Fanfic: O garoto do cachecol vermelho - Vondy | Tema: Vondy
Fim da rua
— Dul! Olha pra cá! —ouvi alguém gritar e olhei na direção da voz.
Um flash cegou meus olhos, e resisti ao impulso de cobri-los com as mãos. Eu sabia que Laila havia tirado aquela foto. Ela tinha ganhado dos seus pais uma Polaroide azul-bebê no Natal, e em seis dias já havia gastado todos os dez filmes que vinham com a máquina. Eu já estava cansada de xingá-la, de pedir que parasse de agir feito criança e guardasse aqueles retratos para alguma situação que os fizesse valer a pena, mas meus protestos entravam por um ouvido e saíam pelo outro.
— O que você tem? — perguntou Pedro, sentado ao meu lado. Seus olhos verde-escuros tinham um brilho de curiosidade.
Observei Pedro por alguns segundos. Sua pele era escura como a minha, e o cabelo tinha poucos centímetros de comprimento. Ele tinha falado qualquer coisa sobre estar pensando em deixá-lo crescer. Tinha os traços fortes, a mandíbula quadrada e o olhar sério. Pedro e eu tínhamos o que muita gente chama de “amizade colorida”, apesar de eu não sentir nada muito forte por ele. Éramos jovens entediados, e os dois tiravam proveito da solidão do outro. Eu sabia que ele alimentava algum tipo de amor platônico por mim. Sinceramente? Não me importava nem um pouco, e até me aproveitava disso de vez em quando. Estávamos todos sentados em uma calçada do centro da cidade esperando a meia-noite chegar e a queima de fogos brilhar no céu. Não havia muitas pessoas por ali. A maioria estava no festão que acontecia na Avenida Paulista. Uma muvuca sem fim: pessoas se espremendo, cantando músicas sem sentido de uma frase só, repetidas infinitamente, gritando enlouquecidas pelo “astro” do momento. Fato: aquele não era o meu lugar.
Das onze pessoas sentadas no meio-fio, metade tinha um cigarro aceso, inclusive eu, e a fumaça formava uma névoa ao nosso redor. Acho que a parte mais curiosa daquilo era o fato de todos nós usarmos preto ou alguma cor bem escura. Apesar de ser verão, o ar era frio, e eu estava vestindo um blazer azul-marinho.
— Nada que seja da sua conta — respondi. Ele sabia muito bem que eu detestava falar da minha intimidade.
— Gentil e delicada feito uma bazuca — ele murmurou, sorrindo.
— Como sempre — disse alguém parado à minha frente.
Passei o olhar pela garota que falava comigo. Seu cabelo loiro mais liso que o normal estava preso em um rabo de cavalo apertado, e ela não usava roupas adequadas para a ocasião nem para o clima. Eu não a culpava. A beleza era sua única arma para atrair os homens. Eu ainda me perguntava se era possível uma pessoa ter nascido sem cérebro. Talvez fosse o caso dela.
— Qual é, Dul?! — ela disse, tão bêbada que mal conseguia se manter em pé.
Segurava uma garrafa de vodca que tinha apenas metade do conteúdo, e o braço livre estava por cima do ombro do garoto que, no momento, ela usava como brinquedo. Um dos muitos.
— Cadê o espírito de Ano-Novo?
Resisti ao impulso de mostrar o dedo do meio e responder: “Bem aqui, não tá vendo?” Tive vontade de rir imaginando essa cena. Levantei uma sobrancelha, abrindo a boca para falar, quando o garoto ao meu lado o fez por mim:
— Não sei por que você se surpreende, Fê. Ela está com o humor de sempre. — Que bom que você virou telepata, Pedro. — Fingi estar surpresa. — Por que não tenta adivinhar o que eu estou pensando agora?
Fiquei feliz por ter guardado o lance do dedo do meio para uma oportunidade melhor. A cara dele foi impagável. Assoprei a fumaça em seu rosto e ele tossiu, se abanando com ambas as mãos. Eu ri, me levantando do chão e conferindo a hora na tela do celular. Faltavam alguns minutos para a virada do ano. Guardei o celular de volta no bolso, dando tempo suficiente para que Pedro se levantasse também e me abraçasse por trás. Será que a situação ficaria muito chata se eu revirasse os olhos? Me livrei do seu aperto, dando alguns passos na direção do final da rua, onde um grupo de pessoas começava a formar uma roda. Eu não tinha ideia do motivo.
