Fanfic: O laço vermelho (adaptada AyD) Finalizada | Tema: Portinon

03 de Janeiro de 2018. - Primeiro ano da faculdade.

Era madrugada fria no dormitório de Columbia. Apesar da friagem, a neve lá fora era mínima cada dia mais limitando os pequenos e desleixados bonecos de neve do Campus e permitindo que os estudantes permanecessem do lado de fora sem o perigo de morrerem congelados com as constantes geadas. No dormitório 78, a luz encontrava-se apagada e o lugar era iluminado pela luz do luar que invadia a janela aberta; Ed Sheeran era reproduzido pelo Iphone esquecido no chão entre o amontoado de casacos e malas. Na cama, dois corações batendo em um mesmo ritmo, corpos um sobre o outro, pernas entrelaçadas e a cabeça de Dulce descansando preguiçosamente na curva do pescoço de Anahí na parte de baixo do beliche.

Já compartilhavam essa mesma posição há quase uma hora e meia esperando por Emma - que por ventura estava na casa do namorado -, para que pudessem enfim, partir à Miami. Fernando ficou relutante com a viagem da filha, conhecia o suficiente dos Portilla pela boca da nora para saber que sua filha não seria bem vinda à casa da família se soubessem sua real condição. Anahí explicou que elas agiriam como amigas para o bem das duas, seria apenas como um teste, e assim, sua irmã Taylor também conheceria Dulce.

- Eu amo o cheiro do seu pescoço. - a voz da mais nova saiu abafada na pele de Anahí. - Esse é o meu lugar preferido no mundo inteiro, tanto que é onde vou morar a partir de hoje. - brincou distribuindo beijos arrastados na pele da namorada.

- Você não pode morar no meu pescoço, princesa. - Anahí riu abraçando mais ainda seu presente divino. - Pensei que nossa casa seria o rancho que vamos comprar...

- Anahí! Às vezes é melhor manter-se com essa boquinha linda fechada a estragar meus momentos de fofura, ok?

Anahi ergueu as mãos em sinal de defesa e recebeu uma mordida na clavícula como punição pelas gracinhas.

- Canibal.

- Sem graça.

- Você e minha irmã vão mesmo se dar bem, ambas contra mim o tempo todo. - suspirou e bagunçou o cabelo de Dulce.

Dulce levantou o rosto ficando na altura do de Anahí a olhando com um sorriso tímido e ao mesmo tempo apaixonado nos lábios, era assim que ficavam quando tiravam alguns segundos apenas se encarando, ambas não acreditando na sorte que tinham de se pertencerem.

- Acha mesmo que vamos nos dar bem? Digo, Taylor deve estar passando por um momento difícil e eu não sei como agir com uma mulher grávida...

Anahí riu e forçou a cabeça da namorada a voltar ao seu pescoço.

- Taylor tem apenas dezessete anos, ela continua sendo uma adolescente normal e irritante. - suspirou. - A única diferença é o bebê crescendo dentro dela e a reclusão com nossos pais. Mas sei que ela vai gostar de você de primeira, que pessoa no mundo não se apaixona pela minha menina?

O coração de Dulce disparou com o comentário inocente.

- Estou com medo dos seus pais. - disse incerta, com medo de ser repreendida pela namorada por falar assim de seus pais.

- Eu sei. Desculpe não poder fazer mais que isso. Eu queria ser forte o suficiente par-

- Hey! - o dedo indicador de Dulce selou seus lábios a surpreendendo. - Não diga que não é forte, nunca mais, entendeu? Você nos assumiu para Juilliard e me pediu em namoro oficialmente aos meus pais, e isso é mais que o suficiente para mim. Sei que as coisas com seus pais não vão ser fáceis, mas eu confio em você quando diz que vamos fazer isso dar certo, temos uma vida inteira para contar a eles. - riu beijando os lábios macios de Anahí. - Eu te amo e sou muito orgulhosa de quem você é.

