Fanfics Brasil - A dança O garoto do cachecol vermelho - Vondy

Fanfic: O garoto do cachecol vermelho - Vondy | Tema: Vondy


Capítulo: A dança

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               A dança


 O estacionamento estava lotado. Dava para ver ao longe as luzes que eu mesma havia ajudado a pendurar em algumas colunas de madeira branca como decoração. Era tudo ao ar livre, e eu estava feliz por não haver nenhuma nuvem que pudesse me impedir de ver o céu estrelado. A estrutura tinha sido montada em um enorme campo de futebol. Tinham colocado algumas colunas para delimitar o espaço da festa, e nelas haviam sido enrolados fios com luzinhas e trepadeiras. As mesas eram circulares, e cada uma delas tinha um arranjo de flores alaranjadas. Todas estavam cobertas com toalhas brancas e outra por cima com uma estampa florida clara e discreta. Cinco cadeiras estavam dispostas ao redor de cada uma. O palco era de madeira também, mas de um tom escuro, e tinha mais ou menos cinco metros de largura e três de profundidade.


 No centro dele estava Christopher, sentado em seu banquinho, com o violão no colo e o microfone na frente. Atrás dele, um garoto numa bateria preta. Do lado direito, uma garota tocava teclado, e do esquerdo havia dois rapazes. Um segurava um baixo, e o outro, um violoncelo. Tinha até uns caras com trombones e saxofones de pé atrás do baterista. Escondida atrás de todos, uma mesa cheia de botões e luzes. Quem a comandava era a mesma DJ dos ensaios da faculdade.


 Estava sentada em uma cadeira, mexendo no celular, já que a música que apresentavam não necessitava das suas habilidades. Embaixo da estrutura havia uma pista de dança, que na verdade era um quadrado feito de tábuas de madeira; para delimitar o espaço, tinham passado verniz no centro, deixando-a um pouco mais escura e brilhante que o resto. Acima dela havia um lustre de garrafas pet que Christopher tinha feito com as próprias mãos. Era lindo, como todo o resto. Vários casais dançavam a música lenta que ele estava tocando. Dava para ver que a maioria das meninas usava peruca.


 Os vestidos eram das mais variadas cores, assim como as camisas e os paletós de seus pares. Estavam todos lindos. Entramos lado a lado, mas não demorou muito até que nos separássemos. Tinha muita gente lá, e cada uma de nós tinha um objetivo diferente, então preferimos seguir cada uma o seu caminho. Fui até uma das mesas próximas ao palco, me sentando de frente para Christopher, cruzando as pernas e colocando as mãos no colo, tentando esconder o fato de estar completamente em pânico. Por sorte, ele ainda não tinha me visto.


 Usava um terno preto e uma camisa branca por baixo. Estava mais lindo do que nunca, mesmo que, por cima de tudo, usasse o cachecol vermelho-vivo de lã que havia sido o primeiro a ganhar, como tinha me contado. Era o maior de todos, e o mais chamativo também. Sorri, balançando a cabeça. Teria que lembrar a ele depois que cachecóis como aquele não combinavam nada com ternos.


— Eu falei para ele não usar — disse alguém, de repente, ao meu lado, o que quase me fez cair da cadeira.


 Tinha esquecido completamente que não estava sozinha na mesa. Me virei para ver quem era. Diana. Resisti ao impulso de revirar os olhos. Christopher tinha me contado em algum momento durante as duas últimas semanas que, como se conheciam desde pequenos e tinham sido criados juntos, houve um tempo em que eles acabaram confundindo um pouco as coisas e se tornaram namorados. Só de pensar que ela tinha beijado Christopher, meu sangue começava a borbulhar dentro das veias. Mas eu precisava manter a postura e o sorriso forçado de gentileza.


— Falei que não combinava, mas ele falou que não ia deixar de usar um dos cachecóis vermelhos por causa de uma coisa que algum fashionista babaca disse. — Era um hábito dela falar enquanto usava a linguagem de sinais, apesar de eu não entender nenhum dos gestos que fazia.


