Fanfics Brasil - Confiança - Parte 1 O garoto do cachecol vermelho - Vondy

Fanfic: O garoto do cachecol vermelho - Vondy | Tema: Vondy


Capítulo: Confiança - Parte 1

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                           Confiança


   A delegacia de defesa da mulher mais próxima ficava a mais ou menos trinta minutos da faculdade. Eu nunca tinha entrado em um lugar como aquele, e confesso que por um momento pensei em desistir, mas Christopher me empurrou delicadamente, me encorajando a ir até o balcão, onde estava um homem de aparência envelhecida.


 Depois que informei o motivo que tinha me levado até ali, ele me encaminhou até uma sala para que a delegada pudesse pegar meu depoimento e abrir uma queixa formal. Confesso que tudo passou como um daqueles filmes que você não lembra bem como começou ou qual o enredo. Você sabe que está assistindo, mas não se prende realmente à história. Depois de alguns minutos sentada na sala da delegada, ela entrou, e sua aparência me surpreendeu: era jovem ainda, não devia ter mais de trinta anos, bonita e de sorriso largo. Chegou me cumprimentando de forma educada e se sentou à mesa, já apontando para meu rosto e perguntando quem era o covarde que tinha feito aquilo comigo. Passei mais ou menos uma hora prestando depoimento, depois fui encaminhada para o Instituto Médico Legal, para fazer exame de corpo de delito. Tiraram várias fotos e mediram meus ferimentos, para fazer os laudos que seriam anexados ao processo.


 Depois do exame, voltei para a delegacia, pois, como a delegada me falou, ainda não tinham terminado as vinte e quatro horas que configuram o flagrante. Ela iria mandar uma viatura para a casa do Pedro. Ele ia ser preso. Quando cheguei, fui informada pela delegada de que não o tinham encontrado. Disse para eu não me preocupar; eu poderia pedir para um juiz emitir uma ordem de restrição, que o impediria de se aproximar de mim. Me informou sobre todos os passos do processo e foi sincera, dizendo que infelizmente, na maioria dos casos, a única punição para esse tipo covarde de crime era o pagamento de algumas cestas básicas.


 Depois que saí da delegacia, confesso que me senti aliviada. Era como se eu tivesse, através daquele ato, lavado a minha alma. É preciso ter muita coragem para denunciar esse tipo de coisa. Nunca me senti tão exposta, principalmente quando fiz os exames no IML: expor meu corpo e todas as marcas da violência que sofri parecia vergonhoso. Mas me dei conta de que quem deveria se envergonhar era o culpado de tudo aquilo, e não eu. Nenhuma mulher deve aguentar calada qualquer tipo de violência. Eu senti medo, tive dúvidas se deveria denunciar. Só que, se eu o protegesse, com certeza ele faria aquilo de novo; se não comigo, com outra. E eu seria, de certa forma, cúmplice dessa violência.


 Christopher ficou ao meu lado o tempo todo. Se não fosse pelo apoio dele, talvez eu não tivesse conseguido enfrentar tudo aquilo. Eu ainda não entendia o porquê de ele se preocupar tanto comigo, mas no fundo estava agradecida.


                                                                              ***


Acordei com o despertador tocando. Abri os olhos, vendo o teto de gesso do meu quarto iluminado pela luz do sol, que ainda nascia. A brisa fria da manhã balançava as persianas com suavidade. Eu não tinha vontade nenhuma de levantar da cama, mas precisava. Havia prometido a Christopher que estaria pronta às seis e meia. Me levantei da cama, ainda encontrando dificuldade para fazer qualquer movimento sem sentir uma pontada de dor nas costelas. Três dias haviam se passado, mas ainda era difícil fazer alguns movimentos. Tomei um banho e penteei com os dedos meu cabelo molhado. Vesti um short jeans claro, uma camiseta preta e amarrei uma camisa xadrez vermelha na cintura para o caso de sentir frio mais tarde. Calcei minhas sandálias gladiador e passei maquiagem suficiente para esconder a sombra arroxeada ao redor do olho direito. 


 Apesar de Christopher não ter dito o que iríamos fazer, já imaginava que ele não me levaria para alguma festa ou coisa assim, então não vesti nada muito elaborado. Antes de sair, já o ouvindo buzinar, coloquei os óculos escuros, peguei a bolsa e saí rapidamente, parando apenas para pegar uma maçã na cozinha. Mal tinha fechado a porta de casa quando me virei para olhá-lo. Meu queixo caiu. O carro que ele dirigia não era a picape de sempre. Era um... um... um carro antigo. Um conversível vermelho.


— Bom dia, flor do dia — ele me cumprimentou enquanto eu entrava, boquiaberta, colocando a bolsa no chão e afivelando o cinto de segurança.


— Você tá falando sério?! Isto aqui é um...


— Um Bel Air. Exatamente. Um clássico.


 Eu estava chocada. Quer dizer... ele tinha alguma ideia de como eu amava coisas vintage? Era incrível! Aquilo sim era mágica.


— Demais!


