Fanfics Brasil - Capitulo 7 O laço vermelho (adaptada AyD) Finalizada

Fanfic: O laço vermelho (adaptada AyD) Finalizada | Tema: Portinon


Capítulo: Capitulo 7

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Dulce estava concentrada em seu velho livro à beira da janela de Juilliard enquanto Maitê praticava algumas notas no piano, e resmungava palavrões audíveis quando falhava. Tinham acabado de voltar do almoço com Zoe e aguardavam o professor na sala de ensaios, cada uma presa em seu próprio mundo. Era mais uma tarde ensolarada onde os alunos andavam de um lado para ao outro se abanando com os panfletos do evento de terça do grupo de dançado segundo ano; o inverno parecia algo muito distante aos americanos naquele dia.



A pequena estava concentrada demais decidindo se estava amando ou odiando o livro - por fazê-la chorar mais vezes do que se permitia admitir -, para notar que o som das teclas havia cessado e que agora Maitê se encontrava com os braços apoiados em cima da tampa do piano a observando atenta como uma velha cartomante analisa seu futuro.



– Quer dizer que passou a noite com Anahí? – finalmente perguntou, segurando-se tempo demais para entrar no assunto, pois sua curiosidade não lhe permitiria mais nenhum segundo de espera.



Dulce sorriu para si mesma convicta de que Maitê não aguentaria muito tempo em silêncio quando viu Anahí a deixar na porta de Juilliard naquela manhã, mesmo que do outro lado da rua e com os vidros escurecidos, Maitê conheceria aquele Dodge em qualquer lugar.



– Eu não passei a noite com ela – explicou fechando o livro com o marca-página e se virando para a amiga. – dormi na parte de baixo do beliche de Anahí, o que é bem diferente.



– Oh! Emma com certeza não ficou muito feliz de ver Anahí em sua cama.



– Nós saímos antes que ela chegasse, de qualquer forma. – continuou caminhando até o piano e se debruçando nele. – Anahí me trouxe para Juilliard e voltou para Columbia, fim de história.



O sorriso de Maitê cresceu duas vezes quando a amiga terminou de contar. Talvez Dulce e Anahí não tenham percebido, mas pareciam mais um casal de namoradinhas do que imaginavam e já não era mais segredo nenhum que Anahí estava investindo descaradamente em Dulce.



– Não posso acreditar que não houve sequer um beijo, Dul. – reclamou fazendo bico, o que fez Dulce revirar os olhos e corar. – Vocês parecem duas baratas tontas sem saber o que fazer.



– Maitê! – exclamou Dulce fazendo careta de desaprovação com o comentário. – Anahí e eu estamos nos conhecendo melhor, acho que realmente posso gostar dela futuramente e-



A garota foi cortada quando um garoto franzino do departamento de teatro bateu na porta timidamente perguntando por Dulce Savinon. Ele segurava um enorme buquê de rosas vermelhas e o entregou para Dulce que estava de boca aberta e quase se esqueceu de agradecer ao moço com a paralisia que seu corpo sofreu. A pequena deixou o buquê em cima do piano e tirou o cartão rosa com notas musicais em azul que estava embrenhado entre as rosas.



"Estranho seria, se eu não me apaixonasse por você. – Nando Reis."



Os olhos de Dulce rapidamente mudaram para surpresa ao mesmo tempo em que um brilho intenso entregava o que ela vinha tentando esconder de si mesma. Música brasileira. E novamente Anahí tinha acertado em cheio. Ela terminou de ler e abaixou o papel deixando seus olhos repousarem nas rosas vermelhas que tanto lhe agradavam, o coração traindo as ordens de sua razão para não se abalar.



– Futuramente, uh? – brincou Maitê apanhando o cartão das mãos da pequena e o lendo mais uma vez. – É mais do que óbvio o sentimento que está envolvido, Dul. Se acha que pode mudar isso...eu acho que é tarde demais.



Ela tinha mais do que certeza de que estava corada o suficiente para ser notada do outro lado de sala por alguns alunos que começavam a adentrar despreocupados e entretidos na própria conversa.



– Eu gosto dela, Maitê. – confessou baixo para que apenas a amiga pudesse ouvir. Maitê abriu os braços como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. – Só não quero pular de cabeça em alguém que pode ser rasa demais para mim. – abaixou os olhos sentindo a culpa lhe invadir. – O que, eu tenho quase certeza que não é o caso de Anahí. Ela me faz sentir como mulher de verdade, como se meu corpo despertasse por ela, entende?



– Isso se chama tesão, querida. – corrigiu Maitê levantando-se e guiando a pequena até o canto da sala onde deixaram o buquê em cima de uma cadeira para que o pegassem ao término da aula.



Dulce fuzilou Maitê com os olhos.



– Não é isso! – ralhou outra vez certificando-se de que não estavam sendo bisbilhotadas. – Tenho medo de me entregar e no fim Anahí ver o quão entediante eu posso ser.



Maitê olhou indignada para a amiga como se ela tivesse acabado de dizer a pior piada do mundo, não que ela realmente não fizesse isso, mas agora se privando por ter medo de Anahí a achar entediante era o fim da picada.



– Eu acho que você não entendeu que Anahí é seu reflexo no quesito tédio, minha querida amiga. Acredite quando digo, pois cresci com a menina Portilla e suas velharias. – riu. – Mas não vou me intrometer nessa relação. Zoe e eu já discutimos sobre isso e não vou arriscar ter o meu bombonzinho sem falar comigo outra vez.



Dulce ergueu a sobrancelha divertida.



– Bombonzinho? Sério?



– Calada! – rebateu Maitê apontando o dedo acusadoramente para a pequena que riu.



Por mais que negasse, sabia que Anahí a estava conquistando rapidamente e isso era algo assustador de imaginar, ela sequer cogitava a ideia de estar com alguém na faculdade. Era sua época, seu momento de encontrar o caminho para um futuro na música e uma relação agora poderia atrapalhar isso e ocupar seu tempo nos estudos, mas com Anahí era estranhamente fácil ser apenas ela; a garota que conta piadas sem graça, que ouve música clássica e usa laços no cabelo. Anahí a intrigava desde o momento em que aplaudiu sua música no auditório, toda aquela energia e a maneira doce como a olhava como se Dulce fosse linda, algo que não se considerava, mas novamente era perto de Anahí que Dulce sentia-se a mais bela das garotas.



