Fanfic: Procura-se uma Amante(Rendezvous with Revenge) - (VONDY - ADAPATADA) | Tema: VONDY

Elas voltaram para o hotel por volta das onze horas. Tinham demorado menos do que o esperado em Bowral, mas Dulce até achara bom. Estava ansiosa para fazer as malas para a viagem de volta.

— Obrigada pelo chá, Ann — murmurou quando se despediram.

— Vejo você no almoço.

Dulce estava subindo a escada, distraída, quando esbarrou em uma pessoa que descia.

— Desculpe-me.

Natália pareceu demorar um segundo para reconhecê-la.

Sem dúvida ela estava estonteante, apesar do estranho rubor em seu rosto. Seus cabelos estavam um pouco despenteados, o batom manchado e o zíper do curto vestido negro que usava não fora fechado corretamente.

Dulce tinha certeza de que a mulher estava nua por baixo daquela roupa. Seus seios arfavam de forma selvagem, e era possível notar os mamilos enrijecidos. Era provável que Natália tivesse acabado de sair de um encontro amoroso com alguém. Mas não com seu marido, que naquele exato instante estava acabando de proferir uma palestra.

Um sorriso cruel surgiu nos lábios carnudos e sensuais de Natália. Seus olhos grandes e castanhos brilharam com intensidade.

— Voltou para casa cedo, querida — ela murmurou num tom provocante. — Nunca volte para casa assim, sem avisar. Pode ficar surpresa. Além disso, você garantiu a Christopher que passaria toda a manhã fora. Mas não se preocupe. Isso não vai acontecer outra vez. Mas não comigo. Já estamos de partida e, na verdade, homens como ele nunca me atraíram...

Fez uma pausa, depois voltou ao ataque:

— O pobrezinho insistiu tanto que eu tive de dar uma amostra do que ele perdeu. Não acha que foi gentileza minha?

Dulce tentou não acreditar naquelas palavras venenosas. "Christopher me ama", dizia a si mesma. "Ele não faria isso. Essa mulher está mentindo."

Mas a risada sarcástica de Natália abalou sua confiança.

— Se eu fosse você, não discutiria o assunto com Christopher. Nunca mais vou voltar... Phil e eu encerramos nossa volta ao mundo amanhã, depois viveremos felizes para sempre longe daqui. E você será a Sra. Uckermann. Era isso o que queria, não?

Reunindo toda a coragem que podia, Dulce ergueu a cabeça num gesto desafiador.

— Que mentirosa patética você é. Deve mesmo achar que não sei nada sobre você! Meu Christopher nunca faria amor com alguém do seu tipo. Ele despreza você. E está enganada quando diz que quero me tornar a Sra. Uckermann. Não é verdade. Estou me divertindo com ele... enquanto você apenas deseja isso!

Ao notar que Natália empalidecera, ela avançou de forma ameaçadora. A mulher entrou em pânico, fugindo desesperada pelo longo corredor.

— Isso! — Dulce gritou. — Agradeça aos céus por eu não ter lhe dado uma lição. E desapareça!

Sem olhar para trás ela girou sobre os calcanhares e correu na direção do quarto. Naquele momento seu coração disparou. De súbito, toda a coragem que reunira desapareceu. Tudo em que conseguia pensar era em chegar ao quarto.

Quando, afinal, parou diante da porta, tentou girar a maçaneta com a mão trêmula. Estava trancada! Christopher não devia estar no quarto. Natália mentira o tempo todo.

"Como pude desconfiar de Christopher por um segundo?", ela se perguntou com remorso.

Mas, depois da abrir a porta com a própria chave, algo chamou sua atenção: um perfume que dominava o ambiente. Era o perfume de Natália. Dulce reconheceu o aroma no mesmo instante. Fechando os olhos, desabou sobre a cama numa explosão lancinante de dor. Fora traída. Mais uma vez em sua vida, fora traída.

Pulou de susto ao ouvir a porta do banheiro se abrindo. Christopher saiu por ela com uma expressão impenetrável no rosto. Gotas ainda escorriam pelo corpo dele, que era envolvido apenas por uma toalha de banho.

