Fanfic: A Dama da Ilha(adaptada) | Tema: Vondy
Christopher observou a direção do dedo não muito limpo do conde e teve uma visão que fez seu sangue esfriar, o que não seria difícil, pois ele mesmo estava quase congelado. Viu uma silhueta encapuzada que se movia rapidamente por entre as lápides. O coração de Christopher disparou, porque ele tinha certeza de que a figura carregava na mão uma foice grande.
Meu Deus, ele pensou. Estou vendo a Morte de frente!
Mas quando a figura se aproximou, viu que se enganara e o que pensou que fosse uma foice nada mais era senão uma lamparina. Mesmo assim, a silhueta teria passado como um dos vampiros de Pearson... não fosse por causa do cachorro.
Ao lado da figura encapuzada caminhava um cachorro, que Christopher reconheceu. Era a cadela sem raça definida que vira na Cabana do Riacho. Não o border collie ferido, mas o cachorro de Dulce... Sorcha, se não estava enganado.
– Mas... – Christopher não poderia estar mais perplexo.
– Quieto – o conde murmurou. – Apenas observe.
Christopher obedeceu e ficou ainda mais confuso. A figura de manto se aproximou de uma sepultura e, erguendo a lamparina, inclinou-se para ler a inscrição na modesta placa de madeira.
– Mas que diabos... – Christopher murmurou.
– Eu não lhe disse? – Apesar do sussurro, Glendenning parecia triunfante. – Ela está positivamente maluca.
Nesse caso, Christopher concluiu, sua brincadeira sobre bruxaria não estava longe do alvo. Mas Dulce não dava a impressão de ser uma mulher que acreditasse em ocultismo. Pelo contrário. Dulce parecia uma pessoa prática e de pés firmes no chão. O que ela estaria fazendo em um cemitério no meio da noite?
E por que ele a espiava?
“Isso é demais”, Christopher disse para si mesmo e começou a se levantar.
– Fique quieto. – O conde segurou-o pela capa. – Aonde pensa que vai?
– Acabar com essa tolice – Christopher retrucou, tirando a neve do calção. – E o que mais eu faria?
Ele não fez o que desejava. Glendenning puxou-o com força para baixo.
– O doutor também ficou maluco? – o conde perguntou, em voz baixa. – Ela não deve saber que estamos aqui!
Christopher não gostou da maneira como havia sido tratado e teve a impressão de que Glendenning rasgara – com os dedos enormes – a única capa que ele trouxera de Londres.
– Por que não?
– Porque ela está possuída. – Glendenning olhou por cima do muro, em direção às lápides. – Se a acordarmos do transe, ela poderá cair para sempre no abismo da loucura. – Ele sacudiu a cabeça e os longos cabelos negros. – Afinal, que espécie de médico é o senhor? Não sabe nada a respeito disso?
Christopher não acreditava no que ouvia.
– Abismo da loucura? – ele repetiu. – Mas que bobagem é essa? Deixe-me ficar em pé, camarada ignorante. Quero uma explicação, nem que para isso eu tenha que sacudi-la.
– Ela não dirá nada – Glendenning insistiu e segurou Christopher pelos ombros. – Acredite, eu já tentei. Ela o mandará cuidar de seus próprios negócios.
– Esse não parece o discurso de uma mulher possuída – Christopher contestou.
– Contudo, alguma coisa acontece com ela nos dias de lua cheia. Essa é a terceira vez que venho aqui e a vejo do mesmo jeito. Ela olha as placas, depois rabisca algumas coisas em uma brochura, em seguida vai até a aldeia e escreve mais coisas. Algumas vezes, ela pega um pouco de terra do chão, põe no bolso e volta para casa.
Santo Deus! Terra? O que seria isso? Algum tipo de obsessão geológica? O que estaria acontecendo com Dulce?
Ela se ajoelhou dentro do círculo de luz formado pela lamparina e com um lápis escreveu algo no caderno que tirou de dentro da capa. Nesse momento, Dulce não parecia muito normal.
E com certeza era Dulce, com algumas madeixas vermelhas escapando do capuz e ondulando sob a luz do luar. Christopher até viu suas calças de relance, quando ela se levantou. Em segundos, ela guardou o caderno e olhou ao redor, provavelmente procurando a cadela.
Tarde demais, Christopher percebeu que o cachorro os descobrira. O animal parecia sorrir por sobre o muro, sacudindo a cauda amistosamente.
– Vá embora! – o conde sibilou. – Vá!
A cadela não lhe obedeceu, mas se apoiou no muro com as patas dianteiras e começou a lamber o rosto de Christopher.
– Saia daqui! – Glendenning ordenou e se abaixou. – Vá embora!
O cão arreganhou os dentes e só foi embora quando um galho se partiu sob os pés de sua dona, o que deixou claro que Dulce estava saindo do cemitério. Sorcha se virou e correu atrás de Dulce, sem fazer barulho, pois a neve abafava o som de suas patas, que voavam.
Glendenning deu um suspiro de alívio.
– Eu não lhe disse? – perguntou em voz alta, depois que a cadela e a dona sumiram de vista. – Agora ela vai perambular um pouco pela aldeia, depois vai para casa. Ela está completamente louca.
Christopher também se levantou, dessa vez sem ser impedido pelo conde.
– Tenho certeza – disse Christopher, passando a mão pela capa para tirar a neve e galhos – de que há uma explicação racional por trás desse comportamento.
Tinha que haver.
– Certo. – Glendenning se levantou, e suas juntas estalaram em protesto. – Ela está possuída.
– Não seja idiota. – Christopher pulou o muro baixo de pedra atrás do qual haviam estado escondidos.