Dulce considerava não existir pessoas clichês como ela e seu pai.



E, mais uma vez, estava errada.



Alguns minutos depois, enquanto o professor explicava pacientemente sobre o próximo evento que realizariam na cidade, o celular de Dulce vibrou anunciando uma mensagem. Logo o coração da pequena disparou quando viu o nome de Anahí na tela.



Anahí: Espero que tenha gostado das rosas :)



Dulce sorriu para si mesma e certificou-se de que ninguém mais estava olhando.



Dulce: Você sempre me surpreende.



Anahí: E a moça da floricultura disse que minha "namorada" adoraria as rosas.



Dulce: Sua namorada? Entregou o buquê para a pessoa errada, então?



Anahí: Humpf!



Anahí Vou buscá-la após a aula. Maitê e Zoe fizeram planos para o fim de tarde e eu auto-nos-convidei. Emma também vai.



A pequena olhou para Maitê que estava distraída fazendo anotações em seu caderno e desejou jogá-la do quinto andar por ocultar esse fato, mas não pode conter um sorriso de satisfação por saber que sua amiga estava tentando ajudá-la a encontrar alguém por quem se apaixonar como ela encontrou Zoe.



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******

*****



– Eu já disse que atrasei em algumas matérias, apenas isso. – Anahí tentava explicar a todo custo enquanto esperava por Emma no estacionamento do Starbucks. – Eu volto no próximo final de semana. Ok, eu prometo.



– Seu pai e eu ficamos preocupados, Anahí. Você poderia ter estudado em casa, Chris passou a noite na casa da namorada e Taylor vive o dia todo trancada no quarto-



– Taylor está bem? – perguntou preocupada, não se lembrava da irmã passar a maior parte do tempo no quarto. – O que há com ela?



– Nós não sabemos, mas provavelmente é coisa de adolescente. – Maritchelo a tranquilizou. – Mal sai para comer e vive com a porta trancada, seu pai está perdendo a paciência com ela.



Anahí suspirou infeliz. Taylor sempre foi a mais sensível dos Portilla e agora que os irmãos mal estavam em casa assim como os pais, era de se esperar que a caçula se isolasse para a própria proteção.



– Apenas espere até eu voltar, ok? – pediu abrindo a porta do carro quando Emma saiu da loja com várias sacolas, incluindo uma bandeja de copos. – Eu vou conversar com Taylor, acho que ela precisa de alguém que entenda a cabeça dela.



– Está bem, vou conversar com seu pai. Diga que mandei um beijo para Emma e Maitê.



– Eu direi, mãe. Até mais.



Desligou o celular e observou a amiga entrar no carro acomodando as sacolas no assoalho e colocar os óculos escuros. Emma, como sempre, estava reclamando sobre ter errado 50% da prova surpresa e que provavelmente era culpa do professor por não gostar dela. O ocorrido do final de semana parecia esquecido, para o alivio de Anahi que não conseguia sentir remorso por ter furado com sua amiga para se encontrar com Dulce. Foi errado, ela sabia, mas estava vivendo o calor do momento e o cinema sempre estaria lá para Emma e ela, mas o evento no Central Park não e Anahí não poderia perder a oportunidade de ver Dulce ser a estrela mais brilhante daquele lugar.



– Sabe que é sua culpa, não sabe? – ironizou arriscando um olhar de canto de olho apenas para ver Emma abrir a boca indignada para ela. – Quero dizer, você não estuda, vive em festas noturnas dos nossos amigos e chega no outro dia totalmente bêbada.



– Eu vou ignorar que você está dizendo isso antes que jogue esse café quente nesse seu rosto galanteador. – Emma disse calmamente como se explicasse algo para uma criança e Anahí riu. – Eu juro, Portilla, que se eu ficar de vela hoje...



A ideia de arrastar Emma foi de Anahí, ela sabia que devia um passeio a sua amiga e queria que a amiga fosse incluída ao novo grupo círculo de amizade que agora passava a maior parte de seu tempo livre com Zoe, Maitê e Dulce. É claro que naquele grupo Emma seria a única garota heterossexual, ou não... Esse era um assunto que Anahí tinha deixado de lado no momento, ela não queria preocupar sua mente com rótulos quando tudo o que ela queria era estar ao lado de Dulce, mas de qualquer forma as companhias de Emma da faculdade não eram as melhores e Anahí queria manter os olhos na amiga.



O caminho até Juilliard foi curto e silencioso. Anahí estacionou o carro do outro lado da rua como de costume, pegou a bandeja de café das mãos de Emma quando desceram observando o movimento na entrada da Universidade e atravessaram a rua. Era quase três e quarenta da tarde quando encontraram Maitê e Zoe sentadas na pequena área de lazer com várias mesinhas de pedra, uma lanchonete e um jardim de inverno. Zoe e Maitê discutiam sobre algo relacionado ao trabalho de Zoe, mas  Anahí conseguiu apenas se concentrar em memorizar uma das cenas mais lindas que já vira na vida. Dulce estava sentada um pouco afastada em uma mureta com as costas apoiada na parede e as pernas esticadas. Ela usava um all star vermelho, shorts jeans claro e uma cropped branca com detalhes em amarelo; o cabelo estava preso num coque frouxo, usava fones de ouvido branco e nas mãos um exemplar de Morro dos Ventos Uivantes.

– Já pode parar de babar na garota. – alfinetou Emma tirando a bandeja das mãos de Anahí à força e servindo Zoe e Maitê com o café enquanto sentava de frente para as garotas.



Anahí foi sugada para a realidade quando se deu conta de que estava parada em frente à Dulce com a maior cara de trouxa enquanto suas amigas riam sem pudor, mas a pequena ainda não tinha notado sua presença devido aos fones e a concentração nos livros; o cenho franzido para alguma cena provavelmente tensa no livro a deixava extremamente adorável.



– Não enche. – ralhou, depois pegou dois copos da bandeja sob o olhar atento do trio e seguiu até Dulce sentindo seu corpo todo reagir à aproximação. A pequena notou a silhueta próxima a si e levantou os olhos tirando os fones de ouvido ao mesmo tempo em que esboçava um sorriso automático ao ver Anahí, que também vestindo shorts jeans, coturno curto e uma camisa xadrez vermelho e preto. – Dulce María.



Cumprimentou com um sorriso doce e sexy ao mesmo tempo fazendo o coração de Dulce errar a batida.



– Anahí! – a garota exclamou com o sorriso mais lindo que Anahí já vira em toda sua vida. - Eu não vi você.



A loira entregou-lhe o copo de cappuccino e a pequena franziu o cenho em confusão.



– Eu trouxe um para você também. Café forte, não é? Sua mãe me contou.



Oh, então Anahí e sua mãe tinham passado um tempo falando sobre ela, que Deus a ajude e Blanca não tenha contado todos os seus feitos vergonhosos como a vez em que fez xixi na frente de toda a classe na quarta série ou quando se jogou de uma árvore pensando que podia voar.



Dulce aceitou o copo e levantou-se depositando um beijo carinhoso na bochecha de Anahí.



– Será que Julieta e Julieta podem andar logo? Eu tenho glicose alta. – resmungou Emma sendo estapeada por Maitê e Zoe ao mesmo tempo. – Aí!



As duas garotas sorriram e, com a maior naturalidade do mundo, Anahí pegou a mochila azul marinho da pequena que estava no chão e a jogou nas costas liberando seu braço direito para que Dulce o abraçasse com uma mão enquanto tomava seu café com a outra. Era um gesto simples que nem elas mesmas percebiam que ao olhar das outras pessoas, tornava-se íntimo.



– Onde estão as rosas? – Anahí perguntou curiosa.



– Eu os deixei na sala de piano. Troquei as flores de um vaso com as rosas, e agora sempre que eu tocar vou poder olhar para elas. – explicou Dulce olhando para Anahí e depois sorriu desviando o olhar para Maitê  e Zoe que andavam de mãos dadas logo à frente.



Por instinto, se imaginou andando de mãos dadas com Anahí. De certa forma isso lhe trazia segurança uma vez que apenas o olhar de Anahí tinha o poder de lhe intimidar profundamente, mas isso ela nunca saberia. Dulce nunca falara abertamente sobre sua sexualidade por achar algo totalmente desnecessário, sua preferência sexual não define seu caráter. Mas, ao contrário dela, Anahí sempre vivera na base de rótulos, ela era como um produto que veio de fábrica enquanto Dulce saiu direto do campo longe de tudo o que procurava a rotular. Por esse motivo a pequena não se permitia aceitar o que estava sentindo pela loira  dos olhos azulados, por mais que esse sentimento se parecesse cada dia mais com um trem em movimento que, por descuido do mecânico, perdera o freio. Anahí estava vivendo na própria ilusão no momento, mas quando a realidade batesse em sua porta exigindo o tal rótulo, Dulce é quem sairia perdendo.



Anahí abriu a porta do passageiro para  Dulce e em troca recebeu xingamentos de Emma reclamando que teria de ir sentada no banco de trás com o casal babento, como ela costumava chamar. O caminho até a casa dos Savinon foi feito sob uma amigável conversa onde Zoe  e Dulce conheciam mais sobre a história de Anahí e Emma, que também engatou na conversa esquecendo-se por ora do mau humor. Dulce pegou algumas roupas no quarto enquanto Anahí conversava com Blanca e Fernando sobre o pequeno passeio que elas fariam, prometendo devolver a filha deles antes da meia noite. Obviamente que os Savinon concordaram afirmando que não poderiam deixar a filha em melhor companhia, e Fernando encerrou a conversa quando Dulce apareceu na porta com uma sacola dizendo:



– Não façam nada que sua mãe e eu não faríamos.



As duas trocaram olhares chocados e Dulce tratou de arrastar Anahí para o carro antes que criasse um buraco no solo e se enterrasse nele. Minutos depois Emma se meteu entre as duas no banco da frente para ligar o rádio e procurou em alguma estação de  músicas animadas começando a cantar Neon Lights no banco de trás acompanhada por Maitê. No caminho fizeram uma parada na casa dos Saldanha onde Zoe apresentou suas novas amigas aos pais e em seguida no apartamento que Maitê dividia com uma colega de Juilliard.



– Nós vamos para um tipo de expedição? – Emma questionou meia hora depois quando o Dodge adentrou uma estrada de terra.



– Estamos indo ao chalé do meu pai. – explicou Zoe apontando para uma casa, que de pequena não tinha nada, no horizonte. – Como minha família é grande, costumamos passar as férias aqui, temos barcos, motos de trilha, bicicletas...



Maitê abriu a boca estupefata e Dulce se encolheu no banco do passageiro, ato que foi notado por Anahí.



– Você não me disse que seu pai era dono de um hotel fazenda. – disse Maitê observando a paisagem pela janela do carro.



– Eu não me importaria de morar aqui. – Emma comentou encolhida entre o casal e com os olhos brilhantes na paisagem lá fora.



Dulce estava quieta demais todo o caminho desde que descobriu que tudo aquilo pertencia à família Saldanha. Anahí estacionou no carro em baixo de uma árvore e fingiu procurar por algo no assoalho enquanto as outras saíam aos tropeços e empurrões, deixando apenas à pequena e Anahí para trás. Anahí aproveitou o momento a sós virando o corpo no banco para que pudesse ter uma visão melhor de Dulce, sua mão esquerda encontrando a dela e entrelaçando os dedos.



– Tudo bem? Está quieta e eu não gosto disso. – revelou preocupada vendo os olhos de Dulce se focarem qualquer coisa no carro que não fosse ela.



– Não precisa se preocupar, é coisa de momento. – garantiu a pequena acariciando a mão de Anahí com o dedão. – Obrigada, ok?



Para a surpresa de Dulce, Anahí a puxou pela mão e deu um beijo em sua têmpora, um gesto carinhoso que fez a pequena sentir vontade de chorar. Anahí queria saber o que estava acontecendo, mas respeitaria o silêncio de Dulce até que a ela estivesse a vontade para falar. Quando se tratava daquela garota, Anahí tinha toda a paciência do mundo, e um abraço apertado era tudo o que ela poderia oferecer naquele momento. Dulce apertou o corpo da loira antes de soltá-la e lhe oferecer um sorriso tímido que foi retribuído de boa vontade por Anahí. Ambas desceram do carro com suas mochilas e seguiram Zoe até o chalé onde trocaram de roupas. Dulce fez questão de por o laço vermelho propositalmente deixando Anahí paralisada por alguns instantes; Maitê quase teve um surto de riso. As garotas seguiram até um galpão ao lado do chalé onde havia cerca de dez motos e dez bicicletas encostadas.



– Posso me acostumar a isso. – brincou Maitê escolhendo uma bicicleta rosa. – Ainda se lembra como andar em uma, Anahí? Você quase se matou quando tínhamos oito anos.



Emma soltou uma exclamação animada com a lembrança; Dulce ficou confusa.



– O que houve? – perguntou enquanto tiravam as bicicletas do galpão.



– Anahí pensou que poderia voar e subiu em uma rampa. – zombou Emma pedalando em sua bicicleta verde limão em volta das garotas. – Ela precisou de uma cirurgia no nariz e vários pontos na testa.



– Obrigada, Emma! – exclamou Anahí irritada pela intromissão da garota. Virou-se para Dulce que ainda a olhava com curiosidade. – Eu era uma criança criativa.



Dulce sorriu e subiu em sua bicicleta brincando de perseguir Maitê enquanto Anahí tentava se acostumar a andar depois de dez longos anos.



– Acha que consegue? – perguntou Zoe aproximando-se dela. – Nós vamos descer a estrada até o riacho, tem uma casa de barcos lá.



Anahí assentiu um pouco insegura, acostumando-se novamente a se equilibrar em cima da bicicleta amarela. Zoe assentiu observando os movimentos cuidadosos da amiga, mas a deixou quando viu Dulce voltar para acompanhá-la. Emma, Maitê e Zoe apostaram uma corrida pela estrada de terra deixando apenas Dulce pedalando devagar ao lado de uma Anahí ainda insegura.



– Hey, você. – chamou a pequena ficando lado a lado com Anahí que mal podia olhar para o lado com medo de cair.



– Hey, você. – devolveu Anahí forçando um sorriso, mas que acabou parecendo uma careta.



Estava com medo, precisava admitir. O trauma daquela época não tinha sido muito legal para uma criança de oito anos. Não gostava de fechar os olhos e se lembrar do sangue que jorrava de seu nariz, seu pai gritando com ela e os enfermeiros imobilizando seus braços para que não pudesse tocar. Ela era só uma menina.



– Criança criativa, uh? – Dulce brincou deixando seus olhos se prenderem em Anahí por uns instantes, era a primeira vez que via Anahí sem toda aquela segurança que carregava na pose de bad girl.



Anahí mostrou a língua ainda sem desviar os olhos da estrada, estava se acostumando aos poucos com a ideia de voltar a andar de bicicleta e seu cérebro estava relembrando os movimentos certos.



– Muitas vezes meus pais se esqueciam de que tinham uma filha que estava crescendo. Taylor e Chris eram pequenos e nós não gostávamos muito da babá. – contou Anahí aos poucos se soltando. – Minha mente precisava por si própria descobrir o que era brincar.



Uma brisa gelada acariciou as meninas que ficaram em silencio apenas apreciando o momento. O lugar era cercado por árvores e Dulce era extremamente apaixonada por aquele cheiro de natureza, pela terra, as árvores. Ela crescera em um rancho com seus pais e seus avós maternos até seu avô falecer em um derrame e sua avó decidir morar com o tio Christian. New York tem sido sua casa desde então, quando aos treze anos seu pai recebeu uma proposta de emprego como segurança em uma galeria pouco famosa, não ganhava lá essas coisas, mas era o suficiente para sustentar a família.



– Um sorvete de baunilha pelos seus pensamentos. – a voz de Anahí a tirou de suas lembranças e quando se deu conta, haviam chegado ao que parecia ser a casa de barcos logo abaixo do morro.



Dulce sorriu para Anahí e desceu da bicicleta acompanhando os movimentos de Anahí.



– Eu só estava relembrando da minha infância. – confessou seguindo Zoe até uma enorme árvore com uma corda amarrada em um galho no meio do barranco. – Esse lugar lembra muito minha antiga casa.



Anahí encostou a bicicleta no tronco da árvore junto às outras e abraçou Dulce de lado deixando sua mão confortavelmente na cintura da pequena que entrelaçou seus dedos carinhosamente.



– Espero que vocês ainda estejam vivas. – disse Emma tirando os sapatos, acompanhada por Maitê e Zoe. – Porque a diversão começa agora!



E rapidamente se virou correndo e gritando em direção a corda. Dulce soltou um grito e Anahi abriu a boca surpresa com o fato de nunca ter visto sua amiga agir como loucas antes. Zoe e Maitê, como sempre, apenas riam. Emma se pendurou na corda, balançou de um lado para outro até finalmente soltar-se e cair no lago respingando água em todas as meninas. Zoe não deixou tempo para ninguém respirar e logo seguiu o mesmo ato de Emma para a alegria da mesma.



– Eu não acredito que estou fazendo isso. – comentou Anahí tirando o coturno e apoiando-se em Dulce que fazia o mesmo com o all star. Deixaram os celulares e mochilas em um canto junto às bicicletas e se entreolharam. – Meus pais jamais sonhariam com algo assim, mas aqui estou eu com três malucas me jogando em um rio.



– Pense pelo lado positivo... – Dulce pensou por um momento, mas então se deu conta de que não havia um. – Pensando bem, essa água deve estar muito gelada...



Maitê, Zoe e Emma iniciaram um coro dentro do lago gritando o nome de Dulce, batendo palmas e respingando água. A pequena tentava com afinco empurrar Anahí para que a mesma fosse à frente, mas a loira era mais forte naquele jogo de corpo.



– Você está com medo? Eu não acredito que Dulce María está com medo de água! – brincava Anahí rindo. Dulce encarava o lago com hesitação; assustou quando sentiu as mãos frias de Anahí em sua cintura e a voz rouca próxima ao seu ouvido. – Confie em mim, eu estou bem atrás de você. – dito isso, a pequena a olhou por detrás dos ombros e ambas sentiram a confiança que existia entre as duas, havia fogo e gelo se chocando numa intensidade devastadora. – Pula! Pula! Pula! – Anahí se juntou ao coro batendo palma e depositando um beijo na curva do pescoço da pequena que a olhou surpresa. – Bem atrás de você. – sussurrou outra vez antes de se afastar três passos dando espaço.



Dulce fechou os olhos com força e apertou as mãos em punhos antes de começar a correr. A pequena gritou inconscientemente quando agarrou a corda, ela mal conseguiu se balançar mais de duas vezes quando a explosão na água aconteceu e foi recepcionada por muitos jatos de água no rosto projetados pelas três meninas.



Anahí correu em seguida pulando perfeitamente contra a corda, se balançando uma, duas, três antes de finalmente cair.



– Vad/ias! – Emma gritou afundando a cabeça de Maitê na água.



– Eu espero que não ocorra um homicídio no meu chalé. – disse Zoe tirando a atenção de Emma, onde foi surpreendida por Maitê que a agarrou pelas costas e a fez afundar como vingança.



Zoe começou a rir do desespero da Emma batendo as mãos na água tentando se livrar de Maitê.



– Filha da pu/ta! – xingou, e as duas iniciaram uma guerra onde Zoe fazia de tudo para separar as duas ou então acabariam mesmo se afogando.



Dulce e Anahí estavam inertes à guerra que se estendia bem a lado e brincavam de mergulhar e dar as mãos como se não houvesse mais pessoas naquele lugar. A única coisa que conseguiam pensar no momento era o quão maravilhoso era poder estar perto uma da outra de maneira que pudessem ter novamente nove anos de idade sem preocupações, sem o mundo exigindo coisas lá fora. Ali, naquele lago, longe do mundo, eram apenas Dulce e Anahí em baixo da água procurando o próprio reflexo uma na outra, o que incrivelmente não era difícil de encontrar. Algo novo e forte dentro delas crescia, como uma nova força, uma nova vida. Uma sensação gostosa, aconchegante que ambas acolhiam com carinho.



– Eu juro por Deus que da próxima vez vou deixar Dulce e Anahí em casa. – resmungou Maitê abraçada a Zoe. Dulce e Anahí se entreolharam trocando sorrisos maliciosos. –Vocês são muito chatas, cara. Se trancaram no próprio mundinho enquanto essa psicopata tentava me matar!



Cismou Maitê quando viu o olhar das duas, mas não teve tempo de se defender quando foi atacada por mais jatos de água onde até mesmo Emma ajudou. Zoe era a única que gritava ao mesmo tempo em que ria defendendo a namorada que proferia palavrões contra suas agressoras.



Depois de algum tempo brincando na água, Zoeb pediu que as garotas a seguissem até a casa de barco onde ensinou cada uma a sentar-se de maneira correta em um deles para que não o virassem no meio do lago em uma das brincadeiras rebeldes que costumavam ter. Anahí a ajudou a remar até o meio do lago por ter mais força nos braços, ela fizera parte do time feminino de Softball no colegial. Maitê, Anahí e Emma eram as mais encantadas com a vista, as três garotas tinha crescido na sociedade, sempre convivendo com homens engravatados, mulheres em social e toda a tecnologia da cidade. Quando pequenas, seus pais nem mesmo as deixavam brincar no parque próximo a rua em que moravam para que não sujassem a roupa, que dirá comparar uma casa no campo. E agora lá estavam elas, cercadas por árvores no meio de um enorme lago habitado por muitos peixes.



– Eles só vieram se alimentar. – explicou Zoe baixinho quando parou de remar. O grupo olhou atentamente o cardume passar por baixo do barco, dar a meia volta e refazer o caminho. – Anahí, está vendo esse pequeno saco ao lado da sua perna?



Anahí pegou o saco e entendeu que era o alimento dos peixes, então deixou o remo de lado e encheu a mão de ração para jogar em seguida provocando uma reação desesperadora na água. As garotas começaram a rir e Anahí jogou mais uma vez, depois outra até eles estarem mais calmos. Dulce observava tudo como uma criança observa uma vitrine com a boneca mais linda do mundo e Anahí não pode deixar de achar aquilo fofo.



– Você quer alimentá-los? – perguntou estendendo a mão cheia de ração para a pequena que sorriu surpresa e aceitou.



Maitê, Emma e Zoe apenas observavam a cena entendendo tudo o que estava acontecendo. Apesar das brincadeiras, elas eram maduras o suficiente para terem noção de que havia um sentimento novo entre Anahí e Dulce, algo que talvez nem mesmo elas entendam ainda.



Algum tempo depois, os peixes começaram a ir embora e Emma, com sua normalidade, começou a gritar dando tchau com a mão, mas não se contendo em acenar, decidiu ficar em pé no barco fazendo-o balançar.



– Meu Deus! – exclamou Dulce também ficando em pé na tentativa frustrada de manter o equilíbrio. Suas mãos automaticamente agarraram a blusa molhada de Anahí obrigando-a também a ficar em pé. – Me segure, Anahí! Nós vamos cair, socorro!



Pedia dramaticamente agarrando-se completamente o corpo de Anahí que automaticamente enlaçou a sua cintura com os braços.



– Eu estou tentando, Dulce. Apenas pare quieta! – respondeu alterando a voz quando Maitê quase foi lançada para fora do barco.



– Parem as duas de se mexer! – pediu Zoe mantendo o corpo parado para estabilizar o equilíbrio, mas era impossível com Dulce praticamente pulando no barco.



– Dulce! Pare de ser teimosa, é só água e você estava nela até agora! – bronqueou Anahí segurando os braços da pequena firmemente fazendo-a a olhar nos olhos. – Você parece uma criança mimada!



A boca de Dulce abriu chocada com o que a loira tinha dito e Emma levou a mão à boca sabendo que agora a merda estava feita.



– Mimada? Uma criança mimada, Portilla? Me solte! – começou a estapear Anahí fazendo o barco balançar mais uma vez.