 Ficamos em silêncio por alguns segundos, vendo Christopher tocar, até que ela decidiu falar mais alguma coisa. Que saco. Será que eu podia mudar de mesa?


— Ele achou que você não viria. Estava muito triste por isso. — Ok. Ela podia até ser legal.


 Diana talvez tivesse razão. Ele não tinha a energia de sempre, e parecia estar ali mais por obrigação do que qualquer outra coisa, o que não era normal. Aquele baile era extremamente importante, e, se ele não estava feliz mesmo que tudo tivesse dado certo, então a culpa era minha. A garota ao meu lado me cutucou mais uma vez, e eu fechei os olhos, respirando fundo para resistir ao impulso de mandá-la ir... para o inferno.


— Quando ele olhar pra você, faça assim. — Ela me mostrou uma sequência de gestos nos quais eu não prestei atenção. — Quer dizer “Me desculpe” — explicou, o que trouxe minha atenção de volta para ela.


 Aquilo eu queria aprender. Ela me ensinou os movimentos nos minutos seguintes, enquanto Christopher mantinha o olhar fixo em um ponto aleatório no fundo do salão, com a expressão visivelmente triste. Eu tinha partido seu coração e queria consertar isso o mais rápido possível. Mas o momento chegou. O momento em que ele finalmente saiu do transe e olhou em nossa direção, se mostrando surpreso por me ver. É claro que eu fiz os gestos que Diana me ensinou, o que o fez rir enquanto cantava.


 Depois disso, como se um sopro de animação o tivesse atingido em cheio, ele endireitou as costas e cantou com muito mais energia o restante da canção, com um lindo sorriso no rosto. Quando a música acabou, Christopher levantou de seu banquinho, chutando-o para trás como um astro do rock. Largou o violão com algum dos organizadores e afrouxou a gravata preta que estava por baixo do cachecol vermelho, pendurado sobre os ombros. Aquele era o vândalo que eu conhecia.


 Gritou alguma coisa para a DJ antes de “Irresistible”, do Fall Out Boy, começar a tocar no último volume. Christopher pegou o microfone com toda a atitude do mundo, se inclinando para a frente com ele enquanto praticamente rosnava os primeiros versos. Ah... como eu queria ser aquele microfone. Metade dos adolescentes, que antes estavam sentados mexendo em seus celulares, levantou e foi para a pista de dança, como se houvesse algum feitiço contido na letra daquela música que os fazia querer dançar.


— Obrigada. Eu estava começando a ficar com sono — disse Millah, que só naquele momento notei que estava na mesma mesa.


 Meu queixo caiu quando a vi. Estava... apresentável! O vestido, como imaginei, era preto, mas de renda, com as mangas compridas. Era elegante de um jeito rústico e combinava muito com as botas pretas de couro com cano acima dos joelhos. A maquiagem era a mesma de sempre (a única coisa legal que tinha nela no dia a dia). O único erro era o cabelo, ainda cheio de presilhas, grampos e mechas aleatórias presas.


 Ao lado dela estava Victor em sua cadeira de rodas. Ele usava um terno cinza, um pouco mais claro que o de Bruno, que o ladeava. O cabelo deste último estava penteado para trás com uns quatro litros de gel. Sorri um pouco para ela antes de voltar a olhar para todos aqueles adolescentes pulando e cantando como se não houvesse amanhã. Ri, colocando as mãos na frente da boca, quando Christopher cantou “And I love the way you hurt me” apontando na minha direção, de cima do palco. Se havia sido eu a causar toda aquela mudança, então eu deveria fazer mais vezes, porque o ânimo dele tinha aumentado quatrocentos por cento. Eu jurava que dali a alguns segundos jatos de propulsão sairiam de seus sapatos e ele voaria pelo salão. Saltou de cima do palco, e metade das garotas foi para cima dele. Alguns garotos também.