— Você não pode me rejeitar em pleno Ano-Novo! Ontem você estava tão... receptiva — Pedro disse, tentando voltar a se aproximar. Me lançou um olhar malicioso que faria qualquer outra garota se atirar em seus braços.
O que dizer sobre o comentário dele? Bom... Eu tinha vergonha de ficar com aquele garoto, uma vez que a criação e a situação financeira da família dele eram muito diferentes das minhas. Ele não era pobre: tinha uma vida confortável, um carro novo, morava em um bairro razoável. Sua mãe tinha um bom emprego e até alguns amigos influentes, mas o fato é que eles não tinham tanto dinheiro quanto eu. Sim, o dinheiro importava no meu caso. E muito. Eu preferia não me meter com a classe média. O que eu estava fazendo com Pedro? Foi um caso de pena e tédio, como já falei. O cara pensou que teria alguma chance comigo, então eu topei fingir que estava caindo no seu jogo. Não custava nada me divertir um pouco, não é? Quando o barulho no fim da rua começou a aumentar, a curiosidade me atingiu. O que havia de tão interessante ali para ninguém se preocupar com a contagem regressiva para a virada do ano?
— 59... 58... 57! — meus amigos haviam começado a berrar aqueles números, tão alto que meus ouvidos chiavam.
Fernanda passou um braço por cima dos meus ombros, praticamente me obrigando a voltar a atenção para eles. Era melhor ficar com aquele bando de bêbados sem noção do que com a única parte da família que havia restado depois que meu pai morreu. Era sempre a mesma coisa. Lágrimas, palavras vazias e o silêncio na mesa de jantar. Eu odiava aquilo mais do que qualquer coisa. Falsidade disfarçada de boa educação.
— 30... 29! — ela gritou no meu ouvido.
Olhei por cima do ombro, na direção do fim da rua, de onde vinha um barulho de algo batendo com força no metal, no ritmo da contagem. Não pude deixar de sorrir ao ver três ou quatro pessoas dançando e dando piruetas, como se aquilo fosse algum tipo de música. Elas não eram muito habilidosas na arte da dança, mas pareciam se divertir.
Uma lufada de fumaça foi soprada em meu rosto, tentando chamar minha atenção. Desisti de tentar me concentrar em outras coisas e me juntei aos meus amigos.
— 10... 9... 8... — todos gritamos. Quando a contagem — que parecia interminável — cessou, uma explosão de fogos surgiu no céu. Todo mundo gritou e se abraçou. O álcool tem a capacidade incrível de simular uma sensação de felicidade. Eu tinha que admitir que, por alguns instantes, me permiti sentir aquele êxtase de Ano-Novo percorrendo minhas veias, misturado ao álcool e ao sangue. Aquela sensação de que talvez tudo pudesse ser diferente no ano novinho em folha que estava se iniciando. Mas não durou muito.
Alguns segundos depois, fui tomada pelo vazio que estava tirando meu sono havia semanas. Não! Eu não ia permitir que minha festa acabasse ali. Peguei a garrafa das mãos de Fernanda e tomei um gole caprichado, sentindo o álcool descer quente pela garganta e atingir meu estômago vazio como um soco. Mais alguns segundos, eu estava bem de novo. Deixei que Pedro me levantasse no colo e ergui a mão que segurava o cigarro. Assoprei a fumaça para cima e ri, me permitindo me divertir pelo menos um pouco. Quando ele me pôs no chão e me beijou, retribuí com ânimo, fingindo me importar. Depois, afastei Pedro com um empurrão e dei as costas para ele, joguei o cigarro no chão e o pisoteei. Olhei de novo para as pessoas do fim da rua. Elas batucavam no que parecia ser latas de tinta. Aos poucos, meu olhar distinguiu uma pessoa no meio da roda. Um garoto loiro que se movimentava de um lado para o outro com agilidade. Ele parecia estar pintando o asfalto. Não dava para vê-lo direito, mas eu sabia que o seu pescoço estava protegido por um cachecol enorme. Eu nunca tinha visto um tom de vermelho tão vivo.
