Fanfics Brasil - Capítulo 28 O laço vermelho (adaptada AyD) Finalizada

Fanfic: O laço vermelho (adaptada AyD) Finalizada | Tema: Portinon


Capítulo: Capítulo 28

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28 de Janeiro de 2018 - Primeiro ano da faculdade.



Dois dias antes.



O Campus de Columbia parecia mais frio do que de costume naquela quinta-feira embora a temperatura marcasse 39° Fahrenheit. O corredor estava deserto, os alunos se encontravam em uma festa de comemoração no dormitório 32 devido à vitória do Giants em cima do Patriots horas antes, porém o silêncio e a escuridão engoliam o dormitório 78 tornando-o sombrio às 03h40 da madrugada, onde a luz do luar invadia parte da janela aberta criando sombras magnificas nas paredes azul claro.



Dentre as roupas jogadas no chão, sapatos espalhados, e pedaços de um coração partido, encontrava-se  Anahi Portilla, a loira dos olhos azuis que há poucas horas atrás tinha entregado seu bem mais precioso de volta ao mundo. Seu corpo sabia o quanto Anahi estava sofrendo, fazendo questão de entrar em estado de letárgico, como se houvessem lhe aplicado várias doses de morfina para que o sangramento em seu coração se dissipasse.



Agora, sentada no chão com as costas apoiada no beliche, Anahi observava as sombras na parede oposta como se fossem seus próprios demônios rindo de sua queda emocional, ela poderia até mesmo escutar as risadas animalescas se fechasse os olhos. O violão preto esquecido em seus braços era um suporte no momento, seus dedos dedilhavam as cordas sem ter realmente o que tocar, porque apesar de seus olhos estarem focados nos demônios da parede, sua mente divagava de volta ao terraço onde deixara os restos de uma lembrança perfeita.



- Sete filhos, Anahi? Você ficou louca? – perguntou a mais nova com expressão assustada. – Vamos começar apenas com Ethan. Ou Sarah, caso seja uma menina.



- Ok. Ok. Você é quem manda. – revirou os olhos. – Enfim, vamos ter Ethan ou Sarah correndo para cima e para baixo, eu vou chegar do trabalho e ver minha linda esposa praticando em seu piano, vou beijá-la com toda a saudade que senti o dia todo enquanto estava  no escritório. Depois do jantar vou me sentar com Ethan, ou Sarah – Dulce riu e Anahí continuou. – na varanda e lhe ensinar a tocar violão, ou ouvir você lendo seus poemas. O que acha? Ah, é claro, um domingo podemos visitar seus pais e no outro os meus. E nos dias em que você precisar trabalhar fora, vamos precisar de uma babá, mas acho que Emma vai adorar cuidar do nosso filho.



- Promete que vamos fazer isso um dia?



- Nós vamos lutar por isso. – respondeu quando Dulce enfiou o rosto na curva de seu pescoço. – Nós vamos lutar juntas, pequena.



Mais lágrimas deslizaram por sua pele pálida, ela não as enxugou dessa vez, não havia mais necessidade disso, não quando elas não iriam parar tão cedo, talvez nunca, mal sabia como suas glândulas lacrimais ainda produziam tantas delas após horas intensas de choro. Anahí olhou o relógio na parede constatando que Emma ainda estaria com Dulce na casa dos Savinon com todos a odiando, seu coração apertou ao imaginar blan com raiva dela. É claro que a culpa não seria da mulher, ela não sabia que Anahí tinha sido obrigada a escolher entre os sentimentos que desenvolvera por Dulce ou o futuro da garota, e como ela sempre deixou claro, a felicidade verdadeira de Dulce sempre seria sua prioridade, essa felicidade que estava nos pequenos momentos com a família e na música.



Anahí rolou os olhos até o CD jogado no chão do Johnny Cash que tinha emprestado uma vez a Dulce, ela automaticamente pensou na história de Johnny e June, e sentiu vontade de rir da ironia que sua vida se tornara quando imaginou que seu fim seria como o de seu ídolo, viver os últimos anos ao lado da mulher que ama. Ainda com os olhos fixos no CD, Anahi dedilhou a devastadora versão de Hurt que Johnny regravara; uma de suas músicas preferidas e, ironicamente, a que descrevia seu momento ao pé da letra.



- I hurt myself today  – fez uma pausa e contemplou outra vez o silêncio deixando-se abraçar pela dor. Respirou fundo fechando os olhos quando voltou a cantar com a voz rouca e baixa. - To see if I still feel. – fez outra pausa, era como se cada respiração machucasse seu peito. - I focus on the pain, the only thing that's real... – o celular ao lado anunciava uma caixa de mensagens lotada com ligações perdidas de Maitê e Zoe. Sua voz falhou antes de continuar. - What have I become, my sweetest friend? Everyone I know goes away in the end...