— Você vai ter que me ensinar o seu segredo mais tarde — Fernanda brincou, praticamente brotando ao meu lado.


— Não sei do que você está falando — respondi, me fazendo de desentendida.


— Sabe. Sabe, sim. — Ela deu um “empurrãozinho” em meu ombro que fez minha cadeira quase virar para a frente.


 Christopher apresentou o resto da música em meio aos jovens, dançando e pulando com deles. Isso os deixou ainda mais empolgados. O garoto era bom mesmo quando se tratava de animar alguém. Eu que o diga.


 A música seguinte era mais calma. Ele caminhou entre os adolescentes pela pista segurando outro microfone, além do seu, que eu não fazia ideia de onde tinha tirado, até encontrar sua irmã do outro lado. Era um dueto, que estava usando como “desculpa” para que se revezassem na apresentação. Era a primeira vez que eu via Helena cantar, e tinha de admitir que era realmente muito boa. As duas vozes pareciam se completar. Olhei para aqueles que estavam comigo na mesa mais uma vez. Eu podia ver a admiração por Christopher nos olhos de Diana. Se segura que ele é meu, garota! Sorri com a ideia de lhe dizer aquilo. Acho que ela não iria gostar muito.


 Millah estava encolhida, evitando tocar no rapaz sentado ao seu lado, como se fosse tímida demais para suportar encostar em alguém. Mas eu a entendia. Quer dizer, era óbvio que ela estava muito interessada em Victor e o sentimento era recíproco, mas ambos eram frouxos demais para dar o primeiro passo... Olha só quem estava falando! Levantei da cadeira, sentindo pena da menina por suas tentativas frustradas de impressionar o cara, e fui até ela. Perguntei, tentando não deixar muito óbvio que eu queria que dissesse sim:


— Millah, você pode me acompanhar até o banheiro? — Ela começou a balançar a cabeça, prestes a recusar, mas endureci o tom, arregalando um pouco os olhos, antes de reforçar: — Agora, por favor.


 Ela se levantou, visivelmente confusa, e me acompanhou até o lado de fora do salão. No canto oposto do campo ficavam os vestiários, e nos dirigimos em silêncio até lá. Éramos umas das únicas no banheiro. Segurei seus ombros bem em frente ao espelho e a fiz encarar seu reflexo pálido, magrelo e acuado:


— Está vendo isso aqui?! Está vendo essa atitude de garota desinteressante que diz “Não se aproxime”? E esse cabelo todo bagunçado? Está vendo?! Então! Estou aqui pra te informar que isso não vai te levar a lugar nenhum, muito menos te ajudar a conquistar um cara. Nunca ajudou, não está ajudando nem vai ajudar.


 Eu a soltei, dando alguns passos para trás, respirando aliviada por finalmente ter dito aquilo. Não tinha sido tão gentil, mas iria funcionar do mesmo jeito. Eu achava. Pela forma confusa como ela continuou encarando a mim e ao seu reflexo, Millah não tinha entendido nada. Eu precisava usar uma abordagem mais gentil.


 Me aproximei dela, tirando as presilhas e os grampos de seu cabelo com delicadeza. Para a sorte dela, não tentou me impedir. Expliquei:


— Se você quer conquistar o Victor, como eu sei que quer, precisa se mostrar um pouco mais interessada. Não só por ele, mas por você mesma. — Analisei o cabelo solto dela, que surpreendentemente não era oleoso como parecia, apenas cheio de condicionador para evitar que os fios ficassem rebeldes.


 Era mais longo do que eu pensava, caindo ondulado até um palmo acima da cintura. Pedi que se abaixasse até ficar com a cabeça no nível da pia, para que eu tirasse aquela meleca. O cabelo dela não precisava daquilo. Continuei a penteá-lo com os dedos.


— Você tem um cabelo muito legal e um rosto bonito. Só precisa de um pouquinho de disciplina e vontade pra mostrar isso ao mundo.


