Fanfic: A Dama da Ilha(adaptada) | Tema: Vondy
– Bem – ela finalmente respondeu. – Será mais do que isso.
Mais tarde ocorreu a Christopher que muitas outras coisas poderiam ter sido ditas naquele momento. Ele podia ter dito, por exemplo, como a havia admirado pela coragem diante daquele cenário de horror.
Ou ter lembrado alguma coisa sobre o significado daquelas palavras bondosas dirigidas a ele, que estava perto de desistir de tudo...
Ou como estava agradecido por sua ajuda com os MacGregor e, mais tarde, com a cirurgia de Hamish.
Ele podia, se tivesse atrevimento suficiente, ter segurado sua mão, fitado aqueles olhos lindos e mencionado como, mesmo coberta de placenta ovina e cheirando a éter, ele ainda a achava uma das mulheres mais atraentes que conhecera e que, desde que se encontrara com ela, tinha dificuldade para mantê-la fora de seus pensamentos... apesar de ela ser a pessoa mais teimosa e birrenta com quem se defrontou.
Mas o que ele acabou dizendo não refletia, nem de longe, seus pensamentos.
– Se não for pedir demais, suplico que me mande apenas pacientes de duas pernas. Não tenho muito talento para tratar os de quatro.
Na pouca luz da manhã que se iniciava, Christopher viu o sorriso de Dulce ou, mais exatamente, a metade de um sorriso cansado. Mas, apesar de tudo, ele gostou e ficou satisfeito por não ter dito as bobagens piegas que haviam lhe ocorrido.
Naquele instante, a porta do dispensário se abriu, e a senhora MacGregor, em polvorosa, gritou pelo médico.
– Estou aqui, senhora MacGregor! – Christopher respondeu, com o coração disparado.
E, com Dulce atrás dele, correu na direção da mulher angustiada.
– Doutor Uckermann? – disse ela, assim que ele se aproximou. – Posso dar a ele um pouco de água?
– Água? – ele repetiu, perplexo, olhando para a mulher sob o brilho vermelho do sol nascente. – Não entendo...
– Ele pediu um pouco de água, e eu não quis dar sem sua ordem...
– Hamish pediu água? – O coração de Christopher disparou, mas de alegria. – Ele está consciente?
– Ah, sim. – A senhora MacGregor parecia surpresa com a excitação do médico. – Já faz um tempinho que ele acordou. Fraco como um recém-nascido, mas furioso com o doutor, que raspou a cabeça dele. Disse que terá que usar chapéu no verão, o que será horrível, porque esquentará demais.
Christopher se virou para Dulce.
– Ouviu isso?
O rosto dela estava emoldurado por um sorriso, em contraste com as lágrimas nos olhos.
– Hamish não gosta de chapéu – foi tudo o que ela disse, emocionada.
Christopher não pensou no que fez em seguida. Simplesmente aconteceu, como se uma de suas irmãs, sua mãe ou sua avó estivessem por perto. Ergueu Dulce pela cintura e virou-a em círculos, enquanto ela atirava a cabeça para trás e ria.
Ele a girou três ou quatro vezes, e logo ela gritou para ser posta no chão porque estava com tontura, no que foi atendida, enquanto ambos riam. Então por que motivo Lorde Glendenning, que surgiu de repente, vindo castelo para saber do pequeno paciente, estava com uma expressão tão ameaçadora?
Aquela explosão de emoções foi algo inocente, apenas uma consequência da alegria que a notícia trouxera para eles. Glendenning não tinha o direito de se aborrecer. Era como sugerir coisas que não existiam.
Embora, para ser bem sincero, Christopher tivesse que admitir que adorara o busto de Dulce encostado em seu peito.
– Boas-novas, Glendenning – Christopher deu um grande sorriso para o conde, que ainda estava montado, mas não no garanhão negro. Pelo menos tivera o bom senso de deixar o cavalo em casa. – Hamish está se recuperando muito bem.
– São boas-novas de verdade. – As feições bem delineadas do conde permaneceram impassíveis.
– Vou ver Hamish – Dulce afirmou, sem notar a seriedade de Glendenning, e saiu apressada, seguida pela senhora MacGregor.
Christopher, alegre, aliviado e exausto, entre outros sentimentos, não deixou de sorrir, apesar da sisudez do conde.
– Bem. – Christopher deu um tapa no pescoço da égua que o conde montava. – Foi por pouco, não foi, Glendenning? Parece que não terá que sacrificar o garanhão.
De cima, o conde o fitou com uma expressão sombria.
– O doutor quer dizer que deu certo? Aquela coisa que furou a cabeça?
– Deu certo, milorde. – Christopher sentiu um arrepio interno ao tocar no assunto.
– Isso é bom – Glendenning declarou, surpreso. Era óbvio que não tivera confiança no médico.
– Bom? – Christopher não se sentia tão feliz desde o dia em que Natália havia concordado em se casar com ele.
E o que acontecia era muito, muito melhor. Ele realizara não apenas uma boa ação, mas um ato milagroso. Ele salvara uma vida. A “insensatez de Stillworth” não existia.
– É bem mais do que bom, meu amigo – ele esqueceu que falava com um conde. – E o melhor é que Dulce disse que avisará os aldeões para me procurarem. – Christopher tinha dificuldade para controlar a satisfação. – Venha ver como Hamish está se recuperando.
– Espere um pouco – disse o conde, quando Christopher deu um passo rumo ao dispensário.
– Sim, milorde?
– O doutor a está chamando de Dulce...
– Como é?
– D-u-l-c-e- – Glendenning soletrou a palavra. – O doutor a chamou de Dulce.