– Bem, se ela não está possuída... – Glendenning seguiu-o devagar, o que levou Christopher a pensar que o conde talvez não estivesse tão à vontade sobre a neve como demonstrara – ...então do que se trata?
Christopher cruzou o cemitério e parou ao lado da sepultura diante da qual Dulce se ajoelhara.
A placa era um pedaço de madeira com meia dúzia de nomes inscritos. Todas as pessoas ali enterradas aparentemente haviam morrido na mesma data: 4 de agosto de 1846.
– Milorde conhece essas pessoas? – Christopher apontou para as inscrições quando o conde se aproximou.
– Uma ou duas – Glendenning resmungou. – Parece que são crianças. As crianças e os idosos foram os mais afetados pela cólera. No final, tínhamos tantas pessoas morrendo por dia, que começamos a enterrá-las umas sobre as outras, cinco ou seis em cada sepultura. Se não fosse assim, teríamos que deixá-las em solo não consagrado, e ninguém queria isso. Muitos nem mesmo foram colocados em caixões, pobres pestilentos! O carpinteiro também faleceu, e tivemos de sepultá-los envoltos nos lençóis em que haviam morrido. Nós tivemos o cuidado de fazer as covas bem fundas para evitar que os cachorros os farejassem. Trabalhamos muito depressa, para evitar a putrefação dos corpos...
– Santo Deus – Christopher suspirou.
Ele sabia, é claro, pois em Londres também foi ruim. Mas nem ele nem seus conhecidos haviam se aventurado pelas comunidades mais atingidas pela peste do último verão.
E quando tinham que fazer isso, cobriam o nariz com um lenço de seda, para evitar a inalação do pútrido miasma que espalhava a horrível doença estrangeira.
Assim mesmo, sabia de histórias de enterros coletivos, carroças carregando os mortos, famílias inteiras dizimadas...
Mas nunca vira evidências do que acontecia.
Lembrou-se com amargura das acusações de Dulce. Ela afirmou que o Royal College of Physicians estava lotado de homens que não se importavam com o tratamento das doenças, mas
apenas com o progresso de sua carreira. E era verdade. Nenhum de seus colegas, e muito menos ele, haviam dado atenção à praga que dizimava os arredores mais pobres de Londres. Não era como se seus próprios pacientes tivessem sido afetados. A cólera, para Christopher e os demais nobres, sempre tinha sido uma doença restrita aos outros.
– Nós. – Christopher parou e tossiu. – A quem milorde se refere com nós? Milorde também ajudou nos funerais? – Era difícil de acreditar que um conde, ainda mais esse, se rebaixasse para fazer um trabalho tão... sórdido.
– Claro. – Foi a resposta surpreendente de Glendenning. – Nós trabalhamos muito e todos ajudaram. Até mesmo a mãe de Dulce, a senhora Saviñon, uma mulher pequenina, ajudou muito.
Então era por isso que Dulce assegurara que Lorde Glendenning não era como os outros nobres que ela conhecia. Bem, ele também não se parecia com os conhecidos de Christopher, embora ele odiasse admitir qualquer coisa de bom a respeito do conde. Pelo que parecia, Lorde Glendenning se preocupava mais com seu povo do que os nobres da Câmara dos Lordes, cujo trabalho era – em teoria – cuidar de seu povo.
Christopher sacudiu a cabeça. Havia muitas outras placas como aquela que estava na sua frente. Quantos moradores da aldeia de Lyming estavam nessas sepulturas improvisadas? Que barbaridade.
Mas isso não servia de desculpa para o comportamento estranho que testemunhou naquela noite. De maneira nenhuma.
– Então o que o doutor pensa disso? – Glendenning perguntou.
Christopher foi tirado de seus devaneios.
– Disso o quê?
– De Dulce. – Mesmo sob a luz do luar era possível ver a impaciência do conde. – O que acha dessa insistência em escrever os nomes dos mortos? E colher punhados de terra da aldeia?
Autor(a): leticialsvondy
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– Não sei. – Essa era a única resposta que Christopher podia dar. – Como não sabe? – O conde lhe lançou um olhar dardejante. – É óbvio. Ela está maluca. Christopher tentou raciocinar. Era difícil, por causa de seu grau de exaustão, da quantidade de uísque que havia tomad ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 18
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capitania_12 Postado em 02/02/2019 - 13:24:43
Já acabou? Naaaaaaaaaao
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capitania_12 Postado em 01/02/2019 - 22:09:16
Aaaaaaah,continua logoooo
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ana Postado em 30/01/2019 - 13:57:04
Vc voltou *-*
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ana Postado em 19/03/2018 - 00:51:59
Poxa, abandonou? :(
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wermelinnger Postado em 16/01/2018 - 12:43:33
OIIII VAI POSTAR MAIS NAO??
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wermelinnger Postado em 04/01/2018 - 09:07:31
ah Deusss ele disse que estava apaixoando continuaa
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wermelinnger Postado em 03/01/2018 - 15:13:30
Continua... Leitora nova e estou amando.
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heloisamelo Postado em 31/12/2017 - 17:54:01
Contt 😍😍
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Nat Postado em 06/10/2017 - 22:29:32
Meu Deus! Tadinho do Hamish! Ai! Tomara que de certo! Esses dois... Tão lindinhos juntos! Pena que eles sempre se encontram quando alguma coisa não está bem! Não vejo a hora de eles darem o primeiro beijo! CONTINUA!!!^-^
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millamorais_ Postado em 06/10/2017 - 09:30:10
Esses dois... Essas brigas são vão fortalecer essa relação. Ele vai ajudá-la né? Continuaaa