Algo chamou sua atenção quando passou pela sala 208. Anahí parou no portal e tentou ao máximo não ser vista. Observou atentamente o que parecia ser uma pequena orquestra, havia uma fileira de estudantes com violoncelo e violinos no fundo da sala e de frente para eles uma garota com um laço vermelho tocava piano delicadamente. As coisas simplesmente aconteceram. Por algum motivo, os olhos de Anahí se prenderam nos movimentos suaves da garota ao dedilhar o piano; ela tinha cabelo castanho escuro até a cintura e a delicadeza de uma princesa dos contos de fadas que sua mãe costumava ler antes de dormir quando pequena. Seus movimentos eram tão concentrados, que Anahí desejou que ela se virasse a qualquer instante para contemplá-la ainda mais.



As lembranças queimavam por toda a parte agora. Seus dias de glória ao lado da princesa mais bela que o mundo tem sorte de abrigar, a forma como Dulce se embrulhava em seus braços como um bebê manhoso, a maneira intensa como ela a olhava como se pudesse enxergar seu coração, sua alma e tomar tudo para si. Anahí sabia, sim, ela sabia que não importaria o tempo que passasse desde dia em diante, Dulce sempre estaria lá, habitando a melhor parte dela.



- And you could have it all, my empire of dirt. I will let you down, I will make you hurt. – cantou controlando-se para não entrar em desespero, suas mãos tremendo tanto que chegava a errar várias notas. - I wear this crown of thorns, Upon my liar's chair. Full of broken thoughts I cannot repair. – ela não aguentava mais, sua voz mal saía agora que seu rosto estava banhado em lágrimas outra vez, sua respiração ofegava como se algo bloqueasse seu pulmão. - What have I become, my... – tentou, mas engasgou na frase e desabou a chorar, mal se importando com sua voz elevada, ela só queria que aquela dor passasse de uma vez, que Dulce  irrompesse aquela porta e a abraçasse dizendo que tudo ficaria bem, que elas estariam bem, mesmo que fosse errado e egoísta desejar tanto que acontecesse.



Sua mente se tornou nebulosa e de repente a raiva contida em seu peito explodiu. A imagem de Enrique tranquilo lhe dizendo o que fazer naquele escritório ativou toda a sua fúria e os demônios na parede finalmente se calaram diante os olhos avermelhados de Anahi. Sem pensar no que estava fazendo, levantou-se com o violão na mão direita e analisou mais uma vez o quarto escuro repassando em sua mente os momentos que passara com Dulce ali, amando-a como sua mulher.



- Inferno! – gritou alto e num ato impensado, agarrou o braço do violão com força o batendo contra a parede que abrigava as sombras de seus demônios.



O violão se transformou em pedaços quando Anahí o largou. Enrique tinha destruído tudo e ela se odiava por ser filha de quem era; por ser tão submissa, odiava o dinheiro sujo que tinha, odiava sua mãe por não ter coragem de ajudá-la, odiava qualquer coisa no momento. A porta foi aberta e uma Emma com expressão cansada passou por ela, ficando chocada ao ver o que restou do violão no chão. Ela olhou para Anahi que se mantinha encolhida, as mãos cobrindo o rosto e os soluços altos do choro que podiam ser ouvidos lá de fora.



- Anahi – respirou aproximando-se hesitante da amiga. – Anahi? – chamou mais uma vez e segurou o braço direito da amiga que se virou no mesmo instante para enfrentá-la. – Anahí!



Permitiu-se chorar ao ver o rosto inchado de Anahi. Seu olhar angustiado, triste, pedindo para ser acolhida. O lábio inferior tremia e sua respiração era deficiente. E quando ela falou, sua voz saiu num sussurro sôfrego:



- Eu a quebrei, Emma. Eu quebrei tudo de bom que existia nela...



Emma puxou a amiga pelos braços a envolvendo em um abraço apertado, deixando que Anahí agarrasse sua blusa como se dependesse disso para viver. Anahí enterrou o rosto no ombro da amiga soluçando como uma criancinha pequena que acabara de perder a mãe. Era doloroso assistir Anahi desmoronar em seus braços.