Quando Anahí notou que já estavam perto da margem, teve uma ideia que arriscaria sua vida mais tarde, mas que agora valia a pena apenas por conseguir irritar Dulce. Então um sorriso sapeca nasceu em seus lábios fazendo Dulce franzir o cenho.



– Vem aqui! – de forma ágil, girou o corpo da pequena deixando-a de costas para si e agarrou sua cintura projetando o corpo para fora do barco.1l



Dulce gritou procurando por apoio, mas já era tarde e ela estava outra vez dentro da água. Precisou ser muito ágil para não se afogar, o que não a impediu de engolir um bom tanto de água e engasgar. Sentiu quando braços agarraram suas pernas, e seu corpo foi lançado para o ombro de Anahí deixando-a pendurada.



– Eu vou matar você, Anahí! – berrou estapeando as costas de Anahí enquanto ambas saiam da água e as outras apenas se matavam de rir no barco.



– Odeio admitir isso, mas elas nasceram uma para a outra. – comentou Emma ajudando Zoe a empurrar o barco para a margem.1l



– Eu juntei o casal, então agradeçam a mim. – Maitê se gabou recebendo um olhar fuzilante da namorada. – Ok, nada de me meter entre elas.



Uma Anahí sorridente levou Dulce ainda nas costas até a árvore onde estavam suas coisas, a pequena foi posta no chão ainda xingando e se debatendo como uma louca pronta para ser levada ao hospício.



– Pode-se considerar morta, Anahí! – rosnou virando-se para a loira  e apontando o dedo ameaçadoramente.



Anahí ergueu a sobrancelha esquerda de forma irônica.



– Ah, é? E você vai fazer o que? – cruzou os braços em sinal de cinismo. – Vai me jogar na água? Vai me bater com o piano?



– Você é ridícula!



– Obrigada!



– Eu te odeio!



– É reciproco!



– Cale a boca!



– Vem fazer!1



Com essa última, Anahí deu o sorriso mais cafajeste que Dulce vira na vida e arqueou ainda mais a sobrancelha. Não se contendo, a pequena pegou a mochila no chão e a jogou em Anahí que, pelo seu bom reflexo, conseguiu desviar.



– Você não deveria ter feito isso! – grunhiu Anahí avançando contra a pequena que arregalou os olhos e começou a se afastar.



– Não, Anahí! Eu sei o que você vai fazer, apenas não... – pediu mudando totalmente o humor e deixando suas mãos como escudo para uma Anahí que avançava contra ela. – Por favor, eu lhe perdoo, ok? Já esqueci. Olha, já passou!



Porém, ela estava falando com Anahí Portilla e essa nunca se rendia. Anahí abriu as mãos em forma de garra indicando que faria cócegas na menina, o que fez Dulce sair correndo em disparada por entre as árvores chamando desesperadamente por Maitê que ainda estava na casa de barco com as outras.



– Não adianta correr, Dulce! – gritou Anahí divertindo-se com a maneira como a garota corria assustada, ela realmente não gostava de cócegas.



A brincadeira mal começou e a pequena já tinha tropeçado em uma pedra caindo de joelho entre as folhas. Anahí sentiu seu coração sair pela boca quando correu mais ainda até chegar em Dulce que gemia de dor enquanto se sentava massageando o tornozelo, o corpo ainda coberto de folhas secas.



– Merda. – resmungou vendo o tornozelo inchar. – Isso dói para caramba.



A culpa invadiu Anahí no mesmo instante, ela quis se bater por ter feito Dulce se machucar.



– Me desculpe, pequena. – pediu segurando o tornozelo da garota devagar sem saber o que fazer. – Foi minha culpa, eu não queria que você-



Dulce segurou a mão de Anahí chamando sua atenção e sorriu despreocupada.



– Isso acontecia o tempo todo, é só uma torção. – tranquilizou analisando o próprio pé. – Mas acho que alguém vai precisar me levar de volta.



As outras três começaram a chamá-las ao longe avisando que voltariam para o chalé. As duas garotas trocaram olhares aflitos e tudo o que Anahí pode fazer no momento foi pegar Dulce no colo e a carregar de volta até as bicicletas.



– O que fez você com ela? – pergunto Maitê incisiva quando viu Anahí se aproximar com uma Dulce encolhida em seu colo como um gatinho.



– Não é nada Maitê, estávamos brincando e eu caí. – insistiu Dulce aceitando a ajuda da amiga  para firmar o pé no chão quando Anahí a desceu.



Anahí ainda recebeu um olhar ameaçador de Maitê quando começou a calçar os sapatos, Maitê poderia ser bem assustadora quando decidia ser protetora com alguém que ela ama. Zoe e a namorada ajudaram Dulce com a mochila deixando-a livre de qualquer empecilho.



– Aqui. – Anahí aproximou-se de Dulce tirando uma blusa de moletom de Columbia da bolsa e a colocando em Dulce que sorriu em agradecimento. Anahí estava sem graça, provavelmente por ainda se culpar sobre o acontecido com a pequena. – Fica melhor em você.



O que não era totalmente verdade, as mãos da pequena mal apareciam nas mangas e a barra do moletom batia em suas coxas, mas aos olhos de Anahí com ela estava extremamente adorável.



– Obrigada, Anie. – agradeceu beijando a bochecha de Anahí – Vai me deixar ir com você?



Anahí arregalou os olhos perante a pergunta de Dulce. Ela mal se sustentava em cima daquela bicicleta com medo de cair, e a pequena estava disposta a se juntar a ela?



– Dul tem mesmo uma mente suicida. – Maitê comentou com Emma como se contasse uma novidade.



Emma apenas riu subindo na bicicleta enquanto zoe guardava a bicicleta de Dulce na casa de barcos.



– E ai, como vai ser? – perguntou Emma que estava disposta a levar Dulce, mas a pequena olhou esperançosa para Anahí.



Ela só podia estar brincando.



– Suba. – mandou contrariada. Dulce bateu palmas contente com sua vitória e com a ajuda de Maitê sentou de lado no cano da bicicleta ficando entre as pernas de Anahí. – Eu não me responsabilizo por nenhum osso quebrado.



Zoe deu de ombros e começou a guiá-las de volta ao chalé com Maitê e Emma ao seu lado. Não foi tão difícil quanto Anahí imaginou, Dulce era leve e estava facilitando as coisas mantendo o equilíbrio, ao contrário do que tinha feito no barco.



