Fanfic: Minha Atena | Tema: Original
Uma semana antes…
Jansen
Uma cor vibrante de sangue vivo destacava nos lábios carnudos dela, enquanto frases sem sentido saia pela sua boca. Parecia que tinha acabado de sugar todo o sangue de uma pessoa saudável. E agora estava ali, tagarelando sem parar como se fosse a rainha do mundo. Para Jansen, Sra. Philips não passava de uma velha enxerida que cheira café barato. Ou pior, seu hálito cheirava café misturado com menta. Era óbvio que ela mascava chiclete para tentar abafar, sem sucesso seu mau-hálito. Ela sempre usava uma camisa regata branca, saia preta na altura dos joelhos e terninho cinza sem graça, que agora se encontrava no encosto de sua cadeira giratória. O que chamava mais atenção era seu pescoço e braços cobertos por bijuteria chamativas. (Pelo amor de Zeus! Aquela mulher tinha um estilo ridículo!) Era o que ele pensava toda vez que entrava em sua sala.
Todavia Jansen não estava ali para avalia-lá, muito menos para reparar na ridícula pintura cor de pastel de sua sala, mesmo que seja inevitável não torcer o nariz para as fotos de criança e adolescentes felizes penduradas por toda parte. Como se ela achasse que Jansen fosse fazer parte de tudo aquilo algum dia.
Encontrar-se com ela uma vez por semana era uma rotina monótona e entediante. Sempre ocorria o mesmo processo: ela perguntava e ele respondia, mas nem sempre com a verdade, é claro. Todavia por alguma razão, Sra. Philips estava agindo diferente hoje. Não que ela demostrasse isso claramente, entretanto Jansen era um bom observador para deixar de notar como ela estava mais radiante e infelizmente, mais tagarela do que nunca.
Jansen suspirou pela vigésima vez nos últimos cinquenta minutos. Sua postura na poltrona de couro macio não era nem um pouco formal. Sem contar os pedacinhos de unha que saia de sua boca indo direto para chão, mas Sra. Philips fingia não notar que ele achava mais interessante roer as unhas do que prestar atenção no que ela dizia.
— Eu soube que você tem se dado muito bem com seu trabalho voluntário. Até anotei uns pontos extras na sua fixa. Isso é muito bom. — Disse ela sorridente. Ele deu os ombros como se aquilo não fizesse a mínima diferença. Sem se abalar, ela continuou — Infelizmente, seu comportamento no colégio tem piorado muito. Você agrediu um colega e ainda quebrou uma das janelas do refeitório. Ainda penso que preferia ter pegado sete anos de cadeia.
Ele deu os ombros novamente, relaxando ainda mais na poltrona.
— Jansen, eu sei que você não tem demonstrado muito interesse nas nossas consultas. Tem faltado bastante alegando estar doente, e isso não é algo convincente para eu sendo que toda quarta-feira um parasita inesperado resolve acomodar-se em seu corpo. Eu sei que não está nem um pouco doente.
Sra, Phillips negou com a cabeça enquanto mexia distraidamente em suas pulseiras no braço.
— Tenho mais de 15 anos de experiência em psicologia, não pense que sou tola o bastante para achar que esta me enganando.
Jansen suspirou.
Fechou os olhos.
Afastou os lábios.
E não disse nada.
E realmente não havia nada para ser dito. Mais uma vez ele tinha sido pego na mentira deslavada. Ele sabia que uma hora ou outra, teria que voltar a frequentar as consultas todas as quartas-feiras. Entretanto quanto mais tempo pudesse ficar longe desta sala, continuaria mentindo descaradamente. Claro que ele não acreditava que sua psicóloga fosse tão burra assim. (Hum… talvez eu tenha acreditado alguma vez.) Todavia o importante era que sua mentira tinha durado por 4 semanas, ou seja, 4 consultas que ele não teria que ouvia Sra, Philips falando abobrinhas em seus ouvidos. Ótimo trabalho, Jansen. Ótimo trabalho!
— Jansen… — a psicóloga chamou sua atenção — algumas semana atrás, recebi uma ligação inesperada de um homem. Ele queria marcar uma consulta para uma conversa formal. Disse que era um assunto se tratando de um paciente meu. Ele se identificou pelo sobrenome, que me pareceu muito familiar. Então eu soube qual paciente ele queria tratar sobre nossa conversa.
Jansen franziu o cenho sem saber onde ela queria chegar com aquele assunto.
Ela prosseguiu.