- Shhh, não é sua culpa, Anahi. Não é culpa sua e muito menos de Dulce. – afagou os cabelos caramelos, seu coração rompendo pela segunda vez na noite. – Se quer mesmo saber, você foi a pessoa mais corajosa que eu já conheci. Não é como se qualquer pessoa fosse abdicar dos próprios sentimentos pela felicidade de outra pessoa. Isso só prova que você a ama verdadeiramente, e você sabe muito bem que eu nem mesmo acreditava nesse tipo de amor até isso acontecer. – suspirou com a veracidade de suas palavras. Anahí foi se acalmando em seu ombro, mas ainda tremia como se estivesse congelando de frio apesar da temperatura estar alta. – Eu acho que nem mesmo você acreditava, não é? Eu tenho tanto orgulho de você, Anahi. Eu sei que minhas palavras não vão ajudar em nada, mas eu só queria que você soubesse disso, que você e Dulce foram a coisa mais certa que aconteceu desde essa porcaria de mundo foi criado.



Emma tentou aliviar a tensão, mas repreendeu-se internamente por isso. Anahí remexeu-se incomodada separando-se do abraço, seu rosto estava molhado apesar das lágrimas terem cessado.



Elas se olharam por um bom tempo antes de Anahí perguntar:



- Como... Como ela estava?



- Anahi, eu não acho que...



- Por favor, eu preciso saber. Por favor?



Emma continuou observando sua expressão digna de pena, por mais que odiasse sentir isso da amiga, não podia evitar naquele fatídico momento. Por mais que Dulce estivesse devastada, a que mais sofria com toda a situação seria sempre Anahi por carregar o fardo da pressão que sofreu ao tomar uma decisão que mudaria a vida não só dela, mas de Dulce também.



- Venha aqui. – conduziu Anahí até o beliche e sentaram-se sem desgrudar os olhos uma da outra. Anahí ansiava pela resposta, por mais que soubesse que a deixaria ainda pior. Emma suspirou derrotada. – Ela desmaiou depois que você saiu. – sentiu Anahi enrijecer-se em seus braços e pensou em não continuar. – Eu acho melhor não...



Anahí balançou a cabeça e deitou-se com a cabeça em seu travesseiro.



- Apenas continue.



- Ok... Eu consegui arrastá-la até a sala ainda desacordada, mas Rachel chegou pouco depois, eu expliquei a situação a ela que me ajudou a levar Dulce em seu carro. Ela começou a acordar ainda no caminho, mas parecia drogada ou algo assim. –  Emma enroscou seus dedos no cabelo de  num carinho terno vendo os olhos exaustos de Anahí pesarem. – Nós a levamos para casa e, como você informou mais cedo, Fernando já nos esperava na varanda, ele ficou muito assustado, porém. – fez uma careta ao lembrar-se dos olhos assustados de Fernando. – Blanca correu em desespero até nós perguntando o que tinha acontecido com a filha, e eu mais uma vez tive que explicar, dessa vez com um pouco de cuidado sobre alguns detalhes. Rachel foi embora e Fernando me ajudou a levar Dulce para o quarto, Blanca não parava de chorar e, bem... Xingar você. – Anahí  enterrou a cabeça no travesseiro imaginando a cena, isso doeu mais do que deveria. – Nós demos água a ela, e quando Dulce  finalmente voltou ao mundo real, começou a perguntar por você, tentou diversas vezes pegar o celular e ligar para você, mas eu avisei que esse número já não existia mais. Foi quando ela desabou a chorar na cama. Merda, anahi, eu me vi tão perdida naquele momento. Ela não parava de se culpar dizendo que não deveria ter pressionado você, isso me quebrou, e eu sei que quebrou Fernando por ele também saber a verdade tanto como eu. – Emma  deitou-se de frente para Anahi a cobrindo com o edredom. – Nós demos um calmante a ela, e minutos depois ela parou de chorar até dormir. Então eu vim embora.



Anahí ficou em silêncio deixando as palavras fluírem em sua mente. O cansaço que a dominava no momento não estava ajudando em nada seu raciocínio lógico.



- Emma? – ela chamou perdida em pensamentos.



- Sim?



- Está doendo tanto.



Emma franziu o cenho sentindo a dor da amiga. Faria qualquer coisa para mudar o que estava acontecendo com suas amigas, por mais que fossem duas garotas irritantes, elas eram irritantes juntas e isso as tornava adoráveis, mesmo que nunca fosse dizer isso em voz alta.



- Eu sei, Anahi. Não vou dizer que logo vai passar porque estaria blefando, então eu só posso dizer que vou estar aqui por você sempre.



- Eu sei – murmurou, os olhos se fechando aos poucos. – Diga a Dulce que eu a amo. – nesse momento Emma soube que Anahi estava delirando. – Cuide bem do meu anjo, Emma...



*****

****

***



Fernando saltou assustado da cama ao ouvir gritos histéricos vindos do quarto ao lado. Blanca, que dormia ao seu lado, despertou em seguida reconhecendo serem os gritos de Dulce ecoando pela casa. Eles se entreolharam e Blanca escondeu o rosto entre as mãos começando a chorar pela terceira vez no dia, deixando a tarefa de verificar a filha nas mãos do homem. Ela estava preocupada com Dulce, ela não dormir lá direito e mal comia as refeições, aquela não era sua filhinha cheia de esperança e sonhos.



Aquela era Dulce sem Anahí.



Fernando levantou-se vestindo um robe azul marinho e caminhou em direção ao quarto Dulce enquanto Blanca  se prepara emocionalmente para ficar com Claudia caso a pequena tivesse despertado. O homem caminhou pelo corredor até a porta do quarto da mais velha que tinha sido deixada aberta para casos extremos, e ele não pode deixar de correr até a cama da filha quando a viu agarrando ao edredom com força e chorando como se algo a machucasse no pesadelo que estava tendo pela terceira vez na noite.



- Dulce! Acorde, por favor. – ele a chamou sacudindo seu ombro com delicadeza, controlando as próprias lágrimas para ser forte pela filha. – Dulce!



Ela pulou na cama agarrando o pulso do pai em reflexo. O peito subindo e descendo com rapidez, os olhos arregalados e o rosto totalmente inchado. Dulce olhou Fernando no fundo dos olhos e quando o reconheceu, suspirou aliviada.



- Eu... Desculpe... Eu sonhei que... Anahí... – observou atentamente as expressões do pai caírem quando o homem abaixou a cabeça, então se deu conta de que não era apenas um sonho. – Ela me deixou...? Papai? Por favor, me diz que eu estava sonhando e eu-



- Dulce. – ele intercedeu sentando-se na cama com as costas apoiada na cabeceira e puxando a filha para deitasse em seu peito. – Me desculpe... Não foi um sonho. – estremeceu quando a filha recomeçou a chorar intensamente. – Me desculpe... – segurou novamente a vontade de dizer a verdade, ele preferia estar odiando Anahi agora a guardar um segredo que destruía as duas garotas. – Você precisa ser forte agora, filha. Não por nós, mas por você. Tem pessoas de olho em você em Juilliard e isso pode construir seu futuro. Não estou dizendo que o que Anahi fez foi o certo. – sim, foi por Dulce! – Mas você precisa se focar no que ela te deu, em seu pedido para que você se tornasse uma grande musicista. Eu... Vou estar vivo, e ver você tocar com sua própria orquestra... E eu vou ter orgulho de dizer que aquela estrela é a minha filha.



Dulce continuava a chorar repetindo palavras desconexas como não e traga ela de volta. Então Fernando fechou os olhos controlando-se ao máximo para não soltar a língua, mas decidiu que ele precisava mostrar a ela agora mesmo antes que a cicatriz começasse a se fechar.



Com cuidado, o homem virou o corpo até a mesinha do abajur e tirou o envelope que tinha deixado na gaveta mais cedo caso esse momento chegasse. Dulce não percebeu, pois continuava com o rosto enterrado no peito do pai com as lágrimas a atormentando seu pesadelo vivido. Fernando rasgou o envelope com a mão livre enquanto a outra afagava o cabelo da filha, e desdobrou o papel pedindo forças a Deus antes de começar a ler.



