Fanfic: A Dama da Ilha(adaptada) | Tema: Vondy
– E qual foi, milorde? – o reverendo perguntou.
– Não foi – o conde respondeu. – É, meu bom homem. É. Dulce está pregando uma peça em todos nós aqui sentados.
Dulce levantou o guardanapo do colo e deixou-o ao seu lado na mesa.
– Milorde – ela o advertiu.
Tarde demais. Lorde Glendenning tirou um envelope da pequena bolsa de couro peludo que usava na cintura.
Envelope que pareceu familiar a Christopher.
Então ele se lembrou. Santo Deus! Aquele envelope amassado foi o começo de tudo e a razão para o pobre Hamish MacGregor estar com uma perfuração no crânio. A carta! A carta para Dulce que Glendenning surrupiara da mala postal de Stuben!
– Olhe aqui, Glendenning – Christopher se levantou da cadeira.
Não deu tempo. Glendenning começou a ler em voz alta.
“Minha querida Dulce. Aconteceu o que mais temíamos. A noite passada, meu pai encontrou seu tio na ópera! Papai perguntou a seu tio como ele ia passando. Quando seu tio confessou que nunca se sentiu melhor, papai ficou surpreso, sabendo que há três meses você usou a doença de seu tio para a partida repentina de nossa casa em Bath. Ao que seu tio respondeu: “Se o senhor é Reginald Bartlett, então minha sobrinha Dulce ainda está em sua casa de Bath. Ontem mesmo recebi uma carta dela em que mencionou o encontro com o príncipe de Gales no salão de recepções”, ao que papai respondeu que não a via há semanas...
Nesse ponto, Dulce Saviñon se pôs de pé, majestosa e trêmula de raiva.
– Lorde Glendenning, se era sua intenção me humilhar e denegrir diante dessas pessoas, permita que lhe diga que foi bem sucedido!
Lorde Glendenning ergueu a vista do papel e, por algum estranho motivo, pareceu surpreso pelo ódio de Dulce.
– Espere um pouco – ele disse. – Eu apenas pretendia...
– Não posso imaginar o que milorde pretendia com isso – disse Dulce com muita dignidade. – Mas o que tenho para dizer será muito objetivo. Adeus e nunca mais ouse falar comigo. – Ela se virou para a senhora Marshall. – Madame, embora eu não queira alarmá-la, preciso dar-lhe um aviso. Há um rato sobre o aparador, bem atrás da senhora.
Dito isso – com o acompanhamento dos gritos agudos da senhora Marshall quando se virou e viu o bicho mencionado –, Dulce Saviñon saiu do salão.
Christopher, que estava mais próximo da mulher histérica, não pôde fazer o que mais desejava. Correr atrás de Dulce. Ele foi forçado a socorrer a esposa do pastor, que desmaiou antes do último eco de seus gritos sumir.
Christopher demorou algum tempo para ressuscitar a boa senhora. Ela não era dada a desmaios, por isso não trazia na bolsa amoníaco ou frasco de sais aromáticos. Teve de ser reanimada à custa de uma pena queimada tirada de seu chapéu. Assim que ela se recuperou, ficou decidido que deixariam o castelo imediatamente, apesar de o merengue ainda não ter sido servido. O anfitrião desaparecera em busca da convidada ofendida, que, por sua vez, sumira.
Não havia razão para que o jantar prosseguisse.
Christopher acompanhou o reverendo e a esposa até sua carruagem e lhes desejou uma boa noite, o que não pareceu agradar-lhes. O casal também não apreciou o prudente conselho médico de Christopher, que recomendou à senhora Marshall que ficasse de olhos abertos, quando ela se queixou de palpitações terríveis sempre que fechava os olhos e via a imagem do monstro de bigodes.
Christopher viu a carruagem sumir na estrada e sentiu uma onda de admiração pela senhorita Saviñon. A memória da carta que Lorde Glendenning lera seria suplantada na mente do reverendo e da esposa pela visão do rato que Dulce mencionou com tanta naturalidade.
Pensando na carta, Christopher voltou à sala de jantar e encontrou-a onde o conde a deixara ao sair atrás de Dulce. Sem saber do paradeiro do conde nem de Dulce, sentou-se na cadeira abandonada por Glendenning – mantendo os pés acima do chão para evitar familares do rato que
poderiam vir à procura de farelos – e leu o restante da correspondência chocante. Não considerou a própria intenção desprezível, pois o principal da carta já fora lido. E a senhorita
Maite escrevera com sua caligrafia de colegial:
“...ao que papai respondeu, dizendo que realmente não a via há semanas... Seu tio ficou furioso e disse que a confiara aos cuidados de meu pai e continuou com rudeza, papai disse, acusando-o de negligência total quanto às responsabilidades de pai e dizendo que se alguma coisa houvesse acontecido com você, ele acusaria meu pai nos tribunais...
Felizmente...
O termo surpreendeu Christopher, que já estava com maus pressentimentos.
...minha irmã Sarah escutou tudo e imediatamente informou a seu tio que você e eu havíamos tido um desentendimento, que você não queria preocupá-lo por isso, mas que, na verdade, ainda estava em Bath, na casa de Elizabeth Sexton – apesar de seu tio não gostar dela por ser filha de um plebeu (um advogado). Acredito que ela conseguiu resolver o assunto, mas você tem de escrever a seu tio imediatamente e confirmar a história de Sarah.
Falei com Elizabeth, e ela concordou em manter o que Sarah inventou...”
A carta continuava, longa demais, falando sobre chapéus e jovens oficiais “lindos”, e Christopher não teve mais paciência para ler. Dobrou a carta e guardou-a no bolso do colete, decidido a entregá-la a Dulce o mais depressa possível. Durante esse tempo, bebericou o vinho Madeira do conde e perguntou-se qual teria sido o objetivo de Glendenning naquela noite.
