Fanfic: A Dama da Ilha(adaptada) | Tema: Vondy

– Doutor Uckermann?

Christopher estremeceu, mas não abriu os olhos nem levantou a cabeça.

– Doutor Uckermann, o senhor está bem?

Christopher abriu devagar uma pálpebra e fechou-a rapidamente. Na certa, ainda estava sonhando. Ele, Pearson e Shelley haviam bebido em excesso na noite anterior e agora estava pagando por isso. Mergulhara num daqueles pesadelos abomináveis sobre poetas românticos, consequência, sem dúvida, de outra daquelas tediosas leituras poéticas a que comparecia por insistência de Natália.

– Doutor Uckermann? Vi o senhor espiando com um olho. Sei que não está dormindo.

Christopher escutou um barulho, como se alguém muito grande houvesse se sentado em uma cadeira fraca para seu peso.

– Levante-se e venha tomar o café da manhã comigo.

Christopher deu um suspiro e abriu os olhos. Se arrependeu imediatamente e desejou fechá-los de novo.

Não se tratava de um sonho. Lorde Byron estava sentado ao seu lado.

Bem, não era Byron, que morrera havia uns vinte anos, mas alguém parecido com ele... ou melhor, alguém que pretendia rivalizar com ele. Aquele homem tinha ombros largos e quadris estreitos, sem o menor traço de gordura. Era musculoso, e o cabelo negro, lhe caía na testa; os braços peludos apareciam porque ele enrolara para cima as mangas da camisa branca. Como estava sem gravata, pelo colarinho aberto, também se notavam os pelos.

Estava de barba feita, mas alguns pelos já cobriam o rosto magro e bem-delineado.

Apesar da penumbra – Christopher supôs que fosse madrugada – era possível notar que o homem era bastante viril.

Exceto pela saia que usava.

Mas não era uma saia. Era um kilt. E a quantidade de pelos que apareciam dos joelhos para baixo da barra da vestimenta era fenomenal.

– Quem é o senhor? – disse Christopher arrastando as palavras, uma prova de que bebera muito.

– Glendenning – o homem respondeu com voz tão profunda que parecia reverberar como um trovão no crânio de Christopher, levando-se em conta a fragilidade de seu cérebro naquela altura dos acontecimentos. – Alfonso Herrera, conde de Glendenning. Vim o mais cedo que pude. O maldito nevoeiro impediu que eu viesse antes. Parece que o senhor se entreteve de maneira satisfatória durante minha ausência.

Com a visão borrada, Christopher olhou ao redor. Adam MacAdams e seus amigos estavam jogados ao redor do bar em diversos estágios de inconsciência. Apenas Stuben, o ressuscitado, encontrara um local confortável para dormir, estendido no sofá que a senhora Murphy preparara como cama para Christopher.

– Que... – Christopher estremeceu e abaixou o tom de voz. – Que horas são?

– Quase seis. Parece que o senhor e seus amigos se divertiram muito – ele afirmou.

Christopher observou os parceiros embriagados, que ressonavam. Estranho, eles pareciam bem menos velhos e feios à noite do que à pequena claridade do amanhecer.

– Creio que sim – Christopher admitiu, relutante, pois na verdade não se lembrava de nada. – Só não entendo por que a senhora Murphy não os despediu na hora de fechar.

– Hora de fechar? – Lorde Glendenning sorriu, e Christopher se reclinou mais na cadeira, espantado pelo tamanho dos dentes na boca do conde, que lembravam os de um lobo. – Não existe hora de fechar em Skye. Moira deixa que bebam até cair, quase todas as noites. Aposto que a maioria deles não aparece em casa há mais de um mês.

Christopher fez uma careta. Isso explicava o cheiro daquele lugar.

– Não que eles façam muita falta – Glendenning continuou. – Algumas das esposas são muito bonitas. – Ele piscou para Christopher. – Aqueci muitas camas, enquanto esses idiotas ficavam sentados neste bar, bebendo até cair.

Christopher ficou horrorizado, não pelo fato de Lorde Glendenning admitir despreocupadamente o adultério, mas por ele achar normal dormir com as esposas daqueles homens idosos. A situação em Skye era bem pior do que ele fora levado a acreditar.

Glendenning notou o espanto de Christopher e sorriu.

– Sei o que lhe passa pela mente, mas garanto que se engana. Está vendo o velho MacAdams?

Christopher anuiu com um gesto de cabeça.

– Ele tem uma mulher que não tem ainda trinta anos e por que não? Ele mesmo tem pouco mais de trinta e cinco.

Christopher ficou boquiaberto.

– Meu Deus... eu tenho trinta e...

– É o mar. – Glendenning deu de ombros. – Muitas horas ao ar livre, sob a ação do sol, vento, da brisa salgada, o mau tempo... Uma vida dessas envelhece um homem muito antes da hora.

Christopher sacudiu a cabeça.

– Jamais teria pensado nisso, nem em um milhão de anos.

– Claro que não. Por que isso lhe ocorreria? – Glendenning olhou em volta. – Nenhuma das moças se levantou? Pensei que podíamos conversar durante o desjejum.

Christopher também olhou para os lados.

– Creio que não. Não se preocupe, não estou com...

millamorais_: E não para por aí. Postado Gatenha!