem bebeu agradecida. — Não longe de Edimburgo, moça.
Maite ficou paralisada e o coração começou a pulsar dolorosamente.
Edimburgo? No passado tinha sido seu lar, mas já não era. Agora era o lar de
Duncan, o novo rei escocês. Talvez fosse seu meio-irmão que estava atrás daquilo. Estava aterrorizada. Não podia imaginar qual seria seu destino. Se sua intenção era matá-la, já o teria feito. Então, o que queria dela? Maite pôs as mãos em atitude protetora sobre o ventre, rezando para que Alfonso ainda se encontrasse na corte de Escócia.
*******
Quando o amanhecer raiava o horizonte, Maite foi levada ao castelo. Era óbvio que esperavam sua chegada, porque quando um de seus seqüestradores pronunciou a contra-senha, as pesadas portas abriram imediatamente para recebêlos. Um cavalheiro e uma donzela os esperavam nas escadas de entrada.
Quando a ajudaram a descer do cavalo cambaleou. Mal podia caminhar depois da comprida viagem, e o cavalheiro que a tinha estado esperando a tomou rapidamente em braços. Maite elevou a vista para olhá-lo enquanto a metia no castelo com a esperança de reconhecê-lo e poder lhe pedir ajuda. Mas nunca o tinha visto.
Com eficiência e rapidez, levou-a para o piso de cima, colocou-a sobre a cama de um pequeno quarto que seus irmãos pequenos tinham compartilhado não muito tempo atrás e saiu do quarto sem lhe dedicar sequer um último olhar. Maite agradeceu a cama, mas isso foi tudo. Consciente de que o bebê estava dando chutes, levou uma mão à testa, que pulsava. Doía-lhe todo o corpo.
Angustiada, girou para a donzela, era uma mulher mais velha e magra que estava ocupando de atiçar o fogo, já que as noites de Edimburgo eram frias inclusive no mês de junho. Quando acabou sua tarefa na lareira, a mulher girou e se aproximou dela. — Trarei um pouco de comida quente, milady, e um pouco de boa cerveja. Não demorarei muito. Maite estava muito esgotada para fazer qualquer coisa.
— Quero falar com meu irmão.
— Seu irmão?
— Meu irmão Duncan.
— Refere a seu meio-irmão, o rei, não é assim, querida? — Perguntou Duncan da soleira. Maite o olhou fixamente e tratou de levantar, mas caiu de novo na cama com um gemido. Uma cãibra tinha atravessado o abdômen.
Duncan aproximou e a olhou com frieza.
— Acredito que deveria descansar, querida irmã, a menos que queira que seu mucoso nasça antes do tempo.
A jovem sentiu uma onda de medo. Sabia que a dor que sentia podia indicar que o bebê estava anunciando sua chegada. Os meninos prematuros raramente sobreviviam, e faltavam umas três ou quatro semanas para dar a luz. Maite fechou os olhos e lutou contra o pânico. — Uma atitude muito mais sensata — disse Duncan por cima dela. — Embora não tenho muito claro se prefiro que meu sobrinho viva ou morra. Maite abriu os olhos de repente sentindo que o ódio se apoderava dela.
— Se fizer mal a meu filho...
— O que fará? Me ferir?
— Alfonso o matará! Duncan riu.
— E como faria, Maite? Sou o rei. Os assassinos de reis são decapitados e cravam suas cabeças putrefatas em estacas para que todos vejam e estejam advertidos. A jovem fez um esforço por controlar a histeria. Estava imaginando o que dizia seu irmão e sentia náuseas. Duncan tinha razão. Alfonso não o mataria. — O que quer? — Gritou aterrorizada, levando as mãos ao ventre em um gesto protetor. — O que tem planejado para mim, para meu bebê? — Tudo é muito singelo e muito civilizado — explicou Duncan com calma. — Não tem por que te angustiar.
Maite o escutava só pela metade, esperava com medo uma nova cãibra, outro sinal do bebê. Mas não chegou, e relaxou ligeiramente.
— Está ameaçando a meu filho. Tenho motivos de sobra para me angustiar.
— Não tenho intenção de fazer mal a seu mucoso. Se ocorrer algo ao menino será tua culpa, não minha. Maite desejava acreditá-lo, entretanto, não estava segura se dizia a verdade ou não. Umedecendo os lábios ressecados e rachados perguntou:
— Se não quer nos fazer dano, por que nos seqüestrou?
