Fanfic: O garoto do cachecol vermelho - Vondy | Tema: Vondy
Plateia
Sentada na última poltrona de um dos nove ridículos ônibus prateados da faculdade, eu fazia o que podia para ter o mínimo contato com aquela coisa. O tecido azul era sujo e nojento. Estávamos parados no trânsito havia quase meia hora, e eu tinha esquecido os fones de ouvido em casa, então era obrigada a ouvir Christopher falando no seu megafone que a nossa faculdade era a melhor do mundo e que eles iriam adorar o lugar para onde estavam indo. Tudo baboseira de primeiro dia. Tudo ilusão.
Peguei o tablet, que carregava sempre na bolsa, e comecei a assistir a um episódio da minha série favorita, American Horror Story. Apesar de ter esquecido os fones e de não ouvir a voz dos personagens, eu já tinha assistido tanto àquilo que sabia cada cena de cor.
—Eu também gosto dessa parte. — De repente, alguém tinha se materializado ao meu lado. O maldito vândalo. — Do cinismo dele. — Naquele momento, um dos personagens foi morto por um grupo de policiais em seu próprio quarto. — O fato de estar tão doente e drogado chega a tornar essa cena engraçada.
—Ele merecia um prêmio por isso. Uma cena quase clássica — comentei, tão baixo que duvidava de que Christopher tivesse ouvido. Continuei, agora mais alto: — Você não deveria estar enchendo os calouros de mais idiotices e mentiras sobre a nossa faculdade? — perguntei, sem nem mesmo olhar para ele.
Ainda estava com raiva por ter sido forçada a participar do maldito trote, mas não adiantaria gastar energia brigando com ele. Decidi, então, que iria apenas ignorar, fazer o que tivesse que fazer o mais rápido possível e me livrar definitivamente daquele cara chato. Eu o senti sentando ao meu lado. Pelo menos o perfume era bom, embora um pouco amadeirado demais para o meu gosto. Ele riu, e eu quase pude vê-lo balançando a cabeça, em sinal de descrença.
—Eu decidi dar um descanso para eles. Mais algumas frases e ficaria óbvio que eu estava mentindo — brincou.
—Isso você faz muito bem, por sinal — sussurrei, finalmente me virando para olhar para ele, que me encarava.
Analisei-o por alguns segundos, esperando uma resposta. Seus olhos azul-claros tinham algumas manchas mais escuras, e o cabelo dourado era cheio de cachos grossos. A pele era bem clara, e as bochechas, coradas. Lembrava um daqueles querubins que apareciam nas pinturas. O queixo era quadrado, e os dentes, que teimavam em morder o lábio inferior, eram perfeitos. Aliás, ele era quase perfeito. Exceto por uma cicatriz na sobrancelha direita, que provocava uma pequena falha nos pelos.
—Quem é você, afinal? — eu quis saber quando vi que não obteria resposta alguma.
—O monitor-chefe do trote — ele respondeu, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
—Estou falando sério! Por que deixaram você entrar na minha sala daquele jeito para falar aquelas coisas? Aliás, como você descobriu o meu nome?
Ele sorriu, passando o olhar pela poltrona à nossa frente, que estava vazia, antes de responder:
—Eu sou filho da Marcia, a reitora da faculdade. Por isso eu posso entrar daquele jeito nas salas. Brincadeira. — Ele piscou para mim. — Os professores me deixam entrar porque eu sou monitor e o responsável pela organização do trote solidário. Como eu sei o seu nome? Bem... eu sei o nome de todo mundo naquele lugar.
Franzi a testa e cruzei os braços. Então ele já sabia quem eu era naquela noite de Ano-Novo. Provavelmente tinha reclamado de mim para a mãe e agora eu estava ferrada. Que ótimo!
—Não, eu não falei nada sobre você — ele completou, antes que eu tivesse a chance de perguntar. — Ainda não temos essa intimidade toda para eu te apresentar pra minha família.
—Você é tão engraçadinho. Já cogitou a possibilidade de ser comediante? — murmurei, tentando esconder o alívio. Pelo menos isso!
