Fanfic: O garoto do cachecol vermelho - Vondy | Tema: Vondy
Escolhas erradas
Fernanda não parava de tagarelar sobre aquele garoto insuportável. Ele estava resistindo às suas investidas, ela dizia. Eu não aguentava mais ouvir falar sobre aquele vândalo. Quem ele pensava que era para decidir o que era bom ou não para mim?
—Fernanda, por favor, cala a boca só um minuto! — pedi, em tom mais severo do que eu queria.
—O que foi, senhorita Mau Humor?! Está de ressaca de novo? Ou brigou com o seu brinquedinho particular? — Ela lançou um olhar de escanteio para Pedro, que estava na mesa ao lado me encarando.
—Nenhuma das duas coisas. Só que eu não aguento mais ouvir você falar daquele garoto. Para, peloamordeDeus!
—Tá bom, mas me conta por que o garanhão indomável ali está te olhando com cara de cachorrinho abandonado. Vocês brigaram?
—Mais ou menos. Tô de saco cheio dessa melação dele. Não gosto de caras que grudam feito chiclete no cabelo. Eu falei que precisava de espaço e ele não gostou — respondi, olhando para Pedro, sentado ao lado de dois outros caras. — Além do mais, estou focada em um único objetivo agora, e um relacionamento sério não está no topo da minha lista de prioridades.
—Dul, eu sei como a audição para aquela faculdade é importante pra você, mas, amiga, a vida é curta. Você tem que se divertir, aproveitar, dar uns amassos... Faz parte do “ser jovem e linda”! É um bônus! — Fernanda discursou, com aquele ar despreocupado com o qual encarava a vida.
—Você fala isso porque a sua única ambição na vida é conseguir um cara rico que te sustente. Quando eu enlouquecer e quiser o mesmo, te peço uns conselhos.
—Ok, Dulce! Eu só queria ajudar, mas, como os meus conselhos são dispensáveis, acho que você não vai se importar de ficar sem a minha companhia também. — Seu tom era magoado. — Até mais. Quando parar de se achar a pessoa mais importante do mundo, quem sabe você me procure.
Achei que tinha mesmo passado do limite com ela, mas que se dane! Eu não aguentava mais esse papinho de ter que viver a vida. Minha vida era o balé. Por que as pessoas não entendiam isso?!
Senti uma náusea repentina e lembrei que não comia nada havia quase dezoito horas. Resolvi tomar um café na lanchonete para enganar o estômago até a hora do almoço, que já estava na minha bolsa: uma garrafinha de suco diurético. Eu tinha conseguido voltar ao meu manequim normal em três dias, mas ainda queria perder mais um pouco de peso. Precisava garantir que estaria em forma quando fosse para a audição em Nova York.
Pensei em desistir da ideia do café quando vi que, no meio do caminho, teria que passar pela mesa onde Christopher estava, com aqueles amiguinhos idiotas dele — um cadeirante estranho que, na minha opinião, deveria estudar em casa; uma garota surda com quem ele conversava por gestos, me fazendo pensar em um daqueles caras que ficam nas praças fazendo mímica; e uma menina muito estranha, toda vestida de preto e com um cabelo de aspecto ensebado e nojento, usando uma maquiagem que a fazia parecer dez anos mais velha.
Respirei fundo, sentindo a náusea voltar, e me obriguei a ir adiante com a ideia do café. Me arrependi da decisão no momento em que me aproximava da mesa. O vândalo me olhou e já se preparava para vir ao meu encontro.
—Bom dia, flor do dia! Por acaso estava pensando em passar por mim sem me cumprimentar? — falou e abriu um daqueles sorrisos que tinham o poder de me desconcertar.
—Não falo com estranhos. Essa foi uma das poucas coisas que a minha mãe me ensinou. — Desviei dele e continuei na direção da lanchonete.
—Mas eu não sou um estranho — continuou, entrando na minha frente e me bloqueando a passagem. — Já nos apresentamos, eu até te dei uma carona, lembra?
