Fanfic: A Dama da Ilha(adaptada) | Tema: Vondy
No entanto, Christopher não estava tão certo de que tais leis não se justificavam em determinados casos.
– Não posso dizer que me agrade a maneira como ele gosta de Anahí, se isso significa um filho por ano. E quem cuida dessas crianças?
– Lorde Glendenning, é claro – Dulce respondeu com presteza. – Não se pode confiar em Anahí para criá-las. Ela não tem inclinações maternais, embora ame as filhas e as visite com frequência. Na minha opinião, se ela tivesse uma babá, poderia até cuidar delas. Porém ele prefere manter sua prole em um convento de Lochalsh, onde terão educação muito superior à que teriam aqui. E com certeza são mais bem alimentadas. As freiras cuidam de todas, mediante uma doação generosa.
– Bem, pelo menos isso. – Christopher franziu a testa. – Concordo que será melhor do que se ficassem aqui.
Ele analisou o grande hall onde se encontravam e teve um arrepio. O local era tão frio como no restante do castelo. A mobília naquele saguão enorme era escassa e arrumada ao acaso, exceto a poltrona de Glendenning, que estava colocada no lugar mais quente do aposento.
– Sempre achei – Dulce deu de ombros – que a presença de crianças poderia afastar a tristeza do castelo.
– Devo presumir – Christopher a fitou com desconfiança – que sua resistência à corte de Lorde Glendenning não passa de um flerte?
Dulce arregalou os olhos.
– Não, por Deus! Não quero me casar com ele! E, como o senhor sabe, ele só insiste em se casar comigo porque...
Ela se interrompeu e, quando continuou, Christopher teve a impressão de que pretendia dizer outra coisa.
–... sou a única mulher na ilha que ele não conseguiu ter, e ele sabe que me teria só pelo casamento.
Christopher arqueou as sobrancelhas. Na verdade, Dulce era uma das mulheres mais sinceras e determinadas que havia conhecido. Não conseguia imaginar Natália fazendo o parto de uma criada de taverna. Ela provavelmente faria a pobre moça escutar um sermão sobre os malefícios do pecado da carne, mesmo achando Lorde Glendenning uma pessoa fascinante. – Tão sem afetação – ela diria. – Um homem de verdade.
Christopher admitiu, depois de ter ficado algum tempo afastado de Natália e de seu mundo, que ela não era aquela exímia julgadora de caráter que ele pensava.
– Quer ver uma coisa? – Dulce perguntou, de repente.
Christopher não era tolo e aceitou de imediato.
– Claro.
Infelizmente não se tratava de nenhuma marca de nascença localizada em seu busto, como ele, sonhador, chegou a imaginar que fosse. Em vez disso, ela o levou até uma pequena porta lateral do saguão, por onde chegaram a uma escada íngreme em caracol.
Ainda assim, o passeio não foi inteiramente desperdiçado. Dulce subiu na frente de Christopher, que pôde ter uma visão adorável dos quadris que ondulavam dentro das calças justas.
Nisso ela abriu outra porta, e Christopher prendeu a respiração, mas não apenas por causa do frio. Haviam chegado às ameias do castelo, a mais de sessenta metros de altura. Ele pode ver ao redor do castelo o oceano cinzento azulado e as ondas brancas. Acima se estendia o céu azul da cor dos ovos de tordo, sem nenhuma nuvem. Os campos, que na primavera deviam se cobrir de urzes, chegavam até as colinas, que nessa época do ano estavam com os picos cobertos de neve.
Ele nunca vira uma paisagem tão magnífica. Nem nos Alpes Suíços, para onde levava a mãe com frequência para fazer um tratamento.
– Lindo, não é? – Dulce afastou do rosto as madeixas que esvoaçavam ao vento. – Gosto de vir aqui, sempre que posso. É uma visão sem igual. Olhe, lá está a taverna e, mais além, o pátio da igreja. Adiante, a cabana. Também se enxerga o riacho sinuoso brilhando ao sol.
Christopher se esforçou para ver o que ela apontava, mas diante dele, havia algo bem mais interessante. Valia a pena observar Dulce Saviñon sob qualquer intensidade de luz, mas os raios do sol permitiam a visão de seus muitos atributos, inclusive os tons dourados de seus cabelos vermelhos e a suavidade da pele translúcida.
Christopher foi incapaz de dar uma espiada nos locais por ela apontados. Como poderia fazê-lo se tinha diante dos olhos algo próximo à perfeição?
– E acredite, aqueles pequenos pontos brancos são ovelhas – ela explicou. – A esta hora, deve ser o rebanho de Hamish. O senhor logo conhecerá os pais dele, pessoas muito agradáveis. Simples e bondosas. Hamish é um pouco rebelde, mas Lucais toma conta dele...
– A senhorita foi esplêndida... – Christopher não conseguiu segurar as palavras.
– Como é? – Dulce fitou-o, curiosa.
Christopher gostaria de poder engolir o que dissera. Não a elogie, ele disse a si mesmo.
Qualquer lisonja de sua parte poderia ser mal-entendida por Dulce, sempre desconfiada.
Tarde demais. Ela escutou, e seus olhos brilhantes o encaravam com suspeita.
– Em relação a Anahí, acho que fez um trabalho excelente – ele tratou de explicar – mesmo diante de tanta dificuldade.
Ela pestanejou e logo a desconfiança sumiu dos olhos da cor do céu.
