Fanfic: Os opostos — Portinon | Tema: Portinon

   POV DULCE

   - Você? - Me virei pra Anahí sem entender.

   - Sim, e você não tem nada com isso, portanto... - Ela tentava parecer fria mas pela  oscilação na voz grave pude ver que não tinha certeza do que estava dizendo.

  Passei a mão nervosamente pelos cabelos tentando controlar o impulso de ir até ela e sacudir seus ombros até que recobrasse a consciência. Eu não estava conseguindo lidar bem com tudo aquilo, por mais que soubesse que era o certo.

   - Anie, por favor... Vamos conversar. - Pedi tentando parecer calma. - E você, Diaz... Pensei que tivesse te dispensado.

   - Ela não vai a lugar algum. - Anahí interrompeu.

   - Anahí, eu posso voltar depois. - Andy falou com sua voz mansa.

  Senti uma raiva absurda da oficial à minha frente. Ela não pertencia ao Batalhão de Operações Especiais, portanto não era minha subordinada. Dessa forma, eu não poderia simplesmente expulsá-la. Mas se ela continuasse olhando pra Anahí daquele jeito, eu não sei se aguentaria.

   - Andy, você fica. - Anahí disse. - Dulce María, você vai.

   - Eu não vou a lugar algum, você tem que me escutar! - Insisti dando alguns passos na direção dela, mas pra minha surpresa, Andy se colocou entre nós duas impedindo a passagem.

   - Andy... - Anahí interveio.

   - Sai da minha frente. - Pedi baixo já sentindo meu sangue ferver.

   - Não. - Ela respondeu.

  Antes que eu pudesse pensar, já estava partindo pra cima da garota que era mais alta que eu, porém não tão ágil. Acertei um empurrão em cheio nela fazendo-a bater as costas no balcão da cozinha. Anahí rapidamente correu até mim e abraçou meu pescoço impedindo qualquer movimento meu na direção da outra mulher.

   - Não, Dulce. Pára com isso. - Ela disse nervosa ao meu ouvido. - Escuta, não vamos resolver isso aqui. Nos encontramos mais tarde. Dul... Dul!

  Ela pegou meu rosto entre as mãos ao notar que eu não prestava atenção ao que era dito a mim, pois meus olhos estavam fixos em Andy. Eu seria capaz de socar a cara dela até sangrar.

   - Dulce! - Anahí chamou novamente puxando meu rosto fazendo com que finalmente eu a olhasse.

   - Tire ela daqui. Não deixa mais ela entrar, manda ela embora. - Pedi quase num tom suplicante. 

   - Andy, pode ir. - Anahí disse. Andy respirou fundo e começou a andar em direção à porta de saída.

   - Diaz! - Chamei fazendo-a se virar. - Está demitida. Se eu ver você por aqui outra vez, não vou ter pena.

  Senti o aperto de Anahí em meu ombro como que repreendendo o que eu disse. Andy apenas deu as costas e saiu pela porta. Concentrei minha atenção na garota à minha frente.

   - E agora, vai me dar uma chance de explicar as coisas? - Perguntei aproveitando que ela ainda segurava meus ombros e envolvi a cintura fina.

   - Mais tarde. Ainda tô de cabeça cheia, não seria bom pra nenhuma de nós. - Ela respondeu.

  Suspirei meio triste mas acenti. Pelo menos ela havia aceitado conversar. Combinamos de nos encontrar à noite no barzinho próximo ao restaurante italiano que sempre íamos. Era muito frequentado por amigos meus e Anahí já tinha ido várias vezes lá, também.

  Me despedi dela de um jeito quase formal e fui pra casa. Era torturante tratá-la como se fosse uma simples conhecida. Eu queria beijá-la, agarrá-la, matar a saudade, protegê-la, gritar pro mundo todo que eu tenho dona e que ela era o amor da minha vida. 
    O resto do dia passou devagar, talvez pela minha ansiedade. Quando o relógio marcou 20:00 eu já estava devidamente pronta. Tentei convencer Anahí a me deixar ir buscá-la, mas ela não quis. Disse que ia com as meninas da faculdade e nos encontraríamos lá. Sendo assim, chamei Poncho, Cris e Natalhie pra me fazerem companhia. 

  Eu estava de certa forma com uma roupa simples. Apenas uma blusa cor de creme bem desenhada que caía até minha cintura, uma jaqueta preta cavada no corpo de modelo discreto e calça jeans preta. Calcei uma espécie de bota, mas estava mais pra uma sandália pesada com um salto moderado. Depois de pegar o que eu precisava, saí de casa. Ainda precisaria pegar Poncho, claro. Ele estava realmente animado com Maitê e quando soube que ela ia, ficou empolgadíssimo.

