Fanfic: Meu Romeu - Adaptada | Tema: Vondy
Seis anos antes
Westchester, Nova York
Os testes para Grove
Minha perna está tremendo.
Não de leve.
Está chacoalhando.
Descontroladamente.
Meu estômago está revirando, dando nós e quero vomitar. De novo.
Estou sentada no chão com as costas para uma parede. Invisível.
Não pertenço a este lugar. Não sou como eles.
Eles são ousados, abusados, e parecem confortáveis falando a palavra com
“P”. Fumam sem parar e tocam nas partes íntimas uns dos outros, mesmo que a
maioria deles tenha acabado de se conhecer. Eles se vangloriam das peças que
fizeram ou dos filmes em que estiveram ou das pessoas famosas que
conheceram. E eu permaneço sentada, menor a cada segundo, sabendo que a
única coisa que vou conquistar hoje é a prova do quão inadequada eu sou.
— Daí o diretor diz: “Zoe, a plateia precisa ver seus peitos. Você diz que é
dedicada à sua arte, e ainda assim seu senso errado de pudor dita suas escolhas”.
Uma loira desinibida está monopolizando as atenções, contando histórias de
guerra teatrais. As pessoas ao redor parecem cativadas.
Não quero ouvir, na verdade, mas ela fala alto demais e não consigo evitar.
— Ai, Deus, Zoe, o que você fez?! — Uma bela ruiva quer saber, seu rosto se
contorcendo com emoção exagerada.
— O que eu poderia ter feito? — Zoe pergunta com um suspiro. — Chupei o
pau dele e disse que ia ficar de camiseta. Era a única forma de proteger minha
integridade.
Houve risadas e uma salva de palmas. Mesmo antes de entrarmos, as
apresentações já haviam começado.
Joguei a cabeça para trás e fechei os olhos, tentando me acalmar.
Repassei meus monólogos mentalmente. Eu os conhecia. Cada palavra.
Dissecava cada sílaba. Analisava os personagens, subtexto, camadas de sutilezas
emocionais. Ainda assim, me sentia despreparada.
— Então, de onde você é?
Zoe está falando novamente. Tento bloquear o som.
— Ei, você, menina da parede.
Abro os olhos. Ela está olhando para mim. Todo mundo está.
— Hum... quê? — Limpo a garganta e tento não parecer apavorada.
— De onde é você? — ela pergunta mais uma vez, como se eu fosse
mentalmente limitada. — Dá para ver que você não é de Nova York.
Sei que o sorrisinho falso dela é dirigido ao jeans escuro e ao suéter cinza liso
que estou usando, ao cabelo castanho sem graça e à falta de maquiagem. Não
sou como a maioria das meninas aqui, em suas cores vibrantes, grandes joias e
rostos pintados. Elas parecem pássaros tropicais exóticos, e eu pareço uma
mancha de óleo.
— Hum... Sou de Aberdeen.
Seu rosto se retorce, de nojo.
— Onde fica essa porra?
— É em Washington. Meio pequeno.
— Nunca ouvi falar — ela informa com um aceno de desprezo com suas
unhas pintadas. — Tem ao menos um teatro lá?
— Não.
— Então você não tem nenhuma experiência em atuar?
— Fiz algumas peças amadoras em Seattle.
Os olhos dela se iluminam. Ela fareja uma presa fácil.
— Amadora? Ah... entendi. — Ela sufoca uma risada.
Meu senso de autopreservação é acionado.
— Claro, não fiz todas as coisas incríveis que você fez. Quer dizer, um filme.
Uau. Deve ter sido bem incrível. — Os olhos de Zoe se apagam um pouquinho. O
cheiro de sangue é diluído pela puxação de saco.
— Foi bem incrível — ela comenta enquanto dá um largo sorriso como uma
barracuda com batom. — Mas provavelmente eu estou perdendo tempo com
este curso, porque não vou chegar até o final antes de fechar um grande contrato.
Pelo menos é algo para me manter ocupada até lá.
Sorrio e concordo com ela. Massageio seu ego. É fácil. Sou boa nisso.
A conversa borbulha ao meu redor. E eu acrescento um comentário aqui e
ali. Cada meia verdade que sai da minha boca me torna mais como eles. Mais
provável de me encaixar.
Rapidamente, estou zurrando e relinchando como o resto das mulas, e um dos
meninos gay s me puxa e finge que estamos numa rave.
Ele fica atrás de mim enquanto bate na minha bunda. Entro na brincadeira,
mesmo horrorizada. Faço barulhos vulgares e balanço a cabeça. Todo mundo
acha hilário, então eu ignoro a vergonha e continuo. Aqui posso escolher ser
desinibida e popular. A aprovação deles é como uma droga. E quero mais.
Ainda estou fingindo apanhar na bunda quando levanto o olhar e o vejo. Está
a alguns metros de distância, alto e de ombros largos. Seu cabelo escuro é
ondulado e rebelde, e, apesar da expressão impassiva, seus olhos mostram claro
desdém. Afiado e imperdoável.
Minha risada falha.
Ele parece um anjo vingativo com um olhar intenso e traços etéreos. Pele
lisa e roupas escuras.
Tem um daqueles rostos que te fazem parar quando você folheia uma revista.
Não um lindo do tipo padrão, mas um lindo do tipo hipnotizante. Como uma capa
de livro que implora que você o abra e se perca na história.
Compartilhe este capítulo:
Autor(a): anjocolorido
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
- Links Patrocinados -
Prévia do próximo capítulo
Minha nova falsa ousadia pesa sob seu olhar. Ela me deixa, suja e tensa, e eu paro de rir. O menino gay me empurra de lado e vira para outra pessoa. Perdi meu charme vulgar de popozuda. O garoto alto também se vira e se senta com as costas para a parede. Tira um livro esfarrapado do bolso. Eu pesco o título: Vidas sem rumo. Um dos meus favoritos. Eu me v ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo