Fanfic: A culpa do céu | Tema: Suicidio
A chuva assola meus dias e a humildade me enoja. Gosto do calor, mas não curto o amor; quem me dera conseguir me apaixonar. Sou frio sem ser frio, sou chato e repulsivo. Mas nem sempre fui assim. Depois que ela se foi, os meus dias coloridos e cheios de alegria ficaram mórbidos, frios e sem vida. Completamente cinzas. Vocês devem estar perguntando-se quem sou. Eu sou aquele que um dia já foi um sonhador, aquele que perdeu seu brilho, que não sabe o que significa sorrir, a propósito, meu nome não importa. Não precisam saber muito de mim porque minha história começa aqui e se desfaz aos poucos aqui.
Segunda-feira, consultório psiquiátrico.
—Quem morreu?
—Ela morreu. – Concluiu meu psiquiatra.
—Você sabe quem?
—Não sei.
Chego em casa depois da minha sessão e me jogo na cama. Começo a pensar quem que morreu e no porquê dessas vozes na minha cabeça. Queria saber por que me sinto assim, tão distante do mundo, como se estivesse caindo em um eterno buraco e com uma voz ecoante na minha cabeça que diz “quem morreu?”
—Oi – diz uma voz vinda de cima.
—Quem disse isso?
—Fui eu, o céu.
—Como se o céu falasse por um acaso.
—Como você é hilário, deixe de ser bobo.
—É minha consciência tentando responder minhas perguntas?
—Eu sei quem morreu.
—Então me diz, céu, quem morreu?– Digo com tom irônico.
—Foi... - nesse momento, acordo com uma voz familiar me chamando e encho-me de lágrimas, mas as memorias não voltam. “Por que, céu, não consigo”... me veio um flash seguido por um branco na memória.
Terça-feira, consultório psiquiátrico.
—Então, me diga, por que veio hoje?
—São as vozes. Agora escuto até o céu falar comigo.
—Sabe que hoje você não devia estar aqui... não tem sessão, tem tomado seus remédios?
—Venho aqui porque não estou me sentindo bem e o senhor me pergunta se tenho tomado meus remédios e fala, ainda por cima, que não deveria estar aqui? Pago o senhor, caralho, para me fazer sentir bem e não estou bem!
—Peço para que se acalme.
—Me acalmar como, me explique? Se venho aqui e sou mal recepcionado.
—Acalme-se para eu não ter que usar métodos desagradáveis.
—Vou te mostrar métodos desagradáveis. - pulo na mesa em direção a ele e começo a espancá-lo.
—Saia de cima de mim!
Seis dias depois, é segunda-feira novamente
o mesmo dia que tive uma conversa com meu psiquiatra sobre uma pessoa que morreu. Mas agora, nesse momento, não sei onde estou. A sala é toda branca e não há sons. Uma vez, me disseram que, de perto, ninguém é normal, mas nem de longe eu sou normal; queria ser apenas uma pessoa que não houve vozes e, principalmente, como e por que o céu fala comigo? Eu sou especial ou apenas anormal?
—Oi.
—Pare, não estou escutando! Não existe céu falante, e muito menos pessoa morta.
—Pense o que quiser, mas sou real, ainda quer saber quem morreu?
—Você não é real, pare, pare, por que isso não para?
—Garoto aceite que te conto tudo que quer saber.
A Aceitação.
—Não vou começar pela cereja do bolo então, me conte, onde estou?
—Começou bem, não foi com sede ao pote. Você está internado em um manicômio devido ao incidente com o seu psiquiatra. - Um flashback me invade.
—Nossa, ele está bem?
—Teve algumas fraturas, mas sim, ele está bem. Agora vamos focar aqui; sua próxima pergunta.
A Descoberta.
—Agora a única que me falta, e a que tenho mais medo: quem morreu?
—Sua mãe. —Mas minha mãe não morreu, a vejo em todos os lugares olhando para mim.
—Pense garoto...
—Não - um flashback me invade É de tardinha, minha mãe está fazendo a janta. Estou brincando lá fora com o cachorro e escuto um grito; ignoro pois estava muito entretido brincando com o cão. Logo depois de brincar até cansar, começo meio que a suspeitar de algo porque não tinha tomado banho ainda e era para ela ter me gritado faz tempo, até me disse “brinque um pouquinho que daqui a pouco te grito para tomar banho e jantar”. No momento que entrei dentro de casa, tudo estava muito silencioso, mas, quando vi...
—Não quero me lembrar! Não, não, ela era tão jovem, estava tão feliz fazendo a janta.
—Continue, garoto, tem que se lembrar. Ela estava toda ensanguentada no chão da cozinha. E suas últimas palavras foram “eu te amo, filho”. Por que? Como, nesse mundo, um garoto vê a própria mãe morta e tem que reagir, crescer fora do prazo sendo mais uma vítima das atrocidades que aconteceram no passado?
—Céu, por que ela e por que essa injustiça com um garoto que não é obrigado a passar por isso?
—Isso aconteceu há muito tempo e, garoto, você sabe o porquê, mas vou falar: é porque você é forte. Isso ajudou você a crescer. Se conseguir aceitar, sairá daqui em uns dois dias.
Aceitação ou negação?
—Como isso me fez forte, céu? Sou um louco que fala sozinho.
—Aceite, rapaz.
—Quer saber, céu, já que me chamas frequentemente e me fazes enigmas vou juntar-me a você.
—Garoto, venha a mim que vai ver vicino nessuno è normale.
—Fale minha língua, céu! Foda-se, vou até você - começo a me enforcar fortemente sinto as minhas veias pulsando na garganta começo a sentir falta de ar, completo mordendo a língua para que o sangue me falte no corpo. Vermelho descendo pelos lábios e a dor alucinante; logo, um clarão bate:
A morte.
—Aqui é o céu? Que lugar lindo. Mas, afinal, esperava estar no inferno, ora, me matei.
—Sim filho, aqui é o céu – disse uma voz graciosa e doce.
—Mãe - estava do jeitinho que me lembrava dela: seus cabelos castanhos, sua pele clara e os olhos azuis escuros. Comecei a chorar sem parar como se estivesse tirando toda a tristeza reprimida dos meus ombros. A cada lágrima, o céu ficava mais bonito, mais cheio de vida. Não me senti mais caindo em um buraco sem fim a cada segundo minuto que passa, senti a calma, a paz do céu.
—Filho, você está bem?
—Nunca estive melhor.
—Desculpe-me por morrer e não poder ver você crescer. - apenas olhei lhe entregando um sorriso e disse: —Mãe, tudo bem, estamos em paz.
O psiquiatra que chegou na sala para ver o que tinha acontecido depois que o silêncio se instalou, ao abrir a porta, viu o garoto atirado sobre o chão. O psiquiatra, de tanta tristeza, começou a chorar. Nem sabia ele que a culpa era do céu. Ou seria do garoto?
Fim.
Autor(a): Felipinhos
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