— Pensei que só voltasse mais tarde!

Dulce queria matá-lo. Queria matar os dois. Como ele fora capaz de dormir com aquela mulher?

Respirando fundo, Dulce tentou recobrar o controle.

— Vou perguntar a Ann se posso voltar no carro deles, Christopher. Não quero vê-lo nunca mais depois disso.

— Depois do quê?

— Não tente mentir — ela disse, fria. — Acabei de encontrar a adorável Natália. Ela me contou o que aconteceu neste quarto, mas eu me neguei a acreditar. Agora posso ver que estava errada; sinto o cheiro dela... Por que tomou banho, Christopher? Por acaso queria encobrir as provas?

— Eu não toquei nela — ele negou com firmeza. — Tem de acreditar em mim, Dulce.

— Não tenho de acreditar em nada! Não vou ser traída outra vez, Christopher Uckermann. Mato você primeiro, está me ouvindo?

Depois de dizer isso ela avançou contra ele com nervosismo. Seus punhos cerrados desferiram alguns golpes contra o peito musculoso, mas Christopher conseguiu dominá-la com facilidade, segurando-a com firmeza pelos pulsos.

— Por que fez isso? — ela gemeu desesperada. — Como pôde...

— Eu não fiz nada, Dulce — ele insistiu com veemência. — Juro. Pelo meu amor, por minha honra... eu não toquei nela. Acha que eu conseguiria fazer amor com Natália depois de tudo o que aconteceu conosco? Meu Deus, Dulce, eu preferia morrer a traí-la desse jeito. Por favor, querida, acredite em mim. Diga que ainda me ama. Não vou suportar viver sem você. Não vou suportar.

Ela reconheceu o desespero autêntico naquela voz. Notou a expressão atormentada do rosto e o tremor que tomava conta de todo o corpo dele.

Christopher dizia a verdade. Ele não fizera amor com Natália. Ainda a amava!

O pânico foi substituído por um remorso profundo. Ele acreditara quando ela se declarara inocente, e Dulce não lhe dera a mesma chance.

— Oh, Christopher, estou tão arrependida de ter duvidado de você... Claro que não faria uma coisa dessas. Perdoe-me, meu amor. Perdão.

— Perdoar você? Sou eu que lhe devo desculpas. Nunca devia ter deixado Natália entrar neste quarto, sou culpado por deixá-la atacar você desse jeito. Eu sabia que ela era ruim, mas não imaginava que pudesse ir tão longe... Tudo o que eu quis foi uma chance para dizer o que pensava dela cara a cara.

— O que aconteceu, Christopher?

Ele deu de ombros.

— Ainda não posso acreditar no que ela fez. A mulher é doente, muito doente. — Ele meneou a cabeça, incrédulo.

— Por que ela veio até o quarto? Como sabia que eu estaria fora?

— Na certa, ouviu sua conversa com Ann durante o café, quando vocês estavam fazendo os planos para o passeio. Quando entrei no auditório para assistir à palestra da manhã, recebi um bilhete dela, dizendo que precisava me encontrar, com urgência, na frente de nosso quarto. No íntimo eu sabia que não devia ir ao encontro, mas não pude evitar. Curiosidade, eu acho...

Christopher fez uma longa pausa, como se precisasse ordenar os pensamentos. Depois, relaxou e sorriu, desanimado.

— Ela estava à minha espera, como tinha prometido — ele continuou. — Sugeri que fôssemos até o bar do hotel para um drinque, mas ela insistiu em dizer que o assunto era muito particular e que não queria se arriscar num lugar tão público. Diante disso, eu não quis insistir mais. Então, deixei que ela entrasse e pedi um drinque ao serviço de quarto.

— O que ela queria lhe dizer? — Dulce indagou, ansiosa. — Diga logo, estou morrendo de curiosidade.

— Tentou inventar uma história qualquer sobre ter sido iludida por Ballistrat. Disse que ainda me amava e que faria qualquer coisa para ficar a meu lado. Mas tudo piorou quando... — Ele interrompeu-se e sorriu.