Recebeu um enorme sorriso em troca, aquele mesmo sorriso que fazia seu coração esquecer-se de pulsar e seus pulmões de filtrar o oxigênio. Anahí não tinha mesmo noção do que era capaz de provocar em Dulce com um simples sorriso e talvez ela nunca soubesse, pois era algo que nem mesmo a mais nova entendia. Passou anos de sua vida concentrada na música, sem tempo para namoros, e de um instante para outro sua vida é invadida de forma não consensual por uma estranha com olhos tão azulados quanto o céu em dia de sol, capaz de hipnotizar qualquer pessoa.

Dulce amava ser hipnotizada por ela.

- Estou levando o filme Mouling Rouge. Taylor diz que é um filme para artistas e amantes indomáveis. Já assisti mais de cinco vezes e não me sinto nenhuma dessas coisas.

- Você é domável amor, eu consegui esse feito.

- Humpf!

- Você ficou brava?

- Não, só me sinto um cãozinho que você encontrou abandonado e decidiu levar para casa.

As duas ficaram em silêncio por um momento, Dulce franziu o cenho pensativa e quando levantou a cabeça, parecia séria com a pergunta.

- Será que eles deixam?

- Dulce!

E lá estavam elas brigando por quem conseguia ficar por cima na pequena beliche provocando altas risadas.

- Não sei mais o que fazer com vocês duas, deve ser algum tipo de karma pegá-las no ato sexual. - era Emma que tinha entrado no quarto encontrando Anahi por cima de Dulce - Nojentas.

Anahí revirou os olhos, deu um último beijo na namorada antes de descer do beliche e a ajudou a vestir os casacos para saírem. Apesar de ser de madrugada, alguns alunos perambulavam pelo corredor, muitos deles bêbados, aparentemente estavam dando uma festa no terceiro andar ao qual Anahi tinha recusado.

Emma, Dulce e Anahi seguiram até o primeiro andar e, com a sorte que Anahí não possuía, deram de cara com Megan e Louis, os dois um pouco mais alterados que o normal, conversando animadamente na escada com mais duas garotas que não conhecia. Megan foi a primeira a avistá-las e sorriu alegremente se jogando nos braços de Anahí.

- Piranha na área. - comentou Emma próxima o suficiente para que apenas uma Dulce confusa ouvisse.

Megan segurou o rosto de Anahí com as duas mãos e a mesma notou que a os olhos da garota estavam vermelhos.

Maconha.

- Eu já estou ficando chateada por não ter sua presença nas festas, Anahí. - choramingou Megan ignorando por completo Emma e Dulce. - Oliver me perguntou de você, acho que ele quer repetir a noite... Algo sobre aquele amasso que vocês deram na festa do Matt...

Dulce apertou a mão na alça da mochila que segurava e desviou o olhar para Emma que tinha um olhar assassino para a garota à sua frente. Anahí tinha empalidecido e seu corpo congelado no lugar, seu mecanismo de defesa não estava ajudando a reagir naquele momento.

Os olhos de Megan caíram em Dulce.

- Você é nova aqui?

A mais nova balançou a cabeça negativamente e sentiu-se mais segura em estar próxima de Emma.

- Sou de Juilliard.

Megan fingiu que segurava uma risada, mas acabou babando em si mesma.

- E o que faz aqui, querida?

- Estou com... - seus olhos procuraram suplicantes por Anahí, ela não sabia o que dizer naquele momento. Mentir? Dizer a verdade? O quão confortável Anahi se sentia com sua presença na frente dos amigos? Mas Anahí estava tão em pânico quanto ela.

- Ela está comigo. – Emma a cortou lançando um olhar fulminante para Anahí. - Somos amigas e vou levá-la esse final de semana à minha casa.

Anahí tinha simplesmente congelado no lugar, mal podia olhar a namorada naquele momento, sentia-se como na festa na casa de Zoe onde o pânico das pessoas saberem sobre elas era grande, mas o problema maior agora é que estavam do outro lado da linha de fogo, o lado dela, onde as pessoas eram maldosas.

- Emma! Querida - Megan continuou rindo apoiando-se no ombro de Anahí. - eu sempre soube que você tinha esse lado... Estranho.

Emma tentou avançar contra a garota, mas foi impedida por Dulce que lhe deu um olhar dizendo que estava tudo bem. Louis logo apareceu ao lado de Megan com os mesmos olhos vermelhos e a abraçou por trás soltando um grito animado, o que talvez tenha tirado Anahí do transe.

