Fanfic: Meu Romeu - Adaptada | Tema: Vondy
Vejo uma forma escura na minha visão periférica, esparramando-se numa
cadeira do lado oposto da sala, então ajeito os ombros e me empino como se não
desse a mínima.
O calor do seu olhar me segue até eu chegar à escadaria, aí esmoreço.
Digo a mim mesma que não sinto falta desse calor.
A escadaria é íngreme e mal iluminada, e leva a um beco atrás do teatro.
Antes mesmo de a porta se fechar atrás de mim, acendo um cigarro. Eu me
recosto nos tijolos frios, inspiro e levanto o olhar para a linha fina de céu entre os
prédios. A nicotina faz pouco para acalmar meus nervos. Tenho certeza de que
nada menos do que sedativos cirúrgicos vai me ajudar hoje.
Termino o cigarro e me encaminho de volta para a entrada do palco, mas,
antes de poder segurar a maçaneta, a porta se abre, e o gatilho de todas as
minhas raivas é apertado. O jeans escuro modela seu corpo de uma forma que
eu realmente não devia sequer notar.
Os olhos são como os que eu lembrava. Azul-pálidos, hipnotizantes. Cílios
escuros espessos. Ardentemente intensos.
Mas o resto...
Ai, Deus, esqueci.
Eu me forcei a esquecer.
Até hoje ele é o cara mais bonito que já vi. Não, bonito não é suficiente.
Atores de novela são bonitos, mas de uma forma completamente previsível, sem
graça. Cristopher é... cativante. Como uma rara pantera exótica. Beleza e poder em
partes iguais. Enigmático sem nem mesmo tentar.
Odeio como ele é bonito.
Sobrancelhas arqueadas e marcantes. Queixo definido. Lábios carnudos na
medida certa para serem lindos, que no contexto de seus outros traços parecem
poderosamente masculinos.
Seu cabelo escuro está mais curto do que na última vez que o vi, e o faz
parecer mais maduro. E mais alto, se é que é possível.
Sempre fui muito menor que ele. Um e sessenta e sete meu contra um e
noventa e dois dele. E pela largura dos ombros, ele está malhando desde a
faculdade. Não em excesso, mas o suficiente para o desenho dos músculos saltar
sob a camiseta escura.
O sangue sobe para minhas bochechas e quero me dar um tapa por essa
reação.
Confie nele para parecer mais atraente do que nunca. Idiota.
— Oi. — Ele me cumprimenta como se eu não tivesse passado os últimos
três anos sonhando em socar a linda cara de canalha dele.
— Olá, Christopher.
Ele me encara, e, como de costume, sinto o calor dele no fundo dos meus
ossos.
— Você está bonita, Dulce.
— Você também.
— Seu cabelo está mais curto.
— O seu também.
Ele dá um passo à frente. Odeio a forma como olha para mim. Elogiando e
aprovando. Faminto. Essa atitude me atrai contra minha própria vontade, como
se ele fosse um papel pega-mosca. E tudo dentro de mim está zumbindo e
tentando se soltar.
— Faz muito tempo.
— Sério? Nem notei. — Estou tentando soar entediada por fora. Não quero
que saiba o que está fazendo comigo. Ele não merece essa reação. Mais
importante: eu também não.
— Como você está? — ele pergunta.
— Estou bem. — Resposta automática. Não significa nada. Tenho estado
tudo, menos bem. Seu olhar permanece em mim, e eu realmente sinto vontade
de estar em outro lugar. Porque agora ele parece com o que costumava parecer,
e dói lembrar.
— E você? — pergunto com uma polidez exagerada. — Como está?
— Estou... bem. — Há algo em seu tom de voz. Algo enterrado. Ele deixou
uma pontinha de fora para atrair minha curiosidade, mas não quero escavar isso
para descobrir mais porque sei que é o que ele quer.
— Uau, que ótimo, Christopher — respondo, controlando a animação para apenas
irritá-lo. — Bom saber.
Ele olha para o chão e passa a mão pelo cabelo. Sua postura fica tensa com a
forma familiar do babaca que conheço tão bem.
— É isso, então. Três anos e é tudo o que você tem a me dizer. É claro.
Meu estômago revira.
Não, seu merda, não é tudo o que tenho a dizer, mas qual é a questão? Tudo
já foi dito, e fazer rodeios não é minha ideia de diversão.
— É, é isso — confirmo com a voz leve e passo por ele. Abro a porta e desço
as escadas batendo os pés, ignorando a comichão na pele, onde nos tocamos. Há
um “porra” abafado antes de eu escutá-lo correr atrás de mim. Tento ser mais
rápida, mas ele pega meu braço antes de chegarmos lá embaixo.
— Dulce, espere.
Ele me puxa e acabo me virando para encará-lo, e espero que ele pressione
o corpo contra mim. Para me destruir com sua pele e cheiro como fez tantas
vezes antes.
Mas ele não se move.
Apenas fica ali parado, e todo o ar da estreita escadaria fica espesso como
algodão. Sinto claustrofobia, mas não vou demonstrar.
Sem fraquezas.
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Autor(a): anjocolorido
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
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Ele me ensinou isso. — Escute, Dulce. — Odeio sentir tanta saudade de ouvi-lo dizendo meu nome. — Você acha que a gente consegue colocar toda aquela merda para trás e começar de novo? Eu realmente quero voltar. E achei que você iria querer também. A expressão dele é cheia de sinceridade, mas já vi i ...
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