Fanfic: O laço vermelho (adaptada AyD) Finalizada | Tema: Portinon
23 de Janeiro de 2018. – Primeiro ano da faculdade.
Era de manhã quando Anahí sentiu um leve desconforto no corpo e abriu os olhos sentindo-se completamente sonolenta. Passou os olhos pelo cômodo em que se encontrava constatando que nunca saiu da sala de estar da casa dos Savinon, e que a sensação de um sonho ruim era, na verdade, a realidade. Ela estava deitada no sofá com as costas contra o encosto com uma Dulce encolhida em seus braços em um sono profundo; estavam abraçadas com as pernas entrelaçadas, mas o desconforto do móvel causou uma bela dor nas costas para a loira que sentiu sua coluna travada. Sua mente trabalhou avidamente retomando tudo o que aconteceu antes de chegarem ao sofá, e então ela se lembrou. Dulce chorou como uma criança necessitando de colo, ela agarrou-se à camisa de Anahi como se tivesse medo que Anahi lhe fosse abandoná-la. Depois de mais algumas conversas em meio ao choro, elas acabaram pegando no sono pela exaustão da mais nova. Anahí analisou o rosto inchado da namorada e sentiu vontade de chorar outra vez, Dulce estava encolhida em seus braços como um bebê que precisava de todo o cuidado do mundo.
Anahí conseguiu se desvencilhar dos braços de Dulce sem acordá-la e a cobriu com a pequena manta vermelha deixando um beijo suave em sua têmpora. Droga, ela precisava de um longo banho e remédio para dor no corpo antes de ir para o estágio. Caminhou com a mão direita nas costas até a cozinha pensando no que aconteceria quando sua menina acordasse, mas seus pensamentos mal puderam ser consumados quando se deparou com uma Blanca cabisbaixa preparando o café da manhã, a mulher levantou a cabeça ao notar a presença de Anahí lhe oferecendo um sorriso triste quando viu a surpresa no rosto da nora.
- Eu cheguei agora pouco, não quis acordar vocês. – explicou e Anahi balançou a cabeça em entendimento. Anahí levou a mão esquerda ao cabelo em desconforto, não sabia o que dizer e nem com perguntar sobre Fernando. – Anahi, antes de qualquer coisa eu gostaria de agradecer você.
A mulher sentou-se à mesa de jantar indicando a cadeira em frente a sua para que Anahi seguisse seu gesto. As olheiras eram visíveis em baixo do rosto cansado da mulher, seu semblante calmo havia sido substituído por algo mais obscuro, como se ela soubesse que eram tempos difíceis para sua família.
- Eu realmente não me import-
- Não, me escute. – ela pediu cansada. Anahí concordou. – Você tem cuidado de Dulce todo esse tempo com tanto carinho... Cheguei a pensar que ela ficaria doente se continuasse trancada naquela sala de música, mas você apareceu na vida dela e mudou isso. E ontem você cuidou de Claudia, passou a noite naquele sofá desconfortável zelando o sono de Dulce... – ela deu uma pausa e serviu o copo de café do jeito que Anahi gostava. – Nós te amamos como uma filha, Anahi. Nunca menos que isso.
Anahí não soube o que dizer. Não tinha pensado muito bem quando ficou com Claudia em casa, ela simplesmente sabia que era o certo, assim como deixou de voltar ao dormitório para cuidar de Dulce, não era uma opção deixá-las sozinha naquele momento difícil, porque ela também sofria por Fernando. Ter Blanca lhe dizendo que a tinha como filha era como ser oficialmente integrada à família que tanto amava e se orgulhava.
- Eu fiquei sem palavras, desculpe... – ela sorriu sem graça. – Eu não fiz nada que não faria pela minha família, Blanca. Dulce é a minha namorada e vocês são os pais que eu nunca tive.
A mulher segurou a mão de Anahí por cima da mesa e lhe ofereceu mais um sorriso em compreensão.
- Dulce deve ter lhe contado sobre a quimioterapia. – ela disse. A voz agora trêmula, seus olhos estavam presos no copo de café. – Eu me encontro em um beco escuro, para ser sincera. Pensei em hipotecar a casa, mas Fernando deixou claro que não vai fazer isso, que essa casa é de Dulce e Claudia. Não podemos arriscar perdê-la agora, e nossa situação com o banco não está nada boa... Como eu devo assistir meu marido morrer sem fazer nada, Anahí? Nós temos duas filhas e eu preciso ser forte pelas duas e...
Anahí pulou da cadeira correndo até Blanca para envolvê-la em seus braços. Ela estava vendo os Savinon desmoronarem um por um e, por mais que tentasse esconder, isso estava afetando seu coração também. Ela deixou que Blanca chorasse copiosamente em seu peito, mais uma vez tinha a camisa encharcada de lágrimas enquanto lutava para conter as suas próprias pela mulher que dera a vida à pessoa que mais amava no mundo.
- Nós vamos dar um jeito, eu vou tentar ajudar de todas as formas que me forem possíveis.
Sua mente divagou sobre o dinheiro que tinha no banco, mas a quantia não servia para muita coisa, tratamentos médicos costumam ser uma fortuna; a única chance que tinham de conseguir aquele tratamento vivia em Miami com o nome de Enrique Portilla. Seu corpo ferveu ao pensar nessa possibilidade. Enrique nunca foi um homem filantropo, ele tinha deixado claro que não queria a filha perto de Dulce, as chances de conseguir ajuda do pai eram mínimas, quase nulas.
- Me perdoe... Eu... Eu não queria jogar tudo isso em cima de você, querida... – Blanca separou-se do abraço com o rosto corado, sentia-se envergonhada. – Por favor, me perdoe por isso, eu precisava desabafar de alguma forma. Meus irmãos estão viajando pra cá e...
Anahí enxugou as lágrimas da mulher deixando um sorriso triste brincar em seus lábios.
- Não precisa se desculpar por chorar, Blanca. Somos humanos, chorar não é sinal de fraqueza, muito pelo contrário. – deu um beijo na testa da sogra. – Eu estarei sempre aqui por vocês, é uma promessa. Vou tentar ajudar de qualquer forma.
Blanca balançou a cabeça ainda um pouco atordoada e voltou a sentar-se ereta na cadeira.
- Eu preciso ir, agora. Tenho estágio em poucas horas, preciso estar apresentável. – pegou as chaves do carro que Maite deixara em cima do armário. – Diga à Dulce que eu logo volto para buscá-la. Ela tem um exame importante hoje, não pode faltar da faculdade.
- Você não precisa fazer duas viagens, ela pode ir de met-
- Eu faço questão. Quero me certificar de que ela está bem, não se preocupe comigo. – caminhou até a sala com a mulher ao seu lado. Deixou um beijo suave no rosto de sua namorada que ainda dormia como um anjo cansado. – Eu te amo, princesa. – sussurrou suavemente. Virou-se para Blanca e lhe deu mais um longo abraço. – Vai dar tudo certo, eu sei disso.
- Eu tenho fé que sim. – ela deu um tapinha nas costas de Anahí e abriu a porta da frente oferendo um pequeno sorriso à Anahí. - Bom dia, minha querida.