  Busquei Poncho e fomos pro tal barzinho. Encontraríamos o resto do pessoal lá. Estacionei o carro na calçada do estabelecimento.
  O lugar era bem aconchegante. Haviam mesinhas espalhadas pelo local e o balcão ficava razoavelmente distante pra que a passagem das pessoas fosse livre. Escolhemos uma mesa bem no canto e sentamos de frente pra entrada. 
  Não demorou muito tempo e Cristian chegou acompanhado por Nathalie. Ela era uma das novatas do Batalhão e ao que me parecia, o tenente Cháves estava investindo na moça.
  Demorou cerca de meia hora até que a porta do bar abrisse novamente revelando o grupo de meninas que acabava de chegar. Meu coração quase foi pela boca ao avistar Anahí. Ela estava deslumbrante. Usava um vestidinho curto branco que parecia ter os acabamentos feitos em renda, mas não tinha certeza. Maquiagem leve, cabelos soltos na altura dos ombros, sendo que um pouco mais abaixo, já que o mesmo crescia rápido.

   - Fecha a boca, capitã. - Despertei com Poncho colocando a mão sobre meu queixo levantando meu maxilar.

  Dei um soco de leve em seu braço e voltei minha atenção pra Anahí. Ela ainda não tinha nos visto em meio às pessoas sentadas. Com ela estavam Maite, Emma , uma garota que eu não conhecia e... Daniela? Ah não.
  
   - Hey, Maitê! - Poncho levantou a mão chamando por ela.

  Maite olhou ao redor procurando a voz que havia chamado seu nome e encontrou nossa mesa finalmente. Ela cutucou Anahí que também olhou. Ela sorria timidamente pra algo que a garota desconhecida falava e ao me ver, seu sorriso sumiu. Vi seu maxilar trincar e respirei fundo.
  
   - E aí... - Maite cumprimentou a todos chegando na mesa em que estávamos sendo seguida de perto pelas demais.

   - Venham, juntem outra mesa com essa e podemos sentar todos juntos. - Nathalie sugeriu e assim elas fizeram.

  Estávamos sentados em volta de duas mesas redondas. Eu havia pedido uma dose de wisky, mas desta mal provei. Meu olhos se concentravam apenas na garota à minha frente. Anahí parecia desconfortável, um tanto quanto calada demais. Maitê tagarelava com Cristian, Poncho e os outros, o que era bom porque assim a atenção não se viraria pra nós.

   - Vão abrir a boate, vejam. - Cristian apontou pra extremidade direita do bar onde tinha uma porta que dava na boate do local.

   - Ah, vamos dançar um pouco. - Maite se animou.

   - Eu não quero ir, vão vocês. - Respondi sem emoção.

   - Ah não, Dul. Vamos todos. Vem, Anahí. - Poncho contrapôs. Ele puxou Anahí pelo braço e a levou em direção à boate seguido pelos outros. Eu podia jurar que vi Daniela secando Anahí de costas. Resolvi que ficar alí não adiantaria nada. Se eu queria recuperar minha garota, eu tinha que agir.

     A boate estava fervendo. Pessoas iam e vinham por todo lado enquanto a música dominava o ambiente. Encontramos um lugar próximo ao discreto balcão de bebidas e lá ficamos todos juntos formando um círculo. As meninas dançavam animadas, inclusive Anahí. Eu só conseguia olhá-la, e ver o modo como seu corpo se movia era quase torturante.
  Após algum tempo, Cristian já estava beijando Nathalie enquanto Poncho e Maitê estavam mais parecendo duas enguias brigando. Eu não sabia onde terminava um e começava o outro.

   - Vou ao banheiro. - Anahí disse elevando a voz por causa do barulho.

   - Vou com você, Anie. - Daniela disse. 

  Senti meu corpo tensionar ao ouvir aquela idiota se referindo a Anahí com tanta intimidade.

   - Vou com vocês. - Falei sem pensar.

   - Não precisa. - Anahi se apressou em falar. 

   - É, não precisa. - Daniela deu ênfase. 

  Ainda insisti algumas vezes, mas Anahí foi firme. Bufei de raiva sabendo que eu não venceria aquele lenga-lenga. Acabou que as duas foram sozinhas me deixando prestes a explodir de ciumes. 
  A música e as pessoas continuavam em perfeita sintonia, mas eu não me sentia bem. No tempo em que fiquei esperando, algumas mulheres e homens chegaram em mim com flertes, mas eu estava ocupada demais olhando pra porta do banheiro que ficava mais ao longe pra dar atenção a qualquer coisa.
  
   - Onde está Anahi? - Maitê perguntou chegando até mim.