— Não é óbvio? Não confio em seu marido, Maite. De fato, há muita gente na Escócia que não confia nele e que está desgostada por seu matrimônio contigo. Neste momento seu poder só influi na Inglaterra, mas quando nascer seu filho, quem sabe?
Maite por fim entendeu o motivo de seu seqüestro. Duncan tinha medo de seu filho. Seus irmãos não contavam com apoios, mas seu filho ainda não nascido tinha o imenso poder de Northumberland ao seu dispor... Seria o herdeiro de Alfonso. E se fosse um varão, seria além disso o neto de Malcolm e talvez algum dia um opositor para o trono.
— Vejo que entendeste, querida irmã — comentou o rei ao ver sua expressão.
— Preciso ter vantagem sobre seu marido para mantê-lo sob meu controle. Desejo que continue me apoiando... enquanto eu viva. O medo atendeu a Maite, que conseguiu erguer-se para ficar sentada. Sem fôlego, disse:
— Não me respondeu.
— Oh, claro que sim. Se você e seu filho estão sob minha tutela, Alfonso não se atreverá a se opor a mim. A jovem empalideceu.
— Vai me reter como refém? Ao menino e a mim? Durante quanto tempo?
— Indefinidamente.
— Está louco! — Exclamou ofegante.
Mas sabia que não o estava. Era muito inteligente. Se a tivesse assassinado, Alfonso o perseguiria e o enfrentaria sedento de vingança. Mas se o menino e ela eram reféns, não teria mais remédio que apoiar Duncan.
— Se eu estiver louco, então William o Conquistador também estava, não é certo? — exclamou furioso. — Depois de tudo, Malcolm me entregou ao rei inglês sendo eu só um menino, supunha-se que eu garantiria seu bom comportamento...
Embora isto não ocorreu! Malcolm não importava com meu bem-estar e rompeu quando quis seu juramento. Tenho sorte de estar vivo! De fato, tenho sorte de ter conseguido voltar para casa... depois de vinte e dois malditos anos!
Fez uma pausa e continuou.
— Terá seu filho e viverá aqui todo o tempo que eu considere necessário — assegurou Duncan com frieza. — Talvez algum dia seu valor diminua e permita que parta. Mas se o menino é um varão, permanecerá aqui, igualmente eu me vi obrigado a ficar na corte de William. Por que está tão pálida? Edimburgo é seu lar e o mucoso é meio escocês. Se pensar nisso verá que não é tão duro. Só sofrerá se decide-se considerar uma prisioneira em lugar de uma convidada.
— Alfonso não permitirá isto. — Maite conseguiu encontrar a voz para falar.
— Pedirá a intervenção do rei. Rufus o obrigará a me liberar.
— Não, querida, está equivocada. Rufus sabe que cometeu um engano quando permitiu que casasse com Herrera. De fato, deu-me carta branca para que faça o que convenha contigo e com o menino.
Maite sabia que devia recuperar rapidamente as forças. O tempo não corria a seu favor já que estava previsto que o bebê nascesse em um mês.
Passou os seguintes dias na cama descansando e recuperando da comprida e dura viagem para Escócia. Alimentou-se com comidas numerosas e bebeu muita água, evitando o vinho e a cerveja, que acrescentavam sua tendência à letargia. Saía da cama para fazer exercício duas vezes ao dia no interior do castelo, trabalhando a rigidez de seus músculos com a esperança de se manter em forma.
Mas sobre tudo... planejava sua fuga.
Escaparia. Disso não havia nenhuma dúvida. Maite nunca tinha estado tão decidida a algo.
Tinha averiguado que ainda não tinham informado a Alfonso de seu paradeiro,
Duncan havia dito que não tinha pressa em fazê-lo. Era óbvio que estava se divertindo. Maite odiou seu meio-irmão ainda mais porque estava claro que desfrutava atormentando seu marido. Alfonso devia estar preocupado por ela e desejaria que chegassem notícias para saber que estava bem. Mas o recente rei da Escócia não tinha nenhuma intenção de fazer saber, ao menos no momento.
De qualquer forma, embora Alfonso soubesse onde estava, possivelmente não pudesse conseguir sua libertação. Maite acreditava que Duncan não tinha mentido quando disse que contava com a aprovação de Rufus naquele assunto. A jovem estremeceu ao recordar a última vez que tinha visto o monarca inglês, tinha olhado-a com ódio não dissimulado.