- O que temos aqui? - o menino perguntou com a animação impregnada na voz. - Anahí, amiga! Quanto tempo que não a vejo.

- Nós frequentamos as mesmas aulas, Louis. - rebateu Anahí impaciente.

- Você entendeu o que eu quis dizer. - olhou para Dulce abrindo um sorriso mais ainda. - Olá querida, você certamente não é desse Campus, eu a reconheceria.

Megan o cutucou e apontou para Emma.

- A garota é de Juilliard e está com Emma.

Anahí sentiu o sangue ferver com a piadinha e se colocou ao lado de Dulce e Emma mostrando que estavam juntas.

- Nós três, Megan. - disse firme. - Somos amigas e estamos passando um tempo juntas. Agora se me permite, temos que pegar um avião.

E sem dizer mais nada, indicou o caminho para a mais nova a seguindo logo em seguida. Emma deu um sorrisinho falso quando passou pelos dois estudantes que a fuzilaram com o olhar. Apesar de Anahi ter caído em si no último momento, Dulce não gostou da atitude da namorada de deixá-la na mão. Ela entendia todo o medo que Anahí sentia, ela jura que entendia, mas enfrentá-lo de cara era bem diferente, ainda mais quando a pessoa que deveria defendê-la não reage.

- Obrigada, Emma. - agradeceu gentilmente quando entraram no táxi que as esperava ao lado de fora.

- Relaxa, Dul. Apesar de querer sua cabeça quando decide fazer pornografias na minha frente, criei um carinho enorme por você. Não deixaria que aqueles babacas mexessem com você, alguém precisava ter atitude.

A indireta atingiu em cheio o alvo de olhos azulados e o silêncio caiu no carro. Ninguém ousou dizer mais nada todo o caminho até o aeroporto, e assim que chegaram, as poucas palavras que trocaram foram sobre as passagens e com Maitê que as aguardava na fila de embarque e logo notou que havia algo de errado. Emma contou à Maitê o ocorrido quando a garota questionou o silêncio mortal entre as três e mais uma vez o clima ficou tenso.

- Tudo bem? - Anahi perguntou quando já estavam sentadas em seus assentos lado a lado.

- Sim, estou bem. - limitou-se a responder, por mais que não quisesse estar chateada com sua namorada, era quase impossível forçar um diálogo sem que se sentisse mal.

- Amor, me desculpe...

- Eu estou bem, Anahi. - disse um pouco mais rude sem encontrar os olhos claros de Anahí, sabia que fraquejaria se o contato acontecesse. - Estou bem. Só... Me dê um momento, ok?

Anahí concordou tristemente voltando sua atenção ao que a aeromoça informava.

Pela primeira vez desde que beijara Anahi em seu quarto, Dulce se permitiu pensar mais abertamente sobre as consequências daquela relação. Ela era uma garota sonhadora que enxergava além do que as pessoas consideradas normais conseguiam ver. Anahí é uma das pessoas normais que mantém os pés no chão apesar de algumas vezes sua mente entrar em certa conexão com a da mais nova. Elas estavam em dois mundos diferentes, eram como Romeu e Julieta do mundo moderno; de um lado estava uma família que aceita e apoia o namoro das duas, e do outro a família que mal podia sonha que havia algo. Estar com Anahi era como ter uma bomba relógio nas mãos, você nunca sabe em que momento ela pode explodir, Dulce sabia disso mais do que nunca agora. Talvez essa viagem à Miami tenha sido um erro, ela pensava agora, Anahí não se impôs em frente aos amigos, que dirá em frente aos pais?

Dessa vez Emma não estaria lá para ajudar.

Horas depois o avião estava pousando no aeroporto de Miami, a diferença de clima as obrigando trocar de roupa no banheiro do avião antes do desembarque. Dulce já tinha estado em Miami com suas tias em passeio, mas havia se esquecido de como o clima tropical poderia ser agradável, ainda mais depois de passar tanto tempo dentro de blusões, casacos e roupas contra o frio.