"Pequena, espero do fundo do meu coração que um dia você ler essas minhas palavras e que, quando as ler, já tenha me perdoado. Gostaria que você tivesse algo para se lembrar de mim, algo vivo. Algo que a fizesse se lembrar de que eu, um dia, fui real, tanto que minhas mãos escreveram essas palavras e as minhas lágrimas molharam esse papel, assim como você foi tão real e especial para mim. – Dulce ergueu a cabeça com as palavras do pai e viu o pedaço de papel que ele segurava em mãos, seu coração automaticamente deu um salto cessando as lágrimas momentaneamente, estava hipnotizada com o momento. - Perdão por todas as vezes em que eu te deixei triste ou te fiz chorar, porque tudo o que menos queria no mundo era ver você chorar, mas, inexplicavelmente, são as pessoas que mais amamos que mais magoamos durante nossa vida. Lembra quando assistimos o filme "Ps: Eu te amo."? Existe uma frase naquele filme que faz muito sentido para mim agora: "Você foi a minha vida, mas eu fui apenas um capitulo da sua." Queria não precisar de palavras para que você pudesse me compreender, mas essa foi à única maneira no momento que encontrei. Poucas coisas se mortabilizam perante o tempo, poucas, porque nem sempre conseguimos despertar da alma humana emoções tão raras. Por favor, não chore. Cada minuto que passei com você foi mais do que poderia agradecer em apenas uma vida. Me perdoe também por termos tido tão pouco tempo juntas, não consigo me lembrar de um momento que tenha sido feliz em que você não esteja. Jamais pensei que encontraria alguém como você, Dulce. Alguém que fizesse meu coração quase saltar de felicidade; tem noção do quanto eu amo você? Uma vez, uma pessoa muito sábia me disse que as histórias nunca terminam até que tenham um final feliz, talvez ela tivesse razão. Talvez essa história ainda não tenha terminado. Não esqueça o amor que tivemos. Eu não acredito que nós possamos amar apenas uma pessoa na vida... Não, você vai amar outras pessoas. Talvez mais, talvez menos, talvez de outra maneira. Mas você ainda vai amar muito. Apenas peço que esse amor que tivemos não seja esquecido, porque eu não vou esquecer. Onde quer que eu esteja sem você será vazio, e o que vai me fazer sentir em casa será pensar no aconchego dos seus braços, no seu toque, e nas palavras doces que saiam de seus lábios que tantas vezes beijei. Por isso, deixo nesta carta a verdade e a certeza. A verdade que ainda te amo. A certeza de que nunca vou te esquecer."



Fernando terminou de ler a carta boquiaberto. Ele sempre soube que Anahi era apaixonada por Dulce e isso só se provou ainda mais com as ações da garota, mas aquelas palavras... Aquilo era tão puro. Tão sentimental, tão lindo e ao mesmo tempo tão trágico que ele pode sentir tudo em si mesmo. Dulce, no entanto, encarava o vazio. As palavras de Anahi surtindo efeito em todo o seu organismo, e, de repente, ela precisou correr ao banheiro e vomitou quando seu estômago não foi capaz de lidar com a dor rasgando seu interior. Ela não entendia o que porque de Anahi ser tão covarde se aquelas palavras mostravam o quanto seu amor era correspondido.



Ela simplesmente não entendia.



*****

****

***



30 de Janeiro de 2018. – Primeiro ano da faculdade.



O avião decolou deixando tudo e a todos para trás quando ganhou o céu de New York, Anahi lançou um último olhar ao aeroporto a tempo de ver Taylor e Emma acenando pela janela da sala de espera e retribuiu contra a vontade. Quando o avião já estava a uma altura considerável, recostou-se ao banco e colocou os fones de ouvido ignorando a voz do homem ao seu lado que falava sem parar com o passageiro do banco ao lado. Tombou a cabeça de lado e deixou-se observar os prédios, casas e o trânsito do alto, agradecendo internamente por estar deixando a cidade dos sonhos para trás, ao mesmo tempo em que se sentia desprender-se de Dulce a medida que o avião ganhava as nuvens.  Era quase como deixá-la em seu passado, e esse pensamento a acertou em cheio no peito. Sua mente às vezes a enganava confortando seu coração, dizendo a si mesma que voltaria a ver Dulce um dia, mesmo que estivesse consciente de que não voltaria, de que Dulce seria apenas sua lembrança.



Elas nunca mais se veriam.



Sua vida em New York teve um belo início e um trágico fim.



Construiria sua própria vida na França agora. Ela fizera um acordo com Enrique ainda em Miami, ele bancaria Sorbonne, uma das melhores faculdades de Paris, até que Anahí encontrasse um emprego e pudesse se sustentar. Assim o contato entre os dois deixaria de existir, Anahi também deixou bem claro para Marichelo que não queria vê-la nunca mais, não quando a mulher falhara em seu papel de mãe.



Maitê e Zoe a tinham visitado um dia antes no dormitório em Columbia. Não poderia ser chamada de visita amigável uma vez que a Maitê estava com a fúria estampada nos olhos quando desferiu um forte tapa no rosto de Anahí. Emma gritou com Maitê e a empurrou para longe dizendo que ela não sabia o que estava fazendo, mas a Anahi não a culpava, ela não sabia da verdade e, mesmo que soubesse, o que anahi tinha feito ainda era horrível.



Levou duas horas para serem explicadas as verdades e no fim da tarde, Maitê era apenas mais uma chorando abraçada a Anahí enquanto se desculpava pelo tapa de mais cedo. Ela prometeu que não contaria a verdade, por mais achasse um erro esconder algo daquela proporção de Dulce, e foi embora se despedindo de sua amiga com um longo abraço cheio de significados. Zoe também a confortou dizendo que sempre estariam lá esperando por ela, e Anahí reforçou que não voltaria, mas que sempre estaria agradecida por tudo o que fizeram por ela.