Christopher não tinha paciência para esse tipo de coisa, ainda mais naquela manhã em que operara um milagre.
– Isso mesmo, assim como fazem todos na aldeia.
– Não todos – o conde o corrigiu, rude, e apeou. – Eu a chamo de Dulce. Os demais a chamam de senhorita Dulce.
Christopher sentiu sua alegria se evaporar e ceder lugar à irritação.
– Se Dulce não fizer objeção à maneira como me dirijo a ela, não vejo razão...
– Oh, não... – Lorde Glendenning disse com azedume. – Pude constatar que ela não faz a mínima objeção.
Christopher sacudiu a cabeça. Aquele homem às vezes exagerava. E o que ele estava sugerindo agora? Que Dulce começava a gostar dele? Como Glendenning se enganava... Será que ele não percebia que Dulce o odiava?
– Pois eu imaginava – Christopher não ocultou a indignação –, que a recuperação do garoto fosse importante para milorde. Afinal, foi seu cavalo que por pouco não matou Hamish.
– Estou ciente disso – Glendenning concordou, sem emoção. – E me sentirei eternamente culpado disso.
– O que o senhor deveria fazer – Christopher resmungou – é ser eternamente grato a mim por ter salvado a vida do menino. Lorde Glendenning, não me agradam as insinuações de suas palavras ou de sua voz, pois entre a senhorita Saviñon e eu só existe respeito mútuo. O tipo de respeito que existe entre colegas.
– “Colegas?” – O conde esnobou. – É assim que se tratam? Devo supor que, no passado, quando o doutor fazia uma cura desse tipo, também levantava nos braços e rodopiava no ar seus “colegas masculinos”?
Christopher retesou a mandíbula.
– Se milorde só tem insultos para dirigir a mim, eu lhe desejo um bom dia.
Seu verdadeiro desejo era dar um soco no rosto daquele homem intolerável. Mas não podia fazer isso, sob o risco de ser despedido num momento tão decisivo.
– Espere – Glendenning chamou-o, quando Christopher estava a caminho do dispensário.
Christopher, mesmo sem o olhar, desconfiou que, pelo tom de voz, o conde pretendia se justificar.
– Doutor, eu nem dormi esta noite – o conde afirmou devagar e se aproximou de Christopher, segurando as rédeas – pensando se Hamish sobreviveria. E ao chegar aqui, eu a encontro em seus braços... Bem, isso foi mais do que podia suportar. – O conde pôs a mão pesada no ombro de Christopher. – Claro que eu devia ter imaginado que o doutor jamais faria uma coisa dessas. Isto é, tentar roubá-la de mim.
Christopher não disse nada. O que ele poderia dizer? Que, ao segurar Dulce em seus braços por aqueles breves segundos, se sentiu vivo pela primeira vez em meses? Que a sensação do coração de Dulce batendo de encontro ao seu acordara sentimentos que ele supunha mortos? Que o som das risadas de Dulce havia feito seu sangue pulsar com propósito renovado e uma excitação sem par?
Claro que não poderia dizer nada disso. O que, afinal, estaria acontecendo com ele?
– Isso merece uma comemoração – disse o conde, enquanto amarrava o cavalo do lado de fora da porta do dispensário. – Venha jantar comigo no domingo à noite. Faremos um jantar comemorativo. Nada de comer as tortas de carne da senhora Murphy. Estamos combinados?
Christopher nem o ouviu. Pensava que o brilho acobreado a leste não era tão diferente do tom dos cabelos de Dulce.
– Uckermann ? – O conde franziu a testa. – O doutor está bem?
– Bem, bem – Christopher se apressou em responder.
– Então jantaremos no domingo à noite?
– Sim, claro. Estarei lá.
Confuso pelo que acabara de acontecer naqueles segundos, Christopher nem mesmo se perguntou o motivo da súbita magnanimidade do conde. Entrou no dispensário sorridente, em paz com a vida... certo de que finalmente, havia encontrado seu lugar no mundo.
Autor(a): leticialsvondy
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"Alfonso Herrera Rodriguez, décimo nono conde de Glendenning, tem o prazer de convidar a senhorita Dulce Saviñon para um jantar que se realizará no domingo, dia 02 de abril de 1847. Por obséquio, confirme sua presença.” Dulce estranhou o convite. O que responderia? Era o entardecer de domingo, e a missiva misteriosa acabava de ser de ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 18
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capitania_12 Postado em 02/02/2019 - 13:24:43
Já acabou? Naaaaaaaaaao
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capitania_12 Postado em 01/02/2019 - 22:09:16
Aaaaaaah,continua logoooo
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ana Postado em 30/01/2019 - 13:57:04
Vc voltou *-*
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ana Postado em 19/03/2018 - 00:51:59
Poxa, abandonou? :(
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wermelinnger Postado em 16/01/2018 - 12:43:33
OIIII VAI POSTAR MAIS NAO??
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wermelinnger Postado em 04/01/2018 - 09:07:31
ah Deusss ele disse que estava apaixoando continuaa
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wermelinnger Postado em 03/01/2018 - 15:13:30
Continua... Leitora nova e estou amando.
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heloisamelo Postado em 31/12/2017 - 17:54:01
Contt 😍😍
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Nat Postado em 06/10/2017 - 22:29:32
Meu Deus! Tadinho do Hamish! Ai! Tomara que de certo! Esses dois... Tão lindinhos juntos! Pena que eles sempre se encontram quando alguma coisa não está bem! Não vejo a hora de eles darem o primeiro beijo! CONTINUA!!!^-^
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millamorais_ Postado em 06/10/2017 - 09:30:10
Esses dois... Essas brigas são vão fortalecer essa relação. Ele vai ajudá-la né? Continuaaa