Fanfic: O garoto do cachecol vermelho - Vondy | Tema: Vondy
Promessas
— Impossível — falei, pasma.
Já fazia horas que Christopher estava tocando violão e cantando para si mesmo. Tínhamos dado mais voltas, ido almoçar, ele havia entrado no mar mais uma vez, e tínhamos até mesmo feito uma guerrinha de água. Quando tudo ficou tedioso demais, ele decidiu tocar. E era incrível como sabia a letra e os acordes exatos de cada uma das músicas. Meia hora antes, eu o havia desafiado a tocar qualquer canção que eu pedisse. Por incrível que pareça, ele sabia cada uma delas. Sorria orgulhoso para mim a cada vez que eu demonstrava surpresa.
— É claro que você está roubando! Toca uma sem refrão se é tão bom assim! — falei.
Na mesma hora, Christopher converteu “O segundo sol”, na versão da Cássia Eller, em “Faroeste caboclo”, do Legião Urbana. Não havia se passado um minuto quando provoquei:
— Todo mundo conhece essa. É até...
— “Não tinha medo o tal João de Santo Cristo, era o que todos diziam quando ele se perdeu” — começou.
— Decorar o início é fácil! — duvidei.
— “E nisso o sol cegou seus olhos, e então Maria Lúcia ele reconheceu!” — cantou a seguir, pulando praticamente a música inteira e mudando os acordes, como se fosse a coisa mais simples do mundo.
— Eu não gosto de você — murmurei, percebendo que havia perdido.
Ele riu alto. Colocou o violão de lado, se deitando e fechando os olhos. É claro que, como ele estava sem camiseta, ali, todo exposto, eu tive que olhar. E tive que resistir ao impulso de aplaudir de pé. Estava mesmo de parabéns. Ainda mais bronzeado depois de horas de exposição ao sol, que agora estava se pondo. Até mesmo o cabelo havia clareado um pouco.
— Ainda bem que olhar não tira pedaço, né? — comentou, abrindo um dos olhos e me flagrando no ato.
— Se tirasse, eu nem estaria mais aqui — retruquei, rezando para não começar a ficar vermelha, como provavelmente estava acontecendo.
— Pelo menos nós concordamos em alguma coisa.
Sorri, desviando o olhar e voltando a me concentrar na vista. A praia ficava cada vez mais vazia, e, pelo que eu podia ver, as únicas pessoas que restavam era um grupo de jovens que se aproximava. Pareciam hippies. Alguns seguravam instrumentos musicais, outros carregavam sacolas de comida e um deles levava um cooler. Este último até que era bem bonitinho, com seu cabelo ruivo e barba malfeita. Não demoraram muito para nos alcançar. Fizeram uma fogueira a alguns metros de nós e se sentaram ao redor.
O céu agora tinha tons de laranja intenso e pêssego. As nuvens eram azuis, arroxeadas. Algumas tinham um tom rosado. O sol já tocava o mar, que parecia ter assumido uma cor próxima do preto. Era uma das coisas mais lindas que eu já tinha visto. Christopher se apoiou nos cotovelos para ver o pôr do sol também, e poucos minutos depois voltou a se sentar. Não consegui deixar de devorar o corpo dele com os olhos mais uma vez. Como alguém podia ser tão lindo? Cada traço parecia ter sido desenhado por Michelangelo. Ele parecia a representação viva de um anjo. Desculpe. O que é bonito é para ser olhado, né? Eu não podia perder a chance.
— Quer ir lá? — Christopher perguntou, observando o grupo, que ria de alguma coisa.
— Está louco? É um bando de drogados!
Ele sorriu, se levantando e pegando o violão e a mochila.
— Eu subestimei você.
— O que você quer dizer com isso?
Não tive resposta, já que ele me deu as costas e foi até o grupo. Trocou algumas palavras com um deles e depois se sentou na roda. Fiquei parada no lugar. Ele realmente havia me deixado sozinha? Não. Eu não ia admitir isso. Me levantei, dobrando o lençol e o enfiando na mochila. Depois fui até perto da fogueira, sentindo o sangue subir. Ele fingiu não ver que eu me aproximava, conversando com a garota sentada a seu lado. Ela estava tão bronzeada que sua pele parecia laranja. O cabelo castanho liso tinha alguns dreads. Conforme me aproximava, vi que ela tinha um piercing de argola preto no nariz, e os olhos eram cor de chocolate. Larguei a mochila ao lado dele no chão, chutando areia em suas costas logo depois. Ele virou a cabeça em minha direção, me fuzilando um pouco com o olhar. Todos pararam para me encarar. Perguntei, ignorando cada um deles:
— Quem você pensa que é pra me deixar ali, plantada, sozinha que nem uma idiota, Christopher?! Não sou qualquer uma, que você pode simplesmente largar como se fosse lixo. E muito menos daquelas que, quanto mais o cara maltrata, mais ela gosta. Não, meu querido, eu... — Fiz uma pausa, tentando voltar a raciocinar enquanto o via se levantar. — Eu posso muito bem ir embora sem você, se quer saber.