Emma e Maitê despediram-se de Dulce e Anahí na saída do aeroporto rachando um táxi para suas respectivas casa.

- Ainda está brava? - Anahí arriscou quebrar o silêncio. Estavam no estacionamento esperando pelo motorista dos Portilla. - Eu sinto muito mesmo não ter defendido você, amor. Ainda estou trabalhando nisso...

Dulce deu um leve sorriso para a namorada, tinha decidido deixar essas questões de lado enquanto estivesse em Miami, elas precisavam estar unidas para o que quer que aconteça naquela cidade.

- Estamos bem, Anie. - deu um beijo no rosto de Anahí quando ninguém mais estava olhando. - Como eu disse, só precisava de um tempo.

- Então você continua sendo minha Oompa Loompa? - Anahí perguntou quebrando o clima pesado entre elas.

- Sim, e você continua sendo minha ogra.

Sorriram uma para a outra e ouviram uma buzina. Anahí ficou surpresa quando viu seu irmão do meio, Chris, na BMW preta com Taylor no passageiro.

- O casal vai demorar ainda mais? - perguntou Chris em tom de ironia. Anahí arregalou os olhos procurando em desespero por Taylor que deu de ombros.

- Eu acho que acabei comentando sem querer com o nosso maninho. - disse inocente.

Anahí trincou a mandíbula para a irmã que a ignorou quando desceu do carro, sua barriga estava um pouco maior do que da última vez e Anahí se perguntou como Maritchelo ainda não tinha notado a diferença. Ou talvez ela tenha notado e optado em se fazer de cega como sempre fez desde que se casara com Enrique. O sorriso enfeitando o rosto de Taylor era tudo o que anahi esperava encontrar, ela parecia muito melhor desde a última vez em que se encontraram, contar o segredo aliviou o peito da Portilla mais nova deixando-a como a velha Taylor brincalhona que Anahi se lembrava.

- E você deve ser a tão famosa Dulce, certo? - Taylor, que era uns poucos centímetros mais baixa que Dulce, a puxou para um abraço caloroso sem dar tempo que a garota respondesse. - Eu fico muito feliz em finalmente conhecer minha cunhada.

- O prazer é meu, Taylor. - Dulce riu um pouco mais descontraída. - Anahi também fala muito de você.

- Aposto que de mim ninguém fala. - Chris apareceu logo depois cumprimentando a irmã com um beijo no rosto e curvando-se em brincadeira para Dulce como se fizesse uma reverência. Ele era, de fato, irmão de Anahí. - Devo admitir que minha irmã tem mesmo muita sorte, Srta. Savinon. Se decidir que precisa de um Portilla melhor, saiba que estou livre.

Dulce começou a rir sentindo seu rosto ruborizar.

- Não seja cínico, Chris. - Anahí cutucou o irmão. - Eu tenho muito mais qualidades que você...

- Oh, não. Não precisamos ouvir essa discussão, Dulce. - Taylor tomou a bolsa das mãos de Dulce enquanto Anahí e Christian guardavam as malas.

- Eles são sempre assim?

- Desde que me conheço por gente. - admitiu quando já tinham entrado no banco de trás, os irmãos mais velhos ainda discutiam no banco da frente. - Estavam sempre disputando no videogame, jogos, corridas de bicicleta... Bom, até Anahí decidir voar da bicicleta. - riu com a lembrança. - Eu devia ter notado que logo discutiriam por mulher.

Certamente Taylor era uma das pessoas mais adoráveis que ela conhecera. Totalmente diferente do que Anahí tinha descrito dias antes, sobre a menina ter se tornado reclusa e depressiva. O caminho até a casa dos Portilla foi animado, Anahí e Chris continuavam a discutir sobre a faculdade enquanto Dulce e Taylor tinham entrado no assunto de gravidez, a caçula de Anahí confessou que estava muito nervosa e com medo de como seria o almoço de domingo, quando contaria aos pais sobre o bebê.

