Fanfic: O Fotógrafo (Adaptada - VONDY) | Tema: VONDY

Minha semana começa bem. Os trabalhos na empresa estão mais flexíveis sobrando, assim, um tempo a mais para mim.

Conversei semana passada com a Dulce sobre eu abandonar o luto e ela foi muito receptiva, não me fez muitas perguntas, mas, com certeza, ela já deve estar desconfiando o motivo da minha decisão.

Fiquei viúva de uma forma muito trágica, Fernando nos deixou de uma forma brutal e arrebatadora. Depois de sua morte, me fechei em um casulo impenetrável, onde a única forma de amor que conseguia transpassar minha barreira invisível, era o da minha filha, Dulce. Era.

A pouco mais de cinco meses comecei a conversar com um amigo de longa data. Rodolfo é o dono da floricultura que fica perto da minha casa. Um homem íntegro, respeitoso e honesto. Foi-me de suma importância durante o período mais difícil da minha vida. Sempre com palavras de conforto e otimismo. Dizia-me que o luto tinha cinco fases e que, em breve, eu passaria por todas elas. Percebo que ele tinha razão. Passei pela negação, raiva, barganha, depressão e hoje finalmente chego à última fase: a aceitação.

Muitas pessoas podem achar que estou sendo precipitada em começar um novo relacionamento, mas só tenho quarenta e cinco anos, me sinto em plena vitalidade para namorar de novo. E, além do mais, minha filha não vai ficar comigo para sempre. Se o Odair estivesse vivo, morreria de orgulho da nossa menininha. Que ironia, até na metáfora a morte está presente.

Dulce é minha única filha e a razão da minha vida. Com vinte e dois anos, conseguiu o emprego que sempre sonhou. Não gosto muito dessa história de ela querer ser jornalista investigativa, mas dou o maior apoio nas suas decisões.

Anteontem, ela foi para São Paulo realizar a sua primeira matéria, juntamente com o Christopher, seu chefe e fotógrafo do jornal. Não estou muito segura de ver minha menininha viajar sozinha com um desconhecido e, ainda por cima, cobrir uma festa a qual é uma bomba de HIV. Mas Deus há de cuidar dela para mim.

Assim que ela voltar, eu vou contar a ela sobre o Rodolfo. Está decidido. Ficar com ele escondido me remete aos tempos de adolescência, onde eu e o Odair ficávamos escondidos dos nossos pais. Cobro tanto a verdade dela, que não me sinto sendo honesta namorando escondido.

Saio do serviço e me dirijo ao estacionamento de seminovos que ela me indicou, converso com o vendedor que me leva até o carro que a minha menina gostou. Com certeza é um belo carro, todo original, sem marcas na pintura ou amassados na lataria. Rodolfo me encontra na loja e se apaixona pelo carro. Sinto-me apaixonada pelo homem que pede ao vendedor para abrir o capô para ele inspecionar o motor. Rodolfo faz-me sentir viva. Aguardo sua aprovação para solicitar ao vendedor

que faça os documentos de compra do carro.

— Meu amor, o carro está lindo, você está fazendo um belo negócio. A Dulce vai amar a surpresa que você vai fazer a ela.

— Minha menina merece, ela é muito esforçada. Quando ela me falou do carro, nem cogitei ir ver outro.

— Vocês duas merecem. Blanca, você é uma mulher maravilhosa, batalhadora, guerreira e, acima de tudo, amorosa e generosa. Não foi à toa que me apaixonei pela mulher mais linda da cidade.

— Rodolfo, você é um paquerador.

Nesse momento, o vendedor interrompe nossa conversa dizendo que falta somente a minha assinatura para a conclusão da compra. Decido colocar o carro no nome da Dulce. Esse será o meu presente de aniversário antecipado, já que ela completará vinte e três anos mês que vem.

Quarenta minutos depois, saio do local dirigindo meu carro.

— Rodolfo, o que você acha de eu comprar um laço rosa bem grande para colocar no carro? Estava pensando em dar a ela no aeroporto mesmo.

— Acho que ela vai adorar. Você é uma mãe fantástica.

Paro o carro no acostamento e o beijo. Há muito tempo não sinto borboletas no estômago, frio na barriga e coração acelerado. Nem me lembrava do quanto isso era bom.

— Vera, quero me casar com você. Não tenho dúvidas de que você é a mulher da minha vida. Você aceita se casar comigo?

— Claro que sim, meu amor. Só peço um tempo para conversar com a Dulce.