E Dulce... Bem, Anahí a viu uma última vez. Ela estava no Central Park com Claudia e Anahi no café da frente comprando algumas torradas. Foi pura coincidência do destino, mas mais nova não a viu; Anahí escondeu-se atrás de uma árvore na calçada e deixou-se torturar pela imagem de sua ex-namorada, e isso agora soava tão horrível que seu estômago chegava a embrulhar, sentada no banco de cimento sem nenhum sorriso no rosto enquanto assistia Cláudia brincar com algumas crianças. Ela estava com os pés apoiados no banco e abraçava os joelhos como se criasse uma barreira protetora. Tão frágil e tão pequena...



Anahí se conteve na vontade de correr e abraçá-la, foi à última vez em que a viu.



E ela estava linda.



*****

****

***



Cinco meses depois.



02 de Junho de 2018. – Primeiro ano da faculdade.



Cinco meses haviam se passado desde que Anahi deixara sua vida em New York para trás. Foram cinco meses atormentados por pesadelos, lágrimas desperdiçadas, olhares curiosos, ataques de pânico em Juilliard e o inicio do que seu médico chamava de depressão pós-partida. Isso tudo se devia ao fato de que Dulce sempre fora uma pessoa emocional, quando ela se entregava de coração, era de verdade, e a primeira vez que se jogou de cabeça teve tudo em si arrancado. Cinco meses depois e suas amigas e família estavam proibidos de tocar no nome dela. Cinco meses depois e o tratamento de Fernando tinha ocorrido como um milagre. Cinco meses depois e sua mente não conhecia outra coisa a não ser a música.



Dulce tinha se trancado outra vez em seu casulo particular onde pessoas como Maitê, Zoe e Emma entravam apenas como permissão. Cinco meses depois e Taylor Portilla tinha se tornado uma de suas melhores amigas quando viajou para ter certeza de que Dulce estava bem. Seu bebê, Adam, estava prestes a nascer e era uma alegria na vida de Dulce, ela fora convidada para ser a madrinha do bebê, o que renovou um pedaço do coração de Dulce.



As primeiras semanas foram impossíveis de suportar.



Faltou da faculdade, passou vários dias trancada no quarto aos prantos e expulsando qualquer um que tentasse entrar para ajuda-la. Cláudia sofria sem entender o que estava acontecendo com a irmã mais velha, mas tinha uma pequena noção quando Anahi não apareceu mais em sua casa.



E Dulce já não sorria mais, e ela apenas sorria verdadeiramente com Anahi.



No segundo mês a garota voltou à faculdade, mas ela já não tocava mais piano. Não estava pronta. Então se apegou apenas ao violino como uma promessa muda de esquecimento à sua dor; ignorou todos os olhares curiosos nos corredores e gritou com as pessoas que perguntavam sobre Anahi, mesmo que inocentemente. Ficava sozinha pelos cantos rabiscando suas partituras e enfiou-se de cabeça nos ensaios exaustivos; pediu aulas extras aos professores e mantinha-se isolada do resto do mundo na sala de ensaios. Os pesadelos ainda a assombravam, e manter sua mente ocupada era a única forma de não pensar nela. Maite e Zoe zelavam pela amiga de longe, tentavam aproximação, mas eram afastadas por trazerem as malditas lembranças.



No terceiro mês, Taylor fez uma visita em sua casa. Foi a primeira pessoa com quem ela finalmente conversou sobre Anahi. Conversaram por horas seguidas com direitos a abraços apertados e choros de desabafo, e pela primeira vez desde o acontecido, dulce sentiu algo bom dentro de si ao ver a barriga da Portilla mais nova. Taylor contou que vivia muito bem com Dave em um pequeno apartamento, e que agora trabalhava numa biblioteca todos os dias depois da escola.



Depois desse dia, Dulce deixou Maitê e Zoe se aproximarem e percebeu a falta que elas faziam em sua vida.



No quarto mês houve uma apresentação de encerramento do ano letivo e Dulce fora selecionada para ser a violonista principal. A apresentação foi um sucesso no Central Park, e também foi a primeira vez que viu Emma depois de tanto tempo. Elas se abraçaram e Dulce agradeceu pelo apoio no dia em que tudo aconteceu. O contato entre amigas foi retomado e elas voltaram a sair todas juntas, sem nunca mencionar o nome de Anahí. Por mais que a falta da loira ainda a sufocasse todos os dias, Dulce sentia-se bem em voltar à rotina.



Durante esse mês, o sobrenome Portilla já não machucava mais.