- Posso dizer uma coisa? - disse Taylor quando ajudava Dulce a tirar as malas do carro. A garota assentiu e Taylor continuou. - Meus pais vão ser educados com você, eles prezam a educação acima de qualquer coisa, então não se preocupe com isso. - viu a expressão de Dulce que tinha se tornado aflita. - Meu pai... Ele tem um sistema difícil, uma hora tudo está bem e na outra está fazendo comentários rudes e desnecessários. Só não deixe que isso afete você, tá?

Chris abriu a porta da frente para as meninas.

– É só ignorar os comentários assim como nós o fizemos todos esses anos. – completou o irmão do meio.

Dulce concordou com a cabeça, ainda que seu coração estivesse quase saindo pela boca com o nervosismo. Anahí parecia tensa ao seu lado e isso não a ajudou nem um pouco, tinham tirado as alianças e as guardado na mala, junto de todos os atos carinhosos que reservavam uma a outra.

E mais uma vez, eram apenas amigas.

A mansão de dois andares era de longe uma das melhores daquele bairro, com um enorme portão de grade que dava acesso a um jardim com uma pequena fonte em frente à porta de entrada. Pelo jeito era uma casa de muitos quartos, só na fachada, Dulce contou cerca de seis sacadas e mais três janelas que provavelmente seriam de suítes. Com toda certeza a família de Anahí vinha de uma linhagem com muito dinheiro, mas aquilo nem mesmo era a cara de Anahi que nunca esbanjou o dinheiro de sua família.

- Bem vinda à minha casa. - Anahí disse quando observou a namorada babar na sala de jantar, mais especificamente na mesa de jantar com capacidade para dez pessoas.

Aquilo era mesmo incrível.

- Pai? Mãe? Estamos em casa. - Chris gritou caminhando até uma cozinha revestida em preto e branco. Só aquela cozinha era maior que a sala da casa de Dulce. - Aqui, deixe que Denis leve suas coisas ao quarto, Dul.

Um homem vestindo um terno aproximou-se delas e pegou as mochilas de suas mãos com um sorriso gentil.

- Ele é o motorista e encarregado pelas malas. - explicou Taylor, conduzindo  a cunhada até a sala.

Dulce pensou em responder, mas neste mesmo instante uma mulher de aparência jovial e elegante surgiu no portal do que parecia ser a divisa da cozinha e sala. Ela sorriu para Anahí e a abraçou calorosamente em seguida.

- Eu estava com saudades, filha. – disse segurando o rosto da filha entre as mãos. - Você não ligou desde o natal, me deixou preocupada.

- Eu estou bem, mãe. Só tive alguns contratempos na faculdade.

- Anahi! - uma voz grossa e controlada soou e todos se enrijeceram. Dulce sentiu vontade de correr, suas mãos suavam frio. Até mesmo Taylor fechou a expressão e saiu de perto. – Pensei que tivesse esquecido seus pais.

O homem não cumprimentou Anahi, ao contrário disso, parou ao lado da esposa com a mão no bolso da calça social e analisou todos os presentes na sala, seus olhos grandes e frios caíram em uma Dulce encolhida atrás de Chris.

- E você é?

O corpo da mais nova tremeu com o olhar pesado em si. Maritchelo, que não tinha notado a presença de Dulce até então, logo ergueu as sobrancelhas em surpresa.

- Essa é Dulce María Savinon. - Anahi puxou a menina levemente pelo braço, sua voz era fraca, quase trêmula. - Ela é uma amiga de New York, foi na casa dela que passei o natal. Decidi trazê-la para conhecer Miami.

O silêncio na sala foi ensurdecedor, todos esperavam ansiosos as palavras de Enrique que analisava a menina da cabeça aos pés.

- Seja bem vinda, Srta. Savinon. - disse o homem com um aceno de cabeça, mas sem demonstrar emoção alguma.

Anahí respirou aliviada e deu uma rápida olhada em Dulce cuja expressão suavizou no mesmo instante. Maritchelo sorriu cordialmente para a menina e a abraçou brevemente indicando a sala para que pudessem conversar melhor, mas Chris os interrompeu dizendo que todos os adolescentes da casa sairiam em um pequeno passeio por Miami.

Dulce foi deixada no quarto de hóspedes que ficava no mesmo corredor do quarto dos três irmãos. A mais nova não teve tempo de se despedir da namorada quando Marichelo seguiu a filha até o quarto, provavelmente para interroga-la sobre Dulce.