- Bom dia, Blanca.
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O campus estava cheio de alunos andando de lá pra cá com suas vidinhas imperfeitas, sorrisos forçados, ressaca de um domingo estampada na cara dos mais festeiros e todo o entusiasmo inexistente para entrar na aula. Anahí sabia que Dulce perderia algumas aulas, mas o teste seria daqui a quatro horas, então não havia muito com o que se preocupar já que o estágio de Anahí começava às oito e meia e o relógio marcava seis e cinquenta.
Procurando esconder sua noite mal dormida, os cabelos bagunçados e sua camisa totalmente amarrotada, Anahí enfiou os óculos escuros no rosto e caminhou de cabeça baixa por entre os estudantes ignorando a maioria dos chamados na entrada da república. Ela precisava encontrar com Emma o mais rápido possível e se desculpar por não responder nenhuma das mensagens que lotavam sua caixa de entrada, além de tomar algum analgésico para a dor muscular.
Seu plano de fugir dos colegas da faculdade estava saindo muito bem até seus olhos captarem Megan e Louis encostados na porta do dormitório ao lado. Ela parou estática, tinha os ignorado depois da festa na fraternidade, mas aquele não era um bom momento para ser interrogada. O problema é que não havia outra opção além de enfrentar as feras que rondavam seu quarto.
Respirou fundo, pensando em tudo o que Dulce a fazia sentir quando estavam juntas. Dulce valia a pena. Dulce valia qualquer esforço. Anahí apertou a mão na alça da bolsa e deu mais alguns passos à frente chamando atenção dos dois colegas que a olharam atentamente de cima a baixo, o horror sendo estampado no rosto de Louis ao ver o estado crítico da Anahí.
- Será que nós podemos conversar? – disse Megan sem ironia. Sua voz estava cética, assim como sua expressão.
Louis cruzou os braços atrás da amiga, seu olhar não parava de percorrer cada centímetro de Anahi.
- Você já começou mesmo. – Anahí resmungou girando as chaves do carro nos dedos.
Megan arqueou uma sobrancelha lançando um olhar cheio de significados para Louis que deu de ombros. Voltou-se para Anahi com uma carranca no rosto, e esperou duas calouras passarem para continuar.
- Eu tenho aturado a sua indiferença todos esses dias por respeito, Anahí. Eu deixei de lado o seu sumiço repentino das festas imaginando que você teria coisas para resolver, deixei de lado o seu comportamento estranho com a gente, mas aquilo na festa da Tau Beta foi o ápice da minha paciência. – cuspiu encarando Anahi com raiva.
Anahí não se sentiu ameaçada com aquele tom de voz ou com o olhar assassino que recebeu da garota à sua frente. Poucas coisas naquele momento poderiam assustá-la e Megan com suas asas de fora não seria uma dessas coisas.
Então ela continuou encarando a garota com indiferença quando parou de girar as chaves.
- Primeiro, nós nunca fomos melhores amigas, não é mesmo? Emma já ocupa esse cargo e, se eu devo satisfações a alguém, são inteiramente a ela. – cruzou os braços abaixo do peito e cerrou os olhos. – Segundo, eu não gosto da maneira que vocês tratam as pessoas, é bullying e eu não vou tolerar mais isso com meus amigos, então não se considere nem mesmo minha amiga. – Megan abriu a boca em choque, mas Anahí continuou. – E terceiro... Não se meta na minha vida! Josh estava abusando de Dulce e NINGUÉM naquela festa estúpida fez alguma coisa para ajudá-la!
Sua voz saiu elevada na última frase, só de lembrar-se das mãos de Josh vagueando pelo corpo de sua namorada e dos olhos assustados de Dulce sua calma já entrava em estado de alerta. Louis continuou parado com a boca aberta ao ver Anahí se impor pela primeira vez; Anahi sempre fora o tipo de pessoa pacífica e calada, sempre aturando calada, mas agora estava se impondo diante de uma das garotas mais influentes da faculdade.
Megan pigarreou alto disfarçando sua falta de palavras, sua pele porcelana agora carregava um tom vermelho, assim como suas mãos que tremiam em fúria.
- Eu sabia que fariam uma lavagem cerebral em você naquele lugar! Eu disse ao Louis e ele não acreditou em mim!
- Sobre o que você está falando? – Anahí perguntou com escárnio.
Megan respirou fundo e disse o mais alto que pode.
- Sobre aquela ralézinha que você anda, a tal da Dulce. – o sangue de Anahí ferveu. – Aquela pobretona lésbica sugou toda a dignidade que você tinha antes, agora você prefere dar ouvido a uma va-
Megan então foi bruscamente prensada contra a porta do quarto quando Anahi agarrou a gola de sua blusa com violência. Louis soltou um grito afeminado, o que chamou atenção de várias pessoas no corredor, mas Anahí não se importava mais.
Já tinha dado seu primeiro show na festa, ter público já não era mais o problema.
- Nunca. Mais. Ouse. Falar. Assim. De. Dulce. – disse pausadamente, com a voz carregada de ódio. – Dulce María é a minha namorada. – Megan arregalou os olhos e Louis cobriu a boca com as mãos. – Ela é muito melhor do que você, ou qualquer pessoa jamais vai ser.
Empurrou a garota com força contra Louis e abriu a porta do quarto sem dar tempo para uma resposta. Anahí entrou contendo toda a sua fúria com os punhos cerrados e fechou a porta com força fazendo Emma pular no beliche com o susto, ao seu lado um primeiranista que cursava engenharia em Columbia sentou ao lado de Emma coçando os olhos devido ao barulho desnecessário.
- Você! – gritou Emma descendo da cama em um pulo e se pondo na frente de Anahí com um olhar assassino quinze vezes mais assustador que o de Megan. – Eu vou arrancar todos os seus dedos e depois a sua língua, assim a Savinon vai ficar sem sexo pelo resto da vida e você vai poder ligar e avisar sua melhor amiga que está viva e não morta jogada em uma valeta qualquer de algum subúrbio.
Anahí piscou algumas vezes processando a fala rápida de Emma, só então se dando conta de que também estava com uma dor de cabeça horrível. Seu dia mal tinha começado e já poderia ser classificado um dos piores de sua vida.
- Eu preciso tomar um banho antes de qualquer coisa, depois explico tudo. – empurrou levemente a amiga para o lado e caminhou em direção ao banheiro, mas antes de entrar, virou-se novamente apontando para o garoto sentado na cama que parecia não saber o que estava fazendo ali. – E livre-se dele.
E entrou no banheiro se arrastando como um zumbi. Tomou remédio para a dor nas costas observando seu reflexo no espelho constatando que estava mesmo horrível. Seu cabelo parecia mais um ninho de passarinho, o lápis de olho estava borrado, os olhos ainda amassados e uma careta que espantaria até as pombinhas do campus. Ligou o chuveiro na água fria desejando mais do que qualquer coisa nunca mais ter que sair daquele banheiro. Precisava despertar seu corpo de alguma forma, seu pressentimento a alertava de que o dia seria conturbado, ela precisaria de toda a energia que restava em seu corpo ou desmaiaria ainda no estágio. Enquanto ensaboava o corpo, seus pensamentos automaticamente correram até Fernando sendo impossível conter algumas lágrimas que ousaram escapar. Ele sempre fora um bom homem com a família e com os amigos, Anahi o admirou desde o dia em que o conheceu, quando levou aquela torta como uma desculpa para agradar seus futuros sogros. Sorriu com a lembrança. Era uma de suas preferidas.