— Ah, pode? Como? — ele perguntou, se aproximando.
— Eu posso arranjar uma carona! Ou chamar a polícia, se você preferir. Posso dizer que você me sequestrou e me trouxe até aqui à força — anunciei, recuando alguns passos.
— É uma ótima ideia. Ainda mais pra uma garota como você. Tenho certeza de que vai se divertir muito fazendo um escândalo. — Ele parou no lugar e cruzou os braços, me olhando como se me desafiasse.
— Você me chamou de... de... de barraqueira?! — gritei, sentindo o ódio pulsar nas veias.
Fui para cima dele, prestes a enchê-lo de socos e chutes, mas Christopher segurou meus braços antes que eu tivesse a chance. Me debati, ignorando a dor nas costelas, tentando chutá-lo, mas o máximo que consegui foi jogar um pouco de areia nele com os pés. Aquele imbecil riu da minha cara, ainda segurando meus punhos. Isso só serviu para me irritar mais ainda. Foi quando um dos jovens tocou um acorde em seu violão, e depois outro, e mais outro. Isso me fez parar.
O garoto começou a cantar, e o que estava ao seu lado começou a balançar um tipo de maraca ou algo assim. Em menos de um minuto estavam todos tocando e cantando uma música que falava sobre o fato de o amor ser uma guerra, e que todo mundo precisa lutar por eleou algo assim. Espera. Eles... eles estavam tocando aquilo pra gente? Mas que malucos! De onde tiraram essa ideia? Muito sem noção...
Christopher começou a rir, soltando meus punhos, e tive que resistir ao impulso de bater nele mais uma vez. Cruzei os braços, batendo um dos pés no chão, irritada. Ignorando completamente o fato de estarem todos tocando e cantando enquanto olhavam para nós, como se esperassem algo. O vândalo estendeu a mão na minha direção, como um convite para dançar, mordendo o lábio enquanto sorria. Seu olhar dizia algo como: “Não custa nada tentar! Vamos!” Empurrei sua mão para o lado antes de voltar a cruzar os braços, recusando o pedido, o que arrancou risos de alguns dos jovens. Acabei sorrindo um pouco também, baixando a cabeça para tentar esconder isso.
Christopher colocou as mãos na minha cintura, se aproximando. Me mantive imóvel, evitando olhar para ele. Não daria esse mole, pelo menos não por enquanto. Quando tinha se aproximado tanto que meus lábios quase tocavam seu ombro, apertou um pouco mais os dedos ao redor do meu quadril, me puxando para perto. Prendi a respiração. Ele estava sem camiseta, o que dificultou um pouco o meu processo respiratório. Depois, passou os braços ao redor da minha cintura, me apertando um pouco mais antes de dar um passo, seguido de outro e mais outro. Fui obrigada a acompanhar os movimentos dele, até notar que estávamos dançando. Revirei os olhos, cedendo depois de algum tempo e passando os braços ao redor do pescoço dele, e todos aplaudiram.
— Eu não gosto de você — reforcei, ignorando o fato de ele estar me encarando com o mesmo sorriso de antes. Sentia sua respiração em meu rosto.
— Eu sei — sussurrou, o que me fez, finalmente, olhar para cima.
Para ele. Me olhava de um jeito intenso. Do jeito como a gente olha para alguma coisa que não pode ter. Perguntei:
— O que houve?
— Nada. É só que... — Franziu a testa, agora olhando na direção do mar. — Eu estou com muita vontade de te beijar agora.
— O... O... O quê?
Christopher sorriu, sem graça, ainda sem olhar para mim, enquanto eu sentia minhas bochechas queimarem. Ele queria me beijar? Me beijar?! Eu e ele? Ok. Respire fundo e aja normalmente. Não é a primeira vez que alguém te diz isso, não é, Dulce?
Pior que era, sim. A primeira vez que alguém falava assim, na lata, que queria me beijar. Eu podia dizer o que estava sentindo naquele momento ou simplesmente fingir que não queria. Quer dizer, ele era bonito (muito bonito, tipo, muito mesmo), legal, engraçado (quando não era irritante) e nós estávamos bem próximos ali. Então, por que não? Senti um nervosismo estranho enquanto respondia:
— Você sabe que pode fazer isso. Se... se quiser de verdade.
