Fanfic: Transgression ( Savirroni) mini Web — Finalizada | Tema: Savirroni

Passaram-se 15 anos desde que Christopher morrera. Ao contrario do que todos diziam Dulce não afastou-se de Maitê com o tempo, na verdade ela se aproximou cada vez mais. Cresceu uma amizade imbatível entre as duas. Dulce, prestes a completar seu décimo sexto aniversário e Maitê com seus 35 anos. Durante todo esse tempo Dulce passou por vários médicos e exames em busca de uma resposta para as súbitas mudanças dela. Sua família, incluindo a mãe dela não entendiam o que ou o porquê. Dulce também não sabia as respostas, mas gostaria de entender se o fato de ela as vezes se portar como o pai, tinha a ver com o que ela sentia pela mãe. Dulcensabia claramente que o que sentia não era apenas amor mãe-filha, tinha algo mais, muito mais. Ao mesmo tempo, Maitê apesar de não entender e não querer entender o que sentia, ficava completamente incompleta e vazia quando estava longe da sua menina. Foi apenas a três anos que elas foram a um centro espírita ao pedido de Mariana, e eles disseram que muitas coisas poderiam ser descobertas no 'tratamento' que eles fariam com ambas, porém achavam melhor fazê-lo apenas quando Dulce fosse mais madura, e decidisse que era o que queria.

- Vamos Mai, não vamos conseguir ficha.

Maitê sentou-se apressada no carro, ao seu lado, sentada no banco do passageiro Dulce.

- Já disse pra me chamar de mãe. - ligou o carro e foi o tirando do pátio. O portão se abriu para que elas saíssem e foram seguindo seu destino - você tem certeza disso?

- Ta com medo Mai? - ela falou no tom implicante que Chris costumava usar para provocá-la. 

- Não meu amor, a MÃE, não esta com medo - Maitê suspirou - só não sei se..

- Já esperamos tempo demais, quero saber se sou meu pai ou..

- DULCE! - Maitê chegou a frear o carro, e olhou-a furiosa - Não repita isso, seu pai morreu e esta no céu. Fim de assunto!

- Mãe, para de ser beata. Existe a possibilidade. Mona sempre diz isso.. Ela diz que pareço muito com meu pai..

Mona era a maneira que Dulce chamava Mariana. Quando pequena, teve aquela dificuldade comum das crianças em falar. Chamava-a de Mona e assim permaneceu até hoje. Ela insistiu desde o acontecimento no quinto aniversário de Dulce, que Maitê a levasse no centro espírita, mas as avós de Dulce não aprovavam, nem Maitê gostava muito da ideia. Quando finalmente a levou, agradeceu a Deus, pelas pessoas que lá trabalhavam terem mandado-a embora, e pedido para que voltassem apenas quando Dulce estivesse mais madura. Porém, convidaram-nas a continuar o tratamento com passes. Mas depois daquele dia, Maitê nunca mais voltara.. Exceto hoje.

- Mona já é uma senhora de idade, e ela era muito apegada ao seu pai..

- Assim como a mim.. - Dulce completou, mas Maitê a ignorou.

- E foi à maneira que ela conseguiu de superar a morte do seu pai. - uma lágrima escorreu pelo rosto de Maitê, elas conversavam sem se olhar, ainda paradas em alguma esquina a caminho do centro espírita. Dulce notou o repentino silencio da sua mãe e a olhou, viu-a chorando e virou o rosto de Maitê para si delicadamente.

- Não chora mãe, não posso suportar te ver assim. - e passou os dedos delicadamente pelo rosto de Maitê, onde a olhava com intensidade. Quando isso acontecia parecia para ambas que o resto do mundo sumira, que existiam apenas as duas. Lentamente Dulce aproximou seu rosto do de Maitê e deu um beijinho no rosto da mãe. Quase tocou seus lábios nos dela, mas não o fez apesar do desejo errado e quase incontrolável. Quando Dulce se afastou da mãe, Maitê permanecia com os olhos fechados. Dulce acariciou mais uma vez o rosto dela até Maitê abrir os olhos, e acabar com a magia estabelecida entre elas. Ela virou para frente, voltou a ligar o carro e saiu em direção ao centro, mas com seus pensamentos perdidos na sua filha e no erro que quase cometera.