— Vou ser bem direta… — disse a doutora.
— Quero comunica-lo que seu irmão Austin, entrou na justiça à alguns meses — Assim que ouviu o nome de seu irmão, Jansen se sobressaltou ajeitando a má postura. Pela primeira vez desde a primeira consulta, ele sentiu interesse no que Sra. Philips dizia — Ele quer tirar a sua custódia de seu pai.
Jansen piscou sem intender. De repente tudo pareceu não fazer nenhum sentido em sua cabeça. Seu irmão Austin, aquele mesmo cara que o abandonou quando mais precisava, queria sua custódia? Eles não se falava à quase nove anos. Eles não se falavam desde do dia em que Austin terminou o ensino médio e partiu para Oslo, na Noruega para cursar faculdade de direito. Nesse dia Jansen implorou para que o irmão o levasse junto, alegando que não queria viver com os pais. Austin compreendia o irmão, e era exatamente por causa dos pais, que ele estava indo embora. Não suportava mais ver sua mãe naquele estado quse todos os dias. Então sua única opção era abandonar seu irmão mais novo e partir para construir um futuro melhor.
Para Jansen não fazia sentido. Perguntas e mais perguntas rodeavam em sua cabeça, mas nenhum delas parecia ter uma resposta adequada.
— Eu sei que isso soa como um soco no estômago. Conversei com Austin, ele realmente parecia interessante em ganhar sua custódia. Para falar a verdade, eu acho isso excelente. Você não tem uma relação muito sociável com seus pais. Sua mãe…— ela pausou antes de continuar — está passando por um momento difícil. Um pouco complicado, que precisa de atenção. E seu pai está… melhorando.
Ela queria dizer na verdade, que sua mãe era uma louca psicótica que sofria de esquizofrenia, e que estava internada em um hospício. (Em vez da cadeia, onde era seu devido lugar)E que seu pai estava ingerindo menos bebidas alcoólicas nos últimos meses, graças à um grupo de reabilitação. Mesmo sabendo que ele ainda bebia escondido.
— Austin tem uma carreira de sucesso em Oslo. É um advogado civil muito procurado por empresários importante. As chances dele conseguir sua custódia são bem altas. — Sra. Philips explicava atenta a cada detalhe.
— Vou fazer dezoito daqui cinco meses — Jansen murmurou encarando-a.
Sra. Philips pensou antes de responder:
— Sim, eu compreendo. Mas pense que nesses cinco meses pode acontecer inúmeras coisas. Você pode se mudar para a Noruega, estudar em um colégio melhor, fazer melhores e novas amizades — Ela fez questão de dar ênfase no “melhores”, como se as amizades de Jansen não fosse exemplares — Ter uma vida melhor. Longe de confusões. Pense que irá ser como um recomeço. Mas é claro que você irá continuar com seu trabalho voluntário por lá até completar os três meses…
— Por que? — Jansen perguntou, interrompendo-a.
Se ele pudesse, acenderia um cigarro naquele momento e mandaria a plaquinha de “Proibido fumar” para o inferno.
— Porque o quê? — estranhou ela, arcando uma das sobrancelhas sem intender.
— Por que Austin resolveu aparecer assim do nada? Porque sempre que eu precisei dele, ele nunca apareceu? E agora que eu nem lembrava que ele existia, ele resolve aparecer para tirar a custódia do meu pai. Não preciso dele. Acho que nunca precisei — Disse ele firme. Seus punhos serrados com as veias rochas quase saltando para fora da pele tatuada, deletada sua raiva e indignação.
— Para sincera, você precisa mais dele agora, do que nunca. — Disse ela. Por algum motivo, Jansen ficou sem argumentos — Ótima notícia! Nossa consulta acabou à um minuto e meio. Bom, nos vemos semana que vêm, rapaz — Ela sorriu levantando-se de sua cadeira ajeitando a saia para baixo. Então caminhou com seus santos baixos até porta e abriu para Jansen. Mas Jansen não se mexeu. Continuou sentando na poltrona com o olhar vago. Sua ficha ainda não tinha caído. Ele queria ficar ali, até ela disser que tudo não passou de uma piadinha sem graça, mas Sra. Philips permaneceu segurando a porta esperando-o. — Jansen, nossa consulta terminou. Você já pode se retirar — Ela repetiu.
Como se alguém tivesse estralados os dedos em frente ao seus olhos, Jansen chacoalhou a cabeça, saindo de transe e murmurou um “ah, foi mal”.
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Autor(a): byaah_bianca
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