 Eu a fiz se virar para mim enquanto amassava as ondas para que ficassem mais visíveis e as dividia ao meio no topo da cabeça. Dividir seu cabelo favoreceu muito o rosto dela.


— Por que está fazendo isso? — ela perguntou enquanto eu dava os últimos retoques, ajeitando algumas mechas rebeldes.


— Porque eu... — A resposta parecia tão simples e depreciativa que precisei parar por alguns segundos para recalculá-la. — Porque você tem mais potencial do que imagina. Eu já sabia disso e sabia que podia te ajudar — falei, finalmente, fazendo um gesto com a cabeça para que se virasse para o espelho. — Não me custou nada, né?


 Millah arregalou os olhos, chocada com o que viu. Provavelmente fazia muito tempo que não usava o cabelo solto, porque não sabia nem mesmo o que fazer com ele. Quando estava prestes a passar os dedos pela raiz, desfazendo todo o trabalho que tive para dividir tudo de forma tão reta, dei um tapa em sua mão. Joguei na lata do lixo tudo o que ela usava para prender as mechas.


— Você está proibida de estragar a minha obra-prima. E de voltar a usar esse tanto de presilhas e grampos. Pela primeira vez desde que a conheci, eu a vi sorrir. Tinha os dois dentes da frente um pouco separados, o que dava um charme especial ao seu rosto.


Disse, logo voltando a ficar séria: — Ok. Agora é a minha vez. — Juntei as sobrancelhas enquanto ela se aproximava de mim. Mas o que...? Tirou da bolsa um delineador.


— Delineador sempre cai bem. Em qualquer tipo de maquiagem. E disso eu entendo muito bem. Pelo que eu vi, você raramente usa.


 Deixei que ela passasse seu delineador em mim, rezando para não ter que arrancar o coração dela por ter estragado minha maquiagem. Quando finalmente terminou e eu abri os olhos, não pude deixar de gostar do resultado. Não é que ela era boa mesmo? Tinha até esfumado o azul em meus olhos com um pouco de preto, para dar mais destaque.


 Assobiei, impressionada com o talento dela. É claro que a maquiagem que fazia em si mesma era boa, mas reproduzir em outra pessoa era muito mais difícil. Acho que ambas havíamos nos surpreendido naquela meia hora dentro do banheiro.


— Acho melhor voltarmos — sugeri de repente, lembrando que o intervalo de Christopher estava pela metade, e ainda nem tínhamos nos falado.


 Quando voltamos ao salão, fiquei orgulhosa ao ver o queixo de Victor e o de todos na mesa caírem quando viram o novo visual de Millah. Deixei que ela ficasse com todo o crédito, me mantendo quieta e voltando a me sentar ao lado de Fernanda. Ela assistia a Helena e Enzo no palco.


— Onde você estava? O Chris passou aqui e perguntou de você.


— Eu estava ajudando a Millah com a tragédia que estava o cabelo dela. Pra onde ele foi?


— A Diana o puxou para a pista de dança há alguns minutos. Eles ainda devem estar lá — ela disse, dando de ombros. — E acho melhor você ir logo. Ela parecia bem interessada em um replay.


 Um replay?! Não. Nada de replay, nada de flashback. Nada disso! O que aquilo significava? Que ela queria tentar ficar com ele de novo. Nunca! Falsa. Aquilo que eu disse a Christopher em linguagem de sinais significava mesmo “me desculpe”? Não. Devia significar “Eu te odeio! Vai para o inferno!”, com certeza. Se bem que era escolha dele. Se queria voltar com a surdinha, beleza. Eu não iria correr atrás dele. Onde já se viu?! Aceitar dançar com uma menina que obviamente estava dando em cima dele quando já tinha outra na fila?! Não. Eu não aceitaria na boa.


— Vocês voltaram! — Diana praticamente berrou, aparecendo ao nosso lado e me fazendo levar o que devia ser o quinquagésimo susto da noite. — Eu disse que elas iam voltar logo, não disse, Chris?