Blanca não tinha condições de bancar os tratamentos, e pelo jeito o banco não os ajudaria mais uma vez, o que anulava qualquer opção que tivessem no momento. Então os calafrios reapareceram quando pensou em Enrique e no que diria caso pedisse esse dinheiro ao pai.
Assim que deixou o banheiro secando os cabelos com a toalha, encontrou uma Emma em pé encostada na porta com os braços cruzados, lábios em linha reta e a mesma expressão de minutos antes. Dessa vez, porém, estava sozinha.
- Vire-se. – pediu gentilmente e Emma se virou ficando de cara com a porta. – Obrigada.
Começou a procurar alguma roupa descente no guarda-roupa quando Emma se manifestou:
- Vai me dizer por que Megan está amaldiçoando seu nome aos quatro ventos lá fora?
Uma súbita vontade de rir invadiu Anahí quando imaginou a cena, mas conteve-se dando de ombros quando tirou uma calça preta social, uma camisa de botões azul claro e os sapatos de salto médios do armário.
Odiava se vestir assim, tão fora do que realmente era, mas sabia que esse seria o seu futuro.
- Digamos que eu finalmente a coloquei em seu lugar. – respondeu calma. – Ela me encurralou na porta difamando Dulce. Eu simplesmente não aceitei e disse umas boas verdades que estavam entaladas.
Emma abriu a boca em um perfeito O e girou nos calcanhares ignorando por completo Anahí de sutiã.
- Você virou gente? Finalmente tirou o rabinho do meio das pernas, Anahí! – exclamou animada jogando-se no beliche de baixo. – Vou fazer questão de desfilar pela faculdade e esbarrar nela.
Anahí riu e se pôs de frente ao espelho para a maquiagem.
- Não foi tão difícil quanto imaginei. Me sinto mais leve agora, não me importo nem um pouco que todos saibam que namoro uma garota.
- Epa, parou! Você contou que namora a Dulce? – Anahí assentiu e Emma soltou um gritinho esganiçado. – Agora todos vão pensar que colamos velcro nesse quarto, que nojo! Será que eles pensam que sou lésbica também?
Anahí sentiu aversão ao rótulo e olhou Emma em advertência.
- Eu não sou... Lésbica. – disse com dificuldade, não entendia seu medo ligado àquela palavra. – Eu sou de Dulce. Não há rótulos, apenas nós duas.
Emma murmurou alguma coisa inaudível que pôde ser interpretado como um xingamento enquanto brincava com a capinha do celular.
- Quer falar sobre o Sr. Savinon? – recebeu um olhar curioso de Anahí. – Maitê contou no grupo do Whatsapp, você saberia se olhasse essa merda que você chama de celular.
Anahí negou com a cabeça e guardou a maquiagem antes de voltar-se para Emma.
- Lembra que eu te contei uma vez que Fernando teve um tumor cerebral? – Emma concordou. – Voltou. Ontem Fernando teve uma convulsão na cozinha de casa, Maitê o levou até o hospital com Dulce e Blanca, o médico informou que a única opção seria a quimioterapia, mas eles não têm dinheiro.
A expressão de Emma suavizou. Uma das raras vezes em que se podia ver a garota séria. Emma poderia ser a pessoa mais bizarra do mundo, mas seu coração sempre fora bondoso, um dos motivos por Anahí a considerar sua melhor amiga.
- Eles não têm como pedir um empréstimo? A família deles é grande, alguém pode ajudar?
Anahí negou com a cabeça pegando as chaves do carro em cima da mesa.
- Eles já estão endividados com o banco e a família deles não tem dinheiro. Dulce está acabada, e eu sinceramente não sei mais o que fazer para ajudá-la, Emma. É como uma nuvem negra que pairou sobre nós, primeiro o meu pai, depois o meu maldito problema com a bebida, e agora isso.
Os braços pequenos de Emma a envolveram em um abraço terno, daqueles que só a verdadeira amizade pode resolver.
- Eu sinto muito, não sei o que dizer. Vocês têm sido tão felizes que eu não posso imaginar o que estão passando – sua voz era calma, transmitia paz para Anahí.
- Tudo bem, Emma. Eu vou tentar ajudar da maneira que eu puder.
Ela não contaria nem mesmo para sua melhor amiga sobre o pensamento que rondava sua mente, o pensamento que envolvia Enrique Portilla. Anahí ainda criava a devida coragem dentro de si para tal ato, ter seus amigos opinando sobre o assunto não a ajudaria em nada. Anahí considerou conversar com a mãe, mas ela não pode mexer no dinheiro da família sem que Enrique saiba, e Chris recebe a mesma quantia que a irmã por mês.
Não havia outro jeito.
- Eu preciso ir. – deu um beijo no topo da cabeça de Emma antes que a conversa ficasse mais emocional, não precisava borrar sua maquiagem logo agora. – Nos vemos depois?
- Sim, qualquer coisa me liga. Diga que mandei um abraço à Dulce.
Anahí sorriu.
- Eu digo. Se cuida.
Recolocou seus óculos de sol antes de respirar fundo e girar a maçaneta revelando o corredor movimentado de uma manhã agitada. Caminhou de cabeça erguida pronta para o que a aguardava lá fora, e para a sua surpresa, ninguém a encarou como pensou que aconteceria assim que Megan espalhasse sobre seu namoro, ou talvez ela ainda não o tivesse feito, mas não se importava mais, sua pose de bad girl afastaria qualquer pessoa que ousasse olhá-la de baixo à cima. Fez seu sagrado ritual parando na máquina de café e pegando dois cappuccinos de chocolate. Agradeceu mentalmente por não encontrar pessoas indesejáveis no caminho até o estacionamento e saiu com o carro aproveitando o silêncio da manhã, o ar fresco, poucas pessoas na rua e o rádio ligado baixinho em uma estação qualquer.
Poucos minutos depois, Anahi estacionava o carro em frente a casa de Dulce que já a esperava sentada na cadeira de balanço da varanda. Mal parecia sua Dulce com o sorriso reluzente sempre que a via chegar, que amava tagarelar até sobre o clima e que tinha os olhos mais cheios de brilho que Anahí já vira na vida.
Anahí encostou-se na porta do Dodge observando Dulce caminhar até ela com sua bolsa de lado, o olhar estava preso ao chão como se houvesse algo muito interessante entre as pedrinhas.
- Hey, você. – cumprimentou Anahi puxando a namorada para um abraço demorado.
- Hey. – respondeu a mais nova com a cabeça apoiada em seu peito, o corpo perfeitamente moldado ao seu. Sua voz estava cansada, como se não dormisse há anos.