— Quando? — Dulce ergueu a cabeça, atenta.

— Bem, eu disse a você. A mulher é doente! Num certo momento, depois que trouxeram os drinques, ela deitou-se na cama e começou a se acariciar... aquilo... foi repulsivo, entende? — Ele suspirou. — Eu disse a ela para sair e me tranquei no banheiro.

Dulce notou que ele parecia mesmo chocado com a lembrança.

— Quando saí — ele continuou —, Natália já se fora. Devo dizer que, ao contrário do que sempre imaginei, não me senti nem um pouco bem por vê-la naquele estado, Dulce. Tranquei a porta para me certificar de que ela não voltaria, e decidi tomar uma ducha fria. Foi quando ouvi um ruído no quarto e saí outra vez, encontrando você chorando na cama.

— Eu estava desesperada.

Ele enlaçou-a num abraço.

— Como pude ser tão estúpido? Minha única desculpa é que desejei essa vingança por tanto tempo... que não pude resistir. Foi por causa do que ela fez comigo. Natália quase me destruiu anos atrás. Não posso nem lhe contar...

— Claro que pode, Christopher. Diga-me tudo, assim como eu fiz na outra noite. O que ela fez a você além de abandoná-lo? Eu sempre desconfiei que havia alguma coisa.

Christopher descreveu com detalhes tudo o que acontecera. Natália, além de estar prestes a se casar com Christopher, também esperava um filho dele. Mas não hesitara nem por um instante em fazer um aborto quando surgiu a oportunidade de conquistar o rico e famoso médico de renome internacional.

— Não suporto pensar que ela matou o meu filho — ele murmurou com tristeza. — Foi uma atitude fria e desprezível.

— Oh, Christopher, que coisa horrível!

— Por outro lado, hoje posso dizer que até me sinto aliviado. Consegue imaginá-la como uma boa mãe? Eu, não.

— Natália não te amava, querido. Nenhuma mulher apaixonada faria isso. Eu nunca faria isso com um bebê, nunca!

Ele prendeu a respiração, reunindo coragem para o que pretendia dizer.

— Você... estaria mesmo disposta a isso? Quero dizer... ter um filho meu? Case-se comigo, Dulce. Vamos transformar esse noivado de mentira numa coisa real. Por favor, diga que sim.

Dulce meneou a cabeça com descrença quando ouviu aquelas palavras, mas ele interpretou o gesto como uma resposta.

— Não quer se casar comigo... Não confia o bastante em mim. E não posso culpá-la por isso. Não mereço você. Sempre a tratei muito mal. Fui um completo idiota. Droga! Quando vou aprender que...

Dulce segurou o rosto dele com imenso carinho.

— Cale-se, seu tolo. Claro que vou me casar com você.

— Você vai?!

— Sim, é claro.

— É uma coisa muito séria, Dulce.

— Eu estava pensando no susto que Maite vai tomar quando contarmos a novidade. Isso sem dizer a Sra. Blanchford...

— Quem é a Sra. Blanchford?

— Não se preocupe. Logo vai descobrir. Por falar nisso, como é sua casa? É espaçosa?

— Muito.

— Por acaso você teria um quarto sobrando para abrigar uma velha senhora numa cadeira de rodas?

Ele sorriu.

— Ah, então a história que me contou era verdadeira...

Dulce empertigou-se.

— Ainda duvidava disso?

— Na verdade, não. Mas, respondendo à sua pergunta, sim, temos um quarto que servirá muito bem para esse objetivo.

— Fantástico!

— Acho que arrumei mais do que uma esposa — ele comentou com voz rouca.

Dulce mordeu o lábio inferior.

— Ela é uma mãe para mim, Christopher.

— Bem, por que acha que me deve explicações, querida? — ele comentou, afetuoso. — Acabo de ganhar uma sogra.

— Não acha que Maite vai se importar, não é?

— Importar? Ela vai adorar! Sempre gostou de você. Só o tolo do irmão não notava o tesouro que tinha encontrado. Um tesouro que pretendo guardar para o resto de minha vida.