—Aliás, eu nem teria motivo para isso — continuou, ignorando meu sarcasmo. — O que aconteceu naquela noite não tem nada a ver com a faculdade, e, se você quer saber, eu estava sendo sincero quando disse que o desenho ficou melhor depois que você, toda linda e graciosa, jogou tinta nele.
—Você sendo sincero com alguma coisa? — Fiz uma expressão exagerada de espanto. — Nós trocamos meia dúzia de frases aqui, e em mais da metade delas você estava mentindo, o que me faz acreditar que pelo menos noventa por cento do que você diz não tem um pingo de sinceridade.
Ele abriu ainda mais o sorriso que já estava no seu rosto, inclinando o tronco na minha direção e ficando bem mais próximo do que a minha zona de conforto permitia. Decidi ficar quieta, só esperando pelo que ele diria a seguir. Sua próxima mentira.
—Eu também estava falando a verdade quando disse que você estava “toda linda e graciosa”.
—Eu já falei que você deveria ser comediante? — perguntei, no tom mais irônico que consegui.
—Sim, sim — ele respondeu, se levantando. Agora seu olhar estava fixo na janela. — Você pode me falar mais sobre isso depois, mas, por enquanto... CHEGAMOS! — anunciou.
Proferiu a última palavra tão alto que cheguei a levar um susto, me encolhendo contra a poltrona. Todos se levantaram, inclusive eu, formando uma fila para sair (finalmente) do ônibus. Não demorou muito até que todos estivéssemos na frente de um grande hospital. Pelo que ouvi de um dos monitores, este ano o número de calouros tinha batido o recorde. Era um mar de rostos desconhecidos; devia haver quase duzentos e cinquenta alunos. Fomos conduzidos para dentro do prédio, com um dos monitores mostrando alguns lugares lá dentro. Eu sempre me mantinha atrás da turma. Não gostava muito daquela coisa de proximidade e calor humano, ainda mais de pessoas que eu não conhecia.
Foram uns bons minutos de apresentações e baboseiras sobre o lugar que eu não queria ouvir, até que entramos no auditório. Não era exatamente enorme, mas eu sabia que todos nós caberíamos ali com certo conforto. As paredes tinham um tom marrom-amadeirado, e as cadeiras, arrumadas em meia-lua, eram forradas de um tecido preto liso. Descendo as escadas, havia um palco de madeira clara com um tipo de púlpito no canto. Na parede acima do palco havia um projetor.
Fiz questão de me sentar na última fileira, longe de todos, de braços cruzados, emburrada. Claro que Christopher decidiu se sentar ao meu lado. Não aguentei:
—O que você quer de mim?!
Ele colocou um dedo na frente dos lábios, pedindo silêncio, e em seguida apontou na direção do palco, onde uma monitora havia se postado atrás do púlpito para fazer algum anúncio. Era uma garota exageradamente baixa e gorda, com cabelo comprido castanho-escuro e ondulado, de camiseta rosa e jeans escuro. Eu via de longe que seu rosto e seus braços eram cobertos de sardas. A menina começou, depois que todos pararam de falar:
—Bom dia! Meu nome é Isabela, mas podem me chamar de Isa. — Fez uma pausa. Parecia um pouco nervosa. — Como todos vocês sabem, eu sou uma das monitoras do trote solidário da Faculdade François Aran, organizado pelo Christopher Von Uckermann, que é aluno do quarto ano — explicou, apontando em nossa direção. Eu me encolhi um pouco na cadeira enquanto ele acenava e sorria para todos que haviam se virado para olhar. — Acho que ele já deve ter dito para vocês que hoje nós vamos apresentar um show de talentos para os pacientes e familiares que frequentam a Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica. O motivo de estarmos aqui neste hospital, e não na casa onde ela se localiza, é que lá é um espaço improvisado e muito pequeno. Não caberia todo mundo. Então, o hospital cedeu gentilmente o seu auditório para o nosso pequeno show. A boa notícia é que em breve a ABrELA vai estar em uma casa nova, com mais espaço e mais condições de cuidar de muito mais pacientes. Se vocês quiserem saber um pouco mais sobre a associação, ou mesmo ajudar, é só acessar o site abrela.org.br. Lá tem todas as informações...