 Ela o estava puxando pela mão na direção da nossa mesa. Prendi a respiração, sentindo o coração acelerar. Um, dois, três, quatro... Conte até dez, Dulce. Não morra. Não na frente de todo mundo. Se sentir que quer vomitar, corra até a saída mais próxima. Resisti ao impulso de calcular o caminho mais rápido para o lado de fora.


— Relaxa — ouvi Fernanda sussurrar enquanto os dois ainda se aproximavam, antes de se levantar e sumir no meio dos adolescentes na pista de dança.


 Ela tinha me abandonado?! Era isso?! Ia me deixar para morrer sozinha?! Ok. Relaxa. Eu precisava relaxar. Não era uma menininha.


 Mantive os braços cruzados e o olhar grudado na mesa à minha frente. Quanto menos olhasse para ele, menos nervosa eu me sentiria, certo? Senti seu olhar sobre meus ombros quando puxou a cadeira de Fernanda, tirando-a de seu caminho, e parou de pé ao meu lado. Subi o olhar até ele, hesitante. Teria que fazer aquilo em algum momento. Seus olhos azuis tinham o mesmo brilho de pesar que vi naquela noite na praia, quando nos beijamos. Ele estava tão bonito...


— Você está linda.


— Obrigada — murmurei, ainda irritada por ele ter ido dançar com aquela... garota.


— Quer dançar comigo? — perguntou, o que me desarmou por um segundo.


— Que tal chamar a Diana pra dançar? Ela parece bem disposta a te acompanhar. — Minha resposta o fez rir.


 Mas eu não via nenhuma graça naquilo. Estava só dizendo a verdade. Foi quando ouvi uma música familiar e olhei para o palco. Era Enzo quem cantava agora, segurando o violão de Christopher. Olhava em nossa direção com um sorriso travesso no rosto. Era a mesma música que havia tocado na praia naquele dia, quando Jonathan veio falar comigo. “19 You + Me.” Voltei a olhar para o vândalo parado ao meu lado, surpresa:


— Você não vai querer perder o seu tempo de descanso comigo. Logo, logo vai ter que voltar para o palco e... — E minhas desculpas acabaram.


 Preferi apenas fechar a boca antes de começar a falar bobagens. Ele estendeu a mão na minha direção, ignorando completamente o que eu tinha dito antes:


— Vamos lá. Você ainda está me devendo aquela dança.


— Pensei que já tínhamos dançado. E feito até muito mais do que isso — falei, não querendo ceder tão fácil assim. Ele me conhecia. Sabia que eu resistiria.


— Prometo que vai valer a pena — sussurrou, abrindo um sorriso maravilhoso, que acabou derretendo meu coração.


 Peguei sua mão, me levantando e deixando que me guiasse até a pista de dança, sob os olhares de todos. Paramos embaixo do lustre improvisado que ele mesmo havia feito. Christopher enlaçou minha cintura, me puxando um pouco para perto enquanto eu passava os braços por cima de seus ombros, bem a tempo de começar o primeiro refrão. Mantive o olhar grudado nos casais ao nosso redor, ignorando o fato de ele estar analisando o meu rosto, como sempre fazia.


— Acho que estou te devendo um pedido de desculpas — Christopher disse. Balancei a cabeça. Não era ele quem devia pedir perdão. Era eu. E nós dois sabíamos disso.


— Fui eu que escondi a verdade de você. Ser honesta desde o início pouparia muito sofrimento, então sou eu que deveria...


— Mas eu fui um idiota egoísta — interrompeu. — Deveria ficar feliz por você, e não irritado.


— E por que não ficou? — perguntei, e vi que ele ficou sem resposta.


 Christopher baixou o olhar, e eu me inclinei um pouco para trás a fim de enxergar melhor o seu rosto. Lá estava aquele pesar mais uma vez. Aquele olhar de quem quer uma coisa e não pode ter. Será que ele sabia que, para ter a mim, só precisava pedir? Parecia que não.