Pode que existisse uma pequena possibilidade de que Rolfe e Alfonso conseguissem persuadir Rufus para que obrigasse Duncan a libertá-la, mas aquilo não era suficiente. A Maite não cabia nenhuma dúvida que obrigariam-na a deixar ali seu filho como garantia do apoio contínuo de seu marido ao novo rei, igual a Malcolm tinha entregado Duncan ao Conquistador. Essa era a crua realidade: utilizavam-se aos meninos como reféns.
A Maite, a idéia de deixar seu filho para trás era tão terrível como a própria morte. Só cabia uma solução: tinha que escapar antes que o menino nascesse.
Não era nenhuma estúpida. Era consciente de que sua condição não facilitaria as coisas. Entretanto, a fuga resultaria muito mais difícil, por não dizer impossível, com um recém-nascido. Também era consciente de que poria em perigo sua própria vida e a do bebê. Mas estava decidida a que ambos superassem aquela experiência sãs e salvos. Pensava que sua determinação e o amor que professava tanto a seu bebê como a seu marido, conduziriam-na à salvação. Nada nem ninguém impediria que voltasse a se reunir com Alfonso, que desse a luz em sua presença e que criassem juntos seu filho.
Nem sequer necessitava um plano. Tinha crescido em Edimburgo e conhecia até o último rincão do castelo melhor que ninguém, excetuando possivelmente a seus três irmãos. Duncan, que era um estranho em seu novo lar, e seus soldados, a metade dos quais eram mercenários normandos, não conheciam os segredos que o lugar guardava. Como a maioria das fortalezas, tinha sido erguida pensando em um ataque inimigo. Uma porta secreta dava a um pequeno túnel que permitia aos habitantes do castelo passar por debaixo dos muros e sair livremente do outro lado do fosso.
Maite esperou uma semana. Na oitava noite de sua chegada a Edimburgo, soube que tinha chegado o momento. Custava caminhar, mas tinha recuperado por completo as forças. Só esperava que seu volumoso ventre não a atrasasse aquela noite. Não havia guardas postados na porta de seu quarto. Ao parecer, ninguém pensava que uma mulher em seu estado tentasse escapar. O único obstáculo era a donzela que dormia em um cama no corredor, justo ao lado de sua porta. Maite se negou a considerar a possibilidade de fazer mal a aquela mulher que tinha sido tão amável com ela. Quando o grande salão ficou em silêncio finalmente e a jovem pôde estar segura de que Duncan estava divertindo com sua última conquista, chamou em voz alta à donzela.
Eiric despertou e correu a seu lado.
— Lamento-o, Eiric — disse desculpando-se sinceramente. — Sei que é tarde, mas não posso dormir. Temo que o menino quer crescer ainda mais, porque morro de fome! Por favor, vá às cozinhas e me traga guisado de vitela, pão quente, bolo de cordeiro e um pouco do salmão que comemos ao meio-dia. Eiric engoliu em seco.
— Milady, ficará doente!
— Estou faminta. — Maite se manteve firme. — Vá, Eiric, mas assegure de que o salmão está quente, porque seguro que adoecerei se como sobras frias de pescado.
A donzela partiu sem protestar mais e Maite se sentiu encantada durante um instante. Eiric teria que despertar a outras servas para que a ajudassem com a comida. A jovem sabia que a anciã esquentaria tudo, e dado que os fogos das cozinhas estavam agora apagados, levaria muito tempo. Provavelmente contaria com uma hora ou mais de vantagem sobre Duncan e seus homens.
Mas não tinha tido em conta aos cães.
A noite estava coalhada de estrelas. Quando Mary deslizou pelo túnel e saiu no exterior, sentiu-se eufórica por um momento. Não precisaria acender nenhuma das velas que tinha levado consigo, porque a lua e as estrelas iluminavam seu caminho. E como tinha utilizado a ponte muitas vezes de menina, sabia perfeitamente onde estava. Até o momento sua fuga tinha resultado incrivelmente singela.
Mas sua euforia desvaneceu no momento em que escutou o primeiro uivo.
Maite estava a ponto de entrar no bosque, mas aquele uivo solitário e parecido ao de um lobo gelou o sangue, arrepiando o pêlo da nuca. Por favor, Senhor, rezou em silêncio, que seja um lobo.
E então começaram os latidos.