— Te dou todo o tempo do mundo, meu amor. Hoje você me fez o homem mais feliz da face da Terra.

— Não exagere. Isso é só porque não quero ficar solteirona.

Rimos e nos beijamos com um selinho antes de prosseguirmos para casa. Eu o deixo na sua floricultura e sigo meu caminho. Feliz e apaixonada, é assim que me sinto. Coloco a música Unchained Melody — tema do filme Ghost — e começo a dar uma arrumada na casa. Logo minha filhota vai chegar e quero deixar tudo como ela gosta.

Esses dois dias em que ela esteve fora, pensei muito sobre nossas vidas, queria muito que ela encontrasse alguém que a amasse e a protegesse. Dulce é uma menina muito doce, mas acontecimentos do passado a fizeram se fechar para novos relacionamentos.

Faço um bolo de chocolate e o decoro com confeitos de chocolate. Meu celular toca e vejo que é a sua amiga Pâmela quem me liga.

— Alô, boa tarde, Pâmela.

— Oi, tia. A que horas passo aí para irmos buscar a Dul?

— Olha, ela vai chegar aqui umas quatro horas. Lá pelas três e meia você me pega.

— Tia, vou ligar para o Apolo ir com a gente, o que você acha?

— Pâm, é uma ótima ideia. Ela gosta tanto desse moço.

— Então está combinado. Passo para te buscar daqui a pouco. Beijos.

— Beijos.

Desligo e vou para o banheiro tomar um banho rápido. Enquanto a água cai, meus pensamentos fluem, queria muito que a Dulce se interessasse por esse moço. Apolo parece ser um bom rapaz, um pouco meloso demais, mas um bom homem. É advogado, independente, deve ser de boa família. Se ao menos eu soubesse o sobrenome dele, saberia se ele vem de uma família de profissionais da justiça.

Algum tempo depois, alguém se acaba na buzina em frente à minha casa. Não tenho dúvida de quem seja. Já me preparo para as reclamações da minha vizinha Alzira.

— Vamos, tiaaaa.

— Já estou indo.

— Que carro é esse na sua garagem?

— É um presente para a Dulce. O que você achou?

— Tia, é lindo! A Dul vai amar de paixão.

— Essa é a intenção. Foi ela quem escolheu. Você vai guiando seu carro e eu levo o dela, aí você me ajuda a pôr o laço que comprei. Vou dar a ela no aeroporto mesmo.

— Por que você não me falou antes, tia?

— Porque te conheço, Pâmela. A senhorita correria e ligaria para ela.

— Tia!

— Vamos então? Temos um carro para embrulhar.

— O Apolo vai nos encontrar lá. Comprou flores e bombons para ela. A Dulce é muito sortuda por ter um deus daquele atrás dela.

— Torço muito pela minha filha. Se esse for o príncipe que ela tanto espera, eu estarei de acordo com a sua escolha. Agora vamos.

O trajeto até o aeroporto é rápido, o demorado é dar conta de dar um laço perfeito em cima do carro. Apolo ainda não chegou e já são quatro horas.Entramos no aeroporto e a cena que vejo em minha frente, me fez parar bruscamente: um homem, o qual não conheço, está diante da minha filha com um buquê de rosas californianas vermelhas e um balão em formato de coração.

Dulce está visivelmente emocionada e eu estou estática. Pâmela demora a se dar conta do motivo pelo qual me fez grudar os pés no chão.

— Tia, aquele é o Christopher. O fotógrafo do jornal em que ela trabalha e o fotógrafo que fez as minhas fotos. Foi ele quem me acolheu na sua casa aquele dia em que bebi demais.

A Pâmela fala e fala e eu não processo nenhuma palavra. Meu coração de mãe está angustiado. O que esse homem quer com a minha menininha?

Apolo entra e se junta a nós. No momento em que ele vê o que vejo, Apolo deixa o aeroporto sem dizer uma palavra. Eu o entendo, pois essa também é a minha vontade.

— Vamos lá, tia?

— Vamos sim.

Mesmo com as pernas bambas, caminho em direção à minha filha. Esse homem não me passa confiança, sinto algo muito ruim em sua relação. Ele emana algo negativo, em linguagem mais popular, meu santo não bateu com o dele.

— Filha?

Ela corre em minha direção e nos abraçamos. O homem nos olha, como se estivesse aguardando uma resposta que, logo em seguida, descubro que é isso mesmo o que ele quer.