Fanfics Brasil - A vida em cores O garoto do cachecol vermelho - Vondy

Fanfic: O garoto do cachecol vermelho - Vondy | Tema: Vondy


Capítulo: A vida em cores

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                  A vida em cores


— “Life in Color”! Vamos! Vamos! — Christopher gritou, praticamente correndo de um lado para o outro no palco. 


Parecia um raio, dando ordens, fazendo piadas e ajudando seu aprendiz a organizar os alunos durante o ensaio. Mas estava dando certo, como sempre tinha dado. Era 4 de maio. Faltavam dois dias para o fim do nosso acordo, e o que eu podia dizer? Estava triste por isso. Era como aquela música dizia. Ele havia me mostrado a vida em cores, apesar de eu não ter notado isso em metade do tempo que havíamos passado juntos. Com toda a sua chatice, um bom humor irritante e muita persistência, Christopher havia cumprido seu objetivo. Pelo menos em parte. Mesmo com toda a minha hesitação, ele tinha me convencido a fazer cada uma das coisas que planejava, e em cada uma delas eu aprendi uma coisa nova.


 Tínhamos ido ao hospital visitar aquelas crianças, e outras mais velhas, várias vezes; fomos a aulas de dança de salão para pessoas de idade e até trabalhamos como voluntários em uma feira de adoção de cachorros. Ele tinha grafitado o muro inteiro da faculdade em dois dias, e eu tive que ajudá-lo. Levamos os amigos dele para um parque de diversões e rolou uma guerra de bexigas d’água no meio de um piquenique no parque, onde ele me ensinou a andar de bicicleta. A cada dia que se passava, mais vontade eu tinha de aprender tudo o que ele sabia, mesmo que fosse pouca coisa. Não importava se estava chovendo ou se o sol estava a pino. Nada podia nos parar, porque éramos invencíveis quando estávamos juntos. E os dois sabiam disso.


 Eu havia aprendido muito mais sobre Christopher do que qualquer coisa que pudesse aprender na faculdade, e ele tinha aprendido a ler cada uma das minhas expressões como um livro. Me ensinou até mesmo a fazer um coração perfeito. Eu devia tudo isso àquele vândalo. Não dava mais a mínima para o que os outros pensavam de mim, porque eram todos uns idiotas que não conseguiam ver o que eu via, assim como eu mesma havia sido um dia. Choque de realidade? Não. O que aconteceu tinha um nome um pouco menor e um pouco mais... mágico. Se chamava liberdade. Não era a liberdade de expressão, nem a de “ir e vir”, porque a essas todos nós já tínhamos direito. Era aquela liberdade de espírito, que te faz sentir como se pudesse fazer qualquer coisa, como se soubesse de tudo e ao mesmo tempo não soubesse de nada, mas, para você, aquilo já é o suficiente. Era uma liberdade que não tinha palavras para ser descrita, assim como qualquer sentimento no mundo. Feito um caleidoscópio. Quanto mais você via, girava, explorava e tentava entender, mais bonita a vida ficava, e mais cores podia enxergar.


 Talvez o que eu estivesse sentindo não fosse uma torrente de sentimentos controversos e instigantes, e sim apenas amor, que faz questionar tudo e ver a vida de uma forma mais encantadora. Mas quem se importava? Não interessa o nome. Desde que tenhamos uma faísca de esperança de sermos melhores, qualquer coisa vale. Sim, eu usei a palavra “amor”. Com relação a quê? Christopher? Algum outro cara? Eu mesma? Sim. E não. Como amar algo ou alguém quando aquele sentimento era misturado ao ódio, à tristeza e a todos os sentimentos ruins, ao mesmo tempo em que se misturava aos bons? Eu não estava falando de algo palpável, mas da vida, em que tudo era instável, confuso e imprevisível.


 Eu sabia que estava quase falando como Christopher, com todas aquelas expressões e frases de efeito confusas, mas agora podia entendê-lo, e cada uma de suas palavras me parecia mais certa do que nunca. Minha mente havia despertado, tido aquele clique imperceptível, quando estávamos fazendo um trenzinho no meio do hospital de Ilhabela. Até as enfermeiras e alguns médicos entraram na fila. Quer dizer, em meio a todo aquele caos de tristeza, raiva e preocupação, havia espaço para a felicidade. A vida também é assim, e eu tinha que aproveitar aquilo o máximo que podia. Só tinha duas coisas que eu ainda não havia superado: os amigos dele e minha habilidade e tendência a ser uma pessoa completamente egoísta.


— Em que você está pensando, Dul? — Fernanda perguntou, assistindo ao ensaio. Eu a tinha levado para aquela onda de “enxergue a vida com outros olhos” comigo, mas ela ainda estava no meio do processo.


— Em nada específico — respondi, dando de ombros. E era verdade.


— Está nervosa pra ir ao médico?


 Baixei o olhar. Em dois dias, exatamente na data do fim do acordo, eu iria ao médico saber se tinha autorização para voltar a dançar. Finalmente estaria livre de toda aquela dor que Pedro havia me causado, e que havia me acompanhado durante um mês. O fim de toda essa história ainda estava longe de chegar. Eu tinha conseguido a ordem de restrição, e Pedro tinha largado a faculdade. O processo na justiça continuava e ia demorar muito para ter fim, mas, pelo menos no meu corpo, tudo o que iria restar seria a cicatriz quase imperceptível em meu supercílio. O resto seria deixado para trás; eu tinha feito o certo. Depois de denunciá-lo, me sentia pronta para seguir em frente.


— Um pouco — falei. — Preciso voltar a treinar com pelo menos dois meses de antecedência à minha audição na Juilliard. Não posso chegar lá enferrujada.


— E o Christopher? Já sabe disso?


 Respirei fundo, apertando os lábios numa linha rígida de nervosismo. Não. Ele não sabia da carta ainda, e não tinha ideia de que, em pouco tempo, eu iria sair do país para talvez nunca mais voltar. Eu preferia manter isso em segredo, pelo menos até o fim do nosso acordo. Estávamos indo bem demais, e eu não queria estragar as coisas.


— Tenho certeza de que ele não vai se importar — comentei. — É para o meu bem, e, além disso, nós somos só amigos. Não é como se eu estivesse desistindo do amor da minha vida.


— Você fala com tanto entusiasmo e segurança... — ela murmurou, sarcástica.


— Acho que é disso que estou tentando me convencer — sussurrei para mim mesma, sem tirar os olhos do garoto no palco.


 E era mesmo. Eu gostava muito dele. Mais do que de qualquer cara com quem já tivesse me relacionado, apesar de ser verdade o fato de sermos apenas amigos. Só que era visível para ambos que a amizade não era mais suficiente. Apenas olhar um para o outro estava ficando insuportável. Eu estava me proibindo de me apaixonar por ele, porque no fim acabaria indo embora de qualquer jeito. Só que provavelmente já era tarde demais.


 O ensaio acabou logo, e Fernanda se foi com os outros. Christopher e eu ficamos sozinhos no auditório.


— Você estava bem animado hoje — comentei, enquanto lhe dava um abraço apertado. — O que houve?


— Um pouco antes do ensaio, recebi uma ligação. — Ele se afastou e seguiu em direção à saída.


Fui atrás dele. — Me ligaram lá do hospital falando que está tudo pronto para o baile da turma da sexta-feira. — A turma da sexta-feira era o grupo de pacientes de quimioterapia dos treze aos dezessete anos.


 Como Christopher tinha me contado, todos os anos cada uma das turmas recebia um presente diferente. Geralmente, a turma da sexta-feira, que era dos adolescentes, ganhava um baile com o tema escolhido pelos próprios pacientes. Ele geralmente ajudava na organização e sempre era convidado para tocar na grande noite.


— Isso é bom! — exclamei.


— Está empolgado?


— Como sempre — respondeu. — Mas acho que o Enzo e a Helena estão um pouco mais do que eu. — Ele levaria os dois para se revezarem com ele durante o baile. — É a primeira vez que eu dou um palco de verdade pra eles.


— Falou o senhor Rei das Apresentações — brinquei, passando por ele enquanto abria a porta de saída para mim.


Fomos em direção a seu carro. Christopher estava mancando um pouco desde o dia em que liguei para ele bêbada, mas parecia pior agora. Eu já tinha perguntado o porquê daquilo, mas ele sempre tentava me convencer de que eu estava ficando paranoica.


Insisti: — Já foi ao médico?