A casa em que elas iam, ficava um pouco longe de onde elas moravam. Mas não demorou muito para que chegassem. O imprevisto no meio do caminho atrasou-as um pouco. Tal centro espírita apesar de não ser muito grande era muito procurado. Incrivelmente elas conseguiram as últimas fichas do dia. Sentaram-se na cadeira e ouviram todas as indicações. Os médiuns da casa explicaram que apesar de serem distribuídas as fichas, os que tinham a ficha de primeira visita, passariam pela triagem, como chamavam, e seriam chamados por ordem de necessidade, e não de chegada. Assim, começou a palestra do dia. Maitê apesar de ainda distraída, passou a prestar atenção na palestra, notando que hoje eles falavam justamente de reencarnação. Após a palestra um grupo de pessoas se dirigiu para outra sala, enquanto Maitê, Dulce e mais umas pessoas permaneceram sentados onde estavam. Havia 5 subsalas ali, com médiuns atendendo em todas elas. Cada uma tinha um nome escrito na porta.

 

Paz

 

Amizade

 

Verdade

 

Esperança

 

Amor

 

Assim era respectivamente os nomes das salas. Começaram a chamar as pessoas pelo nome, mas foi realmente conforme ordem de chegada. Porém quando chegou à última sala, chamaram a Maitê. Um pouco surpresa ela se levantou e seguiu até a sala Amor. Quando ela entrou haviam três pessoas lá dentro, um senhor, uma senhora, e um homem mais jovem. Todos eles simpaticamente a cumprimentaram, mas foi o homem mais velho que se aproximou, pegou as mão delas e completou;

 

- Bem vida irmã. - ele sorria, e fez um sinal para os outros dois, que automaticamente saíram da sala. - Sente-se aqui.

Ele apontou uma cadeira, e sentou-se em uma ao lado.

 

- Como você já ouviu antes da palestra, você esta sendo tratada espiritualmente desde o momento em que entrou na nossa casa. - Maitê assentiu. - porém, hoje tive que mudar um pouco nossa rotina. Irmã, você certamente não se lembra de mim. Mas eu nunca esqueci de você, e não é pelo seu rosto bonito. Mas sim, pela sua história.. e pela verdade que você busca em nossa casa. Quando junto aos meus irmãos pedi para que você voltasse com sua filha alguns anos depois, não foi simplesmente para que ela amadurecesse, mas para que você tivesse certeza que realmente queria saber, o que vai descobrir aqui. 

 

- Entendo, mas não acho que eu vá descobrir nada demais. Na verdade, vim por insistência da minha filha, e.. - ela parou, e mordeu o lábio nervosa.

 

- É realmente assustador, e incomum o que aconteceu. Mas você terá muito tempo para descobrir e aceitar. Irmã, tenho que lhe dizer que tens ótimos amigos espirituais, e eles estão aqui comigo, me aconselhando e me mostrando o que devo ou não dizer. Não sou mágico, nem vejo o futuro. Nessa casa, sou apenas uma ferramenta para os reais médicos, que são os espíritos já desencarnados e bem avançados, que Deus envia para nos auxiliar na vida na terra. - Maitê assentiu. - Agora me diga irmã, que paz você procura aqui?

 

- Só queria, só quero saber, ou, descobrir mais uma hipótese do que minha filha tem.. eu não sei.. - Maitê começou a chorar.

 

- Não se envergonhe, aqui dentro é normal ter essas reações. Você esta aqui para se livrar de todo mal que lhe atinge, então chore, ria, faça o que desejar. - ela assentiu com a cabeça e ele completou - continue..

- E é isso sabe, desde pequena ela faz coisas que meu falecido marido fazia, e isso me machuca um pouco. Eu vivia por ele, ele era tudo para mim. Pareceu o fim do mundo quando Chris morreu. Só sobrevivi por causa da minha filha, ela se tornou tudo. Mas ela me lembra muito o pai dela, e ao mesmo tempo que me conforta, dói. Quando estou com ela me sinto completa, mas sei que isso é errado.. o que quero dizer, é que as vezes meu sentimento por ela se torna confuso. Às vezes sinto por ela o que sentia por Chris. Mas ela é minha filha, não posso sentir isso!

 

- Calma irmã, lhe digo que não há pergunta que não tenha resposta. Assim como não há duvida que não possa ser resolvida. Você veio à procura de respostas, e vai obtê-las. Porém devo dizer-lhe que não serão respondidas totalmente hoje. Você trouxe uma carga de 15 anos para cá, muitas perguntas, muitas duvidas... Alegrias e tristezas. E será necessário tempo para que tudo seja resolvido e esclarecido.