O cheiro de Marshmallow se fez presente obrigando Anahi a enfiar o rosto no pescoço de Dulce aproveitando cada segundo daquele momento. Odiava ver seu amor naquele estado sem poder ajudar, destruía seu coração não ver o sorriso mais lindo naqueles lábios carnudos que ela amava.
- Como você está? – perguntou tirando o rosto do pescoço de Dulce e colando suas testas. – Dormiu bem?
- Eu acordei com dor nas costas, mas acho que sim. – a pequena começou a brincar com a gola da camisa da namorada em um gesto infantil enquanto os braços firmes nunca deixavam sua cintura. – Eu pensei que tinha sido um sonho ruim até acordar com Claudia conversando com minha mãe sobre ser uma princesa.
Anahí corou. Fechou os olhos fingindo uma careta que fez Anahi sorrir minimamente.
- Eu acho que posso ter um dedo nisso.
Dulce segurou seu rosto com as duas mãos fazendo-a abrir os olhos e encarar pela primeira vez os olhos castanhos sem vida.
- Obrigada. Você é a melhor namorada do mundo.
Um arrepio percorreu sua espinha quando o sentimento de felicidade com essas palavras a invadiu por completo. Dulce soltou um suspiro quando prendeu o lábio inferior da namorada contra o dela, ficando assim por alguns segundos apreciando o contato. Anahí puxou o lábio e aplicou um selinho demorado antes de abrir a porta do carro, entrar com Dulce e lhe entregar o copo de cappuccino.
- Depois da faculdade eu vou até o hospital visitar meu pai, não precisa me esperar. – ela disse quando o carro já estava na estrada.
Anahí lançou um olhar confuso à namorada.
- Eu vou com você, quero ver Fernando. Tudo bem se eu for?
Dulce deu sorriu fraco e descansou sua mão esquerda na perna de Anahi.
- Ele vai adorar receber uma visita sua.
O caminho até Juilliard foi estritamente sobre o teste de hoje da pequena e a discussão de Anahí com Megan. Dulce quis saber os detalhes sobre a discussão se mantendo interessada, mas Anahí sabia que ela estava se forçando em manter-se lúcida em outros assuntos para não decepcioná-la.
Quando chegaram a Julliard, Dulce desceu do carro com o copo de cappuccino em mãos imaginando que esse seria apenas mais um dia normal onde todos sabiam que eram namoradas, mas não agiam como tal. Anahí a surpreendeu quando tomou sua mochila a pendurando no ombro e com a outra mão entrelaçou seus dedos com um sorriso carinhoso brincando nos lábios. Dulce sentiu-se amada. Um daqueles momentos em que você se sente bonita porque ela te olha como se fosse.
Se despediram ainda na escada com um beijo casto nos lábios e seguiram rumos diferentes até o almoço.
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- Ficou sabendo da novidade? – John caminhava todo atrapalhado ao seu lado quando saíram para o almoço. – Dott Fign entrou com um processo contra a faculdade.
- A faxineira? – perguntou Anahi, mal sabia que a mulher tinha saído. – Ela foi demitida?
John cumprimentou alguns garotos do departamento de dança e abriu a porta do refeitório para Anahi que agradeceu gentilmente com um sorriso. Ela sabia que o garoto tinha uma queda enorme por ela, o que deixava Dulce louca da vida, mas não é como se pudesse evitar trabalhar com o garoto, ou ignorá-lo pelos corredores.
- Foi. A mulher ficou louca, fez um escândalo quando foi acusada de dar uns pegas em um estudante.
- O que? – Anahi gritou repentinamente tendo alguns olhares voltados a ela. – Desculpe. Isso é sério?
Dott, ao contrário do que pensam, não era uma velha de cabelos grisalhos. A mulher tinha lá seus trinta anos e com tudo em cima, literalmente. Muitos alunos em Julliard babavam pela mulher que não se poupava em desfilar pelos corredores, Anahi sempre deixou Dulce avisada de que se a visse babando pela faxineira, ficaria sem sexo por um mês.
- É o que dizem por ai, aposto que esse processo vem pra mim. – esfregou as mãos como que em expectativa e Anahi revirou os olhos. Quando finalmente encontraram algumas mesas vazias mais ao fundo, John a olhou com expectativa. – Quer sentar comigo?
Anahí rolou os olhos pelo refeitório encontrando suas amigas sentadas na mesa de sempre.
- Obrigada, John. Eu preciso recusar, minha namorada e minhas amigas me esperam. – forçou um sorriso quando os ombros do garoto caíram em desanimo. – Até amanhã.
Anahí caminhou até a mesa de canto onde Zoe e Maitê estavam acomodadas lado a lado, elas dividiam um saquinho de salgadinhos em silêncio e Dulce brincava com uma garrafa de água fechada. Anahí estreitou os olhos quando notou que nenhuma das garotas tagarelava, o que era algo anormal para aquela mesa em questão.
- Graças a Deus, Anahi – Zoe largou o saquinho de salgadinhos quando viu Anahi. – Faça essa menina comer ao menos uma maçã, ela está sem comer desde que chegou.
Anahí sentou-se ao lado da namorada com o cenho franzido. Dulce estava estranha, mais quieta do que antes, suas mãos mexiam ansiosamente na tampa da garrafinha de água, algo que não era de seu costume. Anahí passou um dos braços em sua cintura aproximando seus corpos, enquanto deixava um beijo carinhoso em seu rosto pálido.
- O que houve? Por que não está comendo, pequena?
Dulce desviou os olhos da garrafa mergulhando na profundidade das esmeraldas azuladas de Anahí, foi impossível conter o suspiro preso na garganta quando se voltou para as duas garotas sentadas à sua frente.
- Eu estava esperando que estivéssemos juntas quando desse a notícia. – Dulce fez uma pausa dramática apertando a garrafa com força. Anahí engoliu em seco. – Eu vou deixar Juilliard.
A mesa ficou em silêncio. Maitê cerrou o punho em cima da mesa sendo contida por Zoe que tinha os olhos arregalados, enquanto Anahí continuou encarando a namorada com o choque evidente em seu rosto assim que o sangue deixou o seu corpo. Dulce se encolheu no banco como uma criança indefesa esperando pacientemente a reação de suas amigas, ela tinha tomado a decisão ao acordar e se deparar com Blanca chorando silenciosamente na cozinha. Fora algo de imediato, algo que não se escolhe por vontade própria. Era sua responsabilidade cuidar de sua família, e seu pai sempre viria em primeiro lugar.
- Não, você não vai. – Maitê rosnou jogando o saco de salgadinhos para longe, seu corpo inclinado na mesa como se fosse atacar Dulce a qualquer momento. – Seu pai não vai aceitar isso, você batalhou muito para estar aqui e não pode desistir de uma hor-
- Ele não tem que aceitar nada! – Dulce exclamou socando a mesa com tanta força que assustou Maitê. Seu rosto era vermelho sangue agora, a garrafa abandonada estava totalmente amassada e os olhos castanhos expressavam a seriedade do que estava dizendo. – Eu preciso arrumar um emprego e ajudar minha família, Maitê! Meu pai sai amanhã do hospital e não pode voltar a trabalhar, precisa ficar em repouso absoluto. Quem vai pagar as contas? Minha mãe agora precisa cuidar de três pessoas, eu não posso me dar ao luxo de continuar estudando enquanto minha família passa fome!
