Fanfic: Os opostos — Portinon | Tema: Portinon

POV DULCE

  Eu não queria sair daquele abraço nunca mais. Por tanto tempo pensei ser auto-suficiente e bem resolvida quando o assunto era viver sozinha e naquele momento era como se o tempo voltasse. Ver de novo a minha família me trouxe de volta a um lugar no meu coração que eu achava que tinha esquecido. 

   - Você está tão linda, meu amor... - Minha mãe tinha lágrimas nos olhos ao falar. - Está mais magra, têm se alimentado direito? E esse cabelo? Parece um anjinho!

   - Menos, mãe... - Falei rindo do exagero dela.

   - E essa deve ser Anahi, certo? - Minha mãe virou sua atenção pra garota sorridente ao meu lado.

   - Sim, mãe. Anie, essa é Blanca, minha mãe. Mãe, essa é Anahi, minha namorada. - Apresentei as duas.

   - É um prazer imenso conhecê-la, Anahi. Vem cá, meu amor. - Falou minha mãe puxando uma Anahi tímida pra um abraço no melhor estilo materno.

   - O prazer é meu, Sra. Savinon

   - Ah não, querida. Pra você é só Blanca. Você é de casa. - Anahi sorriu com o comentário de minha mãe e pareceu ficar mais à vontade. - Vamos entrar?

  Meu pai Fernando já ia se encaminhando pra dentro de casa com minha mala e a de Anahí. Peguei a mão da minha garota e a levei pra dentro. 
  Minha casa antiga estava do jeitinho que eu me lembrava. A grande sala de estar comportava toda a minha família e os amigos que sempre vinham aqui. Fotos nossas estavam por toda parte. 

   - Uau, que grande. - Anahi pareceu admirada.

   - Uma grande casa pra uma grande família. - Respondi dando uma analisada no lugar.

   - Com licença, posso conhecer minha cunhada? - Blanca minha irmã chegou do meu lado esquerdo e me deu um tapa na cabeça. - Senti falta disso.

   - Vaca. - Ri da brincadeira dela. - Anie, essa é minha irmã mais velha e pé no saco, Blanca.

   - Também te amo, irmãzinha... Muito prazer, Anahi. - Blanca a abraçou carinhosamente. 

   Minha mãe insistiu pra que fôssemos descansar antes do jantar. Subi com Anahi até meu quarto e me surpreendi ao notar que o mesmo, assim como o resto da casa, estava do jeitinho que eu havia deixado. O mesmo papel de parede feminino contrastando com os pôsteres de bandas de rock nas paredes. Meu violão ainda estava intacto preso a um suporte no canto esquerdo da cama e a janela que dava pra rua tinha a mesma cortina meio transparente.

   - Ora ora... - Anahí mediu o lugar de cima a baixo sem deixar escapar um detalhe sequer.

   - Eu dormi nesse quarto a minha vida toda até me mudar pra academia do Batalhão. 

   - É a sua cara. 

  O restante da tarde passou rápido, ao meu ver. Dormimos um pouco e quando anoiteceu, descemos pro jantar. O cheiro de comida invadiu meu nariz fazendo-me pensar em como consegui sobreviver tanto tempo sem a comida da minha mãe.

   - Dul, você viu meu casaco? - Anahí me encontrou na sala logo depois que desci.

   - Vi, princesa. Coloquei pra lavar. - Ela acentiu e me acompanhou sentando-se junto a mim no grande sofá.

   - Dul! Dul! - Não tive tempo de olhar pra trás e já senti um peso sobre minhas costas. Cláudia havia pulado sobre o sofá e me agarrado pelo pescoço assim como fazia quando eramos mais novas.

   - Hey, garotona. Eu não tenho mais idade pra isso, você ta muito mais pessoas do que eu - Brinquei descendo minha irmã, das minhas costas.

   - Você, já foi mais legal Dulce. Credo nem parece, que é uma capitã. aff..., ei eu quero pintar meu cabelo como o seu.

   - Não, sei Cláudia, sabe eu sou a mais bonita e bem eu combino com tudo.— acabei rindo com a feição de minha irmã.— Se bem que eu podia pintar sim. Que tal laranja? - Me animei com a idéia de usar minha irmã de cobaia.

   - Nem pensar. - Anahí nos repreendeu com ar de riso.

   - Muito bem, Anahí. Ponha juízo nessas garotas. - Minha mãe vinha entrando na sala e sentando-se no sofá menor ao lado do que estávamos. - Uma vez Dulce e Claudia tinha que fazer um trabalho da escola e usou a pobrezinha da minha cachorrinha como experimento. Quase tive um troço quando vi a fifi( e a minha cachorrinha) suja de graxa enrolada em papel alumínio.