– Vai mais devagar, Anahí. – pediu quando ambas pegaram mais velocidade na estrada de terra plana, mas Anahí sempre foi muito competitiva e Emma não estava facilitando as coisas com as provocações. – Outra vez não! Nós vamos morrer.



As cinco garotas começaram a rir enquanto apostavam uma pequena corrida, todas pegando leve com Anahí, e Dulce era a que mais gritava e erguia as mãos sentindo o vento gelado arrepiar todo seu corpo ainda úmido que também estava em contato com as roupas molhadas de Anahí.



– O que acha de subir até as nuvens, pequena? – ouviu Anahí perguntar com a voz abafada pelo vento.



– Você vai estar lá?



– Bem atrás de você.



E então Anahí pedalou mais rápido conseguindo passar Emma e Maitê, Dulce ainda mostrou a língua para Maitê quando viu a expressão de choque no rosto da amiga. Elas estavam voando, não estavam? Se pudessem fechar os olhos poderiam ver as nuvens e até mesmo sentir o gosto de algodão doce.



Pelo menos Dulce gostava de pensar que esse era o sabor de uma nuvem.



Chegaram ao chalé pouco antes do anoitecer com todas vivas. Trocaram de roupa para algo mais quente, estava anoitecendo e o tempo esfriando rapidamente. Dulce tomou um banho quente e vestiu outra vez o moletom de Anahí, agora com sua própria calça de moletom cinza. Maitê ajudou a pequena a por gelo no tornozelo enquanto Emma tomava banho, e Anahí preparava o jantar com Zoe.



Já era noite quando Emma caiu no sofá enrolando-se na própria blusa aproveitando o silêncio para tirar um cochilo. Zoe e Maitê levaram edredom e dois travesseiros ao jardim para observar o céu escuro enquanto Anahí estava deitada em cima do capô do carro com os braços apoiando a nuca, ela usava uma touca preta com a jaqueta de couro e a calça jeans. Dulce estava um pouco mais distante; encostada em uma árvore de volta a sua leitura, usava seu celular como fonte de luz para o livro, estava exausta do dia e seu tornozelo ainda latejava um pouco. O livro estava interessante, mas seu corpo sentia falta do calor e proteção de Anahí, então seus olhos correram até o Dodge onde a loira observava a lua se posicionar entre as estrelas que aos poucos surgiam no céu.



Dulce abaixou o livro inconscientemente, sentiu uma imensa vontade de chorar apreciando o perfil de sua mais nova obsessão, não de uma forma ruim, Anahí era apenas o remédio para o vazio que sentia quando nem mesmo a música podia preenchê-la. E agora aquela música romântica que reproduzia em seus fones não estava ajudando em nada as imagens mentais que seu cérebro insistia em criar.



Ela estava vivendo todo o clichê que sonhava com as músicas de Billie e isso a assustava intensamente, pois a felicidade costuma vir com uma surpresa nada agradável no final. Sabia disso, conhecia muito bem essa história de sentir-se inteiramente completa, sentir que poderia explodir de felicidade. Estas alegrias violentas têm fins violentos, não é assim que dizia Shakespeare?



Estava em uma estrada sem volta, sabia que Anahí a tinha desarmado no momento em que sorriu. Como poderia? Aqueles olhos azul turquesa refletirem a própria alma doce de Anahí, como se estivesse exposta a quem quisesse interpretá-la, pedindo por atenção. E Dulce queria; Deus, como ela queria entender todos os segredos de Anahí, conhecer sua história.



Criar uma nova história.



Isso era amor, não era?





Como se pudesse ouvir seus pensamentos, Anahí desviou os olhos da lua repousando seus olhos azulados nela, sorrindo em seguida e quebrando Dulce mais uma vez. Em momentos assim, Anahí fazia parecer facilmente como se olhá-la fosse mais importante que apreciar o brilho da lua. E Dulce acreditava, ela acreditava naqueles míseros segundos em que seus olhos mantinham contato que era realmente importante e a mais bela dentre todas as garotas diante Anahí.



A loira desceu do carro num pulo ágil e caminhou até a pequena sem quebrar o contato visual. Elas estavam conversando, dizendo no silêncio dos olhares que preferiam estar na companhia uma da outra. Com um sorriso tímido, Anahí acomodou-se ao lado de Dulce e a puxou para os seus braços fazendo com que a menor deitasse de costas em seu peito. Era tão fácil para elas agir dessa forma, como se fosse o certo sem nem mesmo terem uma definição.



Dulce brincou com os dedos da mão direita de Anahí antes de voltar sua atenção ao livro. Na primeira página havia algumas anotações a lápis que chamaram a atenção da loira.



– O que é isso? – indagou.



– Costumo anotar alguns pensamentos. – explicou Dulce. – Este é o de Robert Frost, um dos mais lindos que já li.



Anahí segurou um lado do livro com a mão esquerda e Dulce iluminou com o celular para que ela pudesse ler.



– Alguns dizem que o mundo acabará em fogo, outros dizem em gelo. Fico com quem prefere o fogo. Mas, se tivesse de perecer duas vezes, acho que conheço o bastante do ódio para saber que a ruína pelo gelo também seria ótima. E bastaria.



Ouvir aquelas palavras proferidas da boca de Anahí causou arrepios profundos em Dulce. No fundo ela sabia que Anahí era composta por gelo enquanto ela queimava como fogo. Sabia que Anahí era sua ruína e de certa forma isso parecia exatamente o certo. Elas eram fogo e gelo, de mundos opostos, colidindo como água na brasa; isso poderia causar uma erupção do outro lado do mundo se as pessoas parassem para prestar atenção.



– Dulce? – Anahí chamou depois de um tempo apreciando o silêncio confortável que proporcionavam uma a outra.



– Sim? – sussurrou a pequena deixando o livro de lado e aconchegando-se mais ao peito de Anahí que não hesitou em abraçá-la.



– Acha que a vida pode ser sempre assim?



Dulce sorriu para si mesma, Anahí parecia mais uma criança preocupada em não ganhar seu presente de natal. E talvez ela estivesse certa, os temores de Dulce eram maiores que o sentimento que emergia em seu coração.