Anahí sentiu náuseas com as palavras da namorada. Foi como um soco em seu estômago, um aviso para que ela abrisse os olhos para a real situação em que Dulce se encontrava. Apenas Blanca teria capacidade de cuidar dos tratamentos de Fernando em casa, e ainda havia Claudia. O salário de Fernando não cobriria nem metade dos gastos somando o tratamento e o sustento da casa, sendo assim, Dulce tinha certa razão. Eles precisavam de uma nova fonte de renda, e se Blanca estaria empenhada com o marido e a filha mais nova, a responsabilidade cairia mais uma vez em cima de Dulce.
- Nós vamos dar um jeito, Dul. Por favor, não desiste desse sonho agora... – Zoe, a mais racional, segurou a mão de Dulce por cima da mesa. – Você conseguiu uma bolsa em Juilliard, sabe como isso é difícil? Talvez se meu pai emprestar algum dinheiro, eu não sei, vou tentar conversar com ele.
Maitê era a única que não via a situação de um ponto de vista racional. Ela se recusava a olhar para Dulce, no entanto, pois era uma das poucas pessoas que vira o esforço da menina nas noites em claro ensaiando até a exaustão conseguir aquela bolsa.
- Desculpe, Zoe. Eu agradeço que você se preocupe, mas é o que eu preciso fazer por minha família agora. Eu preciso ser a mulher da casa mais uma vez, e não pretendo aceitar dinheiro de ninguém. Não vou passar por essa humilhação, é algo que precisa ser feito entre minha família e eu. – começou a chorar ainda mais com as mãos cobrindo os olhos, Anahi se mantinha em silêncio absorvendo tudo, fazendo seu cérebro trabalhar quatro vezes a mais que o normal.
Dulce chorava principalmente por seu pai, mas também por ter que desistir daquilo que sonhou e batalhou desde que se conhece por gente. Sabia que se desistisse de Juilliard agora, não haveria uma segunda chance depois, sem bolsa e sem o estudo de Juilliard, seu sonho se afundaria cada vez mais. A decisão já estava tomada, entre sua família e seu sonho, a primeira opção estaria sempre na frente e não havia desculpas para isso. Ela o fez uma vez, quando abandonou o ensino médio por quase um ano para ser a mulher da casa, ela podia fazer de novo.
Precisava ser feito. Por ela, por Claudia, por Blanca e Fernando.
- Dulce, não há humilhação em aceitar dinheiro como aju-
- Não! – Dulce desvencilhou suas mãos de Zoe. Olhou para os lados nervosa, nem o aperto carinhoso de Anahí em sua cintura a estava acalmando. – Você... Você não entende! Meu pai sempre batalhou por mim, ele sempre me incentivou e mesmo doente, não deixou de trabalhar para sustentar o meu sonho. Não posso simplesmente tirar dinheiro das minhas amigas, além de humilhante é quase egoísta, como se Juilliard fosse mais importante que meu pai e...
Maitê levantou de supetão deixando que o saco de salgadinho caísse no chão antes de deixar o refeitório em passos pesados, o que fez Dulce chorar ainda mais com o rosto enterrado entre as mãos. Anahí compreendeu que sua namorada precisava de privacidade, e levantou puxando-a contra seu peito, pegando a mochila da mais nova com a mão livre.
- Eu vou levá-la para casa, depois nós conversamos. – olhou para Zoe que parecia mergulhada em seus próprios pensamentos.
Com Dulce ainda abraçada em seu peito, elas saíram do prédio em passos rápidos para não chamar muita atenção dos alunos que ziguezagueavam pelos corredores, o que não adiantou, é claro, mas quem se importava àquela altura?
Anahí abriu a porta do passageiro ajudando Dulce a entrar e plantando um beijo casto nos lábios da namorada antes de dar a volta no carro. O percurso entre a faculdade e a casa de Dulce foi feito em silêncio absoluto, mas confortável. A mais nova chorava como um gatinho encolhida no banco abraçando agora o próprio corpo. O coração de Anahí doía com o que estava presenciando, sua mente martelava com o que vinha planejando desde que acordara de manhã.
Dulce destrancou a porta revelando uma casa silenciosa e vazia, caminhou direto para o quarto deixando a bolsa em cima do sofá, e uma Anahi que não sabia o que fazer a seguir, talvez Dulce precisasse de espaço, mas também estava preocupada com o que poderia fazer sozinha com aqueles milhares de pensamentos atormentando seu frágil coração.
Sem pensar direito, Anahi subiu atrás da namorada se preparando psicologicamente para ser agredida em um surto por ser tão invasiva.
Quando abriu a porta do quarto em silêncio, não conteve um suspiro cansado ao ver Dulce com as mãos apoiadas na escrivaninha com o corpo imóvel, os olhos atentos lá fora como se nada mais importasse além do vento bagunçando as folhas das árvores; era possível ver a respiração alterada pela ascensão e queda de suas costas. Anahí sentiu algo em seu estômago revirar quando a namorada virou-se lentamente e a encarou com os olhos vermelhos, mas também intensos.
- Dulce, podemos conversar? – ela pediu cuidadosa ao se aproximar, mas não obteve uma resposta.
O próximo movimento que sua mente capitou, fora o corpo de Dulce se chocando contra o seu com violência, tendo sua boca devorada pela língua ágil e quente da mais nova que arranhava sua nuca com uma força desnecessária. Anahí não pode processar o que estava acontecendo enquanto as mãos desesperadas de Dulce agora desabotoavam sua camisa social com pressa, quase a rasgando. Não havia desejo a ser sentido naquele momento, estava assustada e preocupada com Dulce, aquele ato de desespero só refletia o quão perdida sua mente se encontrava, servindo para uma explosão de conclusões em Anahí. Tentou se afastar espalmando as mãos no ombro da mais nova, mas Dulce estava sendo mais forte quando puxou sua camisa com força rasgando todos os botões.
- Dulce... – sua boca foi tomada outra vez vorazmente, podia sentir o gosto salgado das lágrimas entre o beijo desesperado.
Anahí reuniu todas as forças que restava em sua sanidade e empurrou Dulce contra a cama usando um pouco de violência, ela não queria usar a força, mas era o único caminho que lhe restara se não quisesse ser obrigada a fazer sexo à força por desespero.
Ela rapidamente montou o quadril da pequena prendendo seus braços acima da cabeça, Dulce engasgou entre as lágrimas e fechou os olhos com força quando se viu presa nos braços na namorada, estava cansada demais para lutar. Seu peito subia e descia recuperando o ar em seus pulmões, mas até mesmo respirar doía como o inferno quando tudo estava sendo arrancado de si num piscar de olhos.
- Dulce... Me escuta! Eu amo você, ok? – Anahi disse firmemente, não deixando que houvesse rastro de dúvidas em sua voz. – Eu amo você! Só me diga o que fazer para ajudar, porque eu não sei mais como agir nessa situação sem machucá-la!
