Fanfic: A Dama da Ilha(adaptada) | Tema: Vondy
Espantou-se com os próprios pensamentos. Santo Deus, o que era aquilo? Pensamentos piegas, como o nevoeiro que algumas vezes ameaçava engolir a ilha, o estavam ameaçando ultimamente. Não era a primeira vez que isso acontecia. De vez em quando acordava no catre do dispensário com as vozes dos pescadores que se dirigiam para o mar nas pequenas embarcações, seguidas por centenas de gaivotas, que gritavam sem cessar, e era invadido por uma sensação inexplicável de contentamento.
Contentamento por causa do tagarelar de um grupo de pescadores desalinhados e dos gritos das gaivotas. Ridículo!
Como a ideia de que ele nunca poderia ter se casado com Natália. Ele amava Natália. E teria feito qualquer coisa por ela.
É mesmo?, uma voz interior indagou. Até desistir da medicina? Era o que Natália mais queria que ele fizesse. Abandonar a medicina, instalar-se em Stillworth Park e passar o resto dos dias escutando as lamentações dos fazendeiros arrendatários...
Sim, ele refletiu, com os dedos em punho na parte superior da cerca do píer. Sim, ele teria desistido da medicina, se isso significasse ter Natália de volta.
Então por que, à pergunta de Dulce no dispensário, se faria a cirurgia para salvar a vida de Hamish ou para impressionar Natália, ele dissera... o que mesmo?
O mais inacreditável era ter dito a verdade. Isso mesmo. A verdade. De alguma maneira, as preocupações diárias, os problemas e a vida das pessoas dessa aldeia atrasada haviam se envolvido de maneira intrínseca com a dele. Mas era impossível avaliar desde quando a vontade de ajudar aqueles aldeões havia se convertido em realidade para mostrar à nobreza londrina que a insensatez de Stillworth terminara.
Imaginou que pudesse ter sido no momento em que vira o casco pesado daquele cavalo atingir o crânio de Hamish.
Contudo, podia criticar a si mesmo por sua arrogância. Como chegou a pensar que tinha talento para fazer uma carreira na medicina? Vidas dependiam de seu conhecimento e perícia, e seu único pensamento foi esperar que, um dia, ele fizesse alguma diferença. E certamente conseguira isso. Ele fez uma grande diferença na vida de Hamish MacGregor. Fez dele um vegetal.
Voltaria para casa. Na manhã seguinte começaria a fazer as malas. Com sorte, poderia estar em Londres a tempo para as corridas de Ascot...
– Pensando nela?
Christopher virou-se, espantado. Não ouvira os passos leves nas tábuas rangentes e estragadas que formavam o quebra-mar. O barulho das ondas abafara os sons.
– Alguma mudança? – ele perguntou, quando ela se aproximou.
– Não.
Dulce ainda estava com a roupa que usava ao ajudar os cordeiros a nascer. Qualquer outra mulher teria ido para casa para se lavar e trocar de roupa, mas ela permanecera ao lado de Hamish durante toda a cirurgia e ali ficara até as primeiras horas da manhã. Dulce poderia ser qualquer coisa, menos fútil. Ela não se importava com a própria aparência... nem com seu cheiro. Naquele momento era éter que ela estava encarregada de administrar ao menino, e ainda havia um leve odor de carneiro. E não eram cheiros desagradáveis, Christopher conjecturou. Apenas não eram aromas que mulheres costumavam exalar.
Ora, mas se ele não achava nada de mais no cheiro de ovelhas, estava mesmo precisando voltar para Londres imediatamente.
Dulce apoiou os cotovelos e olhou na direção de Lochalsh, invisível a essa hora da noite por causa da escuridão impenetrável. Não havia luar, mas Christopher observou que as estrelas nunca haviam sido tão brilhantes nem tão numerosas. Em Londres não se via tamanha extensão estelar.
Somente em Skye era possível virar a cabeça para trás e sentir que o universo estava ao alcance das mãos.
Ar puro como em Sky e era difícil. Quanto à privacidade, esse era outro assunto.
O estranho era ele não ter se ressentido pelo fato de Dulce ter ido ao seu encontro. Na verdade, ficara satisfeito. Pelo menos uma pessoa entendia seus sentimentos.
Ou assim lhe parecia.
– Se quiser, escreverei para ela.
Christopher a fitou com curiosidade. Mal podia vê-la na escuridão, embora Dulce estivesse a um passo de distância.
– Escrever para quem? – ele perguntou.
– Para sua noiva. – Dulce apoiou o queixo nas mãos. – E contar a ela tudo o que aconteceu. Sua luta corajosa para salvar a vida de um pequeno pastor. Assim, não dará a impressão de que estaria se vangloriando. – Ela o fitou, e seus olhos eram a única parte visível de seu corpo, pois a roupa também era escura. – Não era nisso que estava pensando, enquanto fumava aquela coisa malcheirosa?
Christopher olhou o charuto caro.
– Não, não era. – Ele deixou o charuto cair na água, e a ponta vermelha se apagou de imediato.
– Não? Então peço desculpas por minha presunção.
Eles ficaram alguns momentos em silêncio. Christopher supôs que devesse contar-lhe que voltaria para Londres. Dulce tentaria impedi-lo? Mas por que o faria? Ela ficaria satisfeita em ver-se livre dele. E o direito de ocupar a cabana estaria solucionado.
– Eu... – os dois disseram ao mesmo tempo.
– Pode falar – ele concedeu.
– Não – ela recusou. – Fale primeiro.
– Primeiro as damas.
Christopher escutou um suspiro antes que Dulce começasse a falar.
