Fanfic: A Dama da Ilha(adaptada) | Tema: Vondy
-Senhorita Saviñon, ouvimos boatos de que estava de volta à ilha – o reverendo Marshall declarou e se serviu de uma ostra assada.
– Mas como não a vimos na igreja... – A senhora Marshal tocou delicadamente os lábios com o guardanapo.
– ... supusemos que os rumores fossem falsos. – O reverendo e a esposa terminavam as frases um do outro.
Christopher os observava. A tensão à mesa era tão densa que se poderia cortá-la com uma faca ou ainda com a espada de folha larga dos ancestrais do conde.
Não podia culpar Dulce por ter ficado com raiva. Na verdade, ele a admirava por manter-se controlada. O reverendo Andrew Marshall e a esposa formavam uma dupla irritante.
Ele os vira algumas vezes, e a senhora Marshall, para agradar-lhe, o apresentara às filhas dentuças. Felizmente, a mãe não as trouxe para o jantar. Na certa ainda não podiam sair à noite, pois a mais velha nem tinha dezesseis anos...
O que não impedia a mãe de desfilar com elas diante do novo médico da aldeia sempre que vinham do internato, o que se dava aos domingos, quando elas tomavam a barca em Lochalsh a tempo de assistir ao sermão do pai.
Christopher havia feito um esforço e fora a um ou dois cultos, não para entrar em comunhão com Deus, pois ele achava melhor fazer isso na catedral da natureza do que em qualquer estrutura erguida pelo homem, mas para conhecer a congregação e ganhar a confiança da comunidade. Durante os sermões do reverendo Marshall não vira Dulce e agora entendia o motivo. Ela evitava os Marshall por razões que se tornaram aparentes à medida que a noite prosseguia.
– E quer dizer – o reverendo continuou, enquanto punha cenouras glaçadas no prato – que seus pais sabem e aprovam sua permanência solitária na cabana?
Dulce não perdia os bons modos, embora estivesse irritada com a situação. Os olhares com que ela fulminava o conde a noite inteira seriam suficientes para gelar a excelente cerveja da senhora Murphy. Lorde Glendenning, que não demonstrava perceber a ira de Dulce, executava com perfeição o papel de anfitrião, exceto pelos rompantes ocasionais em que batiacom força os pés no chão e depois olhava para cima com expressão de culpa e para ver se alguém notara. Após um desses incidentes, Christopher se aproximou do conde e olhou para baixo, sem conseguir notar nada de suspeito a não ser um pequeno buraco na argamassa entre as pedras da parede, onde poderia ter aparecido um pequeno focinho com bigodes.
– Meus pais estão cientes de que eu ficaria sozinha na cabana, na ausência deles. Isso foi combinado desde o início.
O reverendo pigarreou durante quase cinco minutos, e Christopher achou o hábito bem desagradável, para dizer o mínimo. Talvez devesse receitar-lhe uma pastilha curativa.
– Senhorita Saviñon, não foi o que sua querida mãe me disse – o pastor afirmou. – Antes que ela e seu pai partissem de nossas costas humildes para a grande aventura no leste longínquo, a senhora Saviñon afirmou que a senhorita iria para a casa de seu tio em Kilcairn e seguiria depois, com ele, para Londres...
– ...para aproveitar a temporada – a senhora Marshall concluiu pelo marido.
Dulce mal tocara no cozido de coelho, o que era uma pena, pois estava delicioso.
– Houve – Dulce remexia nos pedaços de carne do prato – uma mudança de planos.
– E bem grande, eu diria. – O senhor Marshall tinha outro hábito que Christopher achou ainda mais desconcertante do que pigarrear, que era a tendência a dizer brrr quando estava perturbado por alguma coisa. – Brrr. Uma mudança de planos bem significativa.
– Senhorita Saviñon – a senhora Marshall interveio –, não posso me convencer de que sua mãe aprovaria essa permanência solitária naquela cabana tão afastada. Ainda mais agora...
– ...com o degelo começando – o reverendo Marshall terminou a frase pela esposa.
– Os senhores não crêem que eu estaria aqui sem a aprovação expressa de meus pais – Dulce respondeu de olhos arregalados, aparentando grande inocência. No que foi ajudada pela cor do vestido, que era do tom de seus olhos, enfatizando seu tamanho e a falsa inocência da expressão.
Christopher ficou bastante espantado quando Dulce saíra do quarto muito diferente do que sempre se apresentava, embora ela fosse bonita tanto de suéter e calças como em traje de noite.
Mas havia certos atributos que esse vestido em particular ressaltava. Se ao menos ela não estivesse escondendo os tais atributos sob aquela capa ridícula! Ele só era capaz de vê-los de relance, quando ela se virava de determinada maneira.
– Francamente, não sei o que pensar – disse o reverendo Marshall, inquieto. – Eu gostaria de imaginar que meus paroquianos sempre me dizem a verdade. Mas no seu caso, senhorita Saviñon...
– ... sua reputação fala mais alto. – A senhora Marshall tocou novamente a boca com o guardanapo. – A senhorita sempre foi perversa em suas diabruras.
Christopher se interessou pela última palavra, embora fosse bem desconfortável observar como o casal rebaixava Dulce. Desconfiou que Glendenning viveria para se arrepender do plano que arquitetara.