Ela continuou a explicar como tudo funcionaria. Nenhum aluno seria obrigado a participar, mas aqueles que se interessassem iriam subir ao palco, em ordem alfabética, para mostrar o que sabiam fazer. Tudo seria feito de improviso, e essa era a graça da coisa, segundo Isa. Para mim, era tudo um porre e uma enorme perda de tempo. No final, haveria pelo menos trinta apresentações de alunos dos grupos de dança, música e teatro. Pouco tempo depois, o auditório se encheu de pacientes. Eu não sabia qual eram suas doenças ou quem eles eram, e não me importava. Desde que não se sentassem ao meu lado, tudo bem.
—Não deveriam entregar máscaras para os alunos? — perguntei a Christopher. — É perigoso ficar no mesmo ambiente que...
—O que você quer dizer com isso? — ele interrompeu, abrindo um sorriso de descrença. — Essas pessoas não têm nenhuma doença contagiosa, Dulce.
—Mesmo assim... — comecei, mas, antes que pudesse terminar, ele voltou a olhar para a frente, balançando a cabeça como se não quisesse me ouvir.
Ele estava... me ignorando? Cruzei os braços, irritada, observando o primeiro aluno começar a sua apresentação. Eu sabia que, se tentasse me levantar e ir embora, Christopher iria me impedir, então só me restava esperar que ele fosse ao banheiro ou coisa parecida para cair fora daquele lugar cheio de gente doente.
Autor(a): GrazihUckermann
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Holofotes Fiquei ali por uma eternidade e vi zilhões de apresentaç&oti ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 21
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candy1896 Postado em 01/09/2017 - 18:11:49
CONTINUAA
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candy1896 Postado em 23/08/2017 - 19:55:54
Continuaa
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candy1896 Postado em 22/08/2017 - 10:12:11
CONTINUA
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candy1896 Postado em 14/08/2017 - 18:55:10
Continuaa
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AnazinhaCandyS2 Postado em 03/08/2017 - 22:25:16
Pelo menos ela disse obrigada depois dele ter ajudado ela! Continua!
GrazihUckermann Postado em 07/08/2017 - 18:52:42
Um grande passo para ela kkkk
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AnazinhaCandyS2 Postado em 02/08/2017 - 18:39:44
Dulce ñ baixa essa guarda, Christopher tenta ser legal mas ela ñ coopera. Adorei quando ela viu a 'lata velha' kkkkkk. Continua!!
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AnazinhaCandyS2 Postado em 01/08/2017 - 19:12:50
Fernanda ta de olho no Christopher *0* Dulce elogiando o Pedro só pq ele é um playboyzinho mas la no fundo ela preferia ta comendo um cachorro quente com o vadalo, nossa viajei aqui kkkk. Continua!
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AnazinhaCandyS2 Postado em 28/07/2017 - 19:45:51
Huum Dulce pensando no delinquente pichador amo *-* Pedro ñ desiste né, espero que ele ñ faça nd errado! Continua!!
GrazihUckermann Postado em 01/08/2017 - 20:14:28
Tenho uma raiva muito grande por esse Pedro, queria muito que ele não fizesse nada de errado...
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AnazinhaCandyS2 Postado em 26/07/2017 - 18:49:20
Dulce tem que ser mais querida, ela ta muito insensível, acho que o Christopher vai fazer uma grande mudança na vida dela *-* Continua!!
GrazihUckermann Postado em 01/08/2017 - 20:15:31
Ele vai ter que ter muita calma e paciência para mudar a Dulce kkk
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AnazinhaCandyS2 Postado em 24/07/2017 - 18:56:39
Dulce ñ foi mesmo com a cara do Christopher, mas eu adoro esse jeito dele *-* Continua!!
GrazihUckermann Postado em 24/07/2017 - 19:01:52
Christopher é um amor, já me apaixonei por ele s2 Como ele consegue ser tão calmo com uma Dulce dessa? kkkkk