– Quem sabe? Talvez sim, talvez não...o melhor é aproveitar cada segundo, não acha?



– É...talvez.



Aos poucos, Dulce foi rendida pelo sono nos braços de Anahí que sorriu deixando um beijo carinhoso no topo da cabeça da pequena, assim, zelando por seu sono até que fosse hora de ir embora.



Um fato incontestável:



O amor se constrói com paciência, carinho e cuidados.



**********



Música: Yellow - Karizma Duo




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02 de Novembro de 2017 - Primeiro ano da As semanas se passaram rapidamente e com elas o mês de novembro que, para Dulce, se tornava mágico pelo simples fato de ser natal. Sim, ela era clichê ao ponto de ser apaixonada por luzes natalinas, bonecos de neve, árvores de natal e a família reunida em volta da mesa para a ceia. É assim ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 74



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  • Kakimoto Postado em 05/10/2017 - 19:25:00

    Emii eu to lendo o começo todoo, na parte fofa, QUANDO ELAS NÃO ESTAVAM MAGOADAS E NADA ACONTECIAA, estou bem happy, porem quando chegar na parte da dor e sofrimento, eu paro de ler KKKKK

    • Emily Fernandes Postado em 06/10/2017 - 05:29:54

      Ai Duda, CV e b+, kkkkk mas mesmo sabendo que a história mexeu com os seus nervos vc vai ler de novo. Cara, queria estar no seu lado só pra ver a sua reação, dentro da sala de aula. Kkkkkkkkk mas eu te entendo, eu chorei horrores com uma história Portinon tbm. Cara é sério pq CTA. Acabou comigo. A Tammy Portinon acabou comigo literalmente kkkkk.E tipo eu tbm estava lendo na sala de aula, tive que mentir até o pq do choro. Mas valeu a pena não é. Bjs

  • Kakimoto Postado em 05/10/2017 - 16:07:41

    EMILYYYY EU NUNCA SOFRI TANTO EM UMA FANFICCCCCCC, EU ESTAVA LENDO NA AULA, QUANDO A DULCE MORREUUU EU TIVE UM ATAQUE DE ''não pelo amor de deus, nnnnnnn'' MDS, Eu sofri junto com a Dulce, e com a Anahi, ri da doçura do Ethan. MASS ELA MORREEUUUUUU AAAAAA NNNNN MDSS, EU TO MT DEPRESSIVA DPS DISSO. eu te convido para meu velorio, quando eu ja estiver morta por n ter aquentado um tiro desse. Te amo <3

  • lika_ Postado em 02/10/2017 - 14:33:24

    parabens Emily Fernandes a sua Fanfic foi perfeita o fim me fez segura muito para nao me debulhar em lagrimas

  • Kakimoto Postado em 01/10/2017 - 11:52:23

    MEUU DEEEUUUSSS AAAAAAAA, eu to no cap 32, em que esta a Dulce, Anahi, Ethan, Santana e Logan na sala de musica AAAAAAAA MEEUU DEEUUSS, EU TO MORRENDOOO

    • Emily Fernandes Postado em 01/10/2017 - 16:52:46

      Bem se vc está estética assim, e pq vc está gostando Dudinha. Ahahaha Mas é agora que as coisas ficam mais intensa. Bjs mi amor te.quero.... Quero ver o seu comentário assim. Que terminar.

  • ester_cardoso Postado em 19/09/2017 - 17:46:27

    Obrigada sério mesmo, não tem como não te agradecer por nos proporcionar mais uma história maravilhosa dessas. Cara chorei muito tanto com o fim da fanfic, tanto com suas palavras. Vc não sabe o quão importante isso foi pra mim, sentir isso é realmente forte e saber q tem mais pessoas que compartilham desse sentimento nos dá força. Bebê vc é inspiradora, além de ser uma das pessoas mais perfeitas q conheço. Essa fic foi realmente muito lindaaa, me surpreendi muito. Claro q as vezes dava vontade de jogar o cell na parede, mas o amor q encontrei aqui é muito maior q eu imaginava. O final acabou comigo obviamente, mas essa é uma daquelas histórias q marcam, aquelas q guardamos no coração. Assim como guardamos pessoinhas especiais como vc, saiba q sempre q quiser estarei aqui, mesmo não nos conhecendo muito me importo com vc e importante é que estejamos sempre felizes. Beijos bebê <3 <3 Amo vc

  • siempreportinon Postado em 17/09/2017 - 14:18:42

    Simplesmente maravilhosa!!! Chorei bastante no decorrer da história, me tocou profundamente. Sem dúvida se tornou um dos meus xodós. Parabéns pela história, obrigada por nos presentear com belíssimas fics, espero que escreva muitas outras Portinon, acompanharei sempre!!!

  • Gabiih Postado em 17/09/2017 - 12:57:06

    PS apesar de não te conhecer pessoalmente, eu estou orgulhosa de você, continue assim você é uma linda,é muito especial vou sentir saudades da história, parabéns por mais uma fic finalizada anjo bjs

  • Gabiih Postado em 17/09/2017 - 12:55:19

    Meu Deus do Céu, eu meu Deus que história linda eu chorei demais lendo esses últimos capítulos,os votos de casamento delas foi a coisa mais linda do mundo,as lembranças os flash back né tudo, Deus Meu eu me sinto tao feliz apesar de tudo, porque tive um privilegio de conhecer essa história você nos deu as honra, de nos apresentar a ela e isso foi maravilhoso, eu queria ter dito tantas coisas sobre a história mas não dá não consigo porque enquanto escrevo cada palavra aqui, é uma lagrima a mais, foi uma linda história um amor tão lindo e magico foi maravilhosa Emy não consigo escrever mais chega rs. só mais uma coisa obrigada.

  • Kakimoto Postado em 16/09/2017 - 13:32:12

    Mdss, to acomulando mt, eu só vejo os comentarios falando que choraram mt e que eh mt emocionante, e eu já to gritandoo, mdsss, ME DA SPOILER EMII PFFF AAAA. ti amu

  • laine Postado em 15/09/2017 - 14:36:10

    Parabéns, estou sem palavras realmente foi muito lindo


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