Fanfic: O Fotógrafo (Adaptada - VONDY) | Tema: VONDY

Dulce passou mal com a notícia da nova matéria. Eu bem que desconfiei que o desfecho fosse esse. Eu também não me sinto nada confortável em escrever sobre isso. Quem quer que seja a pessoa do e-mail, deve saber algo do meu passado não tão distante.

Pego novamente a caixinha contendo o presente indesejável. Quem será que teve a audácia de me mandar um saquinho com o pózinho mágico? E um cartão com uma frase bem sugestiva como a que veio junto? Eu sei o que você fez no verão passado.

Rio.

No verão passado estava na Holanda. Essa pessoa está mega atrasada com suas ameaças. Já fazem alguns verões que não faço nada de interessante no sentido em que ela insinua.

Após o showzinho da dulce no banheiro da sua sala, ficou decidido que iríamos fazer o que foi solicitado. Tentei persuadi-la a desistir, mas foi em vão. Acabo cedendo e concordando. Por um lado, vai ser bom, o dono do presentinho vai perceber que não me intimidou.

Toco no assunto do meu pedido de namoro e ela recua. Disse que estou pulando etapas. Não estou com cabeça para pensar em etapas de namoros nesse momento.

Passo a manhã pensando em quem seria o meu secreto admirador e nenhum nome me vem à cabeça. De todos que faziam parte do nosso grupo da BNLP (Boa Noite, Linda Princesa) só tem o Pedro que mora na cidade e faz algo desse tipo ainda hoje.

Ligo para ele. Duas cabeças pensam melhor que uma só.

— Alô, Pedro. É o Christopher.

— Fala aí, Christopher. Precisando de alguma coisa?

— Tô sim, Pedro. Recebi um presente hoje. Uma caixinha contendo “Boa noite, Cinderela”.

— Como assim, cara? Quem te enviou isso?

— Isso que eu estou tentando descobrir. Para completar, veio um bilhete dizendo saber o que eumfiz no verão passado.

— Christopher, isso é muito estranho. Alguém sabe do seu passado e está tentando te intimidar. Cara, se o maluco resolver falar, você está ferrado.

— Você acha que não sei, Pedro? Liguei para você pensar junto comigo quem eram do BNLP. Não vejo o pessoal há anos, desde aquele desastre na boate.

— Christopher, isso já faz quase três anos. Todos foram embora depois daquilo. O Leonardo foi parar no Rio de Janeiro, o Renan foi para Santa Catarina, o Eduardo e o Henrique foram para São Paulo, o Juan foi para Brasília e o Victor foi parar nos Estados Unidos. Depois do incêndio, o pai dele quis deixar o filho longe de qualquer suspeita. E eu continuo aqui.

— Estou muito intrigado com isso, Pedro. Achei que essa história já estava morta. Tenho uma coisa para te contar. Você está sentado?

— Pode falar, pô. Estamos no mesmo barco. Estou aqui para te ajudar.

— Você se lembra da moça daquele dia? A de antes do incêndio?

— Claro que me lembro. Lembro que o pai dela foi morto por investigar sobre o caso. Ela era muito bonitinha e nunca vou me esquecer de que fui eu quem tirou o seu selinho.

Não gostei de ouvir aquilo novamente. Ainda mais sabendo que a moça a qual ele estava se referindo, era a Dulce.

— Pedro, a moça daquela noite... está trabalhando aqui comigo... — As palavras pesam a sair. —Ela esteve comigo naquela festa em São Paulo. Seu nome é Dulce.

— Puta merda, Christopher. Será que ela me reconheceu?

— Pedro, você estava de máscara. E quanto aquela noite, ela estava dormindo quando você a viu. Foi o Victor quem conversou com ela e deu a bebida batizada.

— Porra, cara. Que merda. Faremos o que agora?

— Não sei, Pedro. Foi por isso que te liguei. Alguém sabe o que aconteceu.Precisamos saber quem.

— Vou pensar em algo. Te ligo quando tiver um plano.

— Pedro, não vá ao Castelo sábado que vem. Farei uma matéria lá.

— Pode deixar. Qualquer novidade me liga.

O Pedro tem razão, ninguém das antigas estava na cidade, o que me deixa mais preocupado ainda.

Termino o que tenho que fazer e saio para ir buscar dona alê para o nosso almoço. Sua casa é perto do Jornal, não demoro mais do que dez minutos para chegar.

— Oi, filho. Como sempre, pontual.

Vou até ela e lhe dou um beijo no topo da cabeça. Minha mãe está linda com um conjunto de saia e blusa azul-turquesa. Ela tem muito bom gosto para se vestir.

— Olá, mãe. Como sempre, está linda. Posso saber onde a senhora quer ir almoçar?

— Ah, filho, tem uma cantina italiana maravilhosa perto do jornal. A gente pode ir lá. Minha amiga foi lá ontem e adorou.

— Pois vamos. Com a fome que estou, devoro uma lasanha de calabresa inteira.

Abro a porta do carro e ela entra. Posso perceber que está radiante por conta do nosso almoço.

Rapidamente chegamos ao restaurante. Como não fizemos reserva, nosso lugar ficou bem no meio do salão.

Pedimos nosso almoço e uma jarra de suco de laranja com morango.

— Então, filho, posso te perguntar sobre a moça?

— Sério mesmo, mãe?

— Claro, filho. Sou mulher, posso te dar uns conselhos.

— Mãe, conheço-a há duas semanas, mas sinto como se a conhecesse faz tempo. Ela é a jornalista que contratamos semana passada.