No quinto mês, os pesadelos começaram a voltar. Algo como a ficha finalmente caindo ou algo assim. Era a sua barganha. Agora, porém, ela podia desabafar com as amigas que estavam sempre ao seu redor e chorar nos braços de Taylor que sempre a visitava. Dulce não gostava de importunar seus pais com o assunto, por mais que eles ouvissem os choros durante a noite e vissem o olhar sem brilho no rosto da filha.



Ela já não sorria mais como antes. Não sonhava como antes. Não amava como antes.



Fechou-se inteiramente a contatos românticos e dedicou-se totalmente ao seu único amor que restara.



Talvez fosse esse o motivo de estar sentada agora na mesa da Reitora com vários professores em volta e um homem branquelo com um segurança ao lado que tinha um olhar penetrante em sua direção.



- Muito bem, Dulce – começou a Reitora formalmente. Dulce sentia-se incomodada com tantos olhos vidrados em si. – Todo final de ano nós selecionamos os melhores músicos, independente do semestre, para uma orquestra de encerramento. Você, como pode ter notado, foi a única caloura selecionada depois de 29 anos nessa instituição, não porque os outros não sejam bons, eles são, mas porque você tem o que chamamos de o milagre da música. – fez uma pausa e trocou olhares com o homem estranho. – Esse é Uto Ughi, um dos melhores violinistas da Itália e que está nos Estados Unidos em turnê; ele precisava de alguns músicos para sua orquestra e eu tomei a liberdade de convidá-lo para a nossa apresentação.



O queixo de Dulce caiu alguns centímetros ao deixar seus olhos repousarem no homem de cabelo tingido que aparentava ter seus setenta anos.



Ele sorriu gentilmente e começou a falar.



- Algumas pessoas nascem com a grande paixão pela música e passam parte da vida lutando por isso. Nós não medimos apenas o talento, muitas dessas pessoas conseguem uma vaga em Juilliard pela paixão, determinação e por desenvolverem esse talento com o tempo. – ele se aproximou cuidadosamente dela, o sotaque arrastado dava ao homem todo um charme europeu. – Outras pessoas apenas nascem com esse dom, Srta. Savinon, assim como você. Você é um milagre. Quando você tocou há dois dias, eu pude sentir toda uma tristeza e melancolia que apenas músicos apaixonados possuem; ao mesmo tempo em que traz a paz que o mundo precisa entre seus acordes; confesso que cheguei a acreditar que a Srta. estivesse mesmo sofrendo por amor, tocando para quem quer que seja que a tenha machucado.



O coração adormecido de Dulce deu um rugido e saltou no peito, um sentimento que não sentia há tanto tempo. Uto estava certo em dizer que ela estava sofrendo.



- Eu... Eu agradeço pelo elogio, mas... Eu não entendo...



- Dulce. – Uto a chamou pacientemente pelo primeiro nome e ela quase desmaiou. – Como a Reitora disse, eu estou à procura de músicos e não posso perder a oportunidade de tê-la comigo nessa turnê. Você terá seu pagamento, é claro. Se você aceitar, terá todas as despesas pagas por mim até o retorno das aulas.



Todos olharam com expectativa para a garota que tremia dos pés a cabeça. O sentimento inexplicável que ela costumava a sentir com certa pessoa sendo revivido agora por seu sonho.



- E então, Dulce? – a Reitora perguntou, provavelmente preocupada com a falta de fala da garota. – Você aceita?



Tudo pareceu acontecer em câmera lenta em sua cabeça. Tudo ficou silencioso demais ao seu redor, o único som perceptível era o de seu coração batendo desesperadamente. Dulce fechou os olhos lembrando-se das palavras de Anahí pedindo para que ela seguisse seu sonho. Lembrou-se do orgulho de seu pai. As imagens de quando era criança passou por sua cabeça, seu primeiro violino, seu primeiro piano, seu primeiro concurso...



- Eu aceito.



Nota do destino



Ele é tão incerto quanto certas decisões.




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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 74



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  • Kakimoto Postado em 05/10/2017 - 19:25:00

    Emii eu to lendo o começo todoo, na parte fofa, QUANDO ELAS NÃO ESTAVAM MAGOADAS E NADA ACONTECIAA, estou bem happy, porem quando chegar na parte da dor e sofrimento, eu paro de ler KKKKK

    • Emily Fernandes Postado em 06/10/2017 - 05:29:54

      Ai Duda, CV e b+, kkkkk mas mesmo sabendo que a história mexeu com os seus nervos vc vai ler de novo. Cara, queria estar no seu lado só pra ver a sua reação, dentro da sala de aula. Kkkkkkkkk mas eu te entendo, eu chorei horrores com uma história Portinon tbm. Cara é sério pq CTA. Acabou comigo. A Tammy Portinon acabou comigo literalmente kkkkk.E tipo eu tbm estava lendo na sala de aula, tive que mentir até o pq do choro. Mas valeu a pena não é. Bjs

