Fanfic: Domando o coração (ayd adaptada) finalizada | Tema: Portinon

 POV Dulce

- Angelina me procurou de madruga e me entregou esses envelopes. Ela me pediu para decidir qual deles dar a você. O branco tem sua demissão, o amarelo sua promoção. – Anahí mostrou os dois envelopes para mim. Eu não sabia o que fazer. – Um deles tem uma passagem pra Berlim e ela sai no mesmo horário que a passagem para Nova York.

- Por que está fazendo isso? – falei nervosa.

- O que?

- Me fazendo escolher agora? – eu comecei a andar de um lado para o outro.

- Dulce , você acha que eu fiquei como? Eu realmente quero você comigo, mas não quero que isso custe sua felicidade.

- Eu sou feliz ao seu lado.

- Pode até ser, mas não é o que você quer agora. – ela falou

- Eu quero sim – tentei rebater

- Nem você consegue acreditar nessa mentira – ela falou calma. Eu queria que Anahí começasse a gritar comigo, para ficar com ela, só assim eu poderia me decidir mais facilmente.

"Por que eu não aceitei a droga do pedido de casamento?" – meus olhos começaram a queimar.

- Você está desistindo de nós? – eu estava me segurando para não chorar.

- Não entenda isso como desistência. Eu te amo Dulce, sempre deixei isso bem claro, mas eu nunca pude competir com seu trabalho. Você ama isso e trabalhou tanto pra conseguir.

- Você está desistindo de nós Anahi?! – por mais que eu ainda não quisesse morar na fazenda, eu queria ficar com ela.

- Não encare dessa forma – ela tentou falar.

- E como você quer que eu encare? – passei as mãos pelo rosto para secar as lagrimas.

- Olha em que posição difícil eu estou. Se eu disser pra ir, você vai pensar que eu quero desistir de nós, mas se eu pedir pra você ficar comigo, eu me sentirei a pessoa mais egoísta do mundo. – Ela segurou meus ombros – Eu conheci as duas faces da moeda Dulce María Savinon, e todas elas amam o que fazem. Você quer ficar comigo Dulce? – ela perguntou séria.

- Eu... eu quero... lógico que eu quero, eu te amo Anahí. – ela sorriu com os olhos marejados e guardou o envelope amarelo no bolso.

- Vamos fazer nosso check in – ela me puxou pela mão. A fila estava enorme. Anahí não soltou de mim um minuto, enquanto esperávamos nossa vez.

Eu a amava, de verdade. Mesmo ainda não estando preparada para me isolar de tudo e acho que nem estava preparada para largar meu emprego. Eu amava aquela revista, mesmo tendo a Malevola como chefe. A cada estilista, maquiador ou cabeleireiro que passavam pelos corredores daquela revista, cada história e cada momento que passei ali foi inesquecível para mim, foi naquele lugar onde Dulce Savinon pode mostrar para o mundo quem ela realmente é.

- Olha as roupas dela. – Clarice riu das minhas roupas rasgadas. Fazia alguns meses que chegamos aos EUA e meus pais não tinham dinheiro para comprar roupas novas, mas mesmo assim prezavam pela minha educação, então me enviaram para escola. Todos os dias era isso.

- Olha esses chinelos, ela parece uma mendiga – Noah riu de mim.

- Pobretona, pobretona, pobretona – Eles cantavam em coro e eu apenas fiquei de cabeça baixa.

Abracei Anahí mais forte. Aqueles eram realmente tempos difíceis, mesmo depois de estabilizados, as coisas não eram fáceis. Mas nada se compara ao meu ensino médio. Aqueles foram os piores anos da minha vida. Eu não tinha amigos, primeiro porque era mexicana e eles faziam questão de me isolar por isso. Segundo que a maioria dos latinos da escola faziam parte de alguma gangue, então eu também não podia andar com eles e terceiro, eu não tinha dinheiro para comprar roupas da moda, mesmo sempre amando moda. Isso já me excluía de qualquer outro grupo.

- Onde você compra suas roupas, no brechó da igreja? – Hillary passou rindo. Malditas lideres de torcida loiras. Eu apenas continuei a andar. Todos os dias haviam zoações.

- Olha quem chegou. Dulce Trapos Savinon – James, jogador de futebol babaca falou assim que entrei na sala.

[...]

- Mamã será que eu posso sair com minhas amigas para fazer compras? – era mentira, eu não tinha amigas, mas eu realmente queria fazer compras.

- Filha, infelizmente esse mês não podemos, mas prometo que farei hora extra...

- Não mamã, tudo bem. Não precisa fazer isso. As roupas que eu tenho estão boas.