Não demorou muito, e o conde voltou, dando a Christopher a oportunidade de fazer-lhe a pergunta.
– Ah, não me lembre do assunto. – Glendenning largou-se na cadeira que Dulce ocupara.
Os criados haviam limpado a mesa enquanto Christopher lia a carta. Só restava o Madeira e alguns ratos mais atrevidos. Christopher deduziu que o Lorde estava sitiado pelos roedores.
– Pensei... Não sei o que pensei – o conde admitiu com mau humor. – Meu primeiro plano de mandá-lo se apossar da cabana e expulsar Dulce de lá não funcionou. O segundo, o doutor emitir um laudo de insanidade mental... também não deu certo. Por isso imaginei que, se o pastor falasse com ela...
– Ela cairia em seus braços, sussurrando palavras de gratidão por levá-la finalmente ao caminho da integridade? – Christopher fitou o conde com expressão de tolerância divertida. – Milorde é um grande asno, me perdoe a palavra.
– Sei disso – Glendenning resmungou. – Mas em princípio foi um bom plano.
– Que nada. Foi insípido do começo ao fim e fiquei satisfeito de ter a oportunidade de vê-lo dar errado diante de sua cara de tonto.
– Espere aí – o conde ficou magoado. – Nada de ofensas pessoais.
– Peço desculpas. – Christopher se levantou. – Onde ela está?
– Não sei. – Glendenning se apoiou na mesa e escondeu o rosto nas mãos. – Mas Raonull disse que não a viu sair do castelo.
– Muito bem. – Christopher notou um focinho espiando com curiosidade por trás do aparador.
Os gritos da senhora Marshall haviam assustado o bichinho, mas ele havia voltado para nova tentativa. – Milorde, eu o deixarei aqui com seu povo – Christopher afirmou, sério.
Glendenning não perguntou a que ele se referia, nem ao menos levantou a cabeça. Christopher saiu, pensando que o sujeito merecia o que estava lhe acontecendo, até mesmo que um rato subisse por sua perna. Caso isso acontecesse, causaria um estrago, já que o conde não era de usar calças.
Era improvável que Dulce houvesse se escondido nos parapeitos, pois estava muito frio, conforme ele comprovou ao se despedir dos Marshall. Ela estava apenas com o xale fino de renda e aquele fichu ridículo. Além do mais, não era burra; aquele seria o primeiro lugar onde Glendenning a procuraria.
Christopher andou pelos corredores do castelo, abrindo e fechando portas, chamando por Dulce e ponderando sobre onde ela havia se escondido e como pretendia resolver a situação, pois os Marshall, que na certa conheciam o tal tio, poderiam lhe causar problemas.
Também não conseguia entender como Glendenning podia viver num mausoléu tão frio, úmido, cheirando a mofo e infestado de ratos. Admitiu que o salão de jantar, que não conhecia até então, tinha uma aparência mais civilizada. A sala de estar onde haviam conversado também não tinha um aspecto tão terrível. Ocorreu-lhe, ao entrar no que parecia ser um salão de baile decadente, que havia recintos no castelo que poderiam ser limpos e devolvidos à antiga glória.
O salão de baile, por exemplo, tinha um piso bastante aproveitável. Ele notou isso depois de pegar um candelabro de cima de uma pequena mesa e levantá-lo para inspecionar a descoberta. O parquete estava um pouco desgastado, mas formava belas figuras. Glendenning seria um grande tolo se deixasse um piso daquele se perder. Estava a ponto de deixar o salão, quando viu em um canto uma forma conhecida. Um piano.
Não chegava perto de um piano desde que saíra de Londres. Dedilhou algumas teclas e descobriu que não estavam tão desafinadas. Antes de pensar no que fazia, deixou o candelabro sobre o instrumento, sentou-se na banqueta roída pelas traças, esfregou os dedos e dedilhou uma melodia.
Autor(a): leticialsvondy
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Nada mau. Um belo instrumento antigo, com um tom claro e forte. Apenas empoeirado, mas nada que um pano úmido não resolvesse. Christopher tentou uma melodia mais complicada. Ah, o dó central por vezes ficava preso, mas fora isso... A acústica do recinto era extraordinária, e ele deslanchou em uma sonata, esquecido do mundo. – Que bel ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 18
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capitania_12 Postado em 02/02/2019 - 13:24:43
Já acabou? Naaaaaaaaaao
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capitania_12 Postado em 01/02/2019 - 22:09:16
Aaaaaaah,continua logoooo
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ana Postado em 30/01/2019 - 13:57:04
Vc voltou *-*
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ana Postado em 19/03/2018 - 00:51:59
Poxa, abandonou? :(
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wermelinnger Postado em 16/01/2018 - 12:43:33
OIIII VAI POSTAR MAIS NAO??
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wermelinnger Postado em 04/01/2018 - 09:07:31
ah Deusss ele disse que estava apaixoando continuaa
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wermelinnger Postado em 03/01/2018 - 15:13:30
Continua... Leitora nova e estou amando.
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heloisamelo Postado em 31/12/2017 - 17:54:01
Contt 😍😍
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Nat Postado em 06/10/2017 - 22:29:32
Meu Deus! Tadinho do Hamish! Ai! Tomara que de certo! Esses dois... Tão lindinhos juntos! Pena que eles sempre se encontram quando alguma coisa não está bem! Não vejo a hora de eles darem o primeiro beijo! CONTINUA!!!^-^
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millamorais_ Postado em 06/10/2017 - 09:30:10
Esses dois... Essas brigas são vão fortalecer essa relação. Ele vai ajudá-la né? Continuaaa