   - Mas mãe, era um trabalho da feira de Ciências muito importante! - Retruquei mediante risadas altas de Claudia, que concordou com a cabeça.

   - Foi engraçado, eu lembro. - Blanca falou em meio a risadas.

   - Pinta meu cabelo, Dul...- Cláudia sugeriu brincando com as sombrancelhas.

   - Tá vendo, mãe? Ela que tá pedindo. - Me justifiquei cinicamente.

   - Só se Anahi ajudar, é mais confiável. - Minha mãe brincou.— Porque você é Cláudia juntas é uma catástrofe.

   - Claro que ajudo, eu que pintei o da Dulce. Sim, porque se eu deixasse ela fazer sozinha, era capaz dela ficar toda rosa da cabeça aos pés. - Anahi entrou na brincadeira.

   - Como é que é, Anahí Giovanna? - Fingi indignação. Ela riu alto e me deu um beijo no rosto. - Fique você sabendo que vou pintar de novo. Talvez de azul.

   - Os anos passam mas é a mesma idiota de sempre. Senti saudade da minha irmã babaca. - Cláudia disse sorrindo e veio até mim me dando um beijo na testa. - Vamos jantar?

  O jantar foi perfeito. Eu tinha tudo que precisava bem alí ao meu alcance. Minha mãe, meu pai, minhas irmãs e meu amor, todos juntos. Eu estava mais feliz do que jamais estive. Depois de comermos, fomos até a sala e jogamos vídeo game. Eu e Blanca contra Anahí e Claudia.

   - Sua tapada, perdemos por sua causa! - Chutei a coxa de Blanca levemente recebendo um soco brincalhão no braço.

   - Você que é uma anta e não entende nada. - Ela retrucou emburrada.

   - O que vamos jogar agora? - Claudia parecia cada vez mais animada.

   - Resident Evil! - Propus sorrindo. - Ah, vamo... É o unico que eu sei jogar bem.

   - Só porque você é boa de tiro e perseguição. - Anahí protestou.

   - Exatamente. - Sorri mais ainda tentando convencê-las.

  Depois de muitos protestos, fomos jogar Resident Evil. Era cada um por si e obviamente, eu ganhei fácil.

   - Ah, não vale. É covardia jogar esse jogo contra você, Dul. - Blanca disse. 

  Jogamos até tarde da noite e depois ficamos assistindo tv e comendo brigadeiro. Eu comi praticamente uma panela inteira mesmo com Anahí dizendo que me faria mal. Cláudia já dormia no sofá agarrada a uma almofada. Peguei minha irmã no colo e a levei pro seu quarto acomodando-a na cama. Ela acordou ainda sonolenta quando ameacei desligar a luz.

   - Dul? - Ela chamou com a voz rouca e me virei sentando na cama ao seu lado.

   - Oi, - Acabei sorrindo a olhando.

   - Fica aqui comigo... - Ela pediu fazendo bico.

   - Fico sim.

   - Você não vai embora se eu dormir?

   - Claro que não.

   - Promete? - Ela ergueu o dedo mínimo, fazendo eu revirar os olhos. Nós duas éramos sempre assim, e Cláudia sempre parecia a caçula, muitos das vezes.

   - Prometo. - Entrelacei meu dedo ao dela.

  Ficamos conversando sobre assuntos aleatórios. Cláudia me contou como era no trabalho, suas amigas e seus namorados. Coisas de nossa idade, que eu não tinha, por conta da minha profissão. Depois de um tempo ela pareceu pensar bastante e me olhou decidida antes de falar.

   - Eu gosto da Anahí. - Ela disse de repente me pegando de surpresa. - Ela é o seu oposto, te completa, não é?

   - Se fosse, o que você acharia? - Perguntei incerta.

   - Seus olhos brilham quando olha pra ela. E ela te faz bem, então por mim sim Dulce, ela te completa, e te faz muito feliz, e isso me deixa feliz. - Ela sorriu.

   - Sério que está tudo ok pra você? - Ela acentiu com a cabeça. - Não te contei antes porque eu pensei ser muita informação.

   - Fala sério, Dulce. Quantos anos acha que eu tenho, sete? - Ela disse parecendo indignada por eu tê-la subestimado. Eu ri alto da sua expressão. - Senti falta da sua risada. Senti falta de você todos os dias.

   - Own... Prometo não sumir mais por tanto tempo. E obrigada por me aceitar como sou e aceitar Anahí também, sabe que eu e você somos uma dupla. Ela é muito importante pra mim.

   - Eu sei. Eu te amo, Dul. - Ela disse me puxando pelo pescoço pra um abraço. Ficamos assim por um bom tempo até que eu entrei junto com ela nas cobertas e apoiei sua cabeça em meu peito.

   - Também te amo, Cláudia, senti sua falta. Dorme tranquila que eu fico aqui com você.