No entanto, tratava-se de uma inegável diversão.
– Diabruras? – ele repetiu. – Mas de que espécie?
Do outro lado da mesa, Dulce lhe lançou um olhar sinistro. Contra sua vontade, ela teve que se sentar à esquerda de Lorde Glendenning enquanto a senhora Marshall ficou à direita dele.O reverendo estava ao lado de Dulce, e Christopher tivera a honra de ter à sua esquerda a esposa do pastor.
O conde, na cabeceira da mesa, era o único em posição de observar, ao mesmo tempo, o rosto de todos os presentes.
E dessa forma não perdeu o olhar malevolente de Dulce para Christopher, o que, pelo visto, lhe agradou.
– Pois é, senhora Marshall – o conde comentou. – Vamos ouvir algumas das artes que a senhorita Saviñon fazia.
A senhora Marshall ficou feliz em obedecer. A esposa de um pastor tinha a obrigação da obediência, e a senhora Marshall cumpria seu papel com fervor.
– Bem, deixe-me ver – ela começou. – Se bem me lembro, a senhorita Saviñon costumava torturar os irmãos mais jovens sem misericórdia. Houve uma época em que ela os desafiava a comer todas as tortas da despensa de sua mãe.
– Não era bem assim – interveio Dulce, exaltada. – Tratava-se de um experimento científico.
– Muito científico – a senhora Marshall concordou, pedante. – Ela queria determinar o ritmo de digestão de determinados frutos e esperava fazer isso...
– ...examinando o vômito das crianças, brrr – o reverendo completou a frase da esposa. – Um comportamento inaceitável. Eu disse isso para o pai dela, mas ele não achou impropriedade nenhuma. Parecia pensar que...
– ...se os meninos eram tão estúpidos a ponto de comer até se sentirem enjoados, eles bem mereciam aquilo. Mas isso não foi nada – a senhora Marshall declarou. – E quando ela cortou os cabelos e se escondeu na barca de Stuben? – a mulher sacudiu a cabeça. – Ela tinha intenção de se empregar como rapaz para qualquer serviço. Provavelmente teria conseguido, se...
– ...o pai não a tivesse trazido de volta e terminado com a brincadeira.
– Eu precisava de dinheiro – Dulce se defendeu.
– Brrr – o pastor resmungou. – Porque a senhorita queria comprar...
– ...um microscópio – a senhora Marshall terminou a frase pelo marido. – Um instrumento inaceitável para uma jovem. Ora, a senhorita poderia ter arruinado seus belos olhos! Posso afirmar que nenhuma de minhas filhas jamais expressou o desejo de ter algo tão impróprio. Elas se satisfazem em preservar os olhos para os bordados.
Por algum estranho motivo, Christopher se encantou com aquelas histórias. E não era para se surpreender que Dulce Saviñon não tivesse sido uma adolescente angelical. Bastava reparar na expressão madura em uma pessoa tão jovem.
Mas o que o deliciava era a natureza daquelas traquinagens. Era evidente que elas eram fruto de uma mente inquisitiva e altamente analítica, cada experimento foi pensado de antemão e todos os dados irrelevantes eliminados, levando o investigador para um único e inevitável resultado.
Christopher gostou muito daquilo. Muitíssimo, aliás.
– Os senhores deixaram passar sua maior travessura – o conde interveio.
O pastor e a esposa se entreolharam. Até mesmo Christopher estava ansioso para saber do que se tratava.
Autor(a): leticialsvondy
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– E qual foi, milorde? – o reverendo perguntou. – Não foi – o conde respondeu. – É, meu bom homem. É. Dulce está pregando uma peça em todos nós aqui sentados. Dulce levantou o guardanapo do colo e deixou-o ao seu lado na mesa. – Milorde – ela o advertiu. Tarde demais. Lorde Glendenning ti ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 18
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capitania_12 Postado em 02/02/2019 - 13:24:43
Já acabou? Naaaaaaaaaao
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capitania_12 Postado em 01/02/2019 - 22:09:16
Aaaaaaah,continua logoooo
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ana Postado em 30/01/2019 - 13:57:04
Vc voltou *-*
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ana Postado em 19/03/2018 - 00:51:59
Poxa, abandonou? :(
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wermelinnger Postado em 16/01/2018 - 12:43:33
OIIII VAI POSTAR MAIS NAO??
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wermelinnger Postado em 04/01/2018 - 09:07:31
ah Deusss ele disse que estava apaixoando continuaa
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wermelinnger Postado em 03/01/2018 - 15:13:30
Continua... Leitora nova e estou amando.
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heloisamelo Postado em 31/12/2017 - 17:54:01
Contt 😍😍
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Nat Postado em 06/10/2017 - 22:29:32
Meu Deus! Tadinho do Hamish! Ai! Tomara que de certo! Esses dois... Tão lindinhos juntos! Pena que eles sempre se encontram quando alguma coisa não está bem! Não vejo a hora de eles darem o primeiro beijo! CONTINUA!!!^-^
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millamorais_ Postado em 06/10/2017 - 09:30:10
Esses dois... Essas brigas são vão fortalecer essa relação. Ele vai ajudá-la né? Continuaaa