Maite gritou de terror. Duncan tinha soltado uma matilha de cães de caça para persegui-la. Não tinha passado nem um quarto de hora desde que mandou Eiric às cozinhas. Sem dúvida, a donzela devia ter retornado a seu quarto antes do previsto. A jovem não tinha considerado essa possibilidade e fez quão único podia fazer: levantou as saias e começou a correr com toda a pressa que permitia seu estado.
As opções se abriram passo através de sua mente aterrorizada. Tinha contado tendo uma hora ou mais de vantagem sobre seus inimigos e agora não tinha nenhuma. Originalmente tinha planejado encontrar um cavalo na cidade e galopar como o vento rumo a Northumberland, ou roubar um barco e remar através do estuário de Forth para a abadia beneditina de Dunfermline.
Mas agora seus planos não tinham nenhuma possibilidade de êxito. Os cães uivavam cada vez mais perto. Tinham os deixado sair pelas portas dianteiras e ainda tinham que cheirar seu rastro, embora sem dúvida o fariam logo. Maite não acreditava que pudesse chegar à cidade e roubar um cavalo, e muito menos alcançar o estuário de Forth.
Presa do pânico, girou e correu para o bosque. Como ia evadir aos homens e os cães de Duncan indo a pé? Estava perdida. O único que lhe ocorria era recorrer ao mesmo truque que seus seqüestradores tinham utilizado para escapar dos homens de Alfonso.
Arbustos, samambaias e pontas agudas lhe golpeavam as pernas e os quadris, arranhando os pés, mas Maite ignorou a dor. Limitou-se a concentrar em correr para um atalho que utilizavam os veados e que conhecia de cor, um caminho que tinha utilizado em muitas outras ocasiões. Aliviada, percebeu que os latidos estavam mais distantes. Os cães tinham enfiado pela rota equivocada.
A jovem diminuiu o passo. O coração pulsava grosseiramente e mal podia respirar. De repente, sentiu uma espetada no flanco e se viu obrigada a parar um instante. Sabia que não podia parar. Os cães rastreariam seu aroma a qualquer momento e estariam em cima dela em questão de minutos. Esperou um segundo mais para assegurar que a espetada não era mais que isso, uma espetada, e em seguida caminhou para uma encosta íngreme.
Escorregou, caiu e finalmente baixou deslizando o resto do trajeto. O solo estava úmido, como ela sabia que estaria. Quando chegou ao fundo do ravina, ficou outra vez sem fôlego. Como ia escapar se não podia caminhar mais de uns quantos passos sem ficar sem ar?
Seu plano se converteu em pó. Nunca conseguiria chegar a Northumberland sem um cavalo. Sua determinação não serviria para levá-la a casa, necessitava força física... uma força física que não possuía.
Ao ouvir que os latidos dos cães soavam mais alto e mais perto, ergueu-se. Parecia que ainda não tinham encontrado seu rastro. Entretanto, não cabia dúvida de que os homens que guiavam aos cães tinham mudado de direção e se dirigiam para ela. Era só uma questão de tempo que os animais descobrissem seu aroma.
Sabendo que era sua única oportunidade, Maite levantou as saias e entrou no riacho. A corrente era muito rápida e a jovem deu um grito ao sentir a frieza da água. Tinha nadado muitas vezes naquele riacho quando era menina, mas só em agosto e princípios de setembro, já que o pequeno riacho nascia nas montanhas e a água sempre estava congelada.
Maite estremeceu, pensando se seu destino seria morrer de frio em lugar de se deixar comer viva. Mas ainda assim, seguiu avançando pelo riacho. A água só chegava às coxas e ao que parecia tinha conseguido desorientar aos cães. Mas, agora o quê?
Em um momento de inspiração, começou a avançar contra corrente, riacho acima. Duncan pensaria que se dirigiria ao sul, para casa. Entretanto, embora não havia um sítio no que Maite desejasse estar tão desesperadamente como em
Alnwick, seria uma estupidez tentar chegar até ali a pé.
Quando seu meio-irmão perdesse o rastro no riacho, tentaria se adiantar levando os cães para o sul com a esperança de que voltassem a cheirá-la. Mas ela não se dirigia a Northumberland e não encontrariam seu rastro.
Caminhava devagar e com dificuldade, e cada vez que respirava doía. Tinha que parar a cada certo tempo para que seu acelerado pulso relaxasse. Logo voltava a andar. Fazia algum tempo que tinha deixado de notar o frio, por causa do intumescimento.