  • Kakimoto Postado em 05/10/2017 - 16:07:41

    EMILYYYY EU NUNCA SOFRI TANTO EM UMA FANFICCCCCCC, EU ESTAVA LENDO NA AULA, QUANDO A DULCE MORREUUU EU TIVE UM ATAQUE DE ''não pelo amor de deus, nnnnnnn'' MDS, Eu sofri junto com a Dulce, e com a Anahi, ri da doçura do Ethan. MASS ELA MORREEUUUUUU AAAAAA NNNNN MDSS, EU TO MT DEPRESSIVA DPS DISSO. eu te convido para meu velorio, quando eu ja estiver morta por n ter aquentado um tiro desse. Te amo <3

  • lika_ Postado em 02/10/2017 - 14:33:24

    parabens Emily Fernandes a sua Fanfic foi perfeita o fim me fez segura muito para nao me debulhar em lagrimas

  • Kakimoto Postado em 01/10/2017 - 11:52:23

    MEUU DEEEUUUSSS AAAAAAAA, eu to no cap 32, em que esta a Dulce, Anahi, Ethan, Santana e Logan na sala de musica AAAAAAAA MEEUU DEEUUSS, EU TO MORRENDOOO

    • Emily Fernandes Postado em 01/10/2017 - 16:52:46

      Bem se vc está estética assim, e pq vc está gostando Dudinha. Ahahaha Mas é agora que as coisas ficam mais intensa. Bjs mi amor te.quero.... Quero ver o seu comentário assim. Que terminar.

  • ester_cardoso Postado em 19/09/2017 - 17:46:27

    Obrigada sério mesmo, não tem como não te agradecer por nos proporcionar mais uma história maravilhosa dessas. Cara chorei muito tanto com o fim da fanfic, tanto com suas palavras. Vc não sabe o quão importante isso foi pra mim, sentir isso é realmente forte e saber q tem mais pessoas que compartilham desse sentimento nos dá força. Bebê vc é inspiradora, além de ser uma das pessoas mais perfeitas q conheço. Essa fic foi realmente muito lindaaa, me surpreendi muito. Claro q as vezes dava vontade de jogar o cell na parede, mas o amor q encontrei aqui é muito maior q eu imaginava. O final acabou comigo obviamente, mas essa é uma daquelas histórias q marcam, aquelas q guardamos no coração. Assim como guardamos pessoinhas especiais como vc, saiba q sempre q quiser estarei aqui, mesmo não nos conhecendo muito me importo com vc e importante é que estejamos sempre felizes. Beijos bebê <3 <3 Amo vc

  • siempreportinon Postado em 17/09/2017 - 14:18:42

    Simplesmente maravilhosa!!! Chorei bastante no decorrer da história, me tocou profundamente. Sem dúvida se tornou um dos meus xodós. Parabéns pela história, obrigada por nos presentear com belíssimas fics, espero que escreva muitas outras Portinon, acompanharei sempre!!!

  • Gabiih Postado em 17/09/2017 - 12:57:06

    PS apesar de não te conhecer pessoalmente, eu estou orgulhosa de você, continue assim você é uma linda,é muito especial vou sentir saudades da história, parabéns por mais uma fic finalizada anjo bjs

  • Gabiih Postado em 17/09/2017 - 12:55:19

    Meu Deus do Céu, eu meu Deus que história linda eu chorei demais lendo esses últimos capítulos,os votos de casamento delas foi a coisa mais linda do mundo,as lembranças os flash back né tudo, Deus Meu eu me sinto tao feliz apesar de tudo, porque tive um privilegio de conhecer essa história você nos deu as honra, de nos apresentar a ela e isso foi maravilhoso, eu queria ter dito tantas coisas sobre a história mas não dá não consigo porque enquanto escrevo cada palavra aqui, é uma lagrima a mais, foi uma linda história um amor tão lindo e magico foi maravilhosa Emy não consigo escrever mais chega rs. só mais uma coisa obrigada.

  • Kakimoto Postado em 16/09/2017 - 13:32:12

    Mdss, to acomulando mt, eu só vejo os comentarios falando que choraram mt e que eh mt emocionante, e eu já to gritandoo, mdsss, ME DA SPOILER EMII PFFF AAAA. ti amu

  • laine Postado em 15/09/2017 - 14:36:10

    Parabéns, estou sem palavras realmente foi muito lindo


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