Fanfic: Os opostos — Portinon | Tema: Portinon

   Alguns dias depois...

  
   POV DULCE

  Acordei com o despertador tocando que nem louco. Sem abrir os olhos, peguei o objeto com violência e atirei longe. Pude ouvir quando o mesmo se chocou contra o chão. Deve ter quebrado.
  

   - Volta aqui, amor. - Uma voz me chamou de dentro do edredom. Quase pulei da cama com o susto. Eu não lembrava de ter dormido com ninguém, mas pelo tanto que minha cabeça estava doendo, deduzi que mesmo que tentasse, não me lembraria.

  Ergui o lençol encontrando uma garota loira muito bonita dormindo de bruços. Respirei fundo já tendo uma idéia do que tinha acontecido. Levantei da cama me dando conta que eu também estava nua. Mas que merda eu havia feito? Fui até o banheiro e tomei um banho rápido. Vesti um short qualquer e uma camiseta sentindo a dor na minha cabeça se intensificar. Preciso de um analgésico. Fui até a sala procurar a caixinha com remédios e tomei algo pra dor. Fiz café e sentei no sofá tentando decidir se iria ao trabalho ou não.
  

   - Bom dia... - Levantei a cabeça pra ver a moça que vinha em minha direção sentando-se ao meu lado. - Você sempre acorda cedo assim?

   - Err... não, eu... - Respondi meio confusa. - Desculpa, mas... Qual é o seu nome?

   - Lindsay. - Ela deu uma risada baixa. - Imaginei que você não fosse lembrar mesmo.

   - Desculpa, é que eu tô meio distraída. 

   - Sem problemas. Eu já tava indo embora mesmo, mas adorei a noite. - Ela disse se aproximando de mim. - Esse é meu telefone. Liga pra mim, se sentir saudade.

  A garota me entregou um pequeno cartão e me deu um selinho. Fiquei parada no mesmo lugar ao observá-la ir embora fechando a porta atrás de si. Não era a primeira vez que aquilo acontecia. Na verdade, nos ultimos dias têm acontecido com muita frequência. Isso sem comentar o fato de que eu nunca bebi tanto. Não que normalmente eu fosse de beber, mas era como se eu precisasse. Desde que terminei com Anahí era como se um buraco fosse aberto em meu peito e tudo parecia totalmente sem sentido. Eu estava meio que ligada no automático, dormia com quem eu queria, tinha a mulher ou homem que eu quisesse, a hora que eu quisesse, mas nada disso era suficiente. Meu celular tocou naquele momento me tirando de meus pensamentos.

   - Pronto.

   - Dul, sou eu. - Reconheci a voz de Poncho.

   - Oi, Poncho. - Respondi simplesmente coçando a testa com a pontinha das unhas.

   - Você vem pro departamento hoje?

   - Não. 

   - Dul, você nunca foi de faltar o trabalho, pelo contrário. Agora some à noite, sai pra lugares que antes não saía, faz coisas que antes não fazia...

   - É que hoje sinto coisas que antes não sentia. Então me deixa em paz, por favor. - Desliguei o telefone sem esperar sua resposta.

  Joguei o celular de lado e coloquei a cabeça entre as mãos. Por mim, eu não levantava daquela cama pra nada. Eu não tinha vontade de nada. Deitei sobre o estofado e deixei as lágrimas escorrerem livremente, assim como vinha acontecendo todos os dias. Eu saía, bebia, ficava com alguma garota ou garoto e voltava pra casa quase sempre acompanhada. No dia seguinte me arrependia, voltava pra realidade e chorava.

   POV ANAHÍ

  Hoje eu tenho uma prova muito importante. Dessa vez tinha que dar tudo certo, pois se eu tirasse outra nota baixa, atrasaria meu curso em seis meses. Meu rendimento tinha caído muito ultimamente. Resolvi chegar cedo na faculdade pra estudar um pouco antes das aulas.

   - Vai sair sem comer nada, filha? - Ouvi minha mãe perguntar quando eu já passava direto pela cozinha indo pra porta da rua.

   - Não, mãe. Como algo no campus. - Respondi indo rapidamente até ela e lhe beijando o rosto.

   - Filha, lembre-se que tenho uma conferência muito importante em Detroit, amanhã. Viajarei hoje à noite. 

   - Tô sabendo, dona Marichelo. Vou ficar bem. - Beijei-lhe novamente e saí antes que ela começasse com aquele discursso de recomendações.

  Dirigi calmamente pelo caminho de todos os dias e estacionei na vaga de sempre. Logo avistei minha melhor amiga Maitê sentada em uma das mesas de concreto do local. 

   - E aí. - Cumprimentei ela que apenas levantou a cabeça tirando os fones de ouvido e sorrindo pra mim de canto. 

   - Oi, cabeça. Pronta pra hoje? - Ela perguntou enquanto eu me sentava.

   - Acho que sim. Não posso reprovar de jeito nenhum, seria um atraso muito grande. - Suspirei.

   - Relaxa, Anie. Vai dar tudo certo. - Ela me olhava mordendo o lábio. Parecia pensar em algo. - Anahí...

   - Hm. - Murmurei distraída.

   - Tem tido notícias dela? - Ela praticamente sussurrou a pergunta como se aquele fosse um assunto tabu. E meio que era.

   - Não. - Respondi simplesmente já sentindo aquele frio no estômago. Respirei fundo tentando afastar as sensações.

   - Anie, não fica agindo como se não se importasse porque eu sei que é nela que você pensa 24 horas por dia. - Maite disse largando a caneta que segurava.

   - Eu não quero falar sobre isso. - Respondi sem olhá-la. 

   - Mas precisa. E se você está sofrendo tanto como eu acho que está, deveria fazer alguma coisa a respeito.

   - Maite, ela disse que não me quer mais. - Sustentei meu olhar no dela. - Acho que isso já diz o suficiente.

   - Você caiu nessa? Anahí, tá na cara que alguma coisa tem. Dulce é completamente louca por você, como ela pôde terminar assim?

   - Maitê, eu estraguei tudo. Talvez tenha sido melhor, talvez... - Senti meus olhos encherem de lágrimas e minha voz falhar. 

   - Ow amiga... - Ela disse tocando meu braço carinhosamente. - Você ama muito aquela garota, não é?

   - Mais do que qualquer coisa. - Limpei as lágrimas que insistiam em cair. - Mas se ela decidiu assim, que assim seja. Não quero ser um impercilho na vida dela.

   - Ainda acho que está cometendo um erro. Como sua melhor amiga, digo que deveria ir atrás dela e tentar recuperá-la. 

   - É tão agoniante ficar sem notícias dela, sabe? Saber se ela está bem, se não está precisando de alguma coisa. Ela é tão desajeitada com algumas coisas, mal consegue fechar os botões da blusa quando são pequenos demais, sempre esquece de tomar o remédio da alergia, deixa a roupa largada no meio da sala... - Ri pelo nariz ao lembrar das pequenas manias de Dulce.

   - Então, sua boba! Vai ficar o resto da vida se lamentando por ter perdido a mulher da sua vida ou vai fazer algo pra tê-la de volta?

  Passei as mãos nervosamente pelo cabelo e não respondi sua pergunta. Eu não conseguia pensar em outra coisa que não fosse Dulce, mas ela claramente não me amava mais. Então eu só tinha uma alternativa: Tinha que dar um jeito de esquecê-la e ficar chorando pelos cantos não ajudaria em nada.