— Pensei que você não viria mais — ele disse, finalmente, após alguns segundos.


 Christopher e suas mudanças de assunto repentinas. Com certeza tinha aprendido aquilo comigo, e eu me culpava muito por isso. Maldita convivência! Não pude deixar de achar graça naquilo. —


Você pensou mesmo que eu iria embora sem nunca mais tentar falar com você, Christopher? Que eu nunca mais iria te perdoar porque não ficou feliz com um erro meu? — Coloquei a mão em seu rosto, fazendo-o voltar a olhar para mim. — Ainda temos muito tempo antes de começar a sofrer e culpar um ao outro, não acha? Além disso, eu não sou tão idiota a ponto de perder você por causa de uma discussãozinha. Já estamos bem acostumados a gritar um com o outro.


 Ele riu, me puxando para mais perto e me abraçando com toda a força que tinha. Retribuí o abraço, fechando os olhos e enterrando a cabeça em seu ombro. Estávamos ambos perdoados, então, e eu o tinha de volta. Agora só me restava cumprir a segunda meta da noite, que era beijar logo aquele idiota cego e lento que não facilitava em nada o meu trabalho de dar um upgrade na nossa relação. Vândalo.


— Fica comigo esta noite? — ele perguntou de repente, o que fez meu coração descompassar. Precisei respirar bem fundo antes de dar uma boa resposta.


— Só se você fizer valer a pena — sussurrei, sorrindo de leve.


 Ele retribuiu o sorriso, me puxando de uma vez e grudando os lábios nos meus. Finalmente, senhor! Apertei os braços ao redor do seu pescoço, ficando na ponta dos pés. Ah, aquele garoto. Como era possível que ele existisse? Como era possível que alguém conseguisse me fazer sentir daquele jeito, como se estivesse completa finalmente, depois de uma vida inteira sentindo como se faltasse um pedaço de mim? Era dele que eu sempre precisei, e de quem ainda precisava. Senti que ele continuava sorrindo enquanto me levantava, girando comigo. Boboca.


 Nós nos afastamos assim que ele me colocou no chão, e não conseguimos deixar de rir quando notamos que os aplausos não eram para Enzo, que havia terminado a música, mas para nós. Escondi o rosto com as mãos, sentindo as bochechas queimarem, e apoiei a cabeça no ombro dele enquanto me puxava para mais um abraço. Senti um beijo no meu ombro antes de ele se afastar mais uma vez, quando os aplausos cessaram.


 As primeiras pessoas que vi foram Helena e Fernanda, que praticamente saltaram em cima de nós num abraço de urso, berrando coisas como “Finalmente!” e “Vocês são muito fofos!” Ai... Era um tom agudo demais para mim.


— Eu disse que ele ia gostar do azul! — Helena ria. — Eu disse! Eu disse!!


— Mas você está me devendo por ter ido pedir a música, hein, Chris-Chris! — completou Fernanda.


— Que história é essa? — perguntei, olhando para Christopher de um jeito desconfiado.


— Se eu te contar, vou ter que te matar — sussurrou, piscando para mim.


 Como o meu humor estava bom demais naquele momento, tudo o que fiz foi sorrir para Christopher, que entrelaçou os dedos nos meus e me puxou para fora da confusão que havia se formado ao nosso redor. Acho que as pessoas estavam tão entusiasmadas com a comemoração que nem notaram que saímos dali.


 Fomos até o lado de fora do salão, atrás do palco, onde ficava a DJ em sua mesa cheia de botões. Ela parecia tão concentrada que mal notou nossa presença quando passamos por ela, de mãos dadas, em direção à trave do gol no campo de futebol. Não trocamos uma palavra durante o caminho, mas ríamos um para o outro ocasionalmente.


