Fanfic: O garoto do cachecol vermelho - Vondy | Tema: Vondy
Entramos na cidade, dando voltas e mais voltas pelas ruas. Ele permanecia em silêncio tanto quanto podia, falando apenas se realmente necessário. Tipo quando perguntei para onde estávamos indo.
— Para um lugar que vai mudar a sua vida.
Não foi exatamente uma resposta, mas serviu para me deixar empolgada e curiosa. Então era ali que as coisas iriam esquentar? Ótimo. Eu estava esperando por aquele momento a semana inteira, desde que tínhamos feito nosso acordo, e ver que Christopher iria finalmente colocá-lo em prática me deixou entusiasmada. O que eu pensei? Bom... ele poderia me levar para uma festa superlegal, cheia de pessoas ricas que eu conheceria. Seriam ótimos contatos para que eu conseguisse o que mais queria, que era a transferência para a Juilliard. Ele podia me levar para um shopping e me deixar fazer compras, o que seria o máximo. Ou podia me levar para um lugar X para fazer coisas X que me deixariam entediada. A terceira opção era a mais provável.
— Chegamos — anunciou, puxando o freio de mão e virando a chave para desligar o motor.
Tínhamos parado em frente a um shopping imenso e muito bonito. Abri um enorme sorriso, na esperança de que ele estivesse, sim, me levando para fazer alguma coisa legal. Então abriu o porta-malas, pegou um saco de pano branco enorme, atravessou a rua e entrou no hospital que ficava em frente. Eu o segui, confusa, e perguntei:
— Pensei que a gente fosse ficar ali do outro lado. O que nós estamos fazendo aqui?
— Eu disse que ia te levar pra um lugar que ia mudar a sua vida — respondeu, sorrindo feito criança quando acaba de aprontar alguma coisa. — Nunca disse que seria um shopping.
Bufei, parando de braços cruzados atrás de Christopher, que trocou algumas palavras com uma atendente no balcão da recepção do hospital. O que é que nós iríamos fazer ali? Eu não estava com nenhuma vontade de chegar perto de algum... doente.
Depois que terminou de conversar com a mulher, ele fez um gesto para que eu o seguisse. Obedeci, a contragosto. O que mais eu poderia fazer? Fugir a pé? Não. Tenho certeza de que ele me alcançaria antes que eu tivesse a chance de atravessar a porta.
Entramos no elevador e subimos alguns andares em silêncio. Christopher ainda se recusava a dizer qualquer coisa, mas achei que em breve saberia. E estava certa. Assim que as portas se abriram, demos de cara com um corredor cheio de portas de madeira enormes e janelas de vidro. Estava silencioso e frio demais, e dava para ouvir o bip bip bip daquelas máquinas que medem os batimentos cardíacos atrás das portas fechadas. Engoli em seco. Aquilo não estava começando bem. Mudar minha vida? Por enquanto não estava dando muito certo.
Antes de começar a percorrer o corredor, Christopher segurou meu braço. Tinha a expressão séria de quem ia dizer algo importante. Algo que requeria atenção, apesar de eu não querer dar muito disso a ele. Preferia me manter distante e voltar a pensar no que tinha acontecido na noite anterior. Ele falou tão baixo que precisei me inclinar um pouco em sua direção para ouvir melhor:
— Quando entrarmos lá, tente não deixar óbvio o desprezo que sente por qualquer tipo de pessoa doente. Elas só precisam de um pouco de alegria no tempo que lhes resta. Então, se você não quiser ajudar, tudo bem. Pode ficar parada num canto aqui fora, em silêncio, evitando contato físico. Mas, se for entrar nisso, se quiser realmente saber por que eu te trouxe aqui, então tem que ser de coração. Tem que dar toda a sua atenção a eles. Ok?
Assenti, tentando pensar no motivo de ele estar falando tão sério. Parecia muito importante para ele, e eu não iria atrapalhar. Tinha que ter o mínimo de respeito, e, se isso significava que eu precisaria virar uma estátua no canto da parede, então assim seria. Por ele. Paramos diante da primeira porta, e ali eu me detive, olhando através da janela que mostrava o interior da sala. Lá dentro havia várias camas enfileiradas, pelo menos dez, e em cima delas estavam crianças. Eu diria que tinham de cinco a oito anos de idade. Nenhuma tinha um fio de cabelo nem sobrancelhas, e todas tinham olheiras profundas no rosto pequeno e pálido. Não estavam ligadas a nenhum tipo de aparelho.
— Elas... — comecei.
— Estado terminal — ele disse. — As famílias preferem que fiquem aqui e recebam cuidados paliativos para diminuir o sofrimento. — Suspirou antes de continuar, já com a mão na maçaneta, observando cada uma das crianças pela janela. — Eu venho aqui sempre que posso. Todas as enfermeiras já me conhecem. O que posso fazer pra melhorar um pouquinho o resto de vida que eles têm, eu faço. É por isso que eu disse que, se for pra entrar lá, tem que ser de coração.