Naquela noite ouvi minha mãe chorar e se lamentar com meu pai. Ela se dizia ser uma péssima mãe, mas não era verdade, ela trabalhava duro, assim como meu pai. Desse dia em diante eu nunca mais pedi dinheiro para eles. Eu sabia que eles não tinham dinheiro para comprar roupas, e pedir para que eles trabalhassem mais por isso, era algo tão fútil da minha parte.

Depois de tudo aquilo eu foquei nos estudos e consegui uma bolsa integral para estudar literatura. Depois descobri que realmente amava Jornalismo e mudei no meio do semestre. Na faculdade as coisas mudaram bastante, mas elas só melhoraram mesmo depois que eu entrei para Sytlles. No inicio foi difícil, o salário era pouco, eu trabalhava muito. Tinha dois empregos e ainda conciliava com a faculdade. Mas pelo menos na revista eu ganhava roupas e podia andar mais arrumada. Talvez tenha sido por isso que mantive meu emprego, pelo menos nos três primeiros meses, depois comecei a amar de verdade o que fazia. Moda se tornou meu segundo nome, conheci pessoas, aprendi tudo que podia sendo assistente da Angelina, me tornei a colunista mais jovem da revista e chegamos ao dia de hoje, onde tudo virou de pernas para o ar.

Eu tenho a mulher que eu amo de um lado e do outro tudo o que sempre quis. Era muito mais que um emprego pra mim, era tudo que eu amava fazer e ainda receberia mais para ajudar meus pais. Mas ainda assim estava ali, Anahí Portilla, a loira que nem pediu passagem, saiu entrando no meu coração. Ela é doce e arisca ao mesmo tempo, mas eu adoro isso. Ela é carinhosamente selvagem e isso a torna perfeita.

- Bom dia. – a atendente me despertou.

- Bom dia – Anahí respondeu. – Viemos fazer check in – Anahí colocou nossas malas no local para elas serem despachadas.

- Certo. As passagens por gentileza. – Anahí virou pra mim e sorriu.

- Eu te amo, não se esqueça disso. – Ela sussurrou. – Uma é pra Berlim e outra é para Nova York – eu me desmanchei em lagrimas.

- Não! – a mulher nos olhou sem entender – Não faz isso. – eu falei de uma forme meio desesperada.

- É o que você quer... e o que você precisa agora – ela deu um beijo na minha testa. – Você batalhou tanto por isso, que eu quero que vá pra Berlim e mostre o quanto você é boa no que faz.

- Eu quero ficar com você. – estava falando de maneira desesperada. – Você disse que queria que eu ficasse.

- Por mais que você diga que quer ficar, nós sabemos que você quer ir. Meu amor não tem correntes, meu amor é livre. Pássaros todos os anos viajam para o sul, durante inverno, mas... – ela sorriu e segurou minha mão – Eles nunca esquecem o caminho de volta para casa. Bate as asas e voa, Candy. Voa sem medo. – Ela me estendeu o envelope amarelo sorrindo e abriu rapidamente sua mala. Eu a vi tirando de lá o chapéu que havia tomado de mim a meses atrás. – Pra da sorte. – ela colocou na minha cabeça e deu uma piscadinha. – Passe primeiro a de Berlim, porque o portão é longe.

- Tudo bem – percebi a atendente secando as lagrimas. – Passaporte, por favor. – Entreguei meu passaporte.

Eu não conseguia parar de chorar e não soltei mais de Anahí, até meu vôo ser anunciado. Eu comecei a me desesperar de verdade.

- Como vai ser... nós? – eu perguntei nervosa. Ela selou nossos lábios, mas foi algo rápido.

- Viva sua vida. Quando estiver pronta, volte para o seu lar. – ela sorriu.

- Vai ficar em Nova York? – perguntei sem entender. Ela disse que odiava a cidade.

- Vou voltar para a minha fazenda. – Ela sorriu – No momento certo você vai entender aquela frase. – ela deu uma piscadinha pra mim. Ouvimos a segunda chamada para o meu vôo e para o dela. A abracei fortemente.

- Eu te amo, promete que vai me esperar?

- Você domou meu coração, acho que posso te esperar por alguns anos. – a puxei para um beijo de verdade, mas ela se separou rapidamente. – Você vai perder seu vôo – ela se afastou de mim – Eu também te amo. Boa sorte em Berlim. – Ela foi para o seu portão de embarque e sei que ela só fez aquilo porque se não, eu não faria.

- Até daqui a alguns anos, Anie – sussurrei ao passar pelo portão de embarque. As lagrimas só começaram realmente a cair quando a porta se fechou.

Os deuses quando querem nos castigar atendem as nossa preces. (Oscar Wilde)