Fanfics Brasil - Bessie O garoto do cachecol vermelho - Vondy

Fanfic: O garoto do cachecol vermelho - Vondy | Tema: Vondy


Capítulo: Bessie

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                       Bessie


 A vez de Christopher assumir o palco mais uma vez havia chegado, e nós precisamos voltar ao “mundo real”, embora isso fosse um pouquinho doloroso. Meu consolo era saber que em uma hora tudo aquilo acabaria e eu o teria de novo inteiramente para mim. Suspirei, enquanto ele cantava uma música qualquer do Ed Sheeran. Aquilo era algo que eu nunca poderia imaginar, nem mesmo em sonho. Pelo menos não antes de termos nos beijado pela primeira vez, naquele dia na praia. Depois que nos tornamos amigos, me imaginar com ele era mais fácil, mas sonhar e realizar são duas coisas completamente diferentes. E eu tinha conseguido ambas. Eu não poderia agradecer mais por isso.


— Dul. Tem alguém que eu quero te apresentar — Helena falou, aparecendo de repente ao meu lado, colocando a mão em meu ombro e me tirando do transe em que eu sempre entrava quando ouvia Christopher cantar.


 Eu me levantei da cadeira, observando enquanto a reitora e seu marido se aproximavam. Ele estava numa cadeira de rodas elétrica, encolhido sobre si mesmo. O maxilar estava projetado para fora, um dos braços imóvel sobre o colo. Os pés estavam virados para dentro no apoio da cadeira, que parecia grande demais para ele. Seu cabelo era grisalho, e os olhos, azuis como os dos filhos, eram atentos. Agora eu sabia de quem eles haviam puxado aqueles olhos. Havia uma pequena tela acoplada à cadeira, ligada por um fio a um aparelho na mão de George. Era aquilo que ele usava para digitar as palavras que queria dizer, achava eu.


— Papai, esta aqui é a Dulce, a... — Helena começou, mas, quando ele se pôs a apertar os botões do aparelho, ela parou de falar.


— O Chris me falou muito de você — disse a voz metálica projetada da tela.


 Fiquei meio atônita. Então era real. A mente estava intacta, presa dentro daquele corpo, sem sofrer nenhum tipo de sequela. Ele, apesar de não se mover, sabia mesmo quem eu era e tinha algo a me dizer. Era impensável. Eu não conseguia encontrar outra palavra para descrever.


— É um prazer conhecê-lo, senhor — falei, abrindo o maior sorriso que consegui em meio ao constrangimento. Não sabia como olhá-lo, como falar com ele. Não tinha ideia de como agir! Se pelo menos Christopher estivesse ali... ele me entenderia. Me ajudaria. Eu estava me sentindo uma completa idiota. — O Christopher também me falou muito sobre o senhor. Ele te admira muito. — E era verdade. Só tinha deixado de fora o fato de... bem... de ele ser portador de ELA.


— Você está sendo gentil — ouvi, depois que ele ficou algum tempo apertando os botões do aparelho. — Mas não se acanhe. Ele me contou que vocês dois têm trabalhado juntos. E me falou dos seus avanços. É realmente algo pra se orgulhar. — As frases eram pequenas e pausadas, para que não precisássemos esperar muito para ouvir o que ele tinha a dizer. — Mas saiba que você é a grande prova de que eu criei bem o meu filho. — Eu o encarei, um pouco confusa. E então ele explicou: — Agora eu sei que dei as dicas certas sobre como conquistar uma garota. Saiba que, se eu tivesse a sua idade, te convidaria para dar uma volta na Bessie.


 Aquilo me fez rir. Ah, a Bessie. Sua cadeira de rodas. Helena, a dra. Marcia e eu nos sentamos. Apesar de só terem se passado cinco minutos, eu já me sentia um pouco melhor. George era, sim, uma pessoa normal, e eu poderia falar com ele como falava com qualquer outra pessoa. Suspirei. E pensar que, dois meses antes, eu não suportava a ideia de chegar perto de um deficiente físico, mental ou qualquer pessoa que não se encaixasse nos padrões idiotas da sociedade. Eu dizia que eram aberrações, e que eu nunca conseguiria ter uma conversa normal com qualquer um deles.