— Que bom que você gostou. A nossa viagem vai ser bem longa.


— Como assim? — perguntei, ainda encantada com o carro, tentando absorver cada detalhe.


 O garoto sorriu, dando a partida e voltando a olhar para a frente. Ele vestia calça jeans, regata branca e camisa azul-clara por cima, com as mangas dobradas até os cotovelos. Os óculos de sol eram do modelo aviador, com o aro dourado e as lentes num tom alaranjado. O cachecol que deveria estar usando naquele dia, na verdade, estava amarrado no encosto de cabeça do banco do motorista, o que me fez rir. Christopher segurava o volante com apenas uma das mãos. Ele apertou alguns botões do rádio, que me parecia um pouco moderno demais para o contexto. Eu o observei colocar um dos CDs que havia trazido. Aquele era, pelo que me disse, o Com você... meu mundo ficaria completo. Perguntei:


— Um toca-CDs?


— Meu pai pediu para fazerem algumas modificações durante a restauração.


— Que pecado — murmurei, balançando a cabeça.


— Foi o que eu falei pra ele — respondeu, sorrindo e voltando a se ajeitar no banco enquanto a primeira música começava a tocar.


 Aquilo me fez lembrar de três dias antes, quando eu dancei no palco especificamente para ele. Para minha surpresa, o garoto ainda não tinha feito nenhuma piadinha sobre aquilo. Será que havia notado? Espere...


— Você disse que este é um Bel Air, né? — perguntei, e ele assentiu com um sorriso orgulhoso, como se estivesse feliz por eu finalmente ter descoberto o motivo de ter vindo com aquele carro.


 No início da música que eu tinha dançado, havia um verso que dizia: “Diamonds, brilliants and Bel Air now”.


 Bel Air... O carro. Eu o encarei, com cara de boba, enquanto ele se fazia de desentendido. O que será que aquilo significava? Que ele havia entendido? Que havia realmente prestado atenção? Que sabia em que eu estava pensando enquanto dançava? Bom... eu tinha que perguntar, né? Não. Nem a pau. Ele que se pronunciasse. Eu não diria nenhuma palavra.


 As horas seguintes foram repletas de pessoas nos encarando, Christopher aumentando o volume enlouquecidamente a cada vez que eu ameaçava reclamar de alguma coisa e minhas tentativas falhas de descobrir aonde estávamos indo. O vento era quase insuportável, o que, de certa forma, tornava tudo mais legal, e as estradas estavam vazias. Haviam se passado mais ou menos duas horas quando ele parou numa loja de conveniência em um posto de gasolina para eu ir ao banheiro. Aproveitamos para comprar alguma coisa para comer. Tentei, em vão, comprar uma latinha de cerveja, já que o calor era grande e fazia muito tempo que eu não bebia nada alcoólico, mas Christopher me impediu, usando o argumento do A-C-OR-D-O. Depois de uma breve discussão, desisti da ideia e peguei um suco de laranja. Desde que tinha decidido cuidar melhor da minha alimentação, apesar de ainda não ter me consultado com uma nutricionista, eu procurava comer a intervalos regulares. Nada calórico, é claro; frutas e sucos naturais tinham virado meus companheiros constantes. O engraçado de tudo isso é que eu me sentia com muito mais energia, o que melhoraria meu desempenho nos treinos. A cada dia que passava eu sentia que havia tomado a decisão certa: cuidar de mim.


 Sentei no banco traseiro do carro, com as pernas esticadas e os braços cruzados, e ele fez o mesmo no da frente, me encarando com um sorriso satisfeito enquanto segurava sua garrafa de água de gente careta.


— Quer uma foto? Dura mais — falei, quando não estava mais aguentando que ele me encarasse.


— Não vai ficar brava comigo, né? Nem tudo pode ser do jeito que você quer. Se não fica legal demais, e essa não é a minha intenção.


— E a sua intenção é me irritar? É isso?


 Ele riu, balançando a cabeça e me chamando de ingrata enquanto saía do carro para subir a capota. Só quando ele o fez, e eu tive tempo de analisar o interior do carro com atenção, notei que havia um violão e algumas latas de tinta no chão. Interessante. Nós iríamos vandalizar algum lugar? Eu esperava realmente que não. Agora, qual era o motivo de ele ter me chamado de ingrata? Quer dizer... ele tinha entrado numa briga por mim, se propôs a me ajudar e estava fazendo uma viagem de horas até um lugarX... tudo por minha causa. Ah. Problema dele. Eu só aceitei a proposta.


 Passei para o banco da frente, observando enquanto ele entrava mais uma vez no carro e dava a partida sem falar nada. É claro que nós entramos em outra discussão alguns minutos depois, quando falei que era a minha vez de escolher as músicas. E é claro que fui eu quem ganhou. Liguei o rádio, e uma música eletrônica alta começou a tocar. Não era o meu gênero preferido, mas combinava com aquele tipo de viagem, então aumentei ainda mais o volume e coloquei os pés no painel, aproveitando o silêncio entre nós


— eu sabia que seria passageiro.


