Fanfic: Menina Má - Vondy | Tema: rebelde

Lágrimas de desespero rolavam no rosto de Dulce. Havia perdido a noção de quanto tempo ficou parada do lado de fora do carro, imóvel, sem poder acreditar em seus próprios olhos.

Pablo não havia mentido, Christopher era mesmo um zé ninguém. Um mentiroso. Sem nada.

- Maldito! - sussurou em meio as lágrimas, amassando os documentos dele que conseguira com uma das moças da recepção.

- Precisa de alguma coisa, senhora? - o motorista olhou-a pelo retrovisor. Dulce asentiu, limpando o rosto.

- Quero que me leve neste lugar - apontou para o endereço de Christopher. O homem asentiu, ligando o carro.

Os belos prédios e casarões que se viam da janela logo deram lugar a casas humildes e apartamentos do conjunto habitacional. O motorista parou em uma ruazinha estreita, mal tendo onde estacionar, crianças brincavam e alguns moradores conversavam na calçada. Seus olhos logo encontraram Christopher que estava junto de um homem alto e moreno, os dois pareciam debater algo.

Juntando toda a calma que lhe restava, ela saiu do carro batendo a porta. Seus olhares se encontraram e ele abriu um daqueles sorrisos que a deixava com as pernas bambas.

- Mas que surpresa boa, Dul - a envolveu num abraço, não sendo retribuído. - O que f... - o som seco da bofetada ecoou na ruazinha. Christopher travou o maxilar, olhando-a com confusão.

- Então era aqui que você pretendia morar comigo depois do casamento? Nesse moquifo cheio de ratos!? - gritou.

- Quem você pensa que é pra falar assim com meu irmão!? - o homem alto e moreno se meteu.

- Poncho, vai lá pra dentro. Eu resolvo. - ele olhou Dulce uma última vez antes de obedecer o irmão, contrariado. Queria ficar ali e mostrar aquela mulher de nariz empinado o seu lugar. - O que significa isso?

- Eu é que te pergunto, Christopher. O que significa isso? - olhou em volta do lugar - Achou que eu nunca iria descobrir essa sua rede de mentiras? Traidor! Se não fosse por Pablo eu continuaria sendo feita de idiota por você!

- O que vc fazia com ele? - agarrou seu pulso.

- Isso não te interessa! Me deixa, não me toca! - se afastou - Que nojo! Como eu pude me relacionar com alguém tão...

- O que? Pobre!? Eu nunca te enganei, Dulce. Não acredito que está se prestando a um papel tão ridículo como este. Eu nunca disse que tinha riqueza alguma! - disse irritado, franzindo o nariz. Aquilo era como um tique, sempre acontecia quando ele ficava nervoso. 

- Mas também nunca disse que não tinha! Você sabia muito bem a importância disso pra mim e mesmo assim fingiu ser quem não era!

- Isso não é verdade! Você já é rica, Dulce, por Deus! Que diferença faz eu ter dinheiro ou não? Nós nos amamos!

- Amor não é o suficiente! O que meus amigos da alta sociedade pensariam quando me vissem casada com um secretário? - disparou - Eu abomino esse amor! Queria nunca ter te conhecido! - virou-se para ir embora mas ele a segurou.

- Está terminando tudo? - perguntou chocado - Que tipo de mulher você é!?

- Do tipo que não se contenta com pouco! - o empurrou - Eu não sirvo pra morar nesse buraco e lavar cueca de marido, Christopher. Na próxima vez, não sonhe tão alto. - retirou a aliança jogando-a no chão - Você não passa de um coisinha atoa, morto de fome. Se achou que me dando o golpe poderia se dar bem, estava muito enganado. - começou a caminhar em direção ao carro mas sua voz embargada, porém firme, a deteve.

- Se der mais um passo, está tudo acabo. Nunca vou te perdoar por isso, Dulce - ela o olhou por cima do ombro, mas não desistiu, voltou a andar.

O caminho até o carro nunca foi tão doloroso. No fim ela sempre tivera razão. O amor não era aquela coisa brega e idiota de "felizes para sempre". O amor era um sentimento disfarçado de felicidade que sugava todas as suas defesas e pensamentos sensatos, te deixando viver na ilusão até alguma coisa acontecer e o coração ficar destroçado. E o que é ganhado com ele? Nada. Nada além de lembranças de momentos fantásticos que nunca poderão ser esquecidos.

Dulce, apesar de ama-lo, era escrava de sua ambição. Ela nunca estaria em paz consigo mesma se casando com ele.