Fanfic: O garoto do cachecol vermelho - Vondy | Tema: Vondy
Balé
Meus pés doíam, a cabeça girava e as pernas mal aguentavam meu peso. A música alta fazia meus ouvidos chiarem, mas eu tentava o máximo possível me concentrar e terminar a contagem de duzentos relevés. Faltavam dez. Eu precisava ter foco: meu objetivo era a transferência para a Juilliard. Para isso, eu tinha que ser uma bailarina perfeita e dedicar todo o meu tempo livre e cada gota do meu sangue a esse projeto. Não que eu não estivesse dando o meu máximo ali. Já havia treinado duas horas e meia, e estava ficando exausta demais para mais um relevé sequer. Mas eu precisava continuar. Minha mãe batia à porta insistentemente, pedindo que eu parasse para comer alguma coisa, mas eu dava tanta atenção a ela quanto ela geralmente dava a mim: nenhuma. Quem escolheu não passar nem um dia da semana inteiro em casa havia sido ela. Não eu. Suspirei, terminando a contagem.
Peguei a toalha branca pendurada na barra de exercícios e sequei o rosto, examinando minha sala de dança. Ficava em um andar superior da casa e tinha janelas que iam do chão ao teto. O piso era de madeira escura e as paredes eram cruas; de propósito, os tijolos e rejuntes estavam expostos. Eu gostava daquela simplicidade e do toque vintage. Por sinal, eu adorava coisas vintage. A parede oposta à das janelas era completamente espelhada. Eu amava a forma como a luz do sol refletia nos espelhos quando eu ensaiava no fim da tarde. Era como se os anjos me observassem dançar. Barras pintadas de preto contornavam a sala, e um equipamento de som completo ficava bem ao lado da porta, também preta. Sentei no chão, exausta. Com os pés latejando como nunca, tirei as sapatilhas com cuidado, já sabendo qual seria a minha visão: mais uma unha quebrada, mais um dedo encharcado de sangue. Com cuidado, arranquei o pedaço da unha que havia se partido e cortado a carne do lado direito do dedão. Eu estava acostumada; já tive falanges fraturadas, torções no tornozelo, luxações e todo tipo de calo, vergões e machucados. São “ossos do ofício, o sacrifício que toda bailarina deve fazer para ser o perfeito anjo na terra”, era o que dizia a minha professora mais exigente toda vez que uma garotinha chorava depois de ter se machucado.
Eu seria esse anjo; pagaria o preço que fosse, sem titubear. Coloquei a toalha debaixo do braço, me levantei e segui para o quarto, ignorando minha mãe, parada ao lado da porta. Entrei direto no banheiro, me tranquei lá e liguei o rádio em cima da pia.
—Dulce! Você não pode me ignorar pelo resto da vida! — minha mãe falou alto, do outro lado. Revirei os olhos. Ela tinha me seguido até ali?
—Posso, posso sim! Você duvida? — perguntei.
Antes que ela pudesse responder, aumentei o volume do rádio e liguei o chuveiro. Que ela esperasse até eu sair, então. Eu não tinha medo da Regina. Nunca tive. O que ela poderia fazer? Brigar comigo? Me deixar de castigo? Nós duas sabíamos que no dia seguinte ela não estaria por perto para aplicá-lo.
Era o último dia de férias, e eu tinha que confessar que não estava muito empolgada. Eu gostava de poder sair todo dia, de fazer o que quisesse. Todas as ressacas haviam valido a pena. Naquele ano eu teria que me dedicar mais do que nunca. Se eu queria mesmo a transferência para a Juilliard, a única alternativa era continuar treinando e me aperfeiçoando. Eu já tinha mandado um vídeo para eles e esperava ansiosamente a resposta, mas ainda devia demorar algumas semanas. Eu já tinha feito um curso de férias em uma das melhores escolas de dança do mundo, a Joffrey, graças à indicação de uma das minhas professoras de balé clássico, que conhecia alguém lá. Ela passou meses falando de mim para esse professor conhecido, até que finalmente me conseguiu um teste. Com uma hora de apresentação, fui aprovada. Ao final de três semanas, ele disse que eu era a melhor do curso e que deveria mandar um vídeo de inscrição para a Juilliard. Uma semana de ensaios, broncas, pés sangrando e exaustão depois, o vídeo estava sendo enviado, com cinco cartas de recomendação. Agora eu esperava, sem paciência, pela minha chance. Quando ela finalmente chegasse, eu teria que ser a melhor da turma, me destacar nos testes para ganhar a vaga. Eu ficava ainda mais exausta só de pensar em como o ano seguinte seria difícil. Saí do banho, me enrolando na maior toalha que tinha, e abri a porta do banheiro. Minha mãe havia decidido me dar um tempo, e agradeci silenciosamente a Deus por isso.