Vendo Dulce desabar em seus braços deu à Anahi uma certeza que há tempos a perseguia como um mantra; o amor não se trata apenas de juras de amor trocadas em olhares intensos, ou de momentos compartilhados em felicidade; não, o amor era muito mais do que apenas sorrisos, era como um arco íris à espera do fim de uma tempestade, como a luz iluminando o fim do túnel, como a paciência de um homem sábio para com uma criança em seu aprendizado... O amor requer benevolência, o amor significa não apenas ser amante, mas também melhor amigo.
Anahí tremia, seu corpo todo reagia a angustia da garota em baixo de si.
- Faça isso parar, eu não aguento mais... – Dulce chorou. O rosto virado para o lado esquerdo, as lágrimas caindo em cascata banhando seu rosto angelical, marcando toda a sua inocência. – O meu pai vai morrer, e eu não posso fazer nada, Anahi... Nada!
Anahí sentiu desespero percorrer cada fibra do seu ser, toda a agonia de sua namorada refletindo nela naquele momento. Anahí sentiu a Dulce frágil que abdicaria de tudo para ser base da família outra vez. A garota que não foi ao baile de formatura por estar em casa sendo adulta. A garota que não pode ser tornar uma grande musicista, que precisou crescer mais cedo. A garota do sorriso espontâneo e amável, que sempre procura o lado bom das pessoas.
A garota que fez amor com ela pela primeira vez, e que a agradeceu por tê-la feito sua.
- Dulce, eu preciso que você me ouça! – pediu Anahi controlando a voz antes que desabasse. – Olhe para mim! – ordenou e Dulce forçou-se a olhar para a namorada engolindo as lágrimas. – Eu te amo! Eu sei que o amor não cura todas as feridas, mas eu estou aqui por você! Eu sou sua amiga, converse comigo, e nós vamos chegar a um acordo juntas, tudo bem? Você não precisa tomar todas as decisões sozinha; sou a sua namorada por ser sua alma gêmea, sabe o que isso quer dizer? Quer dizer que eu também carrego sua dor comigo. Se você sofre, eu sofro. Se você chora, eu choro. Se você pula, eu pulo.
Um curto espaço de tempo passou e as duas garotas continuaram na batalha de olhares, testas coladas e respirações peito a peito. Dulce fechou os olhos com força, suspirando a seguir enquanto sentia uma trilha de beijos suaves seguir de sua mandíbula, passando por sua bochecha, nariz, pálpebras...
- Perdão. – disse quase num sussurro falho. – Eu não queria atacar você, não sei o que me deu, eu...
- Tudo bem, meu amor. – Anahi beijou uma última lágrima que escorria pelo rosto de Dulce. – Eu amo você, ser atacada em sua crise faz parte. – sorriu fraco e deu um beijo leve nos lábios carnudos. – Você vai ficar bem, seu pai também.
O olhar de Dulce mudou para tristeza outra vez.
- Não vai não.
- Vai sim! – Anahi exclamou um pouco alterada. Sentou-se na cama puxando Dulce para sentar de frente a ela sobre as pernas. – Você não vai abandonar Juilliard, e nós vamos conseguir pagar o tratamento do seu pai. Você confia em mim?
Dulce apertou os olhos encarando o brilho enigmático nos olhos azulados de Anahi, e, quando caiu em si, negou freneticamente com a cabeça.
- Não! De nenhuma forma vou aceitar o dinheiro do seu pai, Anahi!
Mas Anahi já esperava por isso; Dulce não aceitaria o dinheiro de Enrique Portilla, ou de qualquer outra pessoa, nem que a obrigassem a isso. Dulce tinha uma honra indestrutível, aceitar dinheiro de um homem que pretendia destruir o relacionamento dela com Anahi seria a última coisa que ela faria na vida.
- Eu não vou pedir dinheiro a ele. – Anahi respirou tentando soar convincente. Esperava que Dulce não notasse o nervosismo impregnado em sua voz. – Vou fazer uma viagem amanhã cedo e pretendo voltar no domingo. Acha que vai ficar bem até lá?
Dulce continuou em silêncio procurando mentira no que Anahi dizia, e como conhecia sua namorada bem o suficiente para reconhecer qualquer emoção que a envolvesse, pôde ver um brilho misterioso nas íris azuis que não condizia com a verdade.
- Aonde você vai?
- Apenas... Confie em mim. – Anahi fechou os olhos, sabia que estava sendo analisada.
Mas ela não confiava. Não naquele momento, não com suas mãos tremendo e os olhos transmitindo mais do que desejava transmitir.
- Anahi... – chamou sentindo a sensação de que algo não estava certo. – O que você vai fazer?
Anahí finalmente abriu os olhos, estava exausta pela primeira vez desde que entrara naquele quarto. Como seria possível tudo desmoronar em tão pouco tempo? Seu pai aparecer e estragar seu emocional, a perseguir como se fosse uma criminosa, aquela maldita festa da faculdade e agora a situação de Fernando.
- Eu vou ajudar seu pai, é isso que vou fazer! Não se preocupe comigo, apenas confie em mim! – disse firme transmitindo que não queria ser questionada.
Dulce abriu a boca em protesto, mas recebeu um olhar tão frio que acabou se encolhendo.
- Ok. – disse Anahi levantando-se da cama. – Vá tomar um banho quente agora.
E dito isso, saiu do quarto deixando Dulce perdida em seus pensamentos e sensações de que aquela viagem não deveria ser feita.
E, mais do que nunca, ela estava certa.
*****
****
***
- Moça? – chamou o taxista olhando atentamente a garota sentada no banco de trás do taxi pelo retrovisor.
Pouco mais de meia hora depois do desembarque no aeroporto de Miami, Anahi se encontrava sentada em um táxi avaliando a entrada da mansão Portilla como se estivesse prestes a entrar no purgatório; suas mãos, além de suadas, tremiam no colo enquanto seu coração martelava no peito como um trem desgovernado. Anahí desejou todo o caminho que o taxista fosse o mais devagar possível, precisava respirar melhor, precisava repassar em sua mente o que diria ao pai; três horas de viagem simplesmente não parecia o suficiente para estar preparada para esse momento.
Assim que o carro estacionou, sentiu uma imensa vontade de pedir ao taxista que desse meia volta e retornasse ao aeroporto.
- Deixe-me adivinhar; brigou com o namorado e agora não quer enfrentar a fera. – o homem riu ajustando o retrovisor.
Anahí engoliu em seco.
- Pior anda, a fera é o meu pai. – respondeu rudemente antes de entregar o dinheiro da corrida e sair do carro arrastando a mala preta.
Pela primeira vez em dezenove anos, entrar em casa parecia assustador para Anahi. Alex, o porteiro, a olhou como se soubesse que ela estava encrencada, mas ela sabia que era coisa de sua cabeça, assim como imaginou que todos no avião a encaravam como se soubessem de todos os seus pecados.
Balançou a cabeça com esses pensamentos aleatórios que a deixavam ainda mais assustada e caminhou pelo jardim cumprimentando Alex com um aceno de cabeça que retribuiu com um pequeno sorriso de lado. Aproveitou ainda para observar o gramado verde onde tantas vezes assistiu o nascer do sol quando pequena, e parecia ser a tanto tempo agora.