Depois de um longo banho refrescante, malas arrumadas e várias falas ensaiadas, a mais nova se encontrou com Anahi e Taylor na cozinha.

- Como se sente? - Anahi perguntou segurando a mão de Dulce por cima da mesa.

- Melhor do que eu esperava. - garantiu passando os olhos pelo lugar. - Nós não precisamos sair, tenho certeza que seus pais querem passar um tempo com você e-

- Pequena - Anahi suspirou trocando olhares com Taylor. - acho que você ainda não entendeu as coisas. Você nunca vai nos ver conversando como uma família normal, isso eu posso garantir.

- Até mesmo eu que vivo aqui quase não os vejo, Dulce. Papai vive trancado naquele escritório e mamãe atrás dos clientes no telefone. - completou Taylor antes de dar um gole em seu refrigerante. - Isso realmente não importa. Tem um Haras aqui perto, aquele que o tio Anthony nos levou uma vez, lembra Anahi? É a nossa primeira parada.

A garota parecia alegre até demais para quem estava grávida aos dezessete anos, prestes a contar aos pais conservadores que provavelmente não reagiriam bem. Dulce decidiu fazer o mesmo que a caçula e deixar o verdadeiro problema para amanhã, a pior parte já tinha acontecido e ela estava feliz por não ter sido desprezada pelos pais de sua namorada.

Chris desceu logo depois se juntando às meninas. Os quatro foram ao tal Haras no carro do garoto que não parava de falar um minuto sequer sobre os defeitos de Anahí e suas qualidades para o divertimento de Dulce e Taylor. O Haras era muito diferente dos ranchos que Dulce estava acostumada a visitar; um campo amplo com várias divisas, algumas usadas para esportes e outras para lazer com os cavalos mais caros da cidade e também as pessoas mais ricas.

Anahí se manteve ao lado da namorada o tempo todo, vez ou outra a abraçando para dizer que estava ali independente do papel que estavam desempenhando no momento. Dulce sentiu-se deslocada naquele Haras, via-se de longe que era um lugar da alta sociedade, um lugar que ela não pertencia.

- Anahi, eu não sei se tenho dinheiro para comer aqui. - comentou quando Chris foi escolher os cavalos.

Os irmãos tinham decidido jantar no Haras antes de seguirem a um riacho que Anahi dizia ir com seus amigos quando mais nova, mas observando o restaurante daquele lugar, teve certeza que o dinheiro que tinha não seria o suficiente nem para a entrada.

Anahí a olhou como se tivesse ofendido Johnny Cash, com os olhos cheios de significado.

- E quem disse que você vai pagar alguma coisa? – se aproximou mais para que apenas Dulce escutasse. - Você é minha namorada, eu a convidei.

Os olhos de Dulce cresceram e o desconforto aumentou.

- Eu não quero que você pague alguma coisa para mim, Anahí. Me sinto baixa quando faz isso.2l

Aquelas palavras feriram Anahi de alguma forma e ela sabia disso, mas seu medo de ser vista como uma oportunista era maior, ainda mais agora que tinha visto com os próprios olhos a verdadeira vida luxuosa que a namorada levava.

- Você pode parar com isso? Me sinto na obrigação de pagar porque é um gosto meu. Dulce, não pense no preço das coisas, isso é bobagem. Quero que você se divirta, Taylor está gritando por você - as duas riram quando a caçula passou por elas montada num cavalo branco aos berros por Dulce. - não pense em dinheiro hoje. Se isso te fizer bem, quando voltarmos pode me pagar um jantar no The Village, o que acha?

Humpf. Que vontade de beijar a garota ali mesmo, na frente de todos sem se importar com o que pensariam. Dulce engoliu em seco e limitou-se em abraçá-la enterrando a cabeça em seu peito. A tarde passou de forma muito leve para o casal, Anahí estava impressionada com a forma como sua namorada e sua irmã tinham se tornado tão amigas e próximas em apenas algumas horas, pareciam amigas de escola fofocando sobre garotos pelos cantos.

- Você gosta mesmo dela, não é? - Chris comentou enquanto Anahí tinha os olhos presos em Dulce que estava com Taylor no outro lado do restaurante do Haras servindo-se. - Nunca vi você tão protetora assim com outro alguém além de Taylor e eu. Você fica toda alpha quando se trata de Dulce.

Anahi começou a rir do irmão, eram sempre os mesmos comentários estúpidos com fundo de verdade. Quando se tratava de Dulce, Anahí se tornava outra pessoa, seu senso de proteção era ativado de forma abrupta, ela só queria que isso acontecesse na frente das pessoas também.

- Dulce consegue despertar o melhor de mim, Chris. - riu ainda com os olhos em sua garota delicada. - Eu simplesmente amo tudo nela.

- Cristo! Você está mesmo mudada. - ele brincou jogando um guardanapo na irmã, então o sorriso morreu e seu rosto assumiu uma expressão séria. - Você pretende contar ao papai?

- Não. - foi direta, finalmente encarando o irmão. - Não agora. Temos que pensar em Taylor em primeiro lugar, Dulce e eu estamos juntas há pouco tempo, acho que isso pode esperar um pouco mais.

Chris a analisou e ela simplesmente odiava quando o irmão fazia isso.

- Está usando a Tay como desculpa? Eu sei que temos que nos preocupar com ela agora, voltei à Miami pelo mesmo motivo... Mas isso também ajuda a ser uma desculpa para adiar as coisas, não é? Sou seu irmão, Anahí, conheço você o suficiente para saber que se esconde quando tem medo.

Ele a tinha chamado de covarde ou...?

- Eu estou apavorada! - assumiu com um fio de voz. Fechou os olhos contando mentalmente antes que perdesse a calma. - Isso não é fácil para mim, que merda.

- Aconteceu algo? - a voz de Taylor os interrompeu, Anahí abriu os olhos e encontrou os castanhos atentos aos seus, estavam cheios de preocupação e carinho.

Anahí sorriu na tentativa falha de tranquilizar Dulce, àquela altura qualquer um notava que havia algo errado com ela, era obvia a tensão que Anahí se encontrava desde que chegaram à cidade.

- Claro. Estávamos conversando sobre a pressão da faculdade. Não é nada comparado ao ensino médio... - Chris mentiu, mas obviamente ninguém acreditou.

Depois do jantar, os três irmãos e Dulce seguiram até um pequeno riacho que ficava localizado ao lado de um parque ecológico. O lugar mais parecia uma floresta, árvores enormes cobriam o caminho de cascalho e a estrada era tão acidentada que Dulce precisou agarrar-se ao banco da frente. O riacho não era muito grande, mas deixava qualquer pessoa maravilhada com a transparência da água cristalina, também era possível ouvir os sons de diferentes tipos de pássaros que faziam daquelas arvores suas moradas.

Chris estacionou o carro um pouco distante deixando que as meninas trocassem de roupas ainda dentro do carro, era a primeira vez que Anahi e Dulce viam uma à outra de biquíni e Taylor precisou cutucar a irmã para que voltasse à realidade antes que babasse nas curvas perfeitas da namorada naquele biquíni azul.

Principalmente aquela bun/da.

Anahí tem mesmo muita sorte.

Dulce deu uma piscadela a ela e correu atrás de Taylor antes de se jogar no riacho aos gritos lançando água para todos os lados, em seguida ajudou a caçula de Anahí a descer com cuidado para não machucar o bebê.

- Mana, se aquela mulher não fosse sua, eu teria arrastado um prédio por ela.

O sangue de Anahí ferveu e ela o empurrou com força para dentro da água. Mesmo que fosse brincadeira, seu ciúme por Dulce saía do controle às vezes.

Por sorte, seu irmão sempre carregava o violão no carro - um dos gostos em comum que tinha com Chris -, e Anahí decidiu buscá-lo para arriscar algumas notas, era uma atividade bem interessante ao invés de se molhar como os outros. Gostava de ver sua princesa brincar animada jogando água em Chris e sendo afogada por Taylor.

Inevitavelmente, as pessoas que ela mais amava eram estranhas, mas um estranho bom, no sentido de não ser igual a todos os outros.

Anahí tirou a camisa cinza da Lana Del Rey que usava e a esticou no chão fazendo-a de manto para não sujar o short. Manteve o coturno curto que usava e prendeu o cabelo em um rabo de cavalo mal feito.

Passou um bom tempo dedilhando suas músicas preferidas enquanto ria de seus irmãos e Dulce, não queria que aquele dia acabasse nunca. Tirou até mesmo uma foto deles com a Polaroid de Dulce que tinham trazido na viagem, pois se pudesse gravar um momento para sempre, esse seria um de seus preferidos.

- Pensando em mim? - ouviu a voz que tanto amava próxima ao seu ouvido enviando ondas de calor por todo o corpo. - Te assustei, bebê?

- Não, princesa. Eu estava apenas pensando.

Dulce sentou-se um pouco mais atrás da namorada envolvendo seu corpo com as mãos e descasando o queixo no ombro dela. A sensação do corpo molhado e seminu da mais nova contra suas costas coberta apenas pelo biquíni fez Anahi ofegar surpresa.

- Espero que em mim.

- É sempre em você. - riu e desviou a atenção aos irmãos que ainda brincavam na água.

O aperto dos braços de Dulce se intensificaram colando mais seus corpos. Santa é o caramba, essa menina é uma praga que só queria vê-la sofrer e torturá-la com esse corpo perfeito.

- Seu corpo está reagindo ao meu, amor. - Dulce observou mordendo o lóbulo da orelha de Anahi.

Deus.

- Não me diga? Você sabe o que provoca em mim e mesmo assim continua. - resmungou tamborilando os dedos nas cordas do violão.

- Eu? Amor - ela riu. Uma risada que provocou arrepios em Anahí. - eu não tenho culpa se você está me imaginando nua e molhada em cima de você.

O que?

- Você é inacreditável. - choramingou encostando seu rosto no de Dulce e recebendo vários beijinhos carinhosos.

- E você é meu amorzinho. Amo saber que provoco esses arrepios em você. - deslizou o dedo pelo braço dela. - Toca alguma coisa para mim, você não fez mais isso desde que tentou me seduzir no meu quarto.

Anahí riu recebendo uma mordida na mandíbula por isso.

- Eu não seduzi você, apenas cantei uma música. Foi você quem cedeu aos meus encantos e me beijou.

- Não seja convencida. - descansou o queixo novamente no pescoço de Anahí enquanto ela ajeitava o violão no colo. - Quero algo que te faça pensar em mim.

- Pode ser aquela do Oompa Loompa? Ai! - reclamou quando recebeu uma cutucada na costela. - Desculpe senhorita.

- The other night, dear, as I lay sleeping, I dreamed I held you in my arms. When I awoke, dear, I was mistaken. So I bowed my head and I cried... - Dulce estranhou de inicio aquela escolha de musica, mas depois entendeu que seria exatamente o que ambas sentiriam se perdessem uma a outra em algum momento daquela jornada. - You are my sunshine, my only Sunshine. You make me happy when skies are grey. You'll never know, dear, how much I love you. Please, don't take my sunshine away...

Dilce distribuiu vários beijos pela extensão do ombro de Anahí que virou o rosto com um pequeno sorriso plantado nos lábios enquanto as palavras deslizavam facilmente pelos seus lábios. Era tão fácil cantar para aquela garota, sorrir para ela, chorar por ela, morrer por ela. Finalizou a música sorrindo com a língua presa entre os dentes até ter sua boca tomada pela de Dulce num beijo terno e delicioso, suas línguas brincando uma com a outra, o mordiscar nos lábios, os suspiros que deixavam escapar apenas por aquele contato. A mais nova finalizou o beijo com vários selinhos que seguiram por todo o rosto de Anahí provocando risadas entre elas.

Então Dulce parou. Seu rosto a centímetros de Anahí, seus olhos numa batalha feroz, as respirações pesada, corações acelerados e aquela imensa vontade de chorar por estarem apenas ali, uma com a outra, longe do mundo.

Mas, pensando melhor...

Anahí era seu mundo.

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Música que Anahí toca: You are my sunshine - Johnny Cash