Vesti um short jeans e uma camiseta larga e lisa cor-de-rosa antes de deixar o quarto. Estava morrendo de fome. Como se fosse novidade, ela me esperava na sala de jantar. Eu a avistei assim que pisei na escada que levava ao primeiro andar, apesar de a sala ficar do outro lado da casa, depois do salão de entrada, da sala de estar e da sala de TV. Minha mãe estava sentada de pernas cruzadas na cadeira de couro escuro e pés de plástico preto. A mesa era enorme e retangular, tinha tampo de metal polido e centro de vidro. A base era feita de madeira, mais clara que a do chão. A parede ao lado da mesa era de vidro, e através dela dava para ver a cidade se estendendo preguiçosa e grandiosamente pelo que antes devia ser um enorme vale. Eu gostava do fato de nossa casa ter sido construída numa das partes mais altas de São Paulo. A vista era demais. Fui direto para a cozinha, que era uma mistura imponente de azulejos cor de areia, madeira escura e eletrodomésticos de inox importados. Abri a geladeira de duas portas e comecei a analisar o conteúdo, apenas esperando minha mãe iniciar seu discurso.
—Não podemos mais viver assim. Você sabe disso, Dulce — começou. — Eu sei que nunca tive muito tempo para você por causa do meu trabalho, mas eu...
—Não me interessa, Regina — retruquei, interrompendo-a e pegando um galão enorme de suco de laranja. Tomei um gole dos grandes antes de continuar. — Foi você quem escolheu isso. Não eu. Agora pague o preço da minha falta de afeto por você.
Eu estava indo em direção à sala de TV quando ela murmurou qualquer coisa sobre o fato de eu nunca chamá-la de mãe, como se a única coisa que tivesse ouvido fosse o seu nome. Revirei os olhos, parando de andar e me virando mais uma vez para ela. Perguntei:
—Depois de tudo, você ainda acha que eu vou te chamar por algo que não seja o seu nome? Não, Regina. Não até que você prove que merece o contrário.
Eu me virei e segui em direção ao quarto, esperando sinceramente que ela não dissesse mais nada. Eu estava muito cansada para mais uma briga, mais uma discussão infindável sobre como eu era ingrata e injusta, e como ela me amava e esperava que eu fosse mais carinhosa. Um dia... Quem sabe um dia eu realmente falasse tudo o que pensava e sentia sobre o amor da minha mãe por mim. Não hoje, não agora. Hoje eu só queria um pouco de paz.
Autor(a): GrazihUckermann
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 21
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candy1896 Postado em 01/09/2017 - 18:11:49
CONTINUAA
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candy1896 Postado em 23/08/2017 - 19:55:54
Continuaa
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candy1896 Postado em 22/08/2017 - 10:12:11
CONTINUA
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candy1896 Postado em 14/08/2017 - 18:55:10
Continuaa
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AnazinhaCandyS2 Postado em 03/08/2017 - 22:25:16
Pelo menos ela disse obrigada depois dele ter ajudado ela! Continua!
GrazihUckermann Postado em 07/08/2017 - 18:52:42
Um grande passo para ela kkkk
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AnazinhaCandyS2 Postado em 02/08/2017 - 18:39:44
Dulce ñ baixa essa guarda, Christopher tenta ser legal mas ela ñ coopera. Adorei quando ela viu a 'lata velha' kkkkkk. Continua!!
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AnazinhaCandyS2 Postado em 01/08/2017 - 19:12:50
Fernanda ta de olho no Christopher *0* Dulce elogiando o Pedro só pq ele é um playboyzinho mas la no fundo ela preferia ta comendo um cachorro quente com o vadalo, nossa viajei aqui kkkk. Continua!
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AnazinhaCandyS2 Postado em 28/07/2017 - 19:45:51
Huum Dulce pensando no delinquente pichador amo *-* Pedro ñ desiste né, espero que ele ñ faça nd errado! Continua!!
GrazihUckermann Postado em 01/08/2017 - 20:14:28
Tenho uma raiva muito grande por esse Pedro, queria muito que ele não fizesse nada de errado...
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AnazinhaCandyS2 Postado em 26/07/2017 - 18:49:20
Dulce tem que ser mais querida, ela ta muito insensível, acho que o Christopher vai fazer uma grande mudança na vida dela *-* Continua!!
GrazihUckermann Postado em 01/08/2017 - 20:15:31
Ele vai ter que ter muita calma e paciência para mudar a Dulce kkk
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AnazinhaCandyS2 Postado em 24/07/2017 - 18:56:39
Dulce ñ foi mesmo com a cara do Christopher, mas eu adoro esse jeito dele *-* Continua!!
GrazihUckermann Postado em 24/07/2017 - 19:01:52
Christopher é um amor, já me apaixonei por ele s2 Como ele consegue ser tão calmo com uma Dulce dessa? kkkkk