— Então, quer dizer que este ano você vai para a Juilliard, Dulce? — a mãe de Christopher perguntou.


 Será que aquele vândalo tinha contado para todo mundo sobre a nossa discussão?! Eu não tinha uma resposta boa para aquilo. Quer dizer, o que ela iria pensar de mim? Que eu estava criando expectativas em seu filho para deixá-lo depois de apenas alguns meses? Pensando por aquele lado, havia mesmo motivos para que ela não gostasse de mim.


— Com sorte, sim — respondi. — Eles aceitaram que eu fosse fazer uma audição lá. Já comecei os preparativos para a minha mudança. Sendo ela temporária ou não.


— Vamos sentir a sua falta — Helena lamentou. — Você sabe disso, não sabe?


— E eu vou ficar com saudade de vocês — admiti. — De todos vocês.


 Isso a fez sorrir. Não pude deixar de notar que as duas, Helena e sua mãe, não tinham trocado olhares ou palavras. Pareciam fingir que não estavam juntas, assim como acontecia comigo e com minha mãe. Christopher e eu já tínhamos discutido muito sobre isso. Eu sabia que ele queria que eu resolvesse as coisas entre nós o quanto antes. Mas aquele era o meu maior desafio, e por enquanto, se precisasse ir embora do país sem falar com ela, então era o que eu faria.


— Me deixem adivinhar. — Christopher  surgiu de repente, nos salvando de um silêncio constrangedor. — Vocês estão falando que eu sou maravilhoso e que a minha presença é indispensável nas suas vidas.


— Você podia deixar de ser tão convencido às vezes, sabia? — brinquei.


— Não sou convencido. Sou realista.


 Ele segurava o paletó sobre os ombros, e as mangas da camisa branca estavam dobradas até os cotovelos. Olhei em volta, me dando conta apenas naquele momento de que todos já começavam a ir embora. Inclusive Fernanda, que nem se deu o trabalho de se despedir.


— Ela foi embora com o Enzo — Christopher sussurrou para mim.


 Ah! Compreensível. Sorri, balançando a cabeça. Será que ela iria sossegar com um cara só? Eu esperava que sim, porque, pelo que eu conhecia de Enzo, era um cara muito legal e responsável. Justamente o que ela precisava, assim como eu tinha precisado. Mas o meu era mais bonito. Claro.


— Está na hora de nós irmos também — Marcia disse, levantando de sua cadeira apressadamente. — Christopher, nós vamos acomodando o seu pai no carro. Despeça-se da Dulce.


— Desde quando você ficou tão careta, Marcia? — George perguntou. — Tenho certeza de que eles têm planos... muito melhores do que se despedir a esta hora da noite... Ou será que você já esqueceu como é ser jovem? — Ele virou sua cadeira de rodas para nós, e eu senti as bochechas queimarem. — Vai ser uma honra receber você na nossa casa.


— Obrigada — falei, sorrindo, sem graça. — Mas eu não quero incomodar...


— Papai tem razão — interrompeu Helena, me lançando um olhar malicioso. — Vai ser uma honra ter você lá em casa.


 Baixei a cabeça, imaginando quanta raiva a mãe de Christopher devia estar sentindo naquele momento. Eu não sabia se me sentiria muito confortável na casa deles ciente de que era indesejada ali, mesmo que fosse por apenas um dos quatro. Ainda assim, deixei que Christopher praticamente me arrastasse com eles até os seus carros. Eles tinham estacionado juntos. Marcia, George e Helena seguiram no carro da família, e Christopher no dele, que tinha voltado a ser a enorme picape preta.


— Não liga para o que a minha mãe diz — Christopher falou, dando partida. — Eu deixei de ligar há anos.