— Do que você está falando? — perguntou de volta. Ele sabia exatamente do que eu estava falando.


— Chris, você está mancando. Não adianta fingir que...


— Não é nada, Dul. Bati o joelho na quina da cama hoje de manhã, e está dolorido. Coisa de gente desajeitada e com muito sono.


 Lancei a ele um olhar desconfiado enquanto continuávamos seguindo caminho até seu carro. Ainda iria arrancar as respostas sobre aquele assunto. Algo no tom de voz dele me deixou desconfiada, mas eu tinha outras prioridades.


 Pensava seriamente em contar a ele sobre a carta da Juilliard, mas, como sabia que nossa conversa provavelmente não teria um final muito feliz, estava adiando o máximo possível. Só que, como eu disse antes, Christopher havia aprendido a ler minhas emoções como se fossem um livro. Ele sabia que havia algo de errado. Já tínhamos fechado a porta do carro e colocado o cinto, mas ele permaneceu parado, com as mãos no volante, sem dar a partida. Falou, sem olhar para mim, num tom um pouco mais sério:


— Agora você já pode dizer o que está te incomodando.


 Não adiantava negar, até porque eu preferia não mentir para ele. Me mexi de forma desconfortável no banco, evitando manter contato visual. Foi naquele momento que me arrependi de não ter falado sobre a carta no dia em que a recebi. Eu sabia que Christopher ficaria irritado com a demora.


— Há duas semanas eu recebi uma carta da Juilliard. Eu tinha mandado um vídeo de inscrição para eles, e estava esperando a resposta. — Prendi a respiração antes de falar a parte seguinte, como se estivesse tirando um curativo. — Eles aceitaram que eu fosse até lá fazer a audição pessoalmente para tentar uma vaga e, consequentemente, minha transferência para estudar lá.


— Mas... como assim?! — Ele se virou para mim. O olhar passou de curioso para desesperado e surpreso em menos de um segundo, como num passe de mágica. — V-Você já vai embora? É isso? Tipo... pra sempre? 


—Se eu passar no teste, sim — respondi, baixando o olhar. — Vou ter que mudar pra lá, e talvez nunca mais volte.


— E por que você não me contou isso antes?!


— Eu não sei! — confessei. — Tinha ido comemorar naquela noite em que te liguei bêbada da balada. E acabei esquecendo no dia seguinte. Depois, ficou cada vez mais difícil contar pra você, já que nós estávamos indo tão bem...


 Parei de falar quando vi um brilho de raiva e decepção em seu olhar. Engoli em seco. Qual era o próximo passo? Ele iria me expulsar do carro gritando que nunca mais queria me ver na vida?


— E você pensou que, se não me contasse logo, isso se tornaria mais fácil pra quem? Pra você ou pra mim?


— Eu não pensei que seria mais fácil. Só não queria estragar...


— Estragar o quê, Dulce?! — ele gritou, o que me fez encolher um pouco no banco. Fez uma pausa antes de continuar num tom mais baixo, como se estivesse dando um momento a si mesmo para se acalmar. — A sua felicidade momentânea ou o quê? Estava com medo de que eu desistisse do nosso acordo? Não. Eu nunca faria isso, mas, se você realmente tivesse aprendido alguma coisa, teria me contado antes.


 Meus olhos se encheram de lágrimas. Não tinha ideia do que responder. Não havia resposta certa, muito menos uma que não fosse extremamente dolorosa para ambas as partes. Estava tudo nas minhas mãos, mas eu não tinha condições de aguentar uma responsabilidade daquelas. Era eu ou ele, e eu não era forte o suficiente para manter a calma e escolher qual coração partir. Pedi:


— Não fala assim... Eu sei que devia ter contado antes, e que talvez isso poupasse nós dois de muito sofrimento, mas preferi esperar um momento melhor pra te contar. Uma ocasião que talvez não fosse ser tão...


— Egoísta? — interrompeu. — Você estava esperando conseguir tudo o que queria de mim pra depois ir embora?


 Então, essa era a questão. Era por causa daquilo que ele estava tão irritado. Pensou que eu o estivesse usando. Mas eu não estava. Só queria ficar ao lado dele por quanto tempo pudesse, sem ter que me preocupar com corações partidos. Só que essa minha vontade piorou ainda mais a situação.