Caminhou em passos lentos até a porta da frente onde sua mãe a aguardava com as mãos no peito, e um olhar penetrante que causou arrepios em Anahí.
- Anahi... Que saudades! – Marichelo a abraçou forte, quase como se não a quisesse soltar. Anahí reparou que era a primeira vez em muitos anos que a mãe não a abraçava dessa forma, tão protetora. – Essa casa tem estado tão vazia...
- Não faço ideia do por que. – comentou sarcástica retribuindo o abraço enquanto seus olhos escaneavam a sala de estar.
Suspirou aliviada ao constatar que seu pai não estava ali. Maritchelo ajudou a filha com a mala quando abriu passagem na porta convidando-a para entrar. Sua mãe estava certa, a casa parecia muito mais silenciosa e vazia sem nenhum dos filhos por perto para dar o que aquele lugar mais precisava; esperança. A lareira desligada, assim como as luzes e a TV de 60 polegadas. Anahí reparou também que os porta retratos com Taylor foram todos tirados da sala, como se houvesse apenas ela e Chris como filhos. Aquilo apertou ainda mais o peito de Anahí. Como alguém poderia ser tão frio ao ponto de desconsiderar um filho, alguém que viu nascer, que assistiu aos primeiros passos e a primeira palavra, por simplesmente não ser o que esperava?
- Como foi de viagem? – a mulher perguntou com uma preocupação até então desconhecida para Anahi.
- Eu dormi a maior parte do voo, então não há muito que dizer. – riu sem ânimo. – Eu vou subir agora, preciso tomar um banho.
- Seu pai... – Marichelo a cortou, a voz carregada de medo. Anahí arqueou uma sobrancelha. – Ele quer ver você.
As pernas de Anahí bambearam vendo Marichelo mexer as mãos nervosamente, ela sentiu que poderia vomitar a qualquer momento pelo medo que a dominou. Aquilo não era bom, talvez fosse apenas para saber as novidades sobre a faculdade... Não, Enrique não se importa tanto assim quando está em casa. De repente, respirar se tornou extremamente difícil, ela já não tinha esperança de que algo positivo sairia daquela conversa.
- Onde? – ignorou a batalha interna, mas não ousou se mover temendo cair assim que mudasse o passo.
- No escritório. – Marichelo respirou abrindo e fechando a boca como se pretendesse dizer algo a mais, mas não o fez.
Anahí apenas acenou com a cabeça se forçando a respirar fundo. Deixou a mala no sofá de couro quando se obrigou a caminhar até o escritório sentindo seu corpo como gelatina. Não era certo um filho temer o pai daquela forma, não era justo Anahi estar sentindo tanto medo ao ponto de segurar as lágrimas. Simplesmente não era justo, ela estava apenas amando alguém, nada disso era motivo para ter medo. O amor é um sentimento lindo, algo que deveria ser reconhecido por todos.
Amar não é errado, nunca seria.
Ao levar a mão trêmula à maçaneta, sua mãe surgiu ao seu lado segurando em seu ombro. Anahi a olhou encontrando os olhos marejados de Marichelo, uma antecipação do que aconteceria assim que entrasse naquele escritório.
- Eu te amo, Anahi . Sou sua mãe, vou te amar independente de qualquer coisa. – foi o que ela disse antes de deixar o caminho livre para a filha.
Anahí franziu o cenho para a mãe desejando que seu coração acalmasse as batidas violentas, mas reuniu toda a coragem do mundo e girou a maçaneta revelando o escritório em estilo vitoriano que ela tanto conhecia de suas noites secretas, quando invadia o escritório no meio da madrugada para ouvir os discos de vinil do pai. Não havia vida naquele cômodo, nenhum quadro, nenhum porta retrato, apenas as três paredes revestidas por estantes abarrotadas de livros, na sua maioria sobre Direito, e a parede atrás da mesa de madeira sustentava uma prateleira com vários vinhos antigos, um vaso de porcelana que pertencera ao seu bisavô e uma coleção de discos de Johnny Cash. E, sentado atrás da grande mesa bagunçada por pastas, estava Enrique Portilla em sua camisa social listrada com as mangas dobradas.
O homem olhou por cima do notebook quando ouviu a porta ser fechada, e tirou os óculos de leitura ao ver a filha mais velha parada à sua frente com o queixo erguido, deixando claro que não o temia como ele imaginava.
Uma verdadeira Portilla.
- Queria me ver? – perguntou disfarçando o tremor na voz, não demonstraria fraqueza aos olhos do pai.
Enrique levantou cuidadosamente da mesa deixando os óculos em cima do notebook e caminhou em silêncio com as mãos no bolso da calça de linho até parar de frente a ela com sua imponência. Os dois tinham a mesma altura, portanto se encaravam febrilmente, se enxergando um nos olhos azuis um do outro ao mesmo tempo em que em nada se pareciam.
A força do tapa que atingiu o rosto de Anahí fez a mesma cambalear para trás sem controle do corpo até suas costas entrar a madeira fria da porta; a ardência no lado esquerdo de seu rosto provocou algumas lágrimas que escaparam sem permissão de seus olhos pela dor e a humilhação.
Agora Enrique estava tão vermelho que seu corpo todo tremia, Anahi cogitou a ideia de sair do escritório antes que ele a machucasse ainda mais, mas nunca seria mulher o suficiente para Dulce se o fizesse.
- Eu confiei em você. – ele disse baixo, mas com ódio. Sua voz era quase um rosnado, carregado de cólera. – Apostei todas as minhas fichas em você quando Taylor me apunhalou pelas costas, e o que você fez? Se tornou uma lésbica suja! – berrou contra o rosto de Anahí. Ambos tremiam por motivos diferentes, medo e ódio. – Dulce Maria Savinon esse é o nome daquela garota, estou errado?
- Aquela garota é a minha namorada! – Anahi gritou de volta contra o rosto do pai, dessa vez recebendo mais um tapa ainda mais forte no rosto.
Anahí agora tinha o rosto virado para o lado direito, os olhos caídos estavam tomados pelas lágrimas; a dor causada pela mão pesada de Enrique a fez gemer dolorosamente sentindo o gosto de ferro do corte em seu lábio inferior.
- Nunca mais repita isso, Giovanna! – ele esbravejou caminhando até a mesa em passos pesados. Enrique remexeu nas pastas jogando algumas ao chão e rapidamente encontrou alguns papéis que procurava, voltando-se para a filha que continuava imóvel e as jogando em cima de Anahi. Eram fotos de Dulce e Anahi tomando sorvete, de mãos dadas em Juilliard e se beijando dentro do Dodge. Aquelas fotos foram um soco no estômago de Anahi. – O que você tem na cabeça? Ficar com uma garota, Giovanna?! Eu não quero saber do nome da minha família envolvido em mais nenhum escândalo, já me basta minha filha caçula grávida, e agora você me aparece com uma mulher!
Não era para as coisas aconteceram assim. Seria apenas um pedido de empréstimo, sem Enrique descobrir sobre elas, sem briga, sem tapas... Mas, ao que parece, ela estava certa desde o começo, Enrique usara um detetive para espionar a própria filha. E agora ele sentia nojo dela, a olhava com aversão, como se fosse um monstro, uma criminosa, uma criatura abominável.