– Nunca vi nada parecido com a cirurgia que foi feita em Hamish. Considerando que foi sua primeira vez... bem, quero lhe pedir desculpas.
Era a última coisa que Christopher pensava ouvir de Dulce.
– Por que as desculpas?
– O senhor sabe. – Dulce olhou para a frente, mantendo o rosto de perfil. – Pelo que eu disse sobre sua noiva. E também... o senhor sabe que não encorajei os aldeões a aceitá-lo como médico. Não procurei mudar a opinião deles. E era o que eu deveria ter feito. O senhor é médico e eu, não. Quero que saiba que pretendo mandar que o procurem a partir de agora.Christopher não pode evitar um suspiro de desgosto.
– Quer dizer, depois que consegui matar alguém? – ele disse, foi sarcástico. – Senhorita Saviñon, eu lhe agradeço por se preocupar comigo. Tenho certeza de que os moradores de Lyming levarão em conta minha opinião médica a partir de agora. Eles virão correndo de toda a ilha de Skye para serem tratados pelo doutor Uckermann, o carniceiro.
– O senhor não sabe se Hamish não vai se recuperar – Dulce procurou ser gentil.
E, mais uma vez, ela pôs a mão no braço dele. Os dedos de Dulce eram cálidos. Christopher sentiu o calor através da lã do casaco.
Christopher fitou os dedos claros em contraste com o tecido escuro. Lembrou-se da expressão de Dulce durante a cirurgia. Um olhar de concentração intensa, sem demonstrar a forte emoção que sentia. Ele entendeu, desde que vira Hamish na cabana, que os dois gostavam muito um do outro. Mesmo quando falou rispidamente com ele, o olhou com ternura. E assim era com todos na ilha.
Durante a cirurgia, não houve nenhum momento de ternura. Ela foi uma assistente segura e sem emoções, ajudando quando se fazia necessário, sem pestanejar nos momentos mais críticos da cirurgia, durante a perfuração. Qualquer outra mulher, e muitos homens, teriam empalidecido ou desmaiado ao ver a broca penetrando no crânio do garoto.
Mas não Dulce Saviñon. Ela se conservou calma, como se Hamish fosse um estranho para ela... como se estivessem discutindo o tempo e não extraindo um coágulo do cérebro de um menino.
Todavia, apesar do comportamento nada feminino, em nenhum momento Christopher deixou de estar ciente de que a pessoa que trabalhava em conjunto com ele era uma mulher. Naquele instante, ao sentir nos braços a leve pressão dos dedos de Dulce, não pôde deixar de se lembrar de que havia muito tempo não sentia um toque feminino.
Se fosse em outra ocasião, teria se excitado, mas àquela altura só podia se lembrar de que a vida do menino, deitado a apenas dez metros dali, estava por um fio.
– E o que você fará – ele indagou com amargura – sem os pacientes? Continuará com sua pesquisa? – No mesmo momento, desejou nada ter dito.
Dulce se afastou fisicamente, ao retirar sua mão, e também emocionalmente.
– Suponho que sim – disse ela com frieza.
Idiota, ele se repreendeu, mas continuou no mesmo tom amargo.
– Aquela pesquisa obscura que ninguém sabe do que se trata?
– É, sim.
Christopher teve vontade de bater em si mesmo. O que estava fazendo? Dulce só pretendia ser bondosa. A rudeza dele havia sido inteiramente desnecessária. Tudo bem, ele poderia não ter salvado a vida do menino. Mas haveria algum cirurgião no mundo que podia tê-lo feito? O ferimento havia sido mortal...
Diga-lhe, de novo a voz interior o aconselhava, diga-lhe que partirá para Londres amanhã cedo...
– Eu agradeceria – ele disse com esforço – se a senhorita mandasse alguns de seus pacientes para mim.
Uma faixa vermelha apareceu no horizonte distante, o que tornava mais fácil ver a fisionomia de Dulce, que o olhava com expressão indecifrável.
Autor(a): leticialsvondy
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– Bem – ela finalmente respondeu. – Será mais do que isso. Mais tarde ocorreu a Christopher que muitas outras coisas poderiam ter sido ditas naquele momento. Ele podia ter dito, por exemplo, como a havia admirado pela coragem diante daquele cenário de horror. Ou ter lembrado alguma coisa sobre o significado daquelas palavras bondosas dirigid ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 18
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capitania_12 Postado em 02/02/2019 - 13:24:43
Já acabou? Naaaaaaaaaao
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capitania_12 Postado em 01/02/2019 - 22:09:16
Aaaaaaah,continua logoooo
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ana Postado em 30/01/2019 - 13:57:04
Vc voltou *-*
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ana Postado em 19/03/2018 - 00:51:59
Poxa, abandonou? :(
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wermelinnger Postado em 16/01/2018 - 12:43:33
OIIII VAI POSTAR MAIS NAO??
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wermelinnger Postado em 04/01/2018 - 09:07:31
ah Deusss ele disse que estava apaixoando continuaa
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wermelinnger Postado em 03/01/2018 - 15:13:30
Continua... Leitora nova e estou amando.
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heloisamelo Postado em 31/12/2017 - 17:54:01
Contt 😍😍
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Nat Postado em 06/10/2017 - 22:29:32
Meu Deus! Tadinho do Hamish! Ai! Tomara que de certo! Esses dois... Tão lindinhos juntos! Pena que eles sempre se encontram quando alguma coisa não está bem! Não vejo a hora de eles darem o primeiro beijo! CONTINUA!!!^-^
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millamorais_ Postado em 06/10/2017 - 09:30:10
Esses dois... Essas brigas são vão fortalecer essa relação. Ele vai ajudá-la né? Continuaaa