Ele voltou a olhar para mim, visivelmente surpreso. É óbvio que não esperava aquela resposta. Para falar a verdade, acho que nem eu mesma esperava, mas qual era o problema? Bom, havia uma lista deles, mas optei por ignorá-la enquanto ele se aproximava ainda mais. Fiquei na ponta dos pés, encostando a testa na de Christopher e fechando os olhos enquanto ele subia uma das mãos pelas minhas costas, para me apertar um pouco mais, antes de colar os lábios nos meus. Tinha um gosto salgado de água do mar, que, pela primeira vez, me pareceu bom.
Entrelaçou os dedos em meu cabelo, me apertando mais contra ele. O ar estava tão quente, e o beijo tão intenso que minha cabeça começou a girar. Meu coração batia forte. Eu duvidava que ele não pudesse ouvir. Pressionei os dedos em suas costas. Meu Deus. Nunca tinha beijado um anjo, e nunca saberia qual é a sensação, mas acho que, se pudesse adivinhar, devia ser tão bom quanto. O vândalo sabia o que estava fazendo. Conforme o beijo ficava mais intenso, meu corpo parecia estar sendo engolido por uma onda de fogo, e, quando começou a ficar bom demais para ser verdade, ele se afastou, endireitando as costas e desviando o olhar.
— Eu não posso fazer isso. Nós temos um acordo.
— E em que parte do acordo aparece que...? — comecei, ainda sem ar.
— Na minha parte — respondeu, antes que eu pudesse terminar, me soltando de seu abraço. — Desculpa.
Dei alguns passos para trás, confusa. Eu tinha vivido um dos momentos mais intensos da minha vida e agora estava ali, de frente para ele, com cara de boba, me sentindo rejeitada, perdida, em um turbilhão de sentimentos conflitantes. Meu primeiro impulso foi partir a cara dele ao meio com um chute ou algo assim, mas acabei desabando na areia, ignorando os olhares de todos e fingindo não saber que Christopher estava me encarando quando sentou ao meu lado. Fiquei ali sentada, encarando o nada e me mantendo em silêncio enquanto todos conversavam e tocavam.
Autor(a): GrazihUckermann
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 21
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candy1896 Postado em 01/09/2017 - 18:11:49
CONTINUAA
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candy1896 Postado em 23/08/2017 - 19:55:54
Continuaa
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candy1896 Postado em 22/08/2017 - 10:12:11
CONTINUA
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candy1896 Postado em 14/08/2017 - 18:55:10
Continuaa
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AnazinhaCandyS2 Postado em 03/08/2017 - 22:25:16
Pelo menos ela disse obrigada depois dele ter ajudado ela! Continua!
GrazihUckermann Postado em 07/08/2017 - 18:52:42
Um grande passo para ela kkkk
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AnazinhaCandyS2 Postado em 02/08/2017 - 18:39:44
Dulce ñ baixa essa guarda, Christopher tenta ser legal mas ela ñ coopera. Adorei quando ela viu a 'lata velha' kkkkkk. Continua!!
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AnazinhaCandyS2 Postado em 01/08/2017 - 19:12:50
Fernanda ta de olho no Christopher *0* Dulce elogiando o Pedro só pq ele é um playboyzinho mas la no fundo ela preferia ta comendo um cachorro quente com o vadalo, nossa viajei aqui kkkk. Continua!
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AnazinhaCandyS2 Postado em 28/07/2017 - 19:45:51
Huum Dulce pensando no delinquente pichador amo *-* Pedro ñ desiste né, espero que ele ñ faça nd errado! Continua!!
GrazihUckermann Postado em 01/08/2017 - 20:14:28
Tenho uma raiva muito grande por esse Pedro, queria muito que ele não fizesse nada de errado...
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AnazinhaCandyS2 Postado em 26/07/2017 - 18:49:20
Dulce tem que ser mais querida, ela ta muito insensível, acho que o Christopher vai fazer uma grande mudança na vida dela *-* Continua!!
GrazihUckermann Postado em 01/08/2017 - 20:15:31
Ele vai ter que ter muita calma e paciência para mudar a Dulce kkk
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AnazinhaCandyS2 Postado em 24/07/2017 - 18:56:39
Dulce ñ foi mesmo com a cara do Christopher, mas eu adoro esse jeito dele *-* Continua!!
GrazihUckermann Postado em 24/07/2017 - 19:01:52
Christopher é um amor, já me apaixonei por ele s2 Como ele consegue ser tão calmo com uma Dulce dessa? kkkkk