 

- Eu só quero entender tudo isso, e saber o porquê de eu sentir isso tão errado..

- Não existe amor que seja errado. A primeira e mais importante lei de Deus é o amor. E não existe sentimento mais bonito que esse. Se você sente pela sua filha um amor diferente que apenas amor de mãe e filha, nós vamos procurar entender aqui o que está se passando, vamos buscar juntos e com calma uma resposta. Mas repito, não se sinta culpada por isso. O amor não é um erro, e sim uma dádiva.

Maitê sentiu uma calma, uma felicidade inexplicável com as palavras daquele senhor. Há tanto tempo ela carregava o peso pelo que sentia, que nos últimos meses ela mal vivera, apenas pedia perdão a Deus pelo que sentia. Maitê pegou a mão do senhor, e agradeceu, com lagrimas ainda caindo pelo seu rosto.

- Sente-se pronta para nosso tratamento? - Maitê pensou por um momento, e lembrou do peso que tirara do peito graças a esse senhor, do alivio que sentia, de como estava melhor, e confirmou com a cabeço. O velho senhor sorriu e continuou - Vou encaminhar você e sua filha para regressão. O que é regressão?! A regressão vocês farão em uma sala separada, certamente uma de cada vez. Se preferir pode ser comigo mesmo, onde cuidadosamente eu vou tentar te ajudar a lembrar de outras vidas, para que você entenda o que esta passando nessa. Na nossa doutrina, nós acreditamos que o corpo, a carne, é apenas uma ferramenta usada pelo nosso espírito que vem a terra em busca da perfeição. E nesse caminho, vamos aprendendo com os erros. A morte que para muitos significa um fim, para nós é apenas um novo começo.

- Sim, entendo.

- Você já teve muitas outras vidas irmã.. Com outros corpos, em outros lugares, com vários aprendizados. - ele sorriu - e os seus amigos espirituais, no qual me referi no começo. São as amizades que você fez através de toda sua caminhada. Tais espíritos podem ter sido algum dia sua mãe, seus irmãos, marido, ou apenas amigos no qual se identificou. E acredite, eles oram e pedem por você. Assim como, sempre que podem lhe mandam ajuda quando precisa. Acredito, que se esta aqui hoje, é porque algum espírito amigo lhe ajudou e lhe mostrou o caminho.

Maitê sorriu e fez que sim com a cabeça se lembrando de Mariana, que por tanto tempo insistiu que Maitê fosse nessa casa. O senhor começou a preencher uma folha, apontando quantas sessões de regressão ela faria, assim como quantos passes deveria tomar. Ele se levantou, e pediu que Maitê fizesse o mesmo, e assim começou a dar um passe nela. Maitê saiu daquela sala nova, sentia-se limpa, feliz, leve. Viu Dulce ainda sentada no mesmo lugar com uma feição de tédio.

- Ai maite, que demora..

Mas sua mãe nem teve tempo de responder, porque agora ela que estava sendo chamada na mesma sala e pelo mesmo senhor. A conversa deles foi bem parecida com a de Maitê, e o irmão fez questão de repetir as palavras e deixar tudo bem explicado. Ele ficou um pouco surpreso quando Dulce falou diretamente que achava que poderia ser seu pai.

- Você acredita mesmo nisso? - ele perguntou e Dulce não hesitou em responder.

- Sim, é a única coisa que me deixa mais calma, que alivia minha culpa pelo que sinto pela minha mãe.

- Apenas por isso irmã?

- Não, desde pequena.. tenho ido em vários médicos, feito vários exames com minha família procurando alguma explicação, do porque de eu falar e agir como meu pai. Eu não o conheci, mas desde sempre me dizem que meu sorriso, meu olhar, tudo é como o dele. E às vezes, incontrolavelmente, falo alguma coisa que ele em algum momento importante da vida ele falou a minha mãe, ou algo do tipo..

- Que dia teu pai morreu, e que dia você nasceu?

- Meu pai morreu, eram umas 11 horas da noite, do dia 6 de dezembro. E eu nasci era meia noite e três minuto do dia 7.

- Anormal.

- Muito! Meu pai morreu por mim e pela minha mãe, mas ela nunca superou.

- Cada vez se torna mais óbvio, apesar de anormal. Não se sinta sobrecarregada, e sobre contar a sua mãe, faça o que achar melhor, mas acredito sim que na sua ultima encarnação, você tenha sido... Seu pai.