– Obrigada. Essa opinião significa muito, por vir de um homem que teve uma formação impecável.
Christopher sorriu. De qualquer modo, a ironia era melhor do que a suspeita.
– Sou médico e não parteira. Antes desse, só compareci a um parto: o meu.
– Então por que insistiu em fazer o de Anahí?
Christopher pensou em dizer a verdade – que estava determinado a ser aceito pela comunidade, mesmo sendo uma aldeia pequena e atrasada. Mas isso seria o mesmo que dizer que ele pensava em afastá-la dessa comunidade... pelo menos do ponto de vista médico. E isso não carrearia nem um pouco de simpatia por ele.
Era importante que Dulce sentisse amizade pelo novo médico, pois ele precisava ganhar a confiança dos pacientes dela que passariam a ser seus pacientes.
Essa foi a desculpa que deu a si mesmo para a importância de Dulce gostar dele, e acabou se decidindo por uma resposta frívola.– Eu tinha vontade de ver como era o castelo.
Dulce franziu as sobrancelhas.
– O senhor é um homem estranho, doutor Uckermann.
– É uma afirmativa engraçada – Christopher deu uma risada – por vir de uma mulher que usa calças e passeia em cemitérios.
Dulce não achou graça e fitou-o estreitando os olhos.
– Quem foi que lhe contou que ando no cemitério?
Christopher deu de ombros. Não gostaria de trair a confiança de seu empregador, mas ele mesmo se sentia traído, porque o conde não lhe contara toda a verdade.
– Lorde Glendenning usou esse exemplo para fazer que eu duvidasse de seu equilíbrio mental e afirmou que, por isso, a senhorita não poderia permanecer sozinha na Cabana do Riacho...
Dulce se virou de repente e correu para a porta, mas Christopher conseguiu segurá-la pelo braço, antes que ela descesse.
– Ei, aonde pensa que vai?
– Matá-lo – ela resmungou e tentou soltar-se com força inimaginável para uma mulher. – Solte-me!
Santo Deus! Ele ouvira falar do temperamento exaltado das ruivas, mas era a primeira vez que se confrontava com uma.
– Espere um pouco. – Christopher bloqueou-lhe a passagem. – Não vai querer matar um homem no dia do nascimento de sua caçula, não é?
Dulce conseguiu se soltar e afastou as mechas de cabelo do rosto.
– Doutor Uckermann – ela disse, sem demonstrar raiva. – Saia do meu caminho.
– Não leve tão a sério os falatórios – Christopher tentava manter a calma. – As pessoas poderão pensar que há um fundo de verdade nisso. – Como eu estou começando a pensar, ele refletiu.
Ela não sorriu.
Christopher tentou mais um paliativo.
– Sorte sua estarmos no século XIX. No passado, a senhorita poderia ser queimada viva na fogueira, como uma bruxa. Quer dizer, por perambular à noite entre as sepulturas.
Dulce se manteve séria.
– Quanto ele lhe pagou?
Confuso, Christopher sacudiu a cabeça. Os ilhéus se comportavam de maneira inexplicável e mudavam de assunto mais depressa do que qualquer povo que ele conhecera.
– Quanto quem me pagou? E por quê?
– Lorde Glendenning. – Dulce o encarava sem pestanejar. – Quanto ele lhe pagou para vir até aqui? Pretendo dobrar esse preço.
A surpresa foi tanta que Christopher ficou de queixo caído.
– Estou falando sério. – A seriedade de Dulce parecia brotar de todos os poros, e seu corpo estava tenso como o de um felino pronto para atacar. – Pagarei suas dívidas em Londres, qualquer que seja o montante, contanto que o senhor vá embora.
Do que Dulce estava falando? Talvez o conde estivesse certo e ela fosse uma doente mental.
Autor(a): leticialsvondy
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– Agradeço bondosamente sua oferta – Christopher disse com cuidado –, mas não tenho dívidas em Londres. Ela franziu a testa. – Não é possível. Por que o senhor viria para cá? Certamente Lorde Glendenning lhe ofereceu... – O pagamento pelo cargo de médico, conforme o anúncio del ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 18
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capitania_12 Postado em 02/02/2019 - 13:24:43
Já acabou? Naaaaaaaaaao
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capitania_12 Postado em 01/02/2019 - 22:09:16
Aaaaaaah,continua logoooo
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ana Postado em 30/01/2019 - 13:57:04
Vc voltou *-*
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ana Postado em 19/03/2018 - 00:51:59
Poxa, abandonou? :(
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wermelinnger Postado em 16/01/2018 - 12:43:33
OIIII VAI POSTAR MAIS NAO??
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wermelinnger Postado em 04/01/2018 - 09:07:31
ah Deusss ele disse que estava apaixoando continuaa
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wermelinnger Postado em 03/01/2018 - 15:13:30
Continua... Leitora nova e estou amando.
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heloisamelo Postado em 31/12/2017 - 17:54:01
Contt 😍😍
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Nat Postado em 06/10/2017 - 22:29:32
Meu Deus! Tadinho do Hamish! Ai! Tomara que de certo! Esses dois... Tão lindinhos juntos! Pena que eles sempre se encontram quando alguma coisa não está bem! Não vejo a hora de eles darem o primeiro beijo! CONTINUA!!!^-^
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millamorais_ Postado em 06/10/2017 - 09:30:10
Esses dois... Essas brigas são vão fortalecer essa relação. Ele vai ajudá-la né? Continuaaa