— Será que ainda vai demorar muito pra gente chegar? — perguntei.


— Será que você consegue deixar de ser chata, exigente e impaciente pelo menos por alguns minutos?


— Quem você pensa que...? — comecei, mas ele aumentou o volume do rádio antes que eu tivesse a chance de continuar.


 Eu o encarei, irritada, e desliguei o som. Ele apenas bufou, apertando um pouco os dedos ao redor do volante. Pude ver que os músculos do seu braço estavam tensionados, o que os deixava ainda mais visíveis sob a camisa apertada. O sol que vinha da janela cegava meus olhos, mas não pude deixar de continuar encarando. Seu cabelo, sob aquela luz, tinha cor de trigo. Segurar o volante daquele jeito e fazer aquela expressão ao mesmo tempo séria e irritada dava a ele um ar de garoto rebelde que o deixava ainda mais atraente. Se é que isso era possível.


— Você está bravo mesmo, né? — perguntei, já me encolhendo um pouco no banco, esperando que ele gritasse um enorme “SIM” na minha orelha.


— O que você acha?


— Olha — falei, após uma longa pausa, me convencendo de que aquilo era realmente a coisa certa a dizer. — Eu sei que posso ser meio ingrata às vezes e...


— MEIO?! — Fui interrompida de forma sarcástica.


— Cala a boca e me deixa terminar — murmurei, tão rápido e baixo que duvidei um pouco que ele tivesse ouvido. — Eu sei que posso ser meio ingrata às vezes, e irritante, e exigente etc., mas também posso ser legal, e quero ter a chance de te mostrar isso.


— Começando agora? — A sobrancelha dele estava levantada.


 Seu tom me chateou um pouquinho, mas me limitei a respirar fundo e assentir. Se continuasse agindo daquele jeito, era bem capaz de Christopher acabar desistindo de mim, e não era isso que eu queria. Eu queria ver o que ele podia fazer, do que era capaz. Me parecia tão confiante em seu plano que, no fim, criei confiança nele também, e a última coisa que eu precisava naquele momento era de outra decepção.


— Ok. Eu sei que também posso fazer muito melhor do que isso — admitiu. — Então... a partir de agora, não vamos mais brigar até o fim do dia. Combinado?


— Duvido que a gente vá conseguir cumprir essa promessa. Não é melhor uma coisa mais fácil? — brinquei, o que o fez sorrir. Um sorriso de verdade agora, sem nenhuma ironia ou sarcasmo. — Tá bom... Não vamos brigar até chegar ao nosso destino.


— Combinado.


 E realmente não brigamos. É óbvio que tínhamos que levar em conta o fato de termos ficado em silêncio pelo resto do caminho, para evitar qualquer tipo de discussão, mas já foi um grande avanço, né? Pense o que quiser. Para mim, foi.


 


 



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Autor(a): GrazihUckermann

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 21



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  • candy1896 Postado em 01/09/2017 - 18:11:49

    CONTINUAA

  • candy1896 Postado em 23/08/2017 - 19:55:54

    Continuaa

  • candy1896 Postado em 22/08/2017 - 10:12:11

    CONTINUA

  • candy1896 Postado em 14/08/2017 - 18:55:10

    Continuaa

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 03/08/2017 - 22:25:16

    Pelo menos ela disse obrigada depois dele ter ajudado ela! Continua!

    • GrazihUckermann Postado em 07/08/2017 - 18:52:42

      Um grande passo para ela kkkk

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 02/08/2017 - 18:39:44

    Dulce ñ baixa essa guarda, Christopher tenta ser legal mas ela ñ coopera. Adorei quando ela viu a 'lata velha' kkkkkk. Continua!!

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 01/08/2017 - 19:12:50

    Fernanda ta de olho no Christopher *0* Dulce elogiando o Pedro só pq ele é um playboyzinho mas la no fundo ela preferia ta comendo um cachorro quente com o vadalo, nossa viajei aqui kkkk. Continua!

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 28/07/2017 - 19:45:51

    Huum Dulce pensando no delinquente pichador amo *-* Pedro ñ desiste né, espero que ele ñ faça nd errado! Continua!!

    • GrazihUckermann Postado em 01/08/2017 - 20:14:28

      Tenho uma raiva muito grande por esse Pedro, queria muito que ele não fizesse nada de errado...

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 26/07/2017 - 18:49:20

    Dulce tem que ser mais querida, ela ta muito insensível, acho que o Christopher vai fazer uma grande mudança na vida dela *-* Continua!!

    • GrazihUckermann Postado em 01/08/2017 - 20:15:31

      Ele vai ter que ter muita calma e paciência para mudar a Dulce kkk

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 24/07/2017 - 18:56:39

    Dulce ñ foi mesmo com a cara do Christopher, mas eu adoro esse jeito dele *-* Continua!!

    • GrazihUckermann Postado em 24/07/2017 - 19:01:52

      Christopher é um amor, já me apaixonei por ele s2 Como ele consegue ser tão calmo com uma Dulce dessa? kkkkk


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