— Ela não gosta de mim — murmurei. — Isso é óbvio.


— Não é que ela não goste de você. É mais ciúme que desaprovação. A única pessoa que ela aprova na minha vida é a Diana, e olhe lá.


— Que... reconfortante — brinquei, me remexendo no banco do carro.


 Diana e eu éramos o oposto uma da outra. Se Marcia gostava da surdinha, não haveria como agradá-la. Eu teria que me conformar com isso. Pelo menos por enquanto. Christopher pegou minha mão, entrelaçando os dedos nos meus enquanto dirigia com atenção pela rua vazia. O carro dos pais dele estava logo atrás. Olhei no painel. Eram dez da noite. Eu estava começando a ficar inquieta demais. Estávamos indo para a casa dele e eu iria passar a noite lá. Meu estômago revirou quando lembrei a mim mesma que não éramos crianças, e que provavelmente não iríamos ficar comendo pipoca e vendo filme de terror até de madrugada. Engoli em seco.


— Se quiser, eu posso levar você pra casa — ele disse, depois de alguns minutos.


— Não. Tudo bem — falei apressadamente, tentando convencer a mim mesma.


 Ele apenas continuou dirigindo, em silêncio, pelo resto do caminho. Estava me dando um tempo. Um tempo para que eu me acalmasse e me convencesse de que era realmente aquilo que eu queria. Era. Era sim. Com certeza.



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Autor(a): GrazihUckermann

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            Constelações  Na garagem, saímos da picape antes que Marcia desligasse o carro dela, que parou logo atrás. Christopher foi ajudar Helena a tirar seu pai do carro. Observei de longe enquanto o colocavam na cadeira de rodas. Depois, Chris pediu que eu me juntasse a eles enquanto entravam pela porta dos ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 21



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  • candy1896 Postado em 01/09/2017 - 18:11:49

    CONTINUAA

  • candy1896 Postado em 23/08/2017 - 19:55:54

    Continuaa

  • candy1896 Postado em 22/08/2017 - 10:12:11

    CONTINUA

  • candy1896 Postado em 14/08/2017 - 18:55:10

    Continuaa

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 03/08/2017 - 22:25:16

    Pelo menos ela disse obrigada depois dele ter ajudado ela! Continua!

    • GrazihUckermann Postado em 07/08/2017 - 18:52:42

      Um grande passo para ela kkkk

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 02/08/2017 - 18:39:44

    Dulce ñ baixa essa guarda, Christopher tenta ser legal mas ela ñ coopera. Adorei quando ela viu a 'lata velha' kkkkkk. Continua!!

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 01/08/2017 - 19:12:50

    Fernanda ta de olho no Christopher *0* Dulce elogiando o Pedro só pq ele é um playboyzinho mas la no fundo ela preferia ta comendo um cachorro quente com o vadalo, nossa viajei aqui kkkk. Continua!

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 28/07/2017 - 19:45:51

    Huum Dulce pensando no delinquente pichador amo *-* Pedro ñ desiste né, espero que ele ñ faça nd errado! Continua!!

    • GrazihUckermann Postado em 01/08/2017 - 20:14:28

      Tenho uma raiva muito grande por esse Pedro, queria muito que ele não fizesse nada de errado...

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 26/07/2017 - 18:49:20

    Dulce tem que ser mais querida, ela ta muito insensível, acho que o Christopher vai fazer uma grande mudança na vida dela *-* Continua!!

    • GrazihUckermann Postado em 01/08/2017 - 20:15:31

      Ele vai ter que ter muita calma e paciência para mudar a Dulce kkk

  • AnazinhaCandyS2 Postado em 24/07/2017 - 18:56:39

    Dulce ñ foi mesmo com a cara do Christopher, mas eu adoro esse jeito dele *-* Continua!!

    • GrazihUckermann Postado em 24/07/2017 - 19:01:52

      Christopher é um amor, já me apaixonei por ele s2 Como ele consegue ser tão calmo com uma Dulce dessa? kkkkk


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