 Quando chegamos, eu me encostei à trave, cruzando os braços enquanto o observava afrouxar ainda mais a gravata, até que se tornasse apenas uma versão pequena de seu cachecol, apoiada no pescoço sem sinal de nó. Enquanto ele se aproximava de mim e passava os braços à minha volta, me apertando um pouco mais, provoquei:


— Você me trouxe aqui pra me contar aquela história de ter pedido um favor pra Fernanda?


— Mas é claro! Eu duvido que alguém vá escutar os seus gritos a esta distância — respondeu, mordendo o lábio, enquanto tentava conter um sorriso.


— Seja rápido, então — sussurrei. — A sua vez de assumir o palco vai chegar logo, e você vai precisar de um tempo pra limpar o sangue da cena do crime.


— Isso está começando a ficar um pouquinho mais perturbador do que deveria — ele comentou, o que me fez rir.


 Nós nos encaramos em silêncio por alguns segundos. Um analisava o rosto do outro, com certeza se perguntando o que fazer a seguir. Não era uma situação com a qual estivéssemos acostumados. Pelo menos não quando envolvia nós dois. Juntos. Ele passou a mão pelo meu rosto:


— Você sabe que está livre a partir de agora, né?


— Não estou — respondi. — Não até amanhã de manhã. Você me pediu pra ficar com você esta noite, não pediu?


— Esta noite — ele murmurou. — E a próxima e a que vem depois dela. E depois, e depois...


— Quantas você quiser — eu o interrompi, prestes a beijá-lo, mas ele se inclinou um pouco para trás. Ainda queria dar sua resposta.


— Acho que, por enquanto, eu me contento com todas. Que tal? É um número razoável o “para sempre”.


 É. Acho que, por enquanto, como ainda estávamos no início do que poderia ser um relacionamento, para sempre era suficiente. Por enquanto.



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Autor(a): GrazihUckermann

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 21



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  • candy1896 Postado em 01/09/2017 - 18:11:49

    CONTINUAA

  • candy1896 Postado em 23/08/2017 - 19:55:54

    Continuaa

  • candy1896 Postado em 22/08/2017 - 10:12:11

    CONTINUA

  • candy1896 Postado em 14/08/2017 - 18:55:10

    Continuaa

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 03/08/2017 - 22:25:16

    Pelo menos ela disse obrigada depois dele ter ajudado ela! Continua!

    • GrazihUckermann Postado em 07/08/2017 - 18:52:42

      Um grande passo para ela kkkk

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 02/08/2017 - 18:39:44

    Dulce ñ baixa essa guarda, Christopher tenta ser legal mas ela ñ coopera. Adorei quando ela viu a 'lata velha' kkkkkk. Continua!!

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 01/08/2017 - 19:12:50

    Fernanda ta de olho no Christopher *0* Dulce elogiando o Pedro só pq ele é um playboyzinho mas la no fundo ela preferia ta comendo um cachorro quente com o vadalo, nossa viajei aqui kkkk. Continua!

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 28/07/2017 - 19:45:51

    Huum Dulce pensando no delinquente pichador amo *-* Pedro ñ desiste né, espero que ele ñ faça nd errado! Continua!!

    • GrazihUckermann Postado em 01/08/2017 - 20:14:28

      Tenho uma raiva muito grande por esse Pedro, queria muito que ele não fizesse nada de errado...

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 26/07/2017 - 18:49:20

    Dulce tem que ser mais querida, ela ta muito insensível, acho que o Christopher vai fazer uma grande mudança na vida dela *-* Continua!!

    • GrazihUckermann Postado em 01/08/2017 - 20:15:31

      Ele vai ter que ter muita calma e paciência para mudar a Dulce kkk

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 24/07/2017 - 18:56:39

    Dulce ñ foi mesmo com a cara do Christopher, mas eu adoro esse jeito dele *-* Continua!!

    • GrazihUckermann Postado em 24/07/2017 - 19:01:52

      Christopher é um amor, já me apaixonei por ele s2 Como ele consegue ser tão calmo com uma Dulce dessa? kkkkk


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