— Chris...


— Não. Eu não quero ouvir mais nenhuma das suas desculpas. — O tom era gelado.


— Então não ouça — bufei, forçando um tom irritado e mandando as lágrimas de volta para o lugar de onde nunca deveriam ter saído. — Adeus, Christopher. Tenha uma boa vida. Quer saber? Não adiantaria tentar convencê-lo de nada. Eu iria embora mesmo! Nunca mais nos veríamos, então por que me preocupar tanto com o que sentia?


Era eu ou ele, e nenhum de nós iria morrer com qualquer escolha que eu fizesse. Saí do carro, irritada, batendo a porta e vendo Christopher dar a partida. Ele era meu amigo! Deveria ficar feliz por mim! Ou não? Era eu quem estava errada, não era? Tinha dado a entender que o estava usando, embora não fosse verdade. Eu sabia que ele não me atenderia se ligasse, e, por incrível que pareça, nunca tinha ido à sua casa em São Paulo. Nem sabia onde ficava. Minha única saída naquele momento era Helena, e era para ela que eu iria ligar, porque tinha sido inteligente o suficiente para pedir seu telefone alguns dias antes.


— Helena? — Fiquei feliz por ela ter atendido logo de primeira.


— Oi, Dul! Tudo bem? O que houve? O Chris está bem? — perguntou, inquieta. — Está. Está sim. É que a gente acabou de brigar.


— Ah... Eu sinto muito, Dul— ela disse, agora aliviada, o que era um pouquinho estranho. — Mas o que eu posso fazer por você?


— Eu preciso que você descubra algumas coisas pra mim. Nada muito difícil, mas é importante.


— É só falar que eu faço.


 Eu não tinha um plano, muito menos uma ideia, mas, se existia um lugar onde eu poderia encontrá-lo e falar com ele, seria no baile que aconteceria no sábado à noite. Só que ele não tinha me convidado. Pelo menos não oficialmente, e eu não tinha nenhuma informação certa sobre aquilo, então precisaria da ajuda da irmã para ir atrás dele.



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Autor(a): GrazihUckermann

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 21



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  • candy1896 Postado em 01/09/2017 - 18:11:49

    CONTINUAA

  • candy1896 Postado em 23/08/2017 - 19:55:54

    Continuaa

  • candy1896 Postado em 22/08/2017 - 10:12:11

    CONTINUA

  • candy1896 Postado em 14/08/2017 - 18:55:10

    Continuaa

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 03/08/2017 - 22:25:16

    Pelo menos ela disse obrigada depois dele ter ajudado ela! Continua!

    • GrazihUckermann Postado em 07/08/2017 - 18:52:42

      Um grande passo para ela kkkk

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 02/08/2017 - 18:39:44

    Dulce ñ baixa essa guarda, Christopher tenta ser legal mas ela ñ coopera. Adorei quando ela viu a 'lata velha' kkkkkk. Continua!!

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 01/08/2017 - 19:12:50

    Fernanda ta de olho no Christopher *0* Dulce elogiando o Pedro só pq ele é um playboyzinho mas la no fundo ela preferia ta comendo um cachorro quente com o vadalo, nossa viajei aqui kkkk. Continua!

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 28/07/2017 - 19:45:51

    Huum Dulce pensando no delinquente pichador amo *-* Pedro ñ desiste né, espero que ele ñ faça nd errado! Continua!!

    • GrazihUckermann Postado em 01/08/2017 - 20:14:28

      Tenho uma raiva muito grande por esse Pedro, queria muito que ele não fizesse nada de errado...

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 26/07/2017 - 18:49:20

    Dulce tem que ser mais querida, ela ta muito insensível, acho que o Christopher vai fazer uma grande mudança na vida dela *-* Continua!!

    • GrazihUckermann Postado em 01/08/2017 - 20:15:31

      Ele vai ter que ter muita calma e paciência para mudar a Dulce kkk

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 24/07/2017 - 18:56:39

    Dulce ñ foi mesmo com a cara do Christopher, mas eu adoro esse jeito dele *-* Continua!!

    • GrazihUckermann Postado em 24/07/2017 - 19:01:52

      Christopher é um amor, já me apaixonei por ele s2 Como ele consegue ser tão calmo com uma Dulce dessa? kkkkk


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