— Christopher, como você pede uma pessoa em namoro sem ao menos conhecê-la direito? Mulheres gostam de sair, jantar, ir ao cinema, passeios românticos...

— Mãe, você fala como ela. Disse que estamos pulando etapas.

— Ela tem toda razão. Você é lindo e tudo mais, mas isso não é o suficiente para o amor.

— Mãe, você acha que devo tentar de novo?

— Filho, se você acha que vale a pena, arrisque-se.

— Obrigado, mãe. Prometo que vou pensar no assunto.

É um almoço bem agradável e descontraído. Senti muita falta de sair assim com a minha mãe.

Deixo-a em sua casa e vou para a minha consulta com o doutor Carlos. O nervoso toma conta de mim. Vou contar tudo para ele. Retomar meu tratamento é minha meta.

Chego e sou atendido pela Luana, a recepcionista gostosa do doutor. Luana já foi fotografada pelas lentes da minha câmera.

— Boa tarde, Lú. Tenho uma consulta agora às duas.

— Boa tarde, sumido. O doutor Carlos já está a sua espera. Me fez desmarcar todas as outras consultas, somente para atender você.

— Pois então vá avisar a ele que seu cliente VIP chegou.

Ela sai detrás do balcão, rebolando a sua bunda suculenta. Ah, Luana, não me tente. Estou tentando ser um cara melhor.

— Pode entrar, Christopher. O doutor está te esperando.

— Obrigada, Lú.

Entro no consultório, o qual jurei que nunca mais colocaria os pés. Da última vez que estive aqui, discutimos pontos de vista os quais não concordávamos.

— Boa tarde, Christopher. Em que posso ser útil?

— Boa tarde, doutor Carlos. Voltei porque preciso da sua ajuda.

— Estou aqui para isso. Pode começar me contando o que realmente te trouxe até aqui.

— Doutor, semana passada eu fiz de novo.

— Christopher, você sabe que isso que você faz, é crime. Não deveria ter abandonado o tratamento e a terapia com a psicóloga. Preciso saber se você está disposto a mudar.

— Eu sempre estou disposto a mudar quando te procuro.

— Christopher, vou te explicar novamente seu diagnóstico. Espero que essa seja a última vez que tenha que fazer isso. Você tem transtorno Hipersexual. Esse transtorno é definido pela existência de fantasias sexuais excitantes, recorrentes e intensas.Impulsos ou comportamentos sexuais que persistem durante um período de seis meses e se encaixam na definição de parafilias. Essas são atitudes sexuais diferentes daquelas permitidas pela sociedade, sendo que as pessoas que as

praticam, não têm atividade sexual normal, ou seja, a sua preferência sexual desviada, se torna exclusiva. No seu caso é fazer sexo com pessoas dormindo. Christopher, isso é crime de estupro. E eu estou aqui para te ajudar. Por isso a importância de não abandonar o tratamento. Você está doente e tem que se tratar com medicamentos e terapias. Você sabe que eu estou encrencado, caso alguém

descubra que eu sabia a todo tempo desse seu gosto peculiar e não te denunciei? Por isso, faça isso por mim e principalmente por você.

— Farei, doutor, dessa vez eu realmente estou disposto a mudar.

— Quando foi a última vez que você fez isso?

— Faz umas duas semanas. Foi com uma moça que quis fazer um book mais sensual. Como sempre, dei a ela o sonífero e transei com ela dormindo. Fotografei e guardei numa pasta da internet. Mas dessa vez, fui longe demais. Deixei-a dormir na minha casa e os pais dela a foram buscar. Ontem, quase fiz de novo, mas a moça não tomou a bebida batizada.

— Christopher, você precisa se controlar. Autocontrole é tudo durante o tratamento. Jogue fora todos os comprimidos e pó de soníferos que você tem na sua casa. Só deixe os que eu te receitei para dormir, mas deixe num armário trancado.

— Doutor, tem mais uma coisa. Acho que estou gostando de uma mulher. Nunca me senti como me sinto em relação a ela.

— Me conte mais sobre o que sente.

— Tudo começou quando a contratei para trabalhar comigo no jornal, aí ela começou a receber flores de um homem e isso foi me causando ciúme. Nessa semana, viajamos juntos a trabalho e a proximidade me fez sentir que gosto dela mais do que devia.

— Christopher, você realmente gosta dela ou acha que está sentindo algo porque ela tem um admirador que manda flores a ela?

— Não sei, doutor. Confesso que não me sinto à vontade com outro homem rodeando a minha Dulce.

— Christopher, ela não é sua. Possessividade não é amor.

— Não sei o que é amor, doutor. Só conheço o amor da minha mãe e do meu falecido avô.

— Christopher, infelizmente nisso eu não vou poder te ajudar. Você terá que descobrir o que sente sozinho. Só lembre-se que ninguém é dono de ninguém.

— Tudo bem, doutor. Vou descobrir o que é esse sentimento. Quanto ao tratamento, voltarei daqui a quinze dias.

— Christopher, só vou te dar mais um conselho: apague todas as fotos que você tem. Se você quer começar um relacionamento novo, se desapegue de lembranças velhas.

— Farei isso. Obrigado.

Deixo a sala dele, disposto a pensar mais sobre os passos que a Dulce me pediu.

Assim que chegar em casa, vou me desfazer das fotos.

Ligo para a Rosa perguntando sobre o Thor. Ela me diz que ele já está com a corda toda, inclusive, já comeu um chinelo meu.

Tiro o resto da tarde de folga. Preciso pensar na minha vida e em que farei daqui para frente.