O cara parou por um segundo, quase como se tivesse sentido que estava sendo observado, e olhou na minha direção. Sorriu de leve. Eu desviei o olhar, trincando os dentes e fingindo estar distraída. Abusado... Pintar o asfalto no meio da rua? Vândalo. Voltei a olhar na direção dos meus amigos. Fernanda se agarrava com o namorado ali perto. Um garoto alto de cabelo preto e olhos verdes; até que era bem bonitinho. Carlos Eduardo, ou, como gostávamos de chamá-lo, Cadu. Eu sorri. Mal sabia ela que havia sido traída poucas semanas antes. Comigo. Suspirei. Foi uma fraqueza momentânea, mais nada. Eu não podia culpá-lo: eu sempre conseguia o que queria. Não sabia o que era um não. Quando, em uma festa, eu o puxei para o quarto da aniversariante e disse que queria saber o que ele tinha de tão especial, ele até tentou resistir, mas não precisei de mais que dez segundos para conseguir o que queria. Para provar a mim mesma que podia ter tudo. Não passou de uns amassos; meu limite com os caras era bem estabelecido. Adorei ver a cara de frustração dele quando o empurrei em direção à porta e o expulsei do quarto sem ir até o fim. Idiota. Jurava que ia se dar bem comigo.
Olhei para o céu. Ainda tínhamos mais algum tempo de show de fogos, pelo que eu sabia. Naquele ano seriam quinze minutos; pelo menos era o que tinha saído na imprensa. Fiquei ali, parada, encarando o céu e tentando aproveitar cada segundo daquilo até que acabasse.
Autor(a): GrazihUckermann
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O garoto do cachecol vermelho O show de fogos havia terminado poucos minutos antes,  ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 21
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candy1896 Postado em 01/09/2017 - 18:11:49
CONTINUAA
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candy1896 Postado em 23/08/2017 - 19:55:54
Continuaa
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candy1896 Postado em 22/08/2017 - 10:12:11
CONTINUA
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candy1896 Postado em 14/08/2017 - 18:55:10
Continuaa
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AnazinhaCandyS2 Postado em 03/08/2017 - 22:25:16
Pelo menos ela disse obrigada depois dele ter ajudado ela! Continua!
GrazihUckermann Postado em 07/08/2017 - 18:52:42
Um grande passo para ela kkkk
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AnazinhaCandyS2 Postado em 02/08/2017 - 18:39:44
Dulce ñ baixa essa guarda, Christopher tenta ser legal mas ela ñ coopera. Adorei quando ela viu a 'lata velha' kkkkkk. Continua!!
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AnazinhaCandyS2 Postado em 01/08/2017 - 19:12:50
Fernanda ta de olho no Christopher *0* Dulce elogiando o Pedro só pq ele é um playboyzinho mas la no fundo ela preferia ta comendo um cachorro quente com o vadalo, nossa viajei aqui kkkk. Continua!
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AnazinhaCandyS2 Postado em 28/07/2017 - 19:45:51
Huum Dulce pensando no delinquente pichador amo *-* Pedro ñ desiste né, espero que ele ñ faça nd errado! Continua!!
GrazihUckermann Postado em 01/08/2017 - 20:14:28
Tenho uma raiva muito grande por esse Pedro, queria muito que ele não fizesse nada de errado...
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AnazinhaCandyS2 Postado em 26/07/2017 - 18:49:20
Dulce tem que ser mais querida, ela ta muito insensível, acho que o Christopher vai fazer uma grande mudança na vida dela *-* Continua!!
GrazihUckermann Postado em 01/08/2017 - 20:15:31
Ele vai ter que ter muita calma e paciência para mudar a Dulce kkk
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AnazinhaCandyS2 Postado em 24/07/2017 - 18:56:39
Dulce ñ foi mesmo com a cara do Christopher, mas eu adoro esse jeito dele *-* Continua!!
GrazihUckermann Postado em 24/07/2017 - 19:01:52
Christopher é um amor, já me apaixonei por ele s2 Como ele consegue ser tão calmo com uma Dulce dessa? kkkkk