— Ahhh, claro. Foi no mesmo dia em que você insinuou que sabia o que me faria bem, né? — retruquei, encarando Christopher. Estava pronta para a briga se ele voltasse a dizer que eu precisava de qualquer tipo de ajuda.
—Desculpe por aquilo. Não foi minha intenção te ofender ou magoar. — Ele estava se desculpando? Fiquei de boca aberta. — E espero sinceramente que você volte para ver os ensaios.
—Pode esperar que eu vou voltar. Mas espere deitado, porque sentado cansa — retruquei, retomando meu caminho.
Como ele podia mexer com meu humor daquele jeito? Algo nele me incomodava muito. Aquele ar de bondade, aquele jeitinho de bom moço... Só podia ser fingimento, uma armadilha para conquistar as garotas. Ah, mas não comigo. Eu estava imune àquela aura de anjo, pode apostar. Dulce Maria não iria se render ao charme dele.
—Um café puro sem açúcar, por favor — pedi ao atendente no balcão.
—Quatro reais, moça. Pode pagar no caixa e retirar aqui comigo — disse o garoto franzino, parecendo entediado com o trabalho desafiador que era servir café.
Se Fernanda não se preocupasse um pouco mais com seu futuro e não se dedicasse ao curso de música, com certeza aquela ali seria uma das únicas coisas que ela poderia fazer para se sustentar. As outras opções não seriam muito recomendadas e teriam a ver com aquele seu corpinho de modelo. Peguei o café e tomei um gole grande, quase esvaziando a pequena xícara.
No momento que senti o líquido quente bater no meu estômago vazio, senti uma náusea ainda maior, seguida de uma dor dilacerante. Não tinha muito tempo; precisava correr para o banheiro. Passei voando, empurrando quem estava no caminho, inclusive Christopher, parado a duas mesas de distância da porta do banheiro feminino. Entrei desesperada na primeira cabine que encontrei. Sem pensar na sujeira, levantei a tampa do vaso e coloquei para fora o café que tinha tomado, acompanhado de uma borra de sangue, mais uma pontada de dor horrível e mais uma borra de sangue. Ouvi ao longe a voz de Christopher chamando meu nome. Tentei responder, mas era tarde: ficou tudo escuro.
Acordei sentindo uma dor de cabeça absurda. Na boca, um gosto horrível de ferrugem. Parecia que eu estava com uma ressaca daquelas, mas não me lembrava de ter bebido. Olhei em volta, me dando conta de que não estava no meu quarto, e sim em uma cama de hospital. Ao meu lado, vi Christopher, sentado em uma poltrona, me encarando com um sorriso aliviado.
—Boa tarde, Bela Adormecida! — ele disse.
—O que aconteceu? Onde eu estou? — perguntei, tentando sentar na cama, mas sendo tomada por uma tontura que me fez voltar a deitar.
—Calma, não se levante. — Veio em minha direção, me acomodando novamente nos travesseiros. — Encontrei você desmaiada no banheiro. Tinha sangue escorrendo da sua boca. Chamei uma ambulância e agora nós estamos no hospital.
—Eu não lembro de nada. O que você está fazendo aqui? Cadê a dona Regina? — perguntei, já desconfiando da resposta que receberia.
—Minha mãe ligou pra sua, mas ela disse que tinha acabado de desembarcar em Manaus e só conseguiria voltar amanhã pra São Paulo. — Senti um pesar em sua voz, como se pedisse desculpas por um erro que não era dele.
Aquilo não me surpreendia. Minha “mãe” nunca esteve ao meu lado nesses momentos. Ela prioriza o emprego, os necessitados. Sempre tive que me virar sozinha, ou contar com a ajuda da Vera, quando ficava doente. Com sete anos, tive que extrair as amídalas. Apesar de o procedimento ter sido agendado com meses de antecedência, dona Regina acabou viajando para fazer uma cirurgia em uma de suas clientes famosas, que precisaria de peitos novos para a novela que iria estrelar. Lembro de ter implorado que minha mãe não fosse. Chorei muito, mas não adiantou. Na hora em que fui encaminhada para o centro cirúrgico, sozinha, jurei que nunca mais iria chorar por causa dela, que seria sempre forte.
