Fanfic: Volta para Mim - Adaptada vondy TERMINADA | Tema: Vondy - Christopher e Dulce

DULCE

– PARA ONDE A GENTE VAI? – pergunto de novo quando entramos na rodovia

– Se você continuar perguntando, vou ter que dar meia-volta e levar você para casa – retruca Christopher, passando a marcha e acelerando.

A mão dele roça no meu joelho e eu contraio a perna num reflexo. Ele percebe, pois vejo o sorriso que tenta conter. Tira a mão do câmbio e a repousa um momento na minha perna, acariciando meu joelho levemente com o polegar, então volta a segurar o volante, mudando de faixa. Eu estremeço e Christopher olha para mim.

Nego com a cabeça. Definitivamente não. Estou vestindo um dos casacos dele, mas não sei se voltarei a sentir frio um dia. Toda vez que Christopher me olha, meu termostato interno sobe mais um grau. Começo a compreender as reclamações da minha mãe sobre as ondas de calor.

Na penumbra do carro, tento examiná-lo discretamente. Gosto de ver os músculos do antebraço se flexionarem quando ele troca a marcha. Meu olhar percorre seus braços e os ombros largos e, então, se detém no rosto dele, que de tempos em tempos é iluminado pelos faróis dos carros que passam na direção contrária. Christopher puxou a pele levemente morena e os longos cílios escuros da mãe portuguesa. Ao sentir que o observo, ele olha para mim e sorri – está sempre disposto a sorrir, e isso é uma das coisas que eu mais amo nele. Amo? Opa, apague isso. Rebobinando... É uma das coisas de que eu mais gosto nele. O sorriso contagiante. Nesse momento, vislumbro um traço do seu pai e me lembro de uma coisa.

– Eu vi a fotografia que está na bancada de trabalho do seu pai.

Ele franze a testa.

– Qual fotografia?

– A antiga.

Estava emoldurada e pendurada em um prego sobre o torno mecânico. A princípio, pensei estar imaginando coisas, mas uma inspeção mais atenta revelou que era mesmo meu pai na fotografia, de pé ao lado do pai de Christopher. Ambos estavam de uniforme e pareciam muito jovens, da idade de Christopher e Alfonso. Sorriam para a câmera, o pai de Christopher parcialmente voltado para o meu, como se rindo de uma piada, com um sorriso largo como o do filho. Na juventude, ele era bonitão, estilo galã de Hollywood. Até hoje algumas pessoas que o conhecem daquela época o chamam pelo apelido, McQueen, por causa dos olhos azuis hipnóticos iguais aos do ator. Iguais aos de Christopher

– Achava que eles se detestavam.

Christopher dá um sorriso torto.

– Não. O seu pai é que detesta o meu. Não esqueça que o meu pai é um clérigo. Ele não detesta ninguém. Pelo menos é o que diz.

Franzo a testa.

– Mas o que aconteceu, você sabe? Ele contou? Meu pai não toca no assunto.

Christopher me fita brevemente.

– Não. Não sei bem como é a história. Já tentou perguntar para a sua mãe?

– Ela não me conta nada. Diz que é muito triste e não faz sentido ficar revirando lembranças antigas.

– Bom, aí está a resposta – retruca Christopher. – Talvez seja melhor deixar quieto. Eles que se entendam.

 – Já se passaram vinte anos. Acho difícil que um dia se entendam.

Christopher me olha com curiosidade

– Por que você está preocupada com isso? Tem coisas que é melhor deixar pra lá.

Dou um suspiro e olho pela janela

– O que foi? – pergunta Christopher, voltando a pôr a mão no meu joelho

Eu me volto para ele

– É só que... ahn... Não importa. – Christopher me encara com as sobrancelhas erguidas. Respiro fundo. – É que... Eu só queria que o meu pai não... – Deixo a frase no ar.

– Me detestasse tanto? – conclui ele.

 – É.

Ele dá de ombros.

– Não me incomoda.

 – Mas é um saco, sabe? – falo, elevando a voz. – Não é justo. Você não fez nada.

– A vida não é justa, Dulce – replica Christopher  com a voz baixa e tranquila. Como eu bufo, ele acrescenta: – Não tem problema.

– Mas torna tudo mais difícil – murmuro.

– Tudo o quê?

– Isto. Nós dois – respondo, indicando a mão dele sobre o meu joelho. – Do que você está achando graça?

– É porque você disse nós dois

Eu coro e sinto minhas entranhas se contorcerem. Fui presunçosa demais? Ele está caçoando de mim ou gostou do que ouviu?

– Não vamos nos preocupar com isso agora – diz, baixinho.

Eu aperto os lábios. Para Christopher, é fácil falar isso; ele não mora com meu pai. Se o coronel descobrir que estou namorando com Christopher ... Calma lá, não tem namoro nenhum ainda. Estou me precipitando, né? Enfim, se meu pai descobrir que eu escapuli no meio da noite para ficar com Christopher , só nós dois, nem imagino o que será capaz de fazer. Ou Alfonso. Meu Deus. Seguro na beirada do assento com tanta força que os nós dos meus dedos ficam brancos. Estava tão focada no coronel que nem me lembrei do meu irmão. É quase tão ruim ele saber.  Alfonso é superprotetor comigo desde a infância. Teve que se interpor entre mim e a fúria do meu pai mais de uma vez, e acho que acabou assumindo o papel de guardião.