Me mantive no lugar, observando enquanto ele entrava na sala e fechava a porta atrás de si, me dando tempo para decidir se o seguiria ou não. Ele abriu os braços, gritando alguma coisa quando chegou ao centro do quarto, e todas as crianças acordaram, abrindo enormes sorrisos quando o viram. A maioria saltou da cama, indo para cima do garoto feito uma avalanche. Quando uma das garotinhas, que aparentava ter cinco anos, pulou sobre ele, Christopher a pegou no colo e a girou no ar, o que a fez rir. Eu o observei por alguns minutos, pensando se teria coragem de entrar ali e não demonstrar um pingo de tristeza na frente delas, fazendo o que podia para diverti-las. Não. Eu não tinha essa coragem, mas tinha vontade de tê-la.
Apesar de estarem todas doentes e de eu morrer de medo de me contaminar ali dentro, acho que queria realmente ajudar. Só de olhar para aqueles sorrisos banguelas, meus olhos se enchiam de lágrimas, e isso não é algo que acontece com alguém que sente desprezo. Acontece com alguém que sente compaixão e que, se pudesse, faria qualquer coisa para deixá-las felizes.
Christopher sentou na cama de um garoto que parecia não ter forças para se levantar, e todas as outras crianças foram atrás dele. A mesma garotinha de cinco anos estava sentada em seu colo. Ela perguntou algo a ele, que sorriu e respondeu apontando na minha direção, depois acenou para mim, e todas fizeram o mesmo. Acenei de volta, sentindo que aquela era a minha chance de entrar. Respirei fundo, tentando encontrar a coragem necessária. O ar lá dentro era extremamente frio e fez todos os pelos do meu corpo se arrepiarem. O cheiro era de hospital e remédio. Algumas crianças vieram até mim, e eu não consegui segurar o sorriso quando duas delas, que mal chegavam à altura do meu quadril, passaram os braços ao redor das minhas pernas em um abraço.
— Oi, moça! — uma delas disse.
Era um garotinho branco feito um fantasma, com grandes olhos cor de chocolate. Usava óculos fundo de garrafa de aro azul-escuro. — Qual é o seu nome?
— Dulce— respondi com um sorriso gentil, me abaixando até ficar da sua altura. — E o seu?
— O meu nome é Isaac. Que nem o Isaac Newton — anunciou, com um enorme sorriso.
— Ele é o garotinho de sete anos mais inteligente que você vai encontrar na vida — Christopher comentou, ainda sentado na cama, me observando com um sorriso radiante.
Murmurou um “obrigado” silencioso quando todos voltaram a atenção para mim, esperando uma resposta.
— Nossa! Que importante!
— Mas é verdade! — Isaac acrescentou, ainda com um sorriso no rosto, o que me fez rir.
Fui até Christopher, me sentando ao seu lado e acenando para o garoto deitado na cama. Ele sorriu, fraco demais para acenar de volta, e eu voltei a olhar para o vândalo e para a garotinha em seu colo. Ela tinha olhos verde-esmeralda curiosos, que analisavam Christopher com atenção. Ele havia acabado de tirar uma sacola cheia de bexigas de dentro do saco branco de pano que trazia consigo. Encheu três delas e jogou para as crianças, antes de voltar a atenção para a menina. Então ela perguntou, colocando um dedinho na sobrancelha dele:
— Como você fez dodói?
— Tive que lutar com um dragão pra salvar a princesa — ele respondeu, no tom exagerado de quem conta uma história. — Ele era grande e feio, mas no final deu tudo certo.
— E a princesa é a Dulce? — a garotinha quis saber, agora apontando para mim. Dois dentes da frente estavam faltando. Ela era a coisa mais fofa do mundo.
— É, sim — o vândalo respondeu, olhando para mim daquele jeito safado de quem quer conquistar alguém. — Ela é a minha princesa.
— Ah! — a garotinha exclamou, as mãos pequenas e gordinhas na frente da boca. — Preciso contar pra Duda! Ela não acredita em mim quando eu falo que você é um príncipe.
— Então vai! Vai! — ele aconselhou, colocando-a no chão.
Nós a observamos enquanto corria para o outro lado do quarto e escalava a cama da garota que parecia ser a mais velha da turma. Todos os outros pareciam bem entretidos com a brincadeira de não deixar as bexigas caírem.
— O nome dela é Sofia, tem cinco anos. Foi a última a entrar aqui, por isso é a que ainda tem mais energia — Christopher explicou. — Por algum motivo, colocou na cabeça que eu sou um príncipe.
— E agora eu sou a sua princesa? — perguntei, levantando uma sobrancelha.
— Nem pense nisso — ele retrucou, se levantando. — Já prometi que vou ser namorado dela.
Sorri, enquanto ele pegava a sacola de bexigas mais uma vez, sentando no chão e enchendo algumas delas. Moldou animais e espadas para algumas das crianças, e contou às outras que eu estava disposta a pintar o rosto delas com as tintas que ele havia trazido. Foi o que fiz, sentando no chão com ele e desenhando corações e carinhas de coelho horrorosas em cada uma delas.
Meu talento foi reconhecido em pouco tempo, e depois a brincadeira foi zoar quem tinha a pintura mais feia no rosto. Christopher prometeu que consertaria o estrago que eu havia feito enquanto me dispunha a contar uma história para aqueles que não tinham o rosto pintado ainda.