—Você me assustou, sabia? Acho que já está na hora de parar de se punir. Não concorda? — Christopher me arrancou do devaneio.
—Você, sempre se metendo onde não é chamado... — retruquei, sentindo que o vândalo estava passando dos limites de novo. — Quem você pensa que é pra achar alguma coisa sobre a minha vida?
—Ô, calma aí, nervosinha! Só estou querendo ajudar. — Levantou as mãos, como se para mostrar que estava desarmado.
—Eu não pedi a sua ajuda.
—Olha, Dulce, eu sei que você não pediu, mas quer saber? Não me importo com isso — ele falou, se aproximando mais da cama. — Não vale a pena arriscar a vida por causa do que quer que seja.
—Não sei do que você está falando. — Desviei o olhar. É claro que eu sabia que ele estava se referindo aos meus hábitos alimentares.
—Sabe, sim. Os médicos disseram que você está com uma úlcera no estômago e que, se não parar agora com o que está fazendo, o quadro pode se agravar. Você pode até morrer. — Me encarou, não com um olhar de acusação ou repreensão. Ele tinha no rosto algo com que eu não estava acostumada a lidar: preocupação. — Nada vale o preço de uma vida, Dulce.
— O que você sabe sobre isso? Quando foi a última vez que você quis tanto alguma coisa que seria capaz de sacrificar tudo para conseguir? — cuspi essas palavras, sentindo a raiva tomar conta de mim. — Quem é você pra me julgar ou me dizer o que eu devo ou não fazer?
—Você está certa. Eu não sou ninguém. Mas, acredite, eu sei a importância que a vida tem, como ela é frágil. Quando a gente menos espera, tudo pode acabar. — Por um momento, vi uma nuvem de tristeza passar por seus olhos azuis. Ele se levantou da poltrona e se dirigiu à porta de saída. — Tudo na vida tem um preço, mas nem tudo vale o preço cobrado. Pense nisso. O médico já te deu alta, espero você lá embaixo pra te levar pra casa.
Saiu do quarto antes que eu pudesse responder alguma coisa. Quem ele pensava que era para me dar uma lição de moral? Vândalo! Intrometido! Idiota! Me sentei na cama devagar, ainda sentindo um pouco de tontura. Esperei alguns momentos, até que um senhor de uns cinquenta anos e cabelos grisalhos entrou no quarto
—Como está se sentindo, Dulce? — disse, estendendo a mão em minha direção. — Sou o dr. Rubens. Te atendi assim que você deu entrada no hospital. Foi um susto e tanto, hein, mocinha?
—Estou me sentindo melhor. Ainda um pouco enjoada e sonolenta.
—Isso é normal. Nós te demos um analgésico e um remédio pra enjoo que dá um pouco de sono mesmo, mas vai passar logo. Você já pode ir pra casa, mas eu gostaria que me prometesse que vai procurar um especialista — orientou, em tom preocupado. — Seu quadro é delicado. Você precisa se cuidar. Se acontecer uma próxima vez, pode ser que você não tenha tanta sorte. Úlcera é um problema sério. Se perfurar o seu estômago, os riscos de uma situação mais grave são enormes.
—Eu entendo. Prometo que vou me cuidar e procurar um médico. — Não consegui dar àquelas palavras a credibilidade que queria.
—Você precisa de ajuda pra se trocar? Quer que eu chame uma enfermeira? — Ao ver que eu fazia um sinal de negativo com a cabeça, continuou: — Então está bem... Entregue isto na recepção e pode ir pra casa. Eu quero que você tome essa medicação por sete dias. Depois, mocinha, procure um especialista. Boa sorte! — Ele saiu do quarto e me deixou sozinha.