Dulce aninhou-se no peito dele. Achava que quem descobrira o verdadeiro tesouro fora ela.

— Você ainda vai se tornar meu melhor amigo, Christopher — ela murmurou, lembrando-se das palavras de Ann.

— Pensei que fosse ser seu marido!

— Isso também. E meu amante. E também o pai de meus filhos.

— Bem, é melhor isso acontecer, ou você estará metida numa encrenca. Por falar nisso, quantos filhos pretende ter?

— Quantos quartos livres sua casa tem?

— Céus! Não precisa exagerar!

— Quantos quartos, Christopher?

— Doze...

— É demais! Acho que não quero tantos filhos assim.

— Graças a Deus! — ele murmurou.

— Quero apenas dez.

— Dez!

— É demais para você?

— Acho que sim.

— Que tal oito?

— Oito!

— Seis. É minha última oferta.

— Então serão seis. — Ele suspirou.

Mais uma vez Dulce o abraçou, sentindo-se satisfeita. Na verdade, só queria mesmo seis filhos.

— Christopher?

— Sim.

— O que você tinha em mente, quando decidiu vir para cá? Quero dizer... não estava mesmo planejando nada violento, não é?

— Não vou mentir para você, Dulce. Eu queria vingança. Queria ver Natália sofrendo, do modo como sofri dez anos atrás. Eu suspeitava que ela pudesse tentar um de seus truques. Além disso, tinha ouvido rumores sobre a falência de Ballistrat. No fundo, eu queria acabar com o casamento deles, apenas para me divertir.

— Mas se esse era o seu plano, por que me contratou para vir junto? Não teria mais liberdade se viesse sozinho?

— Claro. Mas no fundo eu sabia que estava sentindo algo muito especial por você. Disse a mim mesmo que se Natália a visse a meu lado, deslumbrante como sempre, ela se arrependeria de ter me abandonado. No fundo, eu queria mesmo era ficar a sós com você, Dulce.

Os olhos dele brilhavam com intensidade.

— Quando consegui uma boa desculpa para beijá-la, meu desejo de vingança esmoreceu. Na verdade, o ódio que eu sentia por Natália transformou-se numa curiosidade clínica e num sentimento de repulsa. Foi por isso que dancei com ela. Para testar o quanto ainda me afetava. Porém não consegui dizer a Natália todas as verdades que ela merecia ouvir.

— Não se preocupe, Christopher, fiz isso por você.

— Você o quê?

Dulce contou o que acontecera no corredor... sem omitir nem uma palavra.

— Não é possível! — Ele estava atônito e admirado ao mesmo tempo.

— Foi o que eu fiz.

— Ela saiu mesmo correndo?

— Sim — Dulce disse com orgulho. Não se arrependia nem um pouco do que acabara de contar, muito pelo contrário. — Ou então eu juro que deixaria minha marca naquele rostinho lindo...

Ele riu e estreitou-a num abraço apertado.

— Oh, você é demais! Gostaria de ter visto isso! Pagaria qualquer coisa pelo espetáculo.

— Bem, mas você pagou, Christopher, quando me contratou para vir junto. O que me lembra uma coisa... Preciso fazer uma confissão.

Ele parecia alarmado.

— Não é nada sério, querido, mas acho que não concordei em vir apenas pelo dinheiro. No fundo, creio que aceitei porque queria ir para a cama com você...

— Bem, não me importo com esse tipo de confissão.

— Mas também acho que não o amava ainda, Christopher. Era apenas atração sexual.

— Sempre é assim, querida. É assim que a natureza trabalha, para homens e mulheres. Mas agora não é apenas sexo, não é verdade?

— Oh, não! Claro que não.

— Eu te amo, Dulce.

— E eu sinto o mesmo, Christopher. Apenas...

— Apenas o quê?

— Não acha melhor se vestir? Você está me provocando, andando pelo quarto desse jeito.

— Vou me vestir, querida. Claro que vou... mais tarde.

FIM