Maite não soube quanto tempo transcorreu nem a distância que tinha percorrido quando voltou a escutar aos cães uivando com renovado ardor. Ficou paralisada. A água escorregava por seu corpo e tinha que fazer enormes esforços para manter o equilíbrio. Os enlouquecidos uivos enchiam a noite e soavam muito próximos. O pânico se apoderou de Maite. Os cães tinham encontrado seu rastro. Olhou a sua redor com impotência, tratando de discernir onde estava. Mas era inútil. Intumescida pelo frio e o medo, acossada de forma tão selvagem, não podia reconhecer nem uma só árvore, nenhuma rocha. Então, lhe ocorreu uma idéia desesperada e avançou pelo riacho para a outra borda.
Uma vez em terra, olhou através dos ramos das árvores que formavam o bosque em busca de uma estrela que a guiasse. Inesperadamente, a estrela polar brilhou com muita força durante um instante. Maite apertou os dentes com decisão e seguiu adiante. Cambaleou e esteve a ponto de cair. Então viu que as mãos sangravam devido às muitas árvores e rochas com que roçou em seu comprido trajeto através do bosque. E pior ainda, tinha buracos nos sapatos provocados pelas rochas do leito do riacho. Mas não queria pensar em quão doloroso era cada passo que dava. Os cães uivavam e ladravam cada vez mais perto e tinham começado a brigar uns com os outros à medida que se aproximavam dela. Maite começou a correr. Correu e correu. Seu objetivo, sua única oportunidade de salvar-se, não podia estar muito longe. Por favor, Deus, que estivesse perto.
Justo então, viu a torre que tinha estado procurando. Completamente empapada, tremendo compulsivamente e ao limite de suas forças, começou a golpear o muro que rodeava a fortificação. As mãos sangravam e tratou de gritar. Mas estava tão fraca que sua voz não tinha força e os guardas da torre de vigilância não a ouviram.
Tinha a impressão de levar uma eternidade golpeando as pedras do muro.
Estava tão fraca que mal podia levantar o punho. E então percebeu que fazia um momento que não escutava aos cães.
Mas não houve euforia nem emoção, nem sensação de triunfo ou de vitória. Só havia um frio que congelava as veias, uma dor insuportável e um profundo desespero.
— Por favor — sussurrou Maite soluçando. — Por favor, abram. Por favor...
Sem forças, desmoronou sobre um montículo e sua mente deslizou para a escuridão.
Autor(a): taynaraleal
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Comentários da Fanfic 11
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Beatriz Herroni Postado em 23/03/2018 - 15:37:22
Pq postou tudo de vez?Fica um pouco ruim de ler assim
taynaraleal Postado em 24/03/2018 - 15:57:33
Oi Beatriz, então eu postei tudo de uma vez, pois tenho novas adaptações vindo por ai, e como essa eu só estava repostando pq havia sido apagada eu resolvi finalizar toda de uma vez, sei que fica ruim de ler, mas foi a unica forma de me dedicar as outras, pois meu tempo é minimo. Espero que consiga ler essa, e as outras que estão por vir
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maite_portilla Postado em 03/08/2017 - 17:24:36
Agora sim a mai vai ter que dizer tudo pro poncho... Dulce melhor pessoa kkkk... Coninua logo <3<3<3
taynaraleal Postado em 08/02/2018 - 18:13:27
Ainda está ai? vou continuar e com maratonaaaaa, espero que goste
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Postado em 03/08/2017 - 17:22:18
Ai Deus, acho que agora sim a mai vai revelar a vdd pro poncho... Adorei a Dulce kkkk... Continua logooo
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maite_portilla Postado em 24/07/2017 - 17:56:39
eita, agora a mai nao tem mais para onde fugir. coitada, ate eu fiquei com um pouco de medo desse alfonso. sera que ele vai descobrir quem ela é de vdd? continua... to amando
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maite_portilla Postado em 22/07/2017 - 00:57:58
Adorei a historia... Continua <3
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lunnagomes Postado em 19/07/2017 - 21:04:10
Estou apaixonada pela história... continua
taynaraleal Postado em 08/02/2018 - 18:14:06
Desculpa pelo sumiço, vou continuar e com maratona, se ainda estiver por ai, e quiser voltar, os comentários me estimulam muito