   - Banheiro. - Respondi.

   - Com quem?

   - Daniela. - Nota mental: O ciume me deixava mnossilábica.

   - Mas estão demorando, não acha? - Maitê continuou.

   - Acho. - Passei as mãos pelo cabelo em sinal de nervosismo. - Já chega disso.

  Comecei a andar na direção do banheiro. Elas estavam demorando muito, alguma coisa estava errada. Maite soltou-se de Poncho e me seguiu de perto. Ela me chamava com a voz elevada na esperança de que eu escutasse e quando não foi atendida, tentou segurar meu braço que foi prontamente puxado de volta por mim com certa agressividade. Eu ia atrás de Anahi e nada ia me impedir.
 Cheguei até a porta escura e abri sem cerimônia. A cena com a qual me deparei ao entrar completamente no cômodo amplo, fez com que eu esquecesse qualquer resquicio de sanidade.

  
   - Daniela me larga, droga! - Anahi pedia pra ela. Foi a unica coisa que me permiti ouvir.

  Daniela estava agarrando Anahi contra a parede e tentava a todo custo subir seu vestido enquanto beijava seu pescoço sob protestos alarmados da garota. Em suas mãos, um pequeno canivete de bolso.
  Não tive tempo de dizer nada, pois nesse momento o animal dentro de mim falou mais alto. Agarrei Daniela pelo pescoço com uma espécie de mata-leão e a joguei no chão longe de Anahi que parecia amedrontada demais pra fazer algo.
  Antes de cair no chão, ela ainda teve tempo de me golpear com o objeto cortante, provocando uma ardência que não tive tempo de parar pra olhar. Fui mais uma vez até a garota caída, pisei forte na mão que ainda segurava o canivete fazendo com que ela soltase o mesmo e a puxei pela gola da blusa levantando-a de modo que ficasse em pé. Depois disso tudo que eu conseguia pensar era que se eu não tivesse chegado a tempo, ela teria feito coisa pior com Anahi.

   - DULCE! - Anahi gritou, mas eu não parei.

  Desferi socos um atrás do outro no rosto de Daniela até que ela caiu novamente. Chutei com força a perna dela e montei em cima do corpo forte.

   - NUNCA-MAIS-OUSE-ENCOSTAR-NELA! - Acentuei cada palavra com um soco. - FILHA DA PU/TA! EU VOU MATAR VOCÊ!

   - Dul, pára! - Era Maitê dessa vez.

  O rosto de Daniela já sangrava mas eu não parei nem um segundo de socá-la. Levantei mais uma vez trazendo-a comigo pela gola da blusa e joguei-a contra a parede fazendo ela escorregar pelo azulejo. Dei alguns passos chegando até ela e apoiei minhas mãos na parede enquanto chutava com força sua barriga. Daniela já não reagia mais.

   - DULCE, PELO AMOR DE DEUS, VAI MATAR ELA! - Maitê gritou.

   - Dulce... DULCE Amor, por favor, pára com isso! - Era Anahi dessa vez, sua voz bem perto do meu ouvido.

  Ela aproveitou que eu tinha as mãos na parede pra envolver meus ombros com seus braços me puxando pra trás com força. À princípio tentei resistir e ainda chutei Daniela algumas vezes, mas acabei cedendo ao toque de Anahi que havia virado de frente pra mim agarrando-me firme pela cintura.

   - Amor, se acalma, por favor. Não vale a pena, Dul. - Ela disse com o rosto banhado por lágrimas e afundou o mesmo em meu pescoço.

  Respirei fundo algumas vezes sentindo o ar faltar. Abracei o corpo magro com força. Eu ainda sentia raiva, muita raiva. Mas Anahi estava assustada e eu não queria deixá-la assim.

  - Tudo bem, está tudo bem. - Eu afaguei seus cabelos. - Eu tô aqui, princesa.

  Senti tanta falta de chamá-la assim. Ela pareceu entender também e levantou o rosto choroso pra me olhar. Colocou uma das mãos trêmulas em meu queixo apertando-o e unindo nossos lábios. Deixei minha respiração finalmente fluir contra o rosto da garota e senti uma lágrima cair dos meus olhos. Aprofundei o beijo introduzindo a língua na boca receptiva e Anahi fez o mesmo. Nos beijamos por alguns segundos e nos separamos ofegantes nos abraçando em seguida. Mas aquele não era um abraço comum. Anahí cravou as unhas em meu ombro coberto pela jaqueta e com a outra mão agarrou meus cabelos num afago urgente. Eu apertava sua cintura e sentia que meus dedos deixariam marcas. Eu mal conseguia acreditar que ela estava alí, nos meus braços, de onde nunca deveria ter saído.