— Era uma vez um pato muito, muito feio... — comecei.
— Essa a gente já ouviu — falou Duda, de cima de sua cama.
— Ok. Então... era uma vez uma garotinha que tinha o cabelo muito comprido...
— Também já ouvimos essa — reclamou Isaac.
— Que tal um pouco de criatividade? — Christopher perguntou, pintando o focinho de um lobo em uma menininha.
Ele estava me humilhando com todos aqueles detalhes. Eu o fuzilei discretamente com o olhar antes de voltar a pensar no que iria falar para aqueles projetos de gente que me encaravam com olhos grandes e curiosos. Impressionar Christopher? Bom... isso era apenas uma parte do plano. Por enquanto eu só tinha que me preocupar com as crianças. Comecei mais uma vez:
— Era uma vez uma menina que sonhava em ser bailarina. Ela tinha sapatilhas mágicas, que faziam com que cada um dos seus passos fosse perfeito. Sempre que alguém a assistia, passava a ver o mundo com outros olhos por causa da sua mágica. Mais cores, mais vida... tudo!
"Um dia, um homem malvado roubou as sapatilhas da menina enquanto ela dormia, e a trancou numa torre bem alta e escura, onde ninguém a ouviria, mesmo se gritasse bem, bem alto por ajuda."
Apesar de ainda estar pintando o rosto das crianças, Christopher se mantinha atento à história. Ele sabia que eu estava falando de mim, e queria saber o que viria depois.
— Ela sabia que só poderia sair da torre quando tivesse suas sapatilhas de volta — continuei —, e, como não tinha mais esperanças de sair de lá, desistiu de pedir ajuda.
"Ela deixou que toda aquela tristeza e escuridão fossem para dentro dela. E assim se passou muito, muito tempo, até que um dia chegou um príncipe. Um príncipe com uma capa vermelha, que prometeu que um dia a tiraria daquela torre horrível e encontraria as sapatilhas dela. E a menina sabe que, de alguma forma, ele vai encontrar aquelas sapatilhas. Seja lutando contra um dragão enorme e feio ou brigando loucamente com a bailarina, porque no fundo ela é uma chata."
Essa parte fez todos eles rirem.
— Se ele conseguir, como ela acha que vai, então ela vai dar o seu coração para ele como forma de agradecimento.
Nós nos entreolhamos, e eu sorri sem graça enquanto todas aquelas crianças aplaudiam e gritavam, aprovando minha história. Mal sabiam elas que cada uma daquelas palavras era verdadeira. Se Christopher perguntasse, eu negaria aquele final até a morte, apesar de saber que, mesmo que pudesse realmente enganá-lo, eu nunca conseguiria enganar a mim mesma
Autor(a): GrazihUckermann
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 21
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candy1896 Postado em 01/09/2017 - 18:11:49
CONTINUAA
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candy1896 Postado em 23/08/2017 - 19:55:54
Continuaa
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candy1896 Postado em 22/08/2017 - 10:12:11
CONTINUA
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candy1896 Postado em 14/08/2017 - 18:55:10
Continuaa
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AnazinhaCandyS2 Postado em 03/08/2017 - 22:25:16
Pelo menos ela disse obrigada depois dele ter ajudado ela! Continua!
GrazihUckermann Postado em 07/08/2017 - 18:52:42
Um grande passo para ela kkkk
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AnazinhaCandyS2 Postado em 02/08/2017 - 18:39:44
Dulce ñ baixa essa guarda, Christopher tenta ser legal mas ela ñ coopera. Adorei quando ela viu a 'lata velha' kkkkkk. Continua!!
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AnazinhaCandyS2 Postado em 01/08/2017 - 19:12:50
Fernanda ta de olho no Christopher *0* Dulce elogiando o Pedro só pq ele é um playboyzinho mas la no fundo ela preferia ta comendo um cachorro quente com o vadalo, nossa viajei aqui kkkk. Continua!
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AnazinhaCandyS2 Postado em 28/07/2017 - 19:45:51
Huum Dulce pensando no delinquente pichador amo *-* Pedro ñ desiste né, espero que ele ñ faça nd errado! Continua!!
GrazihUckermann Postado em 01/08/2017 - 20:14:28
Tenho uma raiva muito grande por esse Pedro, queria muito que ele não fizesse nada de errado...
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AnazinhaCandyS2 Postado em 26/07/2017 - 18:49:20
Dulce tem que ser mais querida, ela ta muito insensível, acho que o Christopher vai fazer uma grande mudança na vida dela *-* Continua!!
GrazihUckermann Postado em 01/08/2017 - 20:15:31
Ele vai ter que ter muita calma e paciência para mudar a Dulce kkk
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AnazinhaCandyS2 Postado em 24/07/2017 - 18:56:39
Dulce ñ foi mesmo com a cara do Christopher, mas eu adoro esse jeito dele *-* Continua!!
GrazihUckermann Postado em 24/07/2017 - 19:01:52
Christopher é um amor, já me apaixonei por ele s2 Como ele consegue ser tão calmo com uma Dulce dessa? kkkkk