- Pai... Por favor... Eu... – mas ela não tinha o que dizer, aquelas fotos eram autoexplicativas o suficiente.
Anahí sentiu náuseas, poderia vomitar a qualquer momento pelo medo.
- Não! Eu não vou escutar nada que venha você no momento. Você é quem vai me ouvir. – ele disse controlado. Caminhou até uma garrafa de vinho em cima da mesa e a abriu calmamente enchendo um copo. Quando se voltou para Anahi, parecia tranquilo. E aquilo não era nada bom, ela sabia que ele sempre mantinha a voz controlada quando estava fora de si. – Fernando Savinon está doente, uh? – ele levantou a taça como em um brinde e Anahí arregalou os olhos. – Tenho olhos onde você menos imagina, Giovanna. Você realmente não conhece o próprio pai. – ele bufou e tomou um gole de vinho deixando a mão livre no bolso. Anahí continuou espremida contra a porta, incapaz de mover um único músculo. – Soube que eles não têm dinheiro para o tratamento, estou certo?
Anahí afirmou com a cabeça, a mão esquerda ainda no lábio inferior.
- Talvez eu possa ajudar. – ele continuou. Encostou-se na mesa lançando um olhar sério para a filha, e, quando falou, Anahi soube que sua vida estava prestes a mudar. – E em troca você vai fazer uma coisa por mim.
Voz da razão
A voz do coração diria que Anahi não deveria ter feito àquela viagem. A voz da razão diria que ela é o motivo de tudo.
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27 de Janeiro de 2018. Primeiro ano da faculdade. Pov Dulce Quando minha professora de literatura da oitava série indicou a tragédia Romeu e Julieta como seminário, eu me tranquei no quarto por semanas quebrando a cabeça para encontrar uma forma coerente e simples de especificar uma obra clássica tão conhecida e complexa. Todos ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 74
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Kakimoto Postado em 05/10/2017 - 19:25:00
Emii eu to lendo o começo todoo, na parte fofa, QUANDO ELAS NÃO ESTAVAM MAGOADAS E NADA ACONTECIAA, estou bem happy, porem quando chegar na parte da dor e sofrimento, eu paro de ler KKKKK
Emily Fernandes Postado em 06/10/2017 - 05:29:54
Ai Duda, CV e b+, kkkkk mas mesmo sabendo que a história mexeu com os seus nervos vc vai ler de novo. Cara, queria estar no seu lado só pra ver a sua reação, dentro da sala de aula. Kkkkkkkkk mas eu te entendo, eu chorei horrores com uma história Portinon tbm. Cara é sério pq CTA. Acabou comigo. A Tammy Portinon acabou comigo literalmente kkkkk.E tipo eu tbm estava lendo na sala de aula, tive que mentir até o pq do choro. Mas valeu a pena não é. Bjs
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Kakimoto Postado em 05/10/2017 - 16:07:41
EMILYYYY EU NUNCA SOFRI TANTO EM UMA FANFICCCCCCC, EU ESTAVA LENDO NA AULA, QUANDO A DULCE MORREUUU EU TIVE UM ATAQUE DE ''não pelo amor de deus, nnnnnnn'' MDS, Eu sofri junto com a Dulce, e com a Anahi, ri da doçura do Ethan. MASS ELA MORREEUUUUUU AAAAAA NNNNN MDSS, EU TO MT DEPRESSIVA DPS DISSO. eu te convido para meu velorio, quando eu ja estiver morta por n ter aquentado um tiro desse. Te amo <3
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lika_ Postado em 02/10/2017 - 14:33:24
parabens Emily Fernandes a sua Fanfic foi perfeita o fim me fez segura muito para nao me debulhar em lagrimas
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Kakimoto Postado em 01/10/2017 - 11:52:23
MEUU DEEEUUUSSS AAAAAAAA, eu to no cap 32, em que esta a Dulce, Anahi, Ethan, Santana e Logan na sala de musica AAAAAAAA MEEUU DEEUUSS, EU TO MORRENDOOO
Emily Fernandes Postado em 01/10/2017 - 16:52:46
Bem se vc está estética assim, e pq vc está gostando Dudinha. Ahahaha Mas é agora que as coisas ficam mais intensa. Bjs mi amor te.quero.... Quero ver o seu comentário assim. Que terminar.
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ester_cardoso Postado em 19/09/2017 - 17:46:27
Obrigada sério mesmo, não tem como não te agradecer por nos proporcionar mais uma história maravilhosa dessas. Cara chorei muito tanto com o fim da fanfic, tanto com suas palavras. Vc não sabe o quão importante isso foi pra mim, sentir isso é realmente forte e saber q tem mais pessoas que compartilham desse sentimento nos dá força. Bebê vc é inspiradora, além de ser uma das pessoas mais perfeitas q conheço. Essa fic foi realmente muito lindaaa, me surpreendi muito. Claro q as vezes dava vontade de jogar o cell na parede, mas o amor q encontrei aqui é muito maior q eu imaginava. O final acabou comigo obviamente, mas essa é uma daquelas histórias q marcam, aquelas q guardamos no coração. Assim como guardamos pessoinhas especiais como vc, saiba q sempre q quiser estarei aqui, mesmo não nos conhecendo muito me importo com vc e importante é que estejamos sempre felizes. Beijos bebê <3 <3 Amo vc
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siempreportinon Postado em 17/09/2017 - 14:18:42
Simplesmente maravilhosa!!! Chorei bastante no decorrer da história, me tocou profundamente. Sem dúvida se tornou um dos meus xodós. Parabéns pela história, obrigada por nos presentear com belíssimas fics, espero que escreva muitas outras Portinon, acompanharei sempre!!!
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Gabiih Postado em 17/09/2017 - 12:57:06
PS apesar de não te conhecer pessoalmente, eu estou orgulhosa de você, continue assim você é uma linda,é muito especial vou sentir saudades da história, parabéns por mais uma fic finalizada anjo bjs
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Gabiih Postado em 17/09/2017 - 12:55:19
Meu Deus do Céu, eu meu Deus que história linda eu chorei demais lendo esses últimos capítulos,os votos de casamento delas foi a coisa mais linda do mundo,as lembranças os flash back né tudo, Deus Meu eu me sinto tao feliz apesar de tudo, porque tive um privilegio de conhecer essa história você nos deu as honra, de nos apresentar a ela e isso foi maravilhoso, eu queria ter dito tantas coisas sobre a história mas não dá não consigo porque enquanto escrevo cada palavra aqui, é uma lagrima a mais, foi uma linda história um amor tão lindo e magico foi maravilhosa Emy não consigo escrever mais chega rs. só mais uma coisa obrigada.
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Kakimoto Postado em 16/09/2017 - 13:32:12
Mdss, to acomulando mt, eu só vejo os comentarios falando que choraram mt e que eh mt emocionante, e eu já to gritandoo, mdsss, ME DA SPOILER EMII PFFF AAAA. ti amu
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laine Postado em 15/09/2017 - 14:36:10
Parabéns, estou sem palavras realmente foi muito lindo