Na recepção, encontrei Christopher sentado em uma das cadeiras da sala de espera. Ele se levantou e veio em minha direção. Me ofereceu o braço para que eu me apoiasse e por um momento me permiti ser ajudada. Assim que ele parou o carro na frente da minha casa, correu para abrir a porta e me apoiar até chegarmos à entrada.
—Não precisa me levar lá dentro. Já me ajudou bastante.
—Tem certeza que não quer que eu te coloque na cama? — falou, em tom de ironia.
—Você já está passando dos limites, vândalo — retruquei, tentando disfarçar o calor que subiu pelo meu rosto. — Pode ir agora. Está dispensado do trabalho de babá.
—Sim, madame. — Ele fez uma reverência que me fez sorrir um pouco. Se virou e seguiu em direção ao carro.
— Ah, vândalo... — chamei, o que o fez parar e olhar para mim. — Obrigada.
Christopher se limitou a sorrir, entendendo que dizer aquilo tinha sido difícil para mim. Admitir que eu tinha precisado de ajuda, e ainda engolir meu orgulho agradecendo, era um passo enorme. Me virei para entrar em casa quando ele me chamou de dentro do carro.
—Dulce, eu preciso dizer uma coisa. Você estava linda com aquela camisola de hospital — gritou, com o olhar malicioso, e deu a partida no carro antes que eu pudesse xingá-lo de tarado.
Fiquei ali, parada em frente à porta, com a boca aberta e os olhos arregalados.
—Vândalo... — sussurrei para mim mesma, com um sorriso que teimou em aparecer no meu rosto.
Onde acho um Christopher desse?? To precisando
Autor(a): GrazihUckermann
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Sangue e gelo Já fazia três dias que eu tinha passado mal ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 21
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candy1896 Postado em 01/09/2017 - 18:11:49
CONTINUAA
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candy1896 Postado em 23/08/2017 - 19:55:54
Continuaa
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candy1896 Postado em 22/08/2017 - 10:12:11
CONTINUA
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candy1896 Postado em 14/08/2017 - 18:55:10
Continuaa
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AnazinhaCandyS2 Postado em 03/08/2017 - 22:25:16
Pelo menos ela disse obrigada depois dele ter ajudado ela! Continua!
GrazihUckermann Postado em 07/08/2017 - 18:52:42
Um grande passo para ela kkkk
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AnazinhaCandyS2 Postado em 02/08/2017 - 18:39:44
Dulce ñ baixa essa guarda, Christopher tenta ser legal mas ela ñ coopera. Adorei quando ela viu a 'lata velha' kkkkkk. Continua!!
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AnazinhaCandyS2 Postado em 01/08/2017 - 19:12:50
Fernanda ta de olho no Christopher *0* Dulce elogiando o Pedro só pq ele é um playboyzinho mas la no fundo ela preferia ta comendo um cachorro quente com o vadalo, nossa viajei aqui kkkk. Continua!
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AnazinhaCandyS2 Postado em 28/07/2017 - 19:45:51
Huum Dulce pensando no delinquente pichador amo *-* Pedro ñ desiste né, espero que ele ñ faça nd errado! Continua!!
GrazihUckermann Postado em 01/08/2017 - 20:14:28
Tenho uma raiva muito grande por esse Pedro, queria muito que ele não fizesse nada de errado...
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AnazinhaCandyS2 Postado em 26/07/2017 - 18:49:20
Dulce tem que ser mais querida, ela ta muito insensível, acho que o Christopher vai fazer uma grande mudança na vida dela *-* Continua!!
GrazihUckermann Postado em 01/08/2017 - 20:15:31
Ele vai ter que ter muita calma e paciência para mudar a Dulce kkk
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AnazinhaCandyS2 Postado em 24/07/2017 - 18:56:39
Dulce ñ foi mesmo com a cara do Christopher, mas eu adoro esse jeito dele *-* Continua!!
GrazihUckermann Postado em 24/07/2017 - 19:01:52
Christopher é um amor, já me apaixonei por ele s2 Como ele